Permitindo que Algo Partisse

         Estou à beira de um precipício, sem ninguém a minha procura. Obrigada a acreditar que nenhuma alma seria capaz de se importar. Meus pés ousavam me inclinar em direção à queda fatal, mas meu coração pedia que não desistisse ainda.

          Não conseguia escutar passos. Nenhum ser humano estava correndo para me impedir de saltar do penhasco que destruiria meu corpo e libertaria minha alma. Todos estavam ocupados, em seus próprios mundinhos enfurnados. Eu não era importante, no final das contas. Era uma ótima amiga, mas não a única. Era a amada adorável, porém, ainda não a namorada. Era uma filha dedicada, entretanto, imperfeita em sua própria perfeição.
           A vida seguiria em frente. Muitos demorariam até a descobrir meu fim precoce. Aquilo não seria um fato relevante para a maioria das pessoas. Diriam algumas palavras de consolo para suas próprias almas pecadoras e egoístas, antes de recomeçar o assunto anterior.
           Ninguém se importaria. Ninguém tentaria me impedir. Lançando-me no ar frio que me embalava, não vi a vida passando em meus olhos. Era apenas mais um momento de solidão. Pois naquele precipício não havia caído meu corpo. Ele estava em casa, vivendo um dia feliz. O que havia despencado era minha alma, que a partir daquele momento se arriscava em um queda-livre eterna. Até que alguém finalmente a puxasse de volta com a única coisa que lhe faltava: atenção.

Beijinhos, StarGirlie.