O Beijo da Morte

Prólogo
         Eu nunca pensei na Morte como uma aliada. Sempre a vi como o maior castigo que poderia receber após uma vida cheia de regalias e mentiras. Porém, agora ela está diante de mim e não consigo vê-la como uma inimiga.
         Ainda mais agora, que o garoto que amo é o filho dela.

Primeiro Capítulo
Bianca
         -Boa aula, querida – sussurrou minha mãe em meu ouvido, enquanto eu checava se tudo estava em minha mochila. Aquele era meu primeiro dia de aula em um colégio totalmente novo. Não conhecia ninguém e não fazia ideia do que me esperava quando descesse aquelas escadas do estacionamento.
         Desde a morte de meu pai em um acidente misterioso onde nunca foi encontrado seu corpo, passei a ficar muito emotiva com frequência. Agora já havia se passado dois meses de sua morte e minha mãe alegava que deveríamos seguir em frente. Havia algo estranho naquilo, mas nunca me dei ao trabalho de investigar.
         -Obrigada, mãe – e saí do carro. Estava nervosa demais para dirigir-me diretamente ao pátio central, onde a diretora dissera que todas as turmas da 8ª série se encontravam.
         Sentei-me em um dos bancos que havia e coloquei minha mochila ao lado. Não queria entrar naquele colégio, muito menos conhecer aquelas pessoas. Desejava estar em minha casa com minha mãe. Não ali com aquela gente.
         -Você é a Bianca, não é? – perguntou uma voz vinda de muito perto. Quando olhei para meu lado, ao invés de ver minha mochila, encontrei uma linda garota.
         Ela aparentava ter a minha idade. Seu cabelo era preto, como seus olhos. Sua franja era bem cortada e impedia que cobrisse seu rosto. Sua pele era pálida e sem nenhuma imperfeição. O uniforme até ficava mais bonito em seu corpo.
         -Ah, que falta de educação minha. Eu me chamo Lilá – quando percebeu que eu não diria nada – Bem, nós estudaremos na mesma sala – seu sorriso era incrível. Todos seus dentes eram brancos e proporcionais.
         -Desculpe-me, Lilá – disse, com as bochechas coradas. Nunca fui mal-educada com ninguém – Eu só fiquei surpresa que alguém viesse falar comigo assim, do nada. Ainda mais alguém popular como você.
         Lilá gargalhou e, mesmo quando secou seus olhos, percebi que nenhuma lágrima havia caído em seu rosto. Ela continuava impecável como antes.
         -Eu não sou nem um pouco popular. Sou a garota mais isolada da escola – estremeci. Era claro que ela só poderia ser a “esquisita” para falar comigo – Mas vi em você alguma coisa que me animou. Você não é como elas – Lilá apontou para as garotas que haviam chegado juntas no estacionamento.
         -Quem são elas? – perguntei curiosa. Todas eram bonitas, mas nenhuma delas chegava aos pés de Lilá. Elas eram uma beleza normal.
         -Elas são as Perfeitas. Ninguém aqui se mete com elas. São o grupo mais seletivo do colégio. Para você entrar nele, tem que ser convidada pela líder – Lilá revirou os olhos. Ela realmente estava acima de qualquer grupinho – Todas são inteligentes, bonitas e divertidas. Porém, não se misturam com o resto dos alunos. São a “elite” do pré-colegial. 
         A asiática, como explicava Lilá, se chamava Vitória e era a mais doida do grupo. Constantemente, ficava com notas abaixo do resto do grupo e era reconhecida como a mais “normal” de todas.
         A loira, Manoela, tinha uma atitude cheia de si e parecia não enxergar nenhum outro aluno se não fosse de seu grupo de amigos. Era a mais bonita e, de acordo com Lilá, a mais simpática. Quando queria, é claro.
         Laís, a morena, parecia estranha em seu próprio grupo. Até mesmo sua mochila destoava das que as outras carregavam. Seu olhar recaiu sobre mim durante um mero segundo, antes de virar. Ela não era muito Perfeita.
         A última era a mais surpreendente. Era a única que não tinha cabelos ondulados e nem parecia depender das outras. Também era a participante que mais cumprimentava os outros alunos. Segundo Lilá, aquela era Sara.
         -Você não vai querer se meter com nenhuma delas. Elas sabem como destruir uma vida – terminou Lilá, mas não havia nenhum medo em sua voz. Algo me dizia que, na verdade, ela que sabia fazer isso.
         -Mas por que você não é aceita no grupo das Perfeitas? Você é linda e não me parece nem um pouco burra – disse, enquanto o sinal tocava. Lilá sinalizou para que fôssemos para a sala.
         -Elas não aceitam artistas – respondeu Lilá indiferente – Além do mais, quem ia querer participar de um grupo que te obriga a agir daquele jeito? – seu dedo indicador apontou para as quatro garotas sentadas em cadeiras extremamente próximas na sala. Todas cochichando e rindo ruidosamente.
         Ri e, junto com Lilá, sentamos nas últimas cadeiras da classe, totalmente afastadas do resto da turma. Antes que a professora começasse a aula, minha atenção foi direcionada para a pessoa que batia na porta.
         A maçaneta girou e meu coração parou por um breve segundo. O garoto mais lindo que havia visto em minha vida entrou na sala.
         -James! – exclamou Lilá correndo em sua direção e abraçando-o de forma tão rápida que quase não captei seus movimentos.
         James retribuiu o abraço e cumprimentou a professora. Mas seus olhos estavam fixos apenas em uma pessoa. Em mim.
Escrito por StarGirlie.
Segundo Capítulo
Lilá


Abracei meu irmão. Claro, aquilo não era exatamente um abraço... mas precisava me aproximar para falar tudo que tinha acontecido nos últimos minutos. Sem que ninguém percebesse.
-A garota nova. Olhe... Bianca. Captei um sentimento estranho nela... quer dizer, diferente. Aversão, ou algo assim. Tenho medo por ela, sinto que tem algo suspeito rolando por aqui. Precisamos conversar.
Meu irmão assentiu discretamente. James era seu nome.
Fui me sentar tentando não transparecer minha preocupação. Senti diversos olhares em mim, mas não liguei. Continuei com meus pensamentos voltados para novata.
Logo que a vira... foi como se eu não pudesse senti-la, igual sentia os outros. Foi como se ela fosse muito especial. Sim, especial era a palavra.
E eu precisava protegê-la.
Além disso, havia feito a coisa mais estranha desde que chegara: me apresentado.
Anti social talvez não fosse a palavra certa para mim. Eu gostava das pessoas. Gostava mesmo. Só não era muito fã de amizades concretas, pois nunca soubera quão confiáveis elas poderiam ser.
Olhei para o lado. James não parava de analisar Bianca. Senti que, a qualquer momento, poderia babar. E isso não era típico dele.
        Os minutos se arrastaram, até que o sinal tocou para o almoço. Peguei meu material e imaginei se Bianca viria atrás de mim.
        James logo se juntou ao meu lado, e ambos saímos para a parte mais afastada do corredor.
        -Você precisa protegê-la. – disse ele, assim que percebemos que não havia ninguém por perto. Parecia angustiado.
        - O quê? Qual é!? – falei, não entendendo nada. – Nós nem a conhecemos.
        -Mas eu também sinto! – disse ele, como um gemido. – Ela corre perigo. Sei que corre.
        Balancei a cabeça, pensativa. Bianca parecia tão auto-suficiente, tão segura... mas, por dentro, também havia visto aquele perigo. Como uma casca sólida e, após ela, um recheio líquido e frágil.
        -Nós sabíamos que isso ia acontecer, algum dia. – falei, sem olhá-lo nos olhos. – Sabíamos que atrairíamos coisas más.
        -Não. Ela não é má. – disse James, com uma convicção que me assustou.
        -Eu sei. – concordei. – Mas ela nos fará mal.
        Ele respirou fundo. Sabia que era verdade.
        -Tentarei protegê-la. – prometi. - E você deve tentar ficar longe. Sabemos o que acontece quando você fica próximo demais das pessoas. – disse, tentando fazê-lo rir, sem sucesso. – Na realidade, já estou protegendo-a. Quer dizer, espero que os conselhos que eu dei sobre as “Podre-rosas” adiantem de alguma forma.
        Ele concordou e saiu, sem mais nem menos. Esse era um dos defeitos de James. Ele me dava medo. Eu o amava, mas mesmo assim. Nunca sabia onde ele poderia ou não estar.
        Dirigi-me para sala. Não estava a fim de ficar vendo milhares de pessoas conversando e rindo.
        Abri a porta e fui para meu lugar. Encontrei mais um dos bilhetinhos que, há dias, estava recebendo.
        “Você é a pérola da minha manhã”, dizia aquele. Tão previsível, pensei.
        Karl vinha colocando aqueles tipos de recadinhos em todos os lugares por onde eu ia. Parecia fixado em mim, sei lá. E, convenhamos, aquilo era ridículo.
        Meu celular começou a tocar, interrompendo meus pensamentos. O peguei e atendi.
        -Alô, pai? – falei.
        -Lilá? Aconteceu algo. – disse, rapidamente. - Temos vizinhos. Vizinhos que, tenho quase certeza, não são humanos.
        Larguei o celular, já correndo para fora da sala. Algo me dizia que aquilo tinha tudo a ver com minha nova colega de classe.
        By Babi
Terceiro Capítulo
Bianca

         Quem era aquele tal de James? Sabia que era irmão de Lilá simplesmente pela aparência quase idêntica dos dois. Pele pálida, olhos pretos, aquele modo de agir superior aos outros alunos. A única coisa que o diferenciava era que seu cabelo era de um castanho quase ruivo.
         O estranho nem era o fato de eles serem irmãos, porque, pelo modo como todos agiam naquela cidade, aquilo era muito comum. O problema era o modo como ele me observara durante todas as primeiras aulas. Era como se não houvesse ninguém mais na sala, o que me incomodou bastante.
         Não era que ele não fosse lindo ou algo do tipo. Mas James não era normal. Como Lilá também não era. Os dois pareciam mais maduros, mais velhos do que os outros alunos. E aquilo me assustava, acima de tudo.
         Sentei-me à mesa mais isolada do refeitório e observei enquanto as Perfeitas conversavam animadamente no ponto mais lotado de todo o local. Elas pareciam controlar todo o colégio.
         Coloquei meus fones de ouvidos e peguei um pedaço de meu sanduíche. Não estava com fome e a simples ideia de ingerir toda aquela comida, que haviam me obrigado a colocar na bandeja, já me dava enjoo. Decidida a não me alimentar, puxei o livro “Eu Sou o Número Quatro” da minha mochila. Abri na página em que havia parado e comecei a ler novamente, quando alguém sentou em minha mesa.
         James estava sentado em minha frente, as mãos dentro dos bolsos de seu casaco do uniforme. Seus olhos pretos me encaravam, o que provocou arrepios em todo meu corpo. Reparei que em seu pulso havia uma cicatriz, que parecia recente. De alguma forma, ele percebeu o rumo de meus pensamentos e puxou a manga, impedindo que eu visse algo que não devia.
         -Eu não me apresentei – começou James, mas o interrompi imediatamente, enquanto jogava o livro de volta na mochila e pegava minha bandeja.
         -Nem precisa, não quero te conhecer – coloquei a comida intocada sobre a lata de lixo, mas quando me movi em direção às salas, James segurou meu braço, me obrigando a encará-lo novamente.
         -Você precisa me conhecer – afirmou o irmão de Lilá. Seus olhos pretos pareciam esconder uma imensidão de fatos. De fatos assustadores. Seus dedos gelados em meu pulso provocaram ainda mais arrepios em minha pele.
         -Eu não preciso nada – exclamei, puxando meu pulso e saindo do refeitório. Percebi que as Perfeitas observavam a cena atentamente, principalmente Laís. Algo naquela garota ainda não me convencia. Ela era estranha demais para estar naquele grupo.
         Subi as escadas que levavam de volta a nossa sala e me deparei com ela fechada. Era claro. Os inspetores não deixariam um cômodo repleto de mochilas e bolsas de grife aberto.

         Xinguei mentalmente, enquanto me sentava no chão do corredor, ainda escutando música. Aquela escola seria um tormento e eu não tinha para onde fugir. “Só um ano”, prometera sua mãe antes de levá-la ao colégio.
         -Por que você está fugindo de mim, Bianca? – perguntou James, surgindo inesperadamente em minha frente. Como ele e Lilá conseguiam se movimentar tão rápida e silenciosamente?
         -Não te interessa – pensei em me levantar, mas sabia que ele me seguiria, então permaneci sentada. Aumentei o som do meu iPod e fechei os olhos.
         Uma imagem forte e inesperada surgiu em minha mente. Meu pai sendo arrastado de seu carro, ainda vivo, seu sangue espalhado pelo chão. Abri meus olhos, reparando que lágrimas haviam começado a cair.
         -Por que você está chorando? – James secou meu rosto com a ponta de seus dedos frios. Seus olhos pretos pareciam preocupados. Como ele poderia estar temendo por mim? O irmão de Lilá, como ela, nem me conhecia!
         -Por que você não adivinha? – retruquei soluçando. Os braços de James ousaram me abraçar, mas antes mesmo que meu cérebro fosse capaz de sentir esse ato, ele se afastou novamente.
         -Você é a única pessoa que não me oferece as respostas prontas – apesar de a frase indicar brincadeira, ele não parecia estar brincando. James estava falando sério.
         Antes que pudesse perguntar o que ele quis dizer, o sinal tocou e as Perfeitas surgiram no corredor. Vitória e Sara pareciam animadas com alguma série que haviam assistido no fim de semana, enquanto Laís conversava com Manoela. As duas pareciam bastante próximas.
         Levantei-me e dirigi-me para meu lugar na classe. A mochila de Lilá não estava mais na cadeira ao lado. Ela havia saído mais cedo. Aquilo, de alguma forma, me magoou.
         Puxei meu livro da mochila e comecei a lê-lo, ignorando completamente as aulas que se seguiram. Reparei que as Perfeitas se concentravam extremamente no que os professores diziam.
         O último sinal bateu e apressei-me para sair dali. Corri escada abaixo, evitando todo o tumulto que vinha atrás de mim. Fiquei feliz em reparar que no estacionamento já estava o carro de minha mãe. Logo que entrei no veículo, ela me perguntou como foi meu dia e enquanto o relatava, só conseguia pensar em uma coisa: os olhos pretos de James me encarando.
Escrito por StarGirlie.
Quarto Capítulo
Lilá

        E mais uma discussão começara. Mais uma das milhões que estávamos tendo nos últimos dias.
        -Eu disse para se AFASTAR! – rosnei para meu irmão.
        Ambos, bem como nosso pai, estávamos no hall de entrada. Ele estava mais calmo que eu, como sempre. E meu pai mais calmo ainda. Tão previsível.
        -Não pude evitar. – disse ele. – Mas não se preocupe. Ela praticamente me repeliu. – falou, parecendo um tanto decepcionado.
        -Ah! Que novidade! – retruquei, sarcástica. – Até parece que as outras também não te repeliram. Qual é, James? Vamos cair na real, elas, todas, sentem o perigo. Ou sentiram.
        -Eu sei! – disse ele, mais alterado. – Mas ela parecia ser diferente...
        -E é. – disse nosso pai, nos chamando a atenção. – James está certo. Ela é diferente.
        Olhei para ele com minha cara típica de dúvida. Eu sentira, é claro, que ela era incomum. Mas pessoas incomuns existem, apesar de serem raras. Não é mesmo?
        -Como? – disse. – Quer dizer, o que faz ela ser diferente?
        Meu pai olhou para a janela, para a casa onde sabíamos que Bianca e sua mãe haviam se mudado há pouco.
        -Não sei. Ainda. – disse ele. – Não são como nós. Mas não são como eles.
        Pensei em rir. Obviamente elas não eram como nós. Ninguém era como nós. Mas permaneci quieta, tentando não arranjar mais confusão.
        -Lilá? – disse James, após segundos de silêncio. – O que vamos fazer?
        Ponderei se respondia o que estava pensando, ou o que era correto. Decidi por fazer o que uma vozinha na minha mente dizia para que eu fizesse:
        -Não sei você. Mas vou sair.
        Não esperei resposta. Saí correndo pela casa, em direção à porta dos fundos. A escancarei e saí na mata. Só queria ter um pouco de paz.
        Corri, corri, corri. Não sabia para onde ia, mas quando a noite começou a cair, cheguei a uma rodovia.
        Perfeito.
        Fiquei a espreita, somente observando. Estava prestes a fazer alguma coisa mais drástica, quando um carro parou no acostamento.
        Um homem desceu. Ia “tirar água dos joelhos”.
        Logo que o olhei, senti tudo o que ele estava sentindo.
        Raiva. Angústia. Liberdade.
        Pelo que pude ver, ele acabara de sair de uma discussão. Sabia que, no estado em que estava, acabara de fazer algo bem ruim.
        Não tive dúvidas. Na hora em que ele acabou de fazer o que precisava, saltei.
        Lembrei de algo que James me falara, há tempos:
        “Lavar a honra com sangue suja a roupa toda”.*
        Sempre pensava naquilo antes do ato. Mas, depois do primeiro salto, o resto estava predestinado.
        E eu já havia saltado.
        By Babi
        *De Stanislaw Ponte Preta.
Quinto Capítulo
Bianca


         Sentei-me na poltrona virada para a janela que havia em meu quarto. Naquela posição, conseguia enxergar toda a casa de Lilá. Porém, eu sabia que o cômodo que havia em frente ao meu pertencia à de James e não à minha amiga.
         Ele estava deitado em sua cama, lendo algum livro que não pude enxergar. Parecia calmo e relaxado, nunca olhando para a janela, como se soubesse que eu estava ali, lhe observando. Seu cabelo de um castanho quase ruivo era tão estranho quanto seus olhos. James não era normal.
         -Parece que eu não sou a única encantada por nossos vizinhos – disse minha mãe, sentando-se ao meu lado. Ela era parecia incrivelmente jovem para a idade que tinha. Talvez por isso gostasse de ser chamada de Madi e não Maria Eduarda.
         Não respondi, apenas encarei a janela de James, exatamente quando seu pai entrou em seu quarto. August, como minha mãe disse que era seu nome, era tão intrigante quanto seu filho. Seu cabelo e seus olhos eram como os de sua filha: de um preto profundo.
         Levantei-me, recusando a ideia de continuar a espioná-los. Minha mãe me seguiu enquanto ia até a cozinha. Sentei-me em uma das cadeiras da bancada e liguei a televisão. Enquanto isso, Madi começou a preparar nosso jantar.
         A repórter tinha em seu rosto uma expressão séria, enquanto a frase “Homem é encontrado morto em beira de estrada” rolava sob sua imagem. Aumentei o volume:
         -Há poucas horas, foi encontrado morto um homem suspeito de violentar sua esposa. Segundo a polícia local, não havia sangue algum em seu corpo. Acredita-se que o assassinato foi obra de um justiceiro.
         Minha mãe colocou em minha frente, um pedaço de lasanha e disse:
         -Estranho, não é? “Não havia sangue algum em seu corpo”? Parece que viemos para uma daquelas cidades cheias de mistérios – debochou Madi, roubando um pedaço de minha comida. Dei um tapinha em sua mão – Ai!
         Quando o relógio bateu meia-noite e nossa casa, ligeiramente assustadora, já que era feita totalmente de vidro, como a de nossos vizinhos, ficou muito escura, nos dirigimos para nossos quartos.
         Logo que entrei em meu cantinho naquela imensa casa, corri para a janela com o intuito de ver se James já havia dormido. Seu quarto estava apagado como o restante da mansão. Pelo visto, os Juges dormiam cedo.
         Fechei a janela, a cortina e liguei meu computador. Na tela, não havia nenhum papel de parede emotivo. Só rosas vermelhas. Entrei no MSN e procurei os contatos online.
         Não havia ninguém. Era claro, todos teriam trabalho ou escola amanhã cedo. Nenhuma pessoa era estranha ao ponto de gostar de dormir pouco. Como sempre, a esquisita era eu.
         Decidi checar se havia alguma mensagem nova em meu celular, entretanto, ele não estava onde eu o havia deixado. O desespero começou a me tomar enquanto procurava na minha escrivaninha, cama e até no banheiro.
         Joguei-me sobre meus lençóis, tentando me acalmar. O celular deveria ter ficado sobre a mesa da cozinha. Amanhã cedo, eu o pegaria novamente. Sem problema algum.
         Uma rajada de vento abriu as cortinas e bateu a janela com força no batente. Mas como? Tinha certeza que a havia fechado! Não podia estar esquecendo as coisas daquela maneira.
         Aproximei-me da janela, percebendo que o vidro não quebrara. Ela estava intacta. Fechei as cortinas novamente e me virei, com o intuito de me deitar. Entretanto, minha cama não estava desocupada. James estava deitado sobre meu colchão.
         -Ahhhhhhhhhh! – gritei, mas seus dedos gélidos me impediram de fazer escândalo maior.
         -Bianca, acalme-se, eu tenho como explicar – sua voz era calma, mas seu olhar demonstrava um desespero estranho. E, então, percebi que seus olhos não tinham a mesma coloração que antes. Eles pareciam castanhos.
Escrito por StarGirlie.
Sexto Capítulo
Lilá

        Olhei para o espelho. Toquei meus cabelos, minhas bochechas levemente coradas, meus lábios vermelhos como... sangue.
        Amaldiçoei a mim mesma por ter feito aquilo. De novo.
        Mas, o que sempre me deixava mais chocada, era o tom dos meus olhos. Incrivelmente roxos.
        Não poderia ir para a escola no dia seguinte. Não daquela forma.
        E, além disso, meus estômago se revirava. Algo não estava legal ali.
        Segurei na pia e abaixei a cabeça. Pense, pense. Mas, antes que eu tivesse tempo de pensar, tudo voltou.
        Corri para o vaso e vomitei todo o sangue que podia. Em menos de meio minuto, meu pai estava ao meu lado, afastando os cabelos do meu rosto.
        -Calma, calma... – ele falava, enquanto eu sentia lágrimas queimando meus olhos. O que estava acontecendo comigo?
        Depois que tive a certeza de que não vomitaria mais, me levantei e lavei a boca. Olhei no espelho. Continuava igual. Talvez um pouco mais pálida, mas meus olhos ainda eram roxos.
        Comecei a chorar freneticamente, então August me pegou no colo, levando-me para minha cama. Após fechar as cortinas do meu quarto, ajoelhou-se ao meu lado.
        -O que aconteceu, Li? – disse, carinhosamente.
        Ele sabia que eu nunca fora de demonstrar fraqueza. Também nunca vomitara, ou chorara daquela forma. Mas de uns tempos para cá, eu estava me sentindo fragilizada, como se não me alimentasse há dias, mesmo tendo acabado de comer.
        -Não sei. – falei, tentando secar as lágrimas. Estava de pijamas, que colocara depois de um longo banho, o que me deixava um pouco mais relaxada. – Não sei mesmo.
        Meu pai respirou fundo. Ele parecia cansado, até mais do que eu.
        De repente, um cheiro muito forte chegou até mim. Tive vontade de dar ânsias, mas não havia mais nada para vomitar.
        Apesar disso, o cheiro era bom. Abria-me o apetite, apesar de enjoar-me da mesma forma.
        -Que cheiro é esse? – perguntei, me sentindo melhor.
        -Qual? – falou ele, logo depois de inspirar fundo. – Acho que é cachorro-quente, mas por...
        Antes que ele terminasse a frase, um impulso muito forte me pegou em cheio. Saí correndo para a cozinha.
        Sabia que, de tempos em tempos, meu pai pedia alguma coisa para comer, para mostrarmos nossa “normalidade”. Claro, nunca comíamos nada daquilo, caso contrário, poderíamos até morrer.
        Cheguei à cozinha e ataquei os pães que haviam chegado na encomenda. Comi mais de cinco, e quando estava no final do sexto, a porta da casa se abriu e James entrou.
        -O que está acontecendo aqui? – disse ele, ao ver o que eu fazia.
        Olhei para o alimento em minhas mãos e, quando percebi o que estava acontecendo, deixei-o cair no chão.
        -Lilá? – perguntou ele. – O que você está fazendo?
        Mas eu não sabia responder a pergunta. E, ao contrário das outras vezes que tentara comer alguma coisa sólida, eu me sentia muito bem.
        Bem mesmo.
        E aquele foi o primeiro sinal de que algo estranho estava acontecendo comigo.
        By Babi
Sétimo Capítulo
Bianca



         Aquela noite fora horrível. Depois de adormecer sobre o computador e sonhar com James aparecendo em meu quarto, revelando seus segredos mais obscuros (que, infelizmente, não me lembro mais) e dizendo que precisava me proteger, acordei com olheiras enormes.
         Na manhã seguinte, todas minhas ações foram automáticas e só me dei por si ao chegar à sala de aula. Ao contrário do dia anterior, Sara não estava sentada perto das Perfeitas. Ela estava no lugar de Lilá.
         -Olá, Bia! – exclamou Sara, quando sentei ao seu lado. Ela parecia uma personagem de mangá com toda aquela animação. O que a Perfeita estava tentando fazer se aproximando de mim?
         -Eu prefiro que me chamem de Bianca – disse, lembrando-me da mania que tinham em diminuir meu nome. Em meu último colégio, todos me conheciam apenas como Bia e aquilo me irritava profundamente.
         -Ok, Bianca. Então... Eu soube que seu histórico escolar é simplesmente maravilhoso – Sara parecia pular de animação. Seu corpo se movia irritantemente em volta de minha mesa.
         -Ah sim, mas como você chegou a ele? – puxei meus livros da mochila, enquanto procurava os Juges com o olhar. Nem James nem Lilá estavam presentes. E aquele era apenas o segundo dia de aula.
         -Tenho meus contatos – Sara deu uma risadinha e sentou-se sobre minha mesa – Acho que você já sabe o que vim fazer aqui, certo?
         Suspirei e revirei meus olhos. Como as Perfeitas podiam ser tão estúpidas ao ponto de pensarem que poderia entrar para aquele grupinho? Eu não era como elas e notas não nos tornariam parecidas.
         -Sei e a resposta é não – olhei para a porta, em busca dos seres de olhos pretos, mas nenhum deles estava ali.
         -Mas você é linda, inteligente e devemos dizer que atrai a atenção de todos... – tentou me persuadir Sara, mas apenas lhe lancei um olhar de deboche, que a calou imediatamente.
         Segurando sua mochila apertada junto ao corpo, Sara correu para a “área Perfeita” e contou para suas amiguinhas sobre minha atitude errada. Ri baixinho, enquanto procurava em meu caderno a página onde costumava colocar comentários.
         Antes de me mudar, eu era como elas. Uma das “populares”. Mas agora eu não queria aquela vida. Gostava da paz de ser excluída e a prezava acima de tudo.
         Apesar de nenhum deles ter se dirigido a mim diretamente, vi quando James e Lilá entraram na sala. Ela parecia um pouco mais pálida e seus olhos estavam tão castanhos quanto os do seu irmão. Como no meu sonho.
         Lilá não sentou ao meu lado como no dia anterior e, na hora do almoço, saiu correndo com James em seu encalço. Ele, pelo menos, não me perseguiria.
         Decidi que não iria para o refeitório, já que não queria me alimentar novamente. Puxei meu celular da mochila e desci as escadas opostas que me levavam aos pátios. Sentei-me em um dos bancos e disquei um número já conhecido.
         -Alô? – a voz era ligeiramente grossa, sinal de que quem havia atendido a ligação era a pessoa certa.
         -Adivinha – respondi com uma voz provocadora. A risada que veio do outro lado da linha deixava claro que aquela ligação nos fazia bem.
         -Oi, Bianca – disse Nate entre risadinhas. Imaginei-o sentado em uma mesa no refeitório do meu antigo colégio, rodeado de amigos. Era uma sensação boa vê-lo feliz.
         Exatamente no momento em que iria respondê-lo, escutei uma briga a distância. Tampando o bocal do telefone, corri para o local de onde vinha o som, permanecendo escondida. Eram Lilá e James.
         -Você não entende, não é, James?! Ela é humana! Você não pode se aproximar dela! – a voz de Lilá estava extremamente alterada e seus olhos castanhos pareciam pender para algo como... Roxo?
         -Eu posso e irei. Você não tem nada haver com isso, Lilá! Não é por causa da sua incapacidade de amar, que eu deixarei o amor – James se virou, porém, sua irmã segurou seu braço com uma força imensa. Entretanto, ele a jogou contra a parede sem nem mesmo se mexer muito.
         Saí correndo em direção ao refeitório. O corpo de Lilá deixara um buraco na parede, mas ela parecia intacta. Algo estava muito errado ali. E eu tinha que descobrir.
Escrito por StarGirlie.
Oitavo Capítulo
Lilá
        Escutamos os passos tarde demais. Alguém ouvira nossa briga. Inclusive a parte sobre ser humana.
        James já estava longe. Estava irritada com ele, todo aquele papo de amor e coisa e tal. Quer dizer, ele conhecia a garota há o quê? Um dia?
        Sem contar na insistência que tivera pela manhã em ir para aula. Sentia-me péssima. Tudo girava ao meu redor, e cada vez que via alguém, imaginava como poderia sequer ter imaginado, em qualquer momento, em tocá-lo.      
        Encostei-me na parede e fui escorregando para o chão, até que fiquei sentada, com meus próprios pensamentos.  Parecia fazer uma eternidade desde que minha vida estivera normal. Mas, na realidade, fora há apenas dois dias.
        Dois dias que mudaram tudo.
        Escutei passos, mas nem fingi estar bem. Não havia como.
        Uma forma sentou-se ao meu lado e me abraçou.
        Logo que me tocou, senti uma coisa diferente, que lembrava ter sentido há muitos, muitos e muitos anos. Uma coisa que até já esquecera como era, e me surpreendeu.
        Acho que se chamava carinho.
         Após alguns segundos, levantei a cabeça e ele retirou os braços de cima de mim.
        -Karl? – falei, meio perdida.
        -Lilá. – disse, sorrindo. –Acho que isso é um avanço. É a primeira vez que não se afasta ao meu toque.
        Logo que o vida, pensei nos meus olhos roxos. Deveria estar tentando escondê-los. Mas não podia. Não queria. Já estava farta de me esconder.
        -Vai sonhando. – falei, meio sarcástica. Apesar de me sentir meio mal ainda, não havia perdido a personalidade de sempre.
        Ele riu, de uma forma descontraída. Quase tive vontade de rir também, levando em conta que estivera buscando motivos para ficar feliz. Mas não ri. Apenas o observei.
        Depois de algum tempo, ainda não havíamos falado nada um para o outro. Sentia que não era preciso.
        Isso era estranho. Geralmente, quando eu estava perto de alguém, não parava de falar.
        Mas ali, estava simplesmente... bem. 
        Encostei cabeça em seu ombro. Queria sentir novamente aquele toque. Porém, logo que assim fiz, senti um cheiro.
        Cheiro de sangue. Sangue humano.
        E, mesmo sentindo náuseas, lembrei do sabor agridoce que aquilo possuía...
        -Seus olhos são meio roxos, sabia? – disse Karl, fazendo com que meus pensamentos fossem cortados.
        Fiquei meio confusa, sem ação. Mas achei que aquilo poderia ser um elogio. Parecia um elogio.
        -Karl, - falei, depois de alguns minutos. – você é um ótimo...
        Contanto, não encontrei a palavra. Sim, ele significava algo para mim. Mas não sabia descrever aquilo.
        -Acho que você quer dizer “amigo”. – falou ele, sorrindo.
        Concordei, também sorrindo. Talvez a palavra fosse mesmo aquela. Amigo.
        Ele se levantou, e depois me ajudou a fazer o mesmo. Senti que deveria retribuir. Não pelas palavras, mas pelos sentimentos. Era raro ver alguém tão... puro. E aquilo me fez bem. Quase me fez esquecer os problemas.
        Quase.
        O abracei, sem saber ao certo como fazer aquilo. Mas ele logo retribuiu, e eu percebi que estava certa. Era carinho.
        Meu celular começou a apitar, me assustando, e quando o peguei, li uma mensagem de meu pai:
        “Vou almoçar fora. De um jeito de manter Bianca em nossa casa enquanto eu estiver com a mãe dela. August”
        Respirei fundo. A minha tarde seria longa, muito longa.
        By Babi
Nono Capítulo
Bianca


         Joguei-me no sofá da sala dos Juges, com uma carranca estampada no rosto. Não queria ficar no mesmo cômodo que James. Já bastavam as aulas que eu tinha que aguentar todos os dias.
         -Está bem – Lilá sentou-se na poltrona em minha frente e James permaneceu na parte mais afastada da sala. Ele parecia tenso e seus olhos não estavam mais castanhos. Haviam voltado ao preto do dia anterior – Se eu vou ficar aqui, não quero segredos. Falem agora o que foi aquela briga de hoje mais cedo.
         -É claro que seria você que escutaria! – exclamou Lilá irritada, se virando para James. Ele se encolheu como se a irmã fosse mais forte. De alguma forma, ela podia ser mesmo.
         O silêncio predominou o local, mas ao contrário do esperado, não me encolhi como James. Levantei-me do sofá e peguei minha mochila que estava no chão.
         -Olha, Lilá, eu achei que você era uma menina legal, mas suas mudanças de humor estão me matando. Não quero ser sua amiga nem de James. Apenas me deixem em paz, ok? Não vim para Curitiba para arranjar mais problemas do que já tinha – abri a porta de entrada da casa e desci as escadas.
         Não iria voltar para casa. Era muito próxima daqueles adolescentes problemáticos. Peguei minha bicicleta e decidi para onde iria.
          -Bianca? – perguntou Manoela, quando me aproximei da loja que pertencia à sua mãe. Seu cabelo loiro estava preso em duas tranças e ela vestia um vestido vermelho curto. Ficava bem melhor nela do que aquele uniforme.
         -Oi, Manu – não sabia se ela gostava de apelidos, mas, pelo jeito como sorriu, esse não a afetava – Gostaria de comprar um livro, você me recomenda algum?
         -Bem, eu quase nunca sei qual recomendar. A Lilá sempre me ajuda – Manoela sentou em uma das cadeiras, convidando-me a sentar ao seu lado.
         -A Lilá? Achei que vocês não se falavam – observei a livraria. Era aconchegante e simples, ao contrário de Manoela.
         -A gente não se fala, mas ela é arrogante o suficiente pra me mandar listas de como vender livros – Manu riu e apontou para uma das estantes – Ela diz que aqueles são os melhores.
         Agradeci e me dirigi até lá. O choque percorreu meu corpo rapidamente. Todos os livros tratavam sobre o sobrenatural. Anne Rice, Alyson Nöel, Lauren Kate, J.K. Rowling, Stephenie Meyer, L.J. Smith.
         Vampiros, bruxos, imortais. O que aquilo significava? Lilá era apenas uma aficionada por livros “mágicos” ou algo a mais havia? Abaixei-me a procura de Crepúsculo, mas ele não estava na prateleira onde deveria estar.
         A luz piscou. “Manu?” chamei, mas não houve resposta. As lâmpadas “hesitaram” novamente. Uma das estantes ao meu redor tremeu. Alguns livros caíram. Tentei me afastar, porém, pedaços do teto começaram a cair por todos os lados.
         Os livros caíam cada vez mais rápidos. Todos pareciam querer pular de suas prateleiras. “Socorro!” tentei gritar, mas minha voz não saiu. Partes das estantes caíram ao meu redor. Eu vou morrer, pensei.
         Uma estante caiu sobre meu corpo. Olhei para o lado com dificuldade e encontrei “Crepúsculo” ao meu lado e então, minha mente se esvaiu. Talvez pela última vez.
Escrito por StarGirlie.
Décimo Capítulo
Lilá

        James levantou de repente. Ambos estávamos na sala, eu lendo alguma coisa, apesar para me distrair, e ele perdido em pensamentos.
        -O que foi? – disse, assim que o vi andar de modo duro para a porta da frente. Meu irmão estava cada dia mais distante.
        -Ela corre perigo.
        Entendi momentaneamente o que ele queria dizer, pois senti também. Uma onda muito forte de medo me contagiou, e tudo que pude ver foi...
        ...”Crepúsculo”!?
        Aquilo não fazia sentido algum. Claro, era um dos meus livros favoritos, mas como podia estar relacionado com Bianca?
        Às vezes, eu ia além de sentir emoções. Às vezes, também via alguma imagem, algo que se remetesse ao sentimento da pessoa em questão.
        Mas isso só havia acontecido duas vezes em minha vida toda. Ou não tão em vida assim.
        A primeira, foi o acidente. Vi neve sendo manchada de sangue, o que não fez sentido algum, já que estávamos na primavera. E, a segunda, foi pouco antes de vomitar, na noite anterior. Vi minha mãe.
        Na hora nem liguei. Era imagens borradas, escuras. Como antigas fotografias. Mas agora percebia, aquele livro significava algo.
        E tudo que pude pensar foi: temos de correr.
        James entrou no carro e malmente esperou que eu fizesse o mesmo.
        Chegamos à biblioteca/livraria em poucos minutos. Aquele foi o único lugar em que imaginei encontrar o livro que há pouco vira.
        Entramos, a luz estava apagada e não vi Manu ali, como era de costume. Estranho.
        Corri para o lugar em que os livros “sobrenaturais” se encontravam. Provavelmente, “Crepúsculo” estava com eles.
        E tive um susto.
        Ali, no chão, estava Bianca. Uma das estantes cobria seu corpo. Ela se virou para mim, e vi um filete de sangue escorrendo de sua testa.
        Sangue humano.
        Mas não houve tempo para pensar nisso. Logo que me olhou, algo estranho aconteceu.
        Esperava ser arrebatada por um sentimento de dor (um dos piores de se sentir), mas, ao contrário disso, não senti absolutamente nada.
        Como se ela já tivesse partido, apesar de seus olhos me olharem com uma vivacidade fantástica.
        Senti meu mundo rodar, e antes de cair, escutei uma voz. Longe, mas mesmo assim, audível.
        “Eu sei o que você é”, disse ela, antes que os braços de James me segurassem.
        Um último pensamento passou pela minha mente.
        Seres como eu não desmaiavam.

        E desmaiei.
By Babi
Décimo Primeiro Capítulo
Bianca
        Meu corpo estava imobilizado sob aquela estante, porém, minha mente estava atenta o suficiente para ver a chegada de James e Lilá na livraria. Os dois praticamente voaram para dentro da sala e depois a garota desmaiou a me ver.
         James posicionou Lilá em uma poltrona confortável e correu para me ajudar. Correu não é a melhor palavra. Ele simplesmente surgiu ao meu lado. Seus braços extremamente fortes arrancaram a estante de meu corpo.
         -Bianca, você consegue falar? – olhei em seus olhos, tremendo de leve ao perceber que eles eram roxos. Imaginei se ele usava lentes de contato, mas algo me dizia que aquele não era o caso.
         Forçando-me ao máximo, consegui dizer um trêmulo “sim”. Após o desmaio de Lilá, sentia-me ainda mais fraca, como se tivesse feito algo muito cansativo.
         James me colocou em seus braços e tirou meu cabelo do rosto. Meus olhos castanhos procuraram os pretos a qual já estava acostumada, mas havia apenas aquela imensidão roxa.
         -Você realmente não se lembra de nada – seus dedos gélidos tocaram meu rosto e meu estômago revirou. Imagens de animais sendo mortos apareceram em minha mente.
         -Lembrar…? – não consegui terminar a pergunta, mas James a entendeu. Um sorriso de lado surgiu em seus lábios e por um breve momento, ele pareceu o Edward de Crepúsculo.
         -Sobre minha aparição no seu quarto ontem à noite. Tudo que lhe contei – sua voz era aveludada como a de um príncipe encantado. Porém, minha memória tentava me alertar que ele não era assim.
         Então, enquanto olhava para seus olhos roxos, a compreensão chegou. James realmente aparecera em meu quarto durante a madrugada. E tudo que ele dissera era verdade.
         “Vampiros. Somos vampiros, Bianca. Lilá é meia-vampira, na verdade. A mãe dela aguentou seu parto se transformando em vampira, mas desapareceu no mundo logo em seguida. Sua aparência pode ser de 14 anos, mas ela já passou dos 50.
         -E você? – lembro-me de perguntar.
         Tenho 124 anos, dissera James. Não me alimento de seres humanos, talvez, por ter morrido ao tentar salvá-los em uma guerra contra vampiros. Nunca seria capaz de feri-los como meu pai.
         Já Lilá, bem, ela só mata mal-feitores. Mas de qualquer modo, se sente mal pelo que faz. Ainda mais sabendo que sua mãe poderia ser alguém como eles.
         -E por que você está me contando tudo isso? – meu sono estava me consumindo, mas eu tinha que questionar.
         Porque eu me sinto que você é a garota que fui destinado a proteger. Não é todo mundo que tem a chance de ficar eternizado com 17 anos, riu James, e ainda tem que fingir ter 14.”
         -Então, era tudo verdade? – perguntei no presente – Você é um vampiro? – ao contrário do que imaginava, não tremi de medo. Eu confiava em James.
         -Sim – ele respondeu apenas, me abraçando – Mas Bianca há mais uma coisa.
         -O quê? – seu carinho estava me acalmando e eu nunca mais queria que fôssemos separados. Lembrei-me de Lilá do outro da sala, ainda desmaiada. Vampiros não deviam desmaiar.
         -Eu posso curar esses machucados – ele apontou para minhas pernas repletas de sangue – Basta que você tome meu sangue.
         Inicialmente, aquilo era repugnante para mim, mas pensando melhor, eu não sentia minhas pernas nem meus braços e não queria ficar tetraplégica. Não importava que tivesse que tomar o sangue de um vampiro.
         -Está bem – e James mordeu seu pulso, antes de colocá-lo na frente de meus lábios.
         -O que você está fazendo? – gritou Lilá, enfim, acordando.
Escrito por StarGirlie.
Décimo Segundo Capítulo
Lilá

        Poderia ter matado James no momento em que o vi botando seu próprio sangue na boca daquela menina, tamanha era minha raiva.
        Será que ele não percebia que aquilo o afetava? Será que ele esquecera Joana? Esquecera o que havia acontecido com ela após atos como aquele?
        -Pare agora. – disse, olhando para Bianca. Ela imediatamente lançou o braço de James para longe. – Isso pode até lhe fortalecer. Por enquanto. Mas meu irmão sabe, tanto quanto eu, que isso pode deixá-la viciada, enquanto ele... morrerá.
        Bianca olhou para o pulso do garoto, como se, pela primeira vez, percebesse o que estava fazendo. Seus olhos se encheram de lágrimas, enquanto James me fuzilava com os próprios.
        -Achei que havíamos combinado em tomar cuidado. – falei, correndo para ajudar Bianca a se levantar.
        -Estou tomando cuidado. – respondeu meu irmão, cerrando os dentes. – Não repetirei os mesmos erros.
        Bianca parecia confusa, e logo percebi que James falara demais.
        -Que erros? – disse ela, fragilizada. Teríamos de ir para um médico imediatamente.
        Ficamos em silêncio, e ela repetiu a pergunta.
        -Erros que estão no passado, e não voltarão. – disse James, finalmente.
        Bianca não insistiu, mas pela dor que devia estar sentindo, aprovei seu comportamento.
        -Eu assumo daqui. – falei, colocando meu braço envolta da garota para sustentá-la. – Vá para casa.
        -Não. – disse ela, antes mesmo que James pudesse dizer algo. – Quero que você fique. – falou, olhando para o menino.
        Respirei fundo. Pelo jeito, o amor era recíproco naquele local.
        James sorriu, mostrando que havia ganho. O ignorei e andei para fora da loja enquanto ele carregava Bianca no colo.
        Entramos no carro e, após minutos, chegamos ao hospital. Bianca foi levada por um médico, enquanto James ficou na sala de espera. Não agüentando a demora, fui para a lanchonete do local.
        Logo que lá cheguei, vi alguém acenando.
        Karl.
        Sorri, e depois me senti boba. Não havia motivos para sorrir.
        Fui até ele, meio envergonhada, e me sentei à sua frente.
        -Ora, ora, vejam só! Senão é a minha mais nova amiga! – disse ele, e eu quase me senti corando.
        -Haha. – falei, sarcástica.
        -O que te trás aqui? – finalmente perguntou, assumindo um tom mais sério.
        -A protegida do meu irmão. – disse. – Minha nova vizinha.
        -Bianca?
        Assenti.
        -Ouvi falar. – ele tomou um gole do suco que tinha nas mãos, me oferecendo logo em seguida. Recusei.
        -E o que você está fazendo num hospital? – perguntei, meio em dúvida se era a coisa certa a se fazer.
        Ele tomou mais um longo gole, ponderando se devia ou não responder. Parecia um assunto delicado.
        -Minha mãe. Ela faz... quimioterapia.  
        Engoli em seco. Quase me desculpei, mas achei que aquilo poderia ser pior do que perguntar em si.
        Ficamos quietos por momentos que se arrastaram. Eu não tinha mais ideia do que deveria fazer. Talvez fosse melhor ver Bianca....
        -Ei? – disse ele, quebrando o clima silencioso. – Quer dar uma volta?
        Sorri, pensando “por que não?”.
        -Onde vamos? – perguntei, depois que saímos do hospital. A noite estava prestes a cair, e tudo indicava que ele estava me levando para algum lugar no meio da floresta.
        -Você vai ver.
        Ele sorriu, mostrando covinhas que se destacavam como algo brilhante em seu rosto. Karl me puxava pela mão, e aquele toque era quente e suave, ao contrário do meu, frio e morto. Parecia... bom.
        Entramos na mata, e após alguns minutos, paramos.
        -Aqui. – ele disse, e eu pensei como aquele lugar era exatamente igual ao que havíamos estava um minuto atrás.
        -O quê? – perguntei, não vendo nada demais.
        -Olhe para cima.
        Olhei, assim como ele mandara. Tive uma visão que me tirou o fôlego.
        Alguns vagalumes voavam por ali, e a lua estava em seu período chamado “crescente”. Era espetacular, como se os animaizinhos iluminados acrescentassem algo que há tempos faltava a lua.
        -É lindo! – disse, animada.
        Virei-me para ele, mas antes que eu pudesse falar mais qualquer coisa, encontrei seus lábios.
        E aquilo foi, acima de tudo, estranho.
        Nunca beijara alguém na vida. Mais por medo do que por qualquer outra coisa.
        Quer dizer, eu era uma vampira. Forte. Sugadora de sangue. Letal.
        Se não acabasse atacando meu companheiro, poderia simplesmente quebrar a mandíbula dele, ou sei lá.
        Mas com Karl, foi muito diferente do que imaginara. Na realidade, foi quase o contrário.
        Ele estava praticamente quebrando minha mandíbula.
        E eu tinha certeza de que estava fazendo aquilo de forma forte, sendo que, cada vez que ele me apertava, eu fazia o mesmo.
        -Ai! – disse, parando, quando ele estava quase arrancando minha boca fora.
        De repente, Karl olhou para mim, espantado. Como se percebesse que acabara de fazer algo errado.
        Mas a expressão dele estava melhor que a minha.
        Eu estava horrorizada.
        Não pelo beijo, mas sim porque Karl era forte.
        Forte de uma forma não-humana.
        -O que você é? – sussurrei, sentindo ainda o gosto do beijo, que, acima de tudo, fora excitante.
        By Babi
Décimo Terceiro Capítulo
Bianca


         Sangue escorrendo por minha garganta, a briga de Lilá e James, a revelação da verdadeira identidade dos dois. As imagens se bagunçavam em minha mente. Realmente, ter fugido da casa dos Juges não fora uma boa ideia.
         -Bianca? – escutei James chamar quando abri meus olhos. Seu rosto estava triste como se ele tivesse cometido o maior erro de sua vida. Suas bochechas estavam levemente coradas o que me levava a acreditar que havia se alimentado há pouco tempo. A ideia de sangue me enjoou novamente.
         -Quem era Joana? – perguntei sem controle algum. Reparei que seus olhos castanhos penderam para o roxo em poucos segundos. Lentes de contato.
         -Ela era minha amiga quando ainda era humano. Estávamos prestes a nos casar, sabe? Nossos pais amavam o nosso romance. Quando virei vampiro, Joana quis entender o gosto de sangue e começou a tomar o meu. Só que isso se tornou um vício e ela quase me matou, além de ter se tornado uma espécie de zumbi. Então, um dia, Lilá quebrou seu pescoço.
         Meu corpo inteiro se arrepiou. Ele falara aquilo de uma forma tão insignificante. Joana não lhe significara nada. Então, o que me levava acreditar que eu tinha importância?
         -Lilá não deveria ter te comparado a ela. Joana fora um amor que eu aprendi a amar. Fui forçado a me apaixonar por ela. Logo que virei vampiro esse sentimento desapareceu. Um ser como eu só ama uma vez em toda a eternidade e isso não aconteceu com a mulher que meus pais queriam.
         -Espere só um instante! August não é seu pai biológico? – perguntei em choque.
         -Não, não. Eu nasci de dois humanos, mas ele se relacionou com minha mãe o que gerou Lilá. Depois que meus pais biológicos morreram em um acidente de carro, fomos adotados por August – suas mãos tremeram, James olhou em meus olhos – Na verdade, fora ele que me transformara em vampiro.
         Imaginei minha mãe com um monstro como August. Ele transformara o meio-irmão de sua filha em vampiro! Acabara com a vida que James um dia poderia ter. Como um ser que nem aquele podia se relacionar com humanos?
         As mãos de James seguraram a minha, quando ouvimos uma batida na porta. O nariz do vampiro que salvara minha vida se contorceu. Segundos depois, Nate entrou no quarto.
         Sua pele estava mais bronzeada do que me lembrava. Músculos saltavam sob sua camiseta de manga longa. Ele também havia crescido uns 20 centímetros. E inacreditavelmente, não hesitou ao ver James ao meu lado.
         -Olá, Bia – seus lábios beijaram minha bochecha e ele sentou sobre o colchão de minha cama. Suas mãos seguraram a minha que não estava sob o toque de James.
         -Achei que você não gostava de apelidos – provocou o meio-irmão de Lilá, olhando com ódio para Nate, que simplesmente o ignorava.
         -Eu sou o único que pode chamá-la assim – respondeu meu amigo sem nem tirar os olhos de mim. James pigarreou, mas não houve efeito algum. Nate ainda parecia só me ver.
         -Eu senti sua falta – afirmei sem nem me lembrar que o centenário que me impedira de morrer estava ao meu lado. Os olhos castanhos de meu antigo amigo me hipnotizaram imediatamente.
         -Também, minha palidazinha – ri de sua aversão a minha pele sem cor como a sua. Quando morávamos na mesma cidade, eu era tão queimada como ele, mas parece que Curitiba estava me mudando rápido demais. Ou seria o sangue de James?
         Enquanto os dois seguravam minhas mãos, reparei a diferença de temperaturas. O vampiro tinha dedos gélidos e que me arrepiavam, já meu amigo possuía uma pele tão quente que não conseguia acreditar que pertencia a um humano.
         -Nate, no que você se transformou? – minha voz mostrava o choque que havia dentro de mim. Seus olhos finalmente recaíram em James. E, finalmente, pude perceber que ele sabia a verdade. Sobre eles, sobre mim. Sobre tudo.
Escrito por StarGirlie.
Décimo Quarto Capítulo
Lilá

        Entrei no quarto rapidamente. Era de manhã, e logo que escutei as vozes, sabia que algo muito errado estava acontecendo ali. Eles estavam brigando.
        Karl me seguiu, e quando escancarei a porta, uma dor de cabeça muito forte me atingiu. Uma dor que eu nunca sentira antes.
        Mas, apesar da dor, o que mais me surpreendeu foram as pessoas que encontrei ali. Bianca, James e...
        -Nate? – disse Karl, assim que viu a cena.
        -Karl? – falou  garoto, olhando para mim.
        Não compreendi nada. Por qual motivo Nate voltara? Por que Bianca estava em pé, praticamente estática, como se estivesse muito brava com ele? Por que James parecia acuado?
        -Vocês se conhecem? – disse a garota, tão confusa quanto eu.
        Segundos se passaram, até que Nate respondeu:
        -Eu nasci aqui, Bia. Mas, como lhe contei, fui expulso. Por eles. – o menino apontou para mim, e depois para James. – Karl é meu irmão.
        Fiquei parada, tentando assimilar tudo e ainda suportar a dor na cabeça. Nate era irmão de Karl?
        Mas Nate era...
        -Lobisomem. – sussurrei, me virando para Karl. O beijo que me dera na noite anterior não era humano, mas eu nem pensara sobre o fato de que ele podia ser irmão de alguém como Nate.
        Mas eu fora ingênua, pois a verdade estava clara. Eles eram idênticos. Não literalmente, mas os traços, os olhos, a boca...
        Apesar disso, uma coisa estava certa: embora fossem irmãos, os dois eram, sim, diferentes. Não fisicamente, mas no modo de pensar.
        Enquanto Karl era doce (um pouco grudento, mas doce), Nate era exatamente o contrário.
        E ele falara a verdade. Nós o expulsamos.
        Mas o garoto de fato não dissera os motivos. E eu sentia, naquele momento, que ele só tentava-se mostrar tranqüilo. No fundo, estava muito nervoso.
        -Nate matou um vampiro. – disse James, quase como se lesse meus pensamentos. – Nate matou nosso irmão, Charles.
        Bianca pôs a mãos na boca, como se quisesse voltar no tempo e não ter escutado o que ele dissera. Ela estava extremamente chocada.
        Só não entendia uma coisa: de onde ela conhecia Nate?
        Virei para James, que me encarava pedindo desculpas com os olhos. Havíamos prometido nunca tocar no assunto “Charles”, mas eu o entendia.
        Logo, tentei parecer calma, mesmo estando mais assustada do que todos.
        -Como você o conhece? – me escutei dizendo para Bianca, ainda chocada como se fosse chorar.
        -Ele era meu melhor amigo. – disse ela entre os dentes, e percebi que aquilo mudou totalmente o que Nate estava sentindo.
        Naquele momento, ele pareceu arrependido, e eu descobri que ele a amava.
By Babi
Décimo Quinto Capítulo
Bianca


         Voltar à escola depois de todos aqueles problemas no hospital fora até mesmo um alívio. Mesmo não querendo ver James, Lilá, as Perfeitas e o novo aluno, Nate, sabia que, pelo menos, ali estaria longe dos dramas sobrenaturais.
         Coloquei minha mochila em meu lugar costumeiro e observei enquanto a sala se enchia. Todas as Perfeitas se sentaram em seus lugares habituais, com exceção de Vitória que decidiu falar comigo. O que estava acontecendo com elas? Só faltava Laís surgir do nada com um papo “meigo”.
         -Bianca, certo? – Vitória se sentou em cima da minha mesa e balançou suas pernas, enquanto me observava atentamente. O que aquelas meninas irritantes viam em mim? Aquilo já estava me dando nos nervos.
         -Sim, por quê? – esperei impaciente que ela saísse de minha mesa, mas ao contrário de Sara, ela não era fácil de persuadir. Teimosa, pensei imediatamente.
         -Soube que você recusou o convite feito pela Sara e que antes daquele acidente horrível na livraria – a falsidade vertia de seus lábios – você conversou com a Manu. Como eu não quero ser “a estranha” do grupo, vim conversar com você.
         -Então, você quer que a Laís seja a estranha? – finalmente, fiz com que ela saísse de minha mesa e pude colocar meu material sobre ela – É isso?
         Vitória ficou surpresa. Pelo visto, ninguém nunca havia contra-atacado uma de suas provocações. E isso realmente era um sinal péssimo para mim.
         -Acho que a Lilá não te explicou bem o que é mexer com as Perfeitas – seu dedo apontava “ameaçadoramente” em frente ao meu rosto – Mais uma dessas suas gracinhas e iremos nos vingar.
         Quando ela estava prestes a se virar, a raiva explodiu de dentro de mim. Já vinha aguentando muita coisa ultimamente. Os vampiros James e Lilá tentando se aproximar insistentemente de mim, a descoberta que Nate havia matado o irmão deles, a relação precoce de minha mãe com August…
         -Se vingue, querida. Estou pouco me lixando para o que você ou as Perfeitas farão comigo. Vocês são perfeitas? Sim, perfeitas idiotas, perfeitas inúteis, perfeitas medíocres
         Não consegui terminar a frase porque no segundo seguinte, Vitória caiu sobre mim, puxando meu cabelo. Ela parecia em plena fúria como se eu tivesse matado sua família. Laís tentou tirá-la de cima de mim, mas não houve jeito. Nem mesmo a voz de líder de Manu ou as palavras calmas de Sara fizeram efeito nenhum na garota.
         -Já chega, “podre-rosas” – Lilá jogou Vitória contra uma das mesas e me ajudou a levantar – Acho que vocês enfim encontraram uma rival a sua altura.
         Laís abriu a boca para falar, mas algo dentro de si a fez se calar. Seria o bom-senso?
         -Já aguentamos muita coisa graças ao reinado de vocês. Acho que é hora de uma nova líd… - continuou Lilá, mas eu a interrompi:
         -Mas eu não a serei. Desculpem-me, mas não sou assim e estou cheia disso tudo.
         Puxei meu fichário e minha mochila, saindo correndo em seguida, porém, algo me barrou. Alguém, na verdade. Senti a pele quente em contato com a minha antes de levantar meus olhos e ver o olhar castanho que ainda não havia saído do meu coração.
         -Bia, desculpe-me – a voz de Nate saiu tão verdadeira e natural que não pude deixar de sorrir. Ele era ainda meu melhor amigo. Tudo não acabaria por causa de James ou de quem quer que fosse o tal de Charles. Aqueles vampiros não mudariam nada na minha vida. Não mais.
Escrito por StarGirlie.
Décimo Sexto Capítulo
Lilá



              Não me dera nem mesmo ao trabalho de procurar Bianca, pois sabia que, depois daquela demonstração, ela estaria bem. Talvez fosse mais parecida comigo do que eu quisesse admitir.  E, além disso, James provavelmente a estava seguindo.
                Olhei para meu celular, que piscava. Novamente, pensei.
                “Desculpe, Lilá. Esta deve ser a quadragésima nona mensagem, e não vou parar enquanto você continuar me ignorando. Eu queria te contar, eu ia te contar. Mas depois daquela noite, achei que tudo o que havíamos sentido poderia mudar. Bom, o que eu havia sentido. E, pelo jeito, estava certo. Mudou. Mas eu ainda continuo o mesmo, basta me dar um sinal e eu estarei ao seu lado.”
                Balancei a cabeça, rindo daquelas palavras.
                -É claro que te desculpei, seu idiota. – falei em um tom baixo, sabendo que ele, do outro lado da sala, havia escutado. Lobisomens possuem uma audição mais aguçada, como vampiros.
                Logo que assim falei, senti-o se aliviar. Ri também.
                Em menos de um minuto, lá estava ele ao meu lado.
                -Então você não está brava por eu ser irmão do... – ele deixou a voz sumir.
                -Não. – respondi, firmemente. – Você não me decepcionou como ele, e sei que são extremamente diferentes. Sou madura o bastante para entender a diferença. – respirei fundo, vendo os olhos de Karl brilharem de alegria, e sentindo os meus da mesma forma. –  Veja James e eu. Somos muito, muito, muito diferentes.
                Ele concordou, e abriu os braços como se pedisse um abraço. Levantei da cadeira em que estava e o aceitei, deixando os rostos de muitos que estavam perto de mim espantados.
                -Obrigado. – ele sussurrou, e eu concordei, ainda abraçada a ele.
                O professor entrou na sala e mandou todos nos sentarmos, mas quando Karl foi se soltar de mim, lhe dei um beijo rápido nos lábios.
                -Eu gosto de você, Karl. Gosto mesmo.
                Ele sorriu, mostrando uma covinha linda em sua bochecha, e foi se sentar.
                Senti uma coisa engraçada em várias pessoas ao redor: surpresa. Mas como até eu me surpreendi com a minha própria atitude, então acho que eles estavam certos.
                A aula passou muito rápido, e quando faltavam apenas 5 minutos para o intervalo, recebi um bilhetinho.
                “Te convidaria para jantar, mas... Enfim, quer ir na minha casa hoje à noite? Gostaria de ter mostrar meu lobo interior. Haha.”
                Revirei os olhos. Que piadinha mais horrível.
                Virei-me para Karl, que ria da minha expressão, e concordei com a cabeça. Para falar a verdade, estava bem ansiosa para aquilo. Dizem que a forma de lobo em lobisomens é o modo mais puro de ver sua alma.
                Resumindo, se ele fosse um lobo feio, ele seria feio por dentro. E se fosse bonito, bem, acho que entenderam. E algo me dizia que em forma de “lobo”, Karl era um “gato”.
                Ok, acho que esse negócio de piadinhas sem graça me atingiu também.
                Depois da aula, saí para comprar algo para vestir de noite. Nem tão exagerado, nem tão simples. Acabei escolhendo um vestidinho de verão azul.
                Prendi meu cabelo em um coque, quando chegou a hora de me arrumar (algo que fazia raramente), e finalmente sai em direção à casa de Karl. Olhei para o relógio. Oito horas.
                Era um bom horário, concordei.
                Saí do táxi (que eu raramente pegava, mas desta vez não queria nem James nem August envolvidos no meu “encontro”). Olhei para o lugar.
                Era bem pequeno, mas ali só morava Karl. Seus pais já haviam morrido e seu irmão não se atreveria a entrar naquele lugar. E, apesar disso, era lindo.
                Uma hera cobria a maior parte da casa, florescida em alguns pontos. Luzes de festa estavam penduradas nas árvores, iluminando a casinha. Logo que cheguei, a porta se abriu e Karl saiu lá de dentro.
                -Estava te esperando. – disse ele, tranqüilo, abrindo mais a porta para que eu entrasse.
                Entrei, respirando fundo. Sabia que, ao fazer isso, estava deixando para trás minha família, uma vez que a dele matara meu irmão. Mas, mesmo sabendo disso, eu queria entrar. Queria estar com Karl.
                Pois, ao fazer isso, eu me sentia bem. Estando com ele, eu estava bem.
                Entramos, e antes mesmo que eu pudesse perceber, estávamos nos beijando, deixando que tudo acontecesse.
                Meu coque caiu, bem como meu vestido.
                -E a transformação? – perguntei, preocupada.
                -Temos mais de três horas. – disse ele, enquanto me beijava de forma doce e firme.
                Concordei, achando que aquele tempo seria suficiente. Eu o queria, queria como jamais quis qualquer outro. Mais até do que queria seu sangue.
                Eu senti o cheiro adocicado do mesmo, mas estava controlada. Aquilo era estranho, diferente para mim, mas ao lado de Karl, conseguia controlar minha sede. Perguntei-me por um instante se aquilo era o tão falado “amor”, e cheguei a conclusão que só podia ser.
                Eu o amava, e não conseguia parar mais. Eu era a predadora, e ele, a caça. A caça que poderia virar o caçador.
                Podia conter meu coração.
                Em meio a tantos pensamentos, acabamos perdendo a hora.
                E, por este motivo, o pior aconteceu.
                By Babi
Décimo Sétimo Capítulo
Bianca 


         Lilá estava machucada. Era apenas isso que James repetia enquanto saía correndo de minha casa. Não podia segui-lo, pois, apesar de conseguir ir para o colégio, meus machucados ainda eram graves. E, além do mais, aquela era noite de lua cheia.
         Eu e minha mãe não éramos seres sobrenaturais, mas nós duas tínhamos certo temor das primeiras noites de lua cheia. Sempre que saímos de casa nesses dias, alguma desgraça ocorria. A última fora o acidente de carro que matara meu pai.
          Porém, aquela noite estava extremamente estranha. O ataque de Karl a Lilá enquanto eles, bem, vocês sabem, era apenas uma das peculiaridades. Além disso, minha mãe havia ido dormir antes do pôr-do-sol, algo que só ocorrera no dia seguinte à morte de meu pai.
         Fui até o meu banheiro e toquei a pequena cicatriz que havia em meu pescoço. Eu havia ganhado-a quando era apenas uma criança e meus pais nunca conseguiram explicá-la. Disseram-me que Nate estava brincando comigo e depois a única coisa que se sabe é que um homem estranho quase nos matou.
         Abri a gaveta e encontrei uma foto antiga de meus pais. Eles pareciam felizes. Depois que eu nasci, nunca foram vistos mais assim. Há certos boatos que a culpa não era minha, mas sim do meu DNA. Minha mãe nunca quis me explicar a verdade.
         Em meu celular, uma mensagem piscou. De James. “Lilá, está sangrando. Isso não podia estar acontecendo. E ela não para de repetir seu nome!”. Aquela noite estava saindo do controle. Teria que enfrentar meu medo e sair dali.
         Vesti uma roupa confortável e desci a passos rápidos. Reparei que minha mãe estava muito silenciosa, mas não havia tempo para checar se estava bem. Ela sabia se cuidar, ao contrário daquela irmã de James. A garota era um ímã para desgraças!
         Algum instinto estranho me guiou pela floresta, enquanto me aproximava da casa de Karl. Nate já havia me trazido ali diversas vezes, quando ainda morávamos em outra cidade. Saímos pelas manhãs de bicicleta e chegávamos ali no fim da tarde. Minha mãe não se preocupava com nada. Ela de alguma forma sabia que meu melhor amigo me protegeria.
         Lilá berrava de dor no canto da sala, Karl já havia voltado a sua forma humana. A transformação só durava em torno de uma hora. James segurava a mão de sua irmã, enquanto ela agonizava. Logo que sentiu minha presença, ele se virou para mim:
         -Você não devia estar aqui! As luas cheias são sinais desgraçados para as Sern! – mesmo querendo me levar de volta para casa, ele não conseguia abandonar sua meia-irmã.
         -O sangue dela – começou a dizer Lilá – O sangue dela. O sangue dela. É a cura. O remédio.
         Karl e James me encararam perplexos. A cicatriz em meu pescoço doeu, de uma forma que nunca fizera antes. Aquilo era um aviso. Eu tinha pouco tempo para voltar para casa e me manter segura.
         Porém, algo me dizia que não era o certo a fazer. Aproximei-me de Lilá, no exato momento que Nate entrou na cabana:
         -Você realmente irá morrer para salvar a irmã do homem que tentara te matar quando você era uma criança. Seu sangue é apenas uma cura temporária – sua voz ecoou por todo o cômodo.
         -E qual seria a cura eterna? – perguntei a ele, sem me incomodar com os olhares de raiva de James.
         -Sua morte, Bia. Sua morte – é. A minha lua cheia não podia ser pior.
Escrito por StarGirlie.
Décimo Oitavo Capítulo
Lilá
               Eu estava agonizando.

                Não conseguia explicar, por mais que quisesse. Eu precisava do sangue dela, precisava daquele líquido precioso.
                James virou-se para Karl, que tremia em um canto. Sabia que não fora sua culpa o que acontecera, mas meu irmão parecia discordar disso.
                -Você a está matando! Além de se aproveitar dela, ainda acaba a mchicando!! – disse ele para o garoto.
                Não tive como defendê-lo. Queria gritar para que James parasse. Gritar para Karl ir embora e não me ver naquele estado. Queria chutar todo mundo para fora. Mas, apesar dessas coisas, queria mais ainda o sangue de Bianca. Se o tomasse, a dor pararia.
                No começo, não pensei em nada. Mas, à medida que a sede aumentava, me lembrei de um acontecimento que ficara, por anos, esquecido. E a lembrança veio mais nítida do que eu queria.
                Eu devia ter quatro, cinco anos na época.
                Brincava no parquinho, perto da nossa antiga casa. James estava cuidando de mim, como nosso pai pedira. Logo, uma outra menininha chegou.
                -Você é tão branca! – falou ela, e naquele instante me senti muito feliz, como ela estava. Decidi na mesma hora que gostara dela.
                -E você tem um cheiro bom! – respondi.
                Logo, começamos a brincar. Percebi que, há alguns metros, um garoto nos observava. Ele era bonito, seus olhos eram penetrantes.Era mais novo que James, mas mesmo assim, transmitia uma maturidade e enorme. E, ao contrário de mim, ele tinha um bronzeado de dar inveja.
                -Ah, o Nate. – disse minha nova melhor amiga quando percebeu que eu o observava. – Ele é meu amigo.
                 Sorri. Ele parecia... legal.
                Olhei então para o meu irmão. Ele, assim como eu fizera, ele estava encarando Nate. Mas, diferente do modo como eu havia feito, ele praticamente fuzilava o menino. Não entendi a expressão, mas logo o garoto levantou-se e foi falar com James.
                Eles conversaram por alguns minutos, e percebi que era uma discussão, na realidade. Em menos de um segundo, meu irmão correu para onde eu e minha nova amiga estávamos e enfiou algo nela. No pescoço dela.
                Algo como um amuleto.
                Ela gritou de dor, enquanto eu analisava a cena horrorizada.
                -Não! – disse Nate, tentando impedi-lo, tarde demais.
                -Foi preciso. – respondeu James entre os dentes. – Não posso deixar minha irmã como um monstro para o resto da vida.
                -Mas você estragou a vida de Bianca! – falou Nate desesperado, muito menor do que James era na época.
                O resto se embaralhou em uma série de lembranças.
                Mas, naquele instante, eu soube uma coisa: se Bianca sofrera sua vida inteira, fora por minha causa. E eu não a deixaria morrer.
                Reprimi minha sede e disse, tentando controlar minha voz.
                -Saia daqui! – virei-me para Bianca. Não podia acreditar que a conhecia há tantos anos.
                Mas ela continuou lá. Parada. A beira da morte.
                -Saia! – gritou Nate, querendo tanto quanto eu que Bianca ficasse a salvo.
                James então me olhou, com uma expressão estranha no rosto. Percebi que ele estava dividido entre o amor de sua vida e sua irmã.
                Segurei em seu braço e disse, olhando em seus olhos.
                -Proteja-a.
                Ele concordou, de modo mais calmo. James era bom naquilo.
                -Vou protegê-la.  Mas protegerei você também.
                Ele então arrancou, em um golpe só, um grande pedaço de sua pele, deixando suas veias e artérias à mostra.
                Olhei para aquilo, mas ao contrário do que imaginei, não senti vontade de tocá-lo. Percebi que a qualquer momento vomitaria.
                Todos me olharam com uma expressão intrigante quando virei-me para o lado, com repulsa daquele líquido. Vampiros, ao entrarem em contato visual com sangue, nunca conseguem se controlar.
                Mas eu consegui.
                E isso era estranho,pois a queimação também parou. Olhei para meu corpo, e tudo já havia se regenerado.
                Antes de desmaiar, acabada, olhei uma última vez para cima. Encontrei os olhos preocupados de James e Karl.

                Quando acordei, olhei em volta. Meu quarto.
                -O que aconteceu? – sussurrei, levantou a mão para minha cabeça, que latejava.
                -Você se curou. – disse a voz de Karl, em algum lugar na escuridão. – Curou-se das garras de um lobisomem, sem precisar de sangue de vampiro.
                Escutei aquilo, mas não compreendi nada. Minha barriga continuava a se remexer, e eu estava ansiosa para retomar meus sentidos e correr para o banheiro mais próximo.
                Assim que a minha visão clareou, fiz exatamente o que desejava: fui para o banheiro e botei tudo para fora. A segunda vez em um mês.
                Karl me seguiu, mas ficou observando-me da porta. Alguma coisa estava errada, percebi.
                Depois que acabei, limpei-me e olhei para meu reflexo no espelho. Meus olhos estavam azuis como nunca estiveram, e minha pele estava quase... normal.
                Como se eu fosse normal.
                Como se eu não fosse uma vampira.
                -Mas o quê... ? – disse, olhando para Karl.
                Ele chacoalhou a cabeça, e eu observei que sua barba estava por fazer. Seu cabelo crescera e sua pele ficara flácida.
                -Que dia é hoje? – falei, me aproximando. Para mim, tudo acontecera na noite anterior. Mas, no estado em que meu namorado estava, parecia ter sido há séculos.
                -Lilá. – ele segurou meus ombros, me fazendo ficar mais assustada. Sentia que ele estava angustiado, com medo. Ou seja lá o que aquilo fosse, mas era estranho. – Faz um mês que você está em coma. Bem, estava em coma.
                Olhei espantada para seus olhos, que demonstravam cansaço. Queria um sinal de que era uma brincadeira de mal gosto. De que ele estava jogando comigo. Mas não encontrei nada.
                Apenas... tristeza.
                -E tem mais uma coisa. – disse James, vindo por trás dele. Sabia que meu irmão escutara tudo que acontecera nos últimos minutos, e também sentia meus olhos queimando, prontos para derramar lágrimas. – Você não se curou sozinha como Karl disse. Você teve ajuda. Ajuda de uma coisa que seu namorado lhe entregara naquela noite.
                Olhei para ele, que pareceu corar.
                -O quê? – perguntei, assustada. Nada parecia fazer sentido.
                -Você está grávida, Lilá. – disse Karl, sussurrante.
                Pisquei diversas vezes, esperando que alguém gritasse algo como “primeiro de abril”.
                -Vampiras, definitivamente, não ficam grávidas. – disse, encarando os meninos.
                -Este é o problema, Lilá. – disse James, como se tivesse ensaiado aquilo. – Você não é uma vampira. Não mais.
                Ergui a camisola que vestia, mesmo na frente de James. Ele já havia me visto assim na noite em que tudo acontecera, e não faria tanta diferença.
                Olhei para minha barriga, e levei um susto. Aquilo não podia estar acontecendo.
                By Babi
Décimo Nono Capítulo
Bianca


         Depois que foi descoberto que Lilá havia perdido sua parte vampiresca, não tive a coragem de contar o que realmente acontecera na tarde em que nos conhecemos há muito tempo.
         Ela nunca se lembrará, já que James manipulou sua mente. Mas eu e Nate lembramos. Sabemos que seu irmão mais velho só colocou aquele amuleto em meu pescoço depois de um grave acidente.
         Lilá estava envelhecendo muito devagar e James temia que ela fosse morrer. Charles, o irmão mais velho dos dois e um vampiro completo, dividia esse medo também. Os três estavam naquele parquinho junto comigo e Nate.
         Em um dado momento, eu estava correndo de Nate, ao redor do local de brincadeiras, e tropecei. Já tinha dez anos naquela época. Minha perna começou a sangrar e Charles me atacou. Entretanto, meu sangue lhe foi repulsivo. James pareceu entender algo e colocou aquele amuleto na abertura. Nesse meio tempo, meu melhor amigo teve um ataque de fúria e matou o irmão de Lilá. No dia seguinte, o machucado estaria curado e o lobisomem expulso da cidade.
         Era estranho ver a pequena garota grávida. Sei que ela tinha mais de 100 anos, mas aparentava apenas 14! Entretanto, o que está feito não pode ser revertido. Mesmo quando todos queriam que isso fosse impedido.
         Lilá era humana novamente, o que nos fazia temer se ela sobreviveria àquele bebê meio-vampiro e meio-lobisomem. A garota insistia que conseguiria, apesar de Karl não acreditar nisso. Eu, no entanto, me dava o privilégio de dúvida.
         Minha mãe, que descobrira sobre o ocorrido com a Lilá, além de toda a verdade dos Juges, me obrigara a parar de vê-los. Eu a entendia e realmente não queria encontrar nunca mais nenhum deles. Principalmente, James.
         Era fácil evitá-lo no colégio, já que estávamos em um período corrido de provas. Além disso, Nate se tornara meu protetor e estávamos sempre longe dos vampiros. Algo nos dizia que eu era uma presa extremamente desejada.
         O amuleto implantado por James acabara se desconstituindo dentro de meu corpo, deixando para trás apenas aquela cicatriz. Ele até hoje não havia me explicado o porquê daquele ato.
         Infelizmente, era noite de lua cheia novamente. Eu e minha mãe estávamos trancadas em casa. Sabíamos que éramos o prato principal de algo muito ruim que ainda estava por vir. O que seria? Já conhecíamos vampiros e lobisomens. Seria algum deles?
         Enquanto assistíamos TV com todas as cortinas fechadas, ouvimos um barulho vindo da cozinha. Madi me encarou com medo:
         -O que foi isso? – não respondi, indo em direção ao cômodo. Acendi as luzes ao passar e arfei ao encontrar o responsável pelo barulho.
         -O que você está fazendo aqui? - sabia que nenhuma faca seria capaz de deter aquela maldita pessoa. Ainda mais quando as luas cheias estavam contra mim.
         -Eu vim tomar o seu sangue, aluna nova – e parada sobre a bancada de mármore da minha casa, em posição de ataque, estava Laís. Mas não era mais a Perfeita. Seus olhos estavam roxos muito claros e sua pele praticamente translúcida. Ela havia sido transformada. E estava atrás de mim.
Escrito por StarGirlie.
Vigésimo Capítulo
Lilá

            E então, eu estava grávida.
        Grávida mesmo.
        E não era mais uma vampira.
        Deitei na cama, exausta. Os homens da casa haviam saído para caçar, e eu me encontrava sozinha. Melhor assim, pensei.
        Respirei fundo, tentando botar meus pensamentos em ordem. Então eu possuía um bebê dentro de mim que, apesar da pressão que estava recebendo, não iria tirar. Ele era meio vampiro e meio lobisomem, pelo que tinha entendido. E crescia rápido. Muito rápido.
        Quer dizer, eu estava no primeiro mês de gestação, e minha barriga já era imensa, quase como se estivesse no quinto mês. Isso me fez pensar que, em menos de um mês, seguraria meu filho, ou filha, nos braços.
        Sorri com a ideia.
        Sim, aquela criança era um erro. Sim, ela estava me deixando cada vez mais cansada. E, sim, eu não sabia as conseqüências que ela poderia trazer futuramente.
        Mas eu a amava. Amei-a desde o primeiro momento em que soube que estava ali. Talvez até antes.
        Era meu bebê, e nada neste mundo me faria abandoná-lo. Nada. Nem James, nem Bianca, nem August...
        ...nem Karl.
        -Oi. – falou ele, na porta, me assustando. Parecia cada vez mais fraco, como se sofresse. Temi por seu estado. – Está bem?
        Acenei com a cabeça. Faziam apenas cinco dias que eu descobrira sobre a gravidez, e desde lá, não ficara sozinha com Karl para conversar.
        Ele se aproximou, sentando-se na beira da cama, mas evitando olhar para minha barriga, percebi.
        -James não sabe como o bebê nascerá. – disse ele, após alguns minutos. – Não sabemos se será um vampiro... – ele parou por um segundo. – ...ou um lobisomem.
        -E isso importa? – disse, ouvindo minha voz pela primeira vez no dia.
        -Na realidade, importa sim. – percebi que, apesar das nossas vozes estarem baixas, acabávamos de entrar numa discussão. – Se ele for um lobisomem, nascerá de forma normal. Como uma criança qualquer. Mas, se for um vampiro... não há relatos de gestações como esta. Não há relatos de vampiros que se tornaram humanos. Ela pode sugar seu sangue, e aposto que o fará, daqui algum tempo.
        -Eu sei que ela, ou ele, não fará isso. – disse, passando a mão por minha barriga.
        -Isso é loucura, Lilá! – Karl levantou-se, e começou a andar pelo quarto, nervoso. – Eu te amo, e se estivéssemos em circunstâncias melhores, eu não lhe pediria isso. Mas, Lilá, retire essa criança.
        Balancei a cabeça, deixando as lágrimas rolarem. Como ele tinha a coragem de pedir isso para mim?
        -Você é humana, agora. É mais frágil. Retire essa criança, e, agora que não é mais vampira, poderemos tentar novamente. – disse ele, vendo minhas lágrimas.
        -Mas ela pode não ser vampira. Não há como saber se a transformação estava completa quando nós...
        -Não. – ele disse, abaixando o tom da voz. – Ela tem, de qualquer forma, uma parte de seu sangue anterior. Senão, não cresceria tão rápido.
        Concordei. Era verdade.
        -Você não vai me fazer mudar de ideia, Karl. – disse, secando as lágrimas firmemente. – E, se quer saber, eu te amo. Mas amo mais meu filho. Meu bebê.
        Ele virou-se de costas para mim, segurando a parede com as mãos, usando-a como apoio.
        -Isso dói. – ele falou, sussurrando. – Porque te amo mais. Te amo mais do que tudo, Lilá.
        Abaixei a cabeça, triste também. Eu não desistiria de minha criança, mas acreditava em tudo que ele havia dito. Era arriscado, e se ele estivesse na mesma situação que eu, provavelmente faria a mesma coisa.
        -Cometemos um erro, Karl. – disse, baixinho. – E eu quero consertá-lo. Gostaria que estivesse do meu lado. Seria... mais fácil.
        Ele balançou a cabeça, então virou-se, com os olhos vermelhos, e segurou minhas mãos.
        -É isso que quer? Quer que eu aceite não saber se estará ou não viva amanhã? Aceite que, em menos de um segundo, posso te perder por uma bobeira que eu fiz?
        -Nós fizemos. – o corrigi. – E, sim, é isso que estou te pedindo.
        Ele assentiu, com os olhos virados finalmente para minha barriga.
        -Então eu te apoiarei.
        Ele sorriu a abriu os braços para que eu abraçasse. Era um sorriso dolorido, mas era um sorriso.  Sorri também e lhe abracei, forte. Estava com muita saudade, e me sentia feliz por tê-lo ao meu lado.
        Mas, neste exato segundo, uma figura imergiu da porta do meu quarto.
        -Que lindo, o casalzinho! – disse ela, batendo palmas. – Mas vou ser direta. Passe-me a garota que carrega a criança prometida, ou esta aqui morre.
        Karl levantou instintivamente, me protegendo. Sabia que não tinha mais meus poderes de vampira para me ajudar, e se isso não bastasse, estava fragilizada pela gravidez. Mas, no momento em que pus os olhos em Laís, que segurava Bianca, com seus dentes relativamente próximos de sua garganta, pulei da cama. 
        -Podem escolher. – repetiu Laís. – Ou vocês me entregam Lilá, ou eu mato todos, até alcançá-la.
        E, naquele instante, percebi que ela era uma vampira. Mas não somente isso. Ela era uma vampira descontrolada, que faria tudo para pegar (como ela chamara?) meu bebê.
        E, não, isso eu não ia deixar.
                By Babi

Vigésimo Primeiro Capítulo
Bianca


         Sabia que as Perfeitas não eram as melhores pessoas do mundo, mas serem assassinas já estava passando muito do limite. Se bem que apenas Laís havia se apresentado assim, pelo menos, ainda. Havia esperança para aquele grupinho medíocre.
         Percebi que Lilá iria me deixar morrer, como também permitiria isso a Karl, contanto que seu bebê estivesse a salvo. Ela tinha razão, apesar de tudo. Aquele era seu filho e a única coisa que lhe importava. Eu sabia que faria o mesmo se fosse a grávida.
         Naquele momento, percebi que era hora de lutar. Já estava cheia de ser a donzela em perigo. Minha mãe estava bem e a salvo. Laís já avisara que eu era apenas a isca para Lilá e que nunca atingiria Madi, pois ela não tinha ligação alguma com a ex-vampira.
         Eu não era forte o suficiente para me afastar do aperto da mão de Lilá, então o único jeito era me render. Fingir que havia me rendido, na verdade. Reunindo toda a minha fragilidade, criei um grito agudo de medo e caí nos braços de Laís.
         Entretanto, ela acabou arfando surpresa e me deixou cair no chão. Obviamente, minha cabeça bateu com tudo na madeira e realmente desmaiei. Se bem, que para o resto aquilo não fazia diferença alguma.
         Acordei acorrentada a uma cadeira. Estava em um cômodo escuro e percebi que não era a única prisioneira. Karl tinha um rastro de sangue escorrendo de sua cabeça. Lilá se contorcia no canto da sala. Ela estava bastante ferida, mas a barriga parecia intacta.
         -Parece que a Bela Adormecida acordou – Laís surgiu entre as sombras. Ela carregava uma taça cheia de (de quem seria?) sangue. Ela parecia ainda mais sombria do que horas antes.
         -Você não me contou, não é? – a ex-Perfeita se sentou em minha frente e apontou para meu pescoço. A cicatriz pinicou.
         -Não contei o quê? – ultimamente, eu não sabia de nada que me envolvesse. Todos tinham histórias, menos eu.
         -Ora, ora – outra voz ressoou pelo cômodo. Sara apareceu ao lado de Laís. Sua pele estava mais clara e seus olhos de um lilás penetrante. Seu cabelo parecia até mais volumoso – Temos uma garota mentirosa aqui.
         Lilá levantou a cabeça o bastante para perceber o mesmo que eu. Laís não era a única Perfeita transformada. Sara também virara vampira. Aquilo realmente estava fora de controle.
         -Por que você não contou sobre a maldição do sangue das Sern? – Sara tocou meu rosto e seus dedos gélidos arrepiaram meu corpo. Queria afastá-la, mas meus braços estavam acorrentados – Medo? Ou tolice?
         -Que maldição é essa? – as palavras saíram atrapalhadas de minha boca. Sabia que James, August, Laís e Sara eram vampiros, que Nate e Karl eram lobisomens e que Lilá era uma ex-vampira. Porém, nada me parecia estranho em meu sangue.
         Laís e Sara gargalharam. Lilá se encolheu ainda mais. Ela podia ser a única prisioneira não acorrentada, mas se encontrava em piores condições do que eu e Karl.
         -Ela não sabe mesmo de nada – Laís se levantou e lançou-me um olhar de repulsa – Ignorante.
         Meu corpo inteiro tremeu. Eu queria arrancar a cabeça dela de seu pescoço maldito. Queria acabar com aquela tortura. Lilá estava sofrendo. Karl podia estar morrendo. E aquela assassina havia transformado sua amiga em uma vampira. Merecia pagar.
         Reunindo toda minha coragem, cuspi em seu sapato e rapidamente a fúria surgiu em seu rosto. Deixei que ela surtasse, pois algo me dizia que não importava o que eu fizesse, Laís não podia me matar.
         Sara puxou meus cabelos para trás e gritei de dor. Laís se aproximou de meu pescoço retorcido, que por pouco não se quebraria e me encarou:
         -Cuidado, Bianca – ela disse meu nome como xingamento – Há muita gente que ainda é importante para você. E tenho certeza que a morte que seu pai sofreu, não é a que faremos com essas pessoas.
         Laís sinalou para que Sara me soltasse e ambas saíram da sala. A porta se fechou e a escuridão tomou o lugar. Lilá gemeu de dor e percebi que Karl havia acordado. Entretanto, uma lembrança surgiu em minha mente. Quando fomos capturados, a noite havia apenas começado. A lua não estava completa.
         Escutei um berro de dor. E Karl começou a se transformar em lobisomem.

Escrito por StarGirlie.
Vigésimo Segundo Capítulo
Lilá




                -Karl, Karl!? Escute-me, sou eu! – gritei, enquanto meu namorado se transformava. A urgência em minha voz era desesperadora, mas sabia do que ele era capaz. – Droga! Ele pode acabar nos matando!
                Bianca parecia surpresa. Mas, ao contrário de mim, encarou Karl com uma serenidade impressionante.
                -Ele não vai. – disse ela, no mesmo momento em que a transformação se completou e o monstro, não mais Karl, virou-se para minha amiga. A voz dela era firme e penetrante.
                A partir daí, não entendi mais nada.
                Quer dizer, estava óbvio que algo mudara em Bianca. Talvez tivesse algo a ver com aquela baboseira de sangue...
                Meus olhos se arregalaram.
                -Meu Deus! – sussurrei, compreendendo tudo. Bianca continuava a encarar o lobisomem em nossa frente. – Sern. Ners. É claro! Bianca, você é uma Ners!
                Foi então que compreendi. Ou melhor dizer, lembrei.
                O sangue dela. Sim, o ataque de Charles. A repulsão que ele sentira... Tudo voltou como um flash.
                 Ela era uma Ners. Ela não era humana. Nunca fora. Quer dizer, era óbvio!
                Mas... como seus poderes ficaram escondidos por tanto tempo?
                O amuleto.
                -Burra, burra, burra... –disse, enquanto batia em minha cabeça. – Bianca, você é uma Ners! – gritei.
                -Eu sou o quê? – disse ela, finalmente me notando.
                -Uma Ners. – respondi. – Você é como um intermédio entre vampiros, lobisomens e humanos. Você é como um escudo... ninguém encosta em você, se não deixar. – as palavras saíram rápido da minha boca. Aprendera aquilo há anos. – Porque você...
                -...Posso comandá-los. – ela disse, como se também entendesse tudo.
                Concordei. Ela era como uma rainha de todas as criaturas.
                Enquanto estávamos falando, a porta foi escancarada.
                -Mas o que esta haven... – mas antes que Laís pudesse terminar a frase, ela viu Karl. Ou pelo menos viu no que ele se transformara. E, então, ela se virou para mim.
                -Você tem a criança proibida! – rosnou a vampira, enraivecida. – E isso significa que precisa MORRER! – ela berrou e saiu correndo, ignorando até mesmo o grande monstro no meio do salão. Aparentemente, queria me estrangular.
                -NÃO! – disse Bianca, olhando para mim. –Eu não vou deixar!
                Karl rosnou para Laís e, em menos de um segundo, suas patas a estavam destroçando, deixando em minha mente aquela imagem horrível.
                Mas, apesar de saber realmente o que Bianca era, ainda haviam dois mistérios para serem resolvidos.
                O que significava a ‘’criança proibida’’ e como eu havia deixado de ser humana?
                Sem contar, é claro, no fato de que alguém havia transformado Laís, e esta, por sua vez, transformara, provavelmente, seu grupinho todo.
                Por alguma razão, algo me dizia que tudo estava ligado as Serns.
                As verdadeiras Filhas da Morte.
                By Babi
 Vigésimo Terceiro Capítulo
Bianca


         Desde que pequena, minha mãe me contou a história das Ners. Elas eram seres místicos criados por bruxas que controlavam todos os seres demoníacos que haviam se espalhado pela Terra. Segundo a lenda, essas “rainhas” podiam até mesmo torná-los humanos novamente. Bastava que fossem próximas o suficiente deles.
          -Eu nem acredito nisso. Laís está morta e ela, provavelmente, transformou todas as Perfeitas em vampiras – disse, enquanto Lilá e Karl desciam as escadas da casa da vampira morta.
         -Você sinceramente está preocupada com isso? – a irmã de James parecia chocada – Acaba de descobrir que é uma Ners e está preocupada com as Perfeitas?
         Observei perplexa a mãe da tal criança prometida. Lilá não parecia tão fraca. Ela estava até mais forte. E mais macabra. Karl se assemelhava a uma criança inocente ao seu lado. Talvez os 100 anos estivessem pesando.
         -Sim! É claro que sim! Sara, Manu e Vitória eram humanas até que Laís as transformou em monstros! Nós não podemos deixar isso por isso mesmo! – o vento começou a tremular ao nosso redor. A noite estava ainda mais sombria com a lua cheia.
         -O que você pensa em fazer? – Lilá pensou em me segurar, mas algo lhe dizia que eu era mais forte que ela. E era mesmo – Vai transformá-las em humanas como fez comigo?
         O choque percorreu o meu corpo. Não sabia que ela havia ligado os pontos. Mas de qualquer forma estava certa. Eu era culpada por sua transformação. Meu corpo repudiava seres sobrenaturais. Talvez seja por isso que nunca cheguei a me aproximar o suficiente de Nate.
         -Eu vou fazer o que me der na telha – respondi, sendo extremamente grossa, enquanto entrava na floresta ao lado da casa de Laís. Sabia de alguma forma que o caminho para a mansão onde os Juges moravam era fácil.
         Porém, antes que me aproximasse o suficiente de lá, senti um braço me segurar. Levantei meus olhos. Era James e ele não parecia nem um pouco descontrolado como sua irmã. Estava até mesmo angelical.
         -Eu preciso me desculpar com você, Bianca. Tenho sido um babaca desde que nos conhecemos. Você só era diferente e não consegui lidar com isso. Desculpe… - mas o impedi de terminar a frase. Lancei-me para frente e o beijei. Beijei de uma forma que nunca beijara antes.
         Aquele não era meu primeiro beijo. Ele ocorrera com Nate. Estava triste com a morte de meu pai e meu melhor amigo me consolou. Enquanto gritava de tristeza, o lobisomem selou meus lábios suavemente. Depois, nenhum de nós comentou sobre isso. Era nosso segredo.
         As mãos de James desceram por minha coluna e me vi pressionada contra uma árvore. Sua boca se encaixava tão perfeitamente à minha, que era quase impossível acreditar que passáramos tanto tempo separados. Afastei-me um pouco o suficiente para arfar um pouco. O vampiro riu.
         -Acho que não é muito correto uma Ners beijar um vampiro, certo? – dei uma risadinha tímida, puxando-o novamente. Era inacreditável o quanto seu toque me fazia bem. James me puxou para ainda mais perto, minhas pernas apertando sua cintura.
         -Devemos parar. Agora – e James me colocou no chão. Eu sabia que podia puxá-lo novamente. Mas ele tinha razão. Já bastava Lilá grávida. Não vamos meter outra adolescente grávida nessa história.
         Ouvimos folhas farfalharem e logo que nos viramos, encontramos Sara em nossa frente. Seus olhos estavam roxos e havia sangue em seus lábios. Uma câmera estava em suas mãos.
         -Parece que temos uma foto para o blog do colégio! “A nova aluna atracada com o misterioso garoto em uma floresta escura. Em um dia de semana!” vai ser um grande furo!
         -Por que você ainda se preocupa com isso? – reparei que estava prestes a me tornar uma “Lilá” – Você é uma vampira! Tem o mundo todo aos seus pés e ainda se preocupa com o blog bobo do colégio? Sara, você não precisa de mais nada disso. É o ser mais poderoso da Terra. Aproveite!
         Sara se encolheu e a câmera caiu no chão. Acreditei que ela iria nos atacar, mas, ao invés disso, começou a chorar desesperadamente. Pensei em abraçá-la, mas me contive.
         -Você acha que eu queria essa vida? Laís nos destruiu. Vivíamos em um mundo cheio de grifes e diversão. E, de repente, nossa melhor amiga chega e nos mata! Você sabe qual é essa sensação? – Sara dá uma risada sarcástica e continua – E agora ela está morta! Morta mesmo. Só que eu, Manoela e Vitória estamos aprisionadas nessa vida infernal.
         E então, James se aproximou da garota, sussurrando: Eu posso acabar com isso. Sara olhou pra mim e considerou a ideia de pedir minha ajuda:
         -Não, Bianca – ela disse ao perceber que eu a transformaria em humana caso pedisse – Matei muita gente nos últimos dias. Mereço morrer. James.
         O vampiro arrancou a cabeça de minha colega de classe em um movimento rápido e eu caí no chão, chocada com a cena. James podia ter decapitado Sara, mas fora Laís que a matara. Na verdade, nem mesmo a garota era a culpada. Havia alguém perigoso por trás disso. E muita coisa ainda estava sendo escondida.
         -Acho que é melhor irmos embora. A floresta não é um lugar seguro. Além do mais, temos que contar a sua mãe sobre nós – James pegou minha mão, mas a afastei preocupada.
         -Contar o quê? – continuei a caminhar ao seu lado.
         -Como assim “o quê?”? Contar sobre nós, é claro – quando ele acabou de falar, dei uma risada suave, percebendo que aquele vampiro era extremamente romântico.
         -Pelo visto me meti em uma furada – debochei e James me envolveu com seu braço gélido. Porém, dessa vez, o frio não me importou. Só existia ele e eu naquele breve segundo.
Escrito por StarGirlie.

Vigésimo Quarto Capítulo
Lilá




                Acordei me sentindo moída. Virei para o lado de dei de cara com Karl, olhando para meu cabelo com uma expressão engraçada. Fiz um esforço enorme para sorrir.
                -Então, eu não sonhei tudo? – disse, levando a mão até minha gigantesca barriga. Parecia até maior do que estivera no dia anterior.
                -Não. – respondeu Karl, um pouco preocupado.
                -O que foi? – falei, olhando para suas sobrancelhas levemente arqueadas.
                -Você parece péssima.
                Fiz menção de me levantar, mas não consegui me mover. A cada músculo que se mexia, era uma facada em minha barriga.
                -Ai! – gritei, fazendo com que meu namorado pulasse para fora da cama.
                -O quê? – disse ele. – Não se mova! – me alertou.
                -Ai meu Deus! – berrei, praticamente, quando percebi o que estava acontecendo. – Minha bolsa!
                Karl olhou para a cama, onde minha barriga estava. Logo, percebi o desespero em seu olhar.
                -Karl! – berrei, sentindo que algo havia quebrado. – Chame JAMES!
                O garoto correu para o meu lado, segurando minha mão. Não aguentava aquilo, queria James ali, para que pudesse fazer alguma coisa. Ele era o mais perto de um médico que nossa família tinha.
                -J-james não está... – disse Karl, espantado.
                -O QUÊ? – vociferei, sentindo que minhas costelas já estavam moídas. – Tire isso de MIM!
                A gritaria era imensa, e só por isso, achei que James já devia estar ao meu lado. Mas então recordei que ele passara a noite na casa de Bianca. Maravilha.
                -Eu posso ajudar. – disse uma voz tranquila, me fazendo erguer a cabeça o máximo que podia. Até respirar fazia com que eu me sentisse esmagada.
                Era Nate, observei.
                -NÃO! – disse, mas percebi que vê-lo fora um alívio. Apesar de tudo que ele fizera, me recordei que ele se formara em medicina há algum tempo atrás.
                Nate se aproximou.
                -Ela entrou em trabalho de parto. – disse ele para o irmão.
                -O que você faz aqui? – falou Karl, mas ele parecia mais pálido do que um vampiro. Pensei até que ele fosse desmaiar.
                -Vim ajudar, certo? Eu meio que ouvi o drama lá de fora.
                -POR QUE VOCÊS ESTÃO FALANDO? Tire-a AGORA!– disse, enquanto outro grito rasgava minha garganta. Eu me contorcia, e sentia que um fogo muito ardente queimava-me. A criança queria sair, só não sabia como.
                -Certo. – disse meu namorado, parecendo mais concentrado. – O que eu faço?
                -Primeiro. – respondeu Nate, com tranqüilidade. Aquilo estava me deixando maluca. – Pegue água quente, enquanto eu me livro disso.
                O menino apontou para minha camisola. Karl pareceu assustado demais, mas saiu correndo antes de qualquer coisa. Ele queria me ajudar, mas tudo que eu queria naquele momento era algum ombro para chorar. Ou pelo menos, apoio. Ou morfina, sei lá.
                -Calma. – falou Nate, dessa vez olhando nos meus olhos. – Vai dar tudo certo. Vai ficar tudo bem.
                Acreditei nele. Por meio segundo.
                Senti então que meu bebê se remexia, tão desesperado quanto eu. E ele era forte. Muito forte.
                -Faça a dor PARAR! – disse, alto o bastante para que ele tremesse levemente. – Tire isso de mim!
                Nate concordou. Senti então que ele estava tirando minha roupa, mas não pude ter certeza, já que a dor praticamente me fazia ignorar o resto.
                Logo que senti o tecido sair de mim, comecei a tremer. Estava tecnicamente frio, mas não era isso. Achei que iria morrer, e estava com muito medo.
                Não de morrer, claro. Morrer seria até bom.
                Estava com medo pelo meu bebê. Eu não iria suportar, percebi. Mas o que seria dele, ou dela, sem uma mãe?
                Olhei para Nate, me controlando ao máximo. Ele estava analisando minha barriga, até mesmo em outros lugares, mas precisava falar com ele. Sabia que me escutaria, já que, lembrei, há anos atrás, ele fora um grande amigo.
                -Nate. – disse, suando em bicas. – Me prometa.
                -Prometer o quê? – ele finalmente pareceu assustado.
                -Que cuidará dele. Ou dela, claro.
                -Você não vai morrer, Lilá. Eu juro que não vai. – sua voz sumiu na última frase, com incerteza, mas ainda escutei seu juramento.
                -Nós sabemos que vou.
                Estava me sentindo tão frágil, e a cada palavra, uma lágrima caia. Queria ficar. Queria ver meu bebê. Mas sabia que era impossível.
                Quer dizer, eu praticamente já estava morta.
                -Lembra quando você era menor, e teve medo de subir numa árvore? – disse ele, fazendo com que eu ficasse surpresa. – Lembra que eu prometi te segurar?
                Não respondi. Mas eu lembrava bem daquilo. Ele pareceu perceber.
                -Eu não deixei você cair, deixei? Eu prometo que cuidarei do seu bebê. Sempre cuidarei, Lilá.
                Sorri com a ideia, me desligando um pouco do sofrimento. Doía tanto, mas isso nem mesmo importava. Meu bebê tinha uma família que o amava, percebi.
                Fechei meus olhos por um instante, sabendo que tudo ficaria bem.
                Tudo ficaria muito bem.
Karl

                Entrei no quarto, desesperado. Não havia achado a água em lugar nenhum, já que a cozinha dos Juges não possui um fogão. Por isso, tentara esquentar a água com minhas mãos, o que funcionara um pouco.
                Mas, logo que alcancei a porta, tive uma surpresa.
                O choro.
                Sim, o choro mais lindo que eu já ouvira.
                Tive vontade de chorar também, mas fiquei parado, apenas olhando enquanto Nate segurava aquela criança em seus braços.
                -Uma menina. – disse ele, assim que notou minha presença.
                Pela primeira vez na minha vida, agradeci por ter um irmão. Agradeci por ter Nate. Quer dizer, agora o bebê estava ali, no seu colo. Um bebê que parecia mais normal do que qualquer outro.
                Uma menina linda.
                Senti uma lágrima cair, então me aproximei para pegar minha filha. Tão pequena, mas tão perfeita. Sua pele rosadinha era linda, apesar de estar um tanto suja com sague.
                Mas, logo que me aproximei, tive um choque. Por trás de onde Nate segurava o bebê, estava Lilá. Não, não Lilá. Seu corpo estava lá.
                Pois ela estava ensangüentada, mas o pior de tudo, era a sua palidez.
                Era diferente de quando ela ainda era vampira. Naquele instante, ela parecia apenas...
                -...morta. – sussurrei.
                Corri até o lado da cama, já no meio de tantas lágrimas.
                -Lilá!? – gritei, desesperado.
                -Ela morreu, Karl. Não suportou. Não pode fazer nada.– disse Nate, com minha filha em seus braços.
                -NÃO! – berrei.
                E foi então que não me contive. Uma única ideia passou pela minha cabeça, e percebi que era minha última esperança.
                Agarrei seu braço, coberto de sangue, por sinal, e a mordi.
                Fiquei ali, enquanto meu irmão tentava me fazer parar. Mas eu não pararia. Não enquanto Lilá não acordasse.
                -VOCÊ VAI ESTRAGAR A VIDA DELA! – disse ele, como última tentativa. Já havia tentado me tirar à força, mas, como minha filha permanecia em seus braços, não fora suficiente.
                Segundos depois, achando que estava bom, me soltei de Lilá.
                -Que vida? – berrei para ele, secando as lágrimas. – Ela morreu!
                E então, senti um leve tremor.
                Vindo do corpo dela.
                By Babi

 Vigésimo Quinto Capítulo
Bianca
         -Ai! – uma fisgada dolorosa estremeceu meu coração. James e Madi me seguraram, com medo que eu desmaiasse. Entretanto, não era eles que meus olhos mostravam.
         Lilá estava se transformando em… Lobisomem? Não é possível! Soltei-me dos braços que me amparavam e saí correndo pela escada. Tinha que impedir aquilo! A irmã mais nova de James não sobreviveria à transformação. Aquele Karl não conseguia perceber o óbvio?
         Quando uma Ners torna um vampiro em humano, o sangue vampiresco que havia em seu corpo continua nele. Por isso, o veneno dos lobisomens continua sendo letal mesmo para o novo ser. E Karl acabara de injetar uma dosagem enorme nas veias de Lilá.
         Entrei na floresta, cortando-me nos galhos que havia no meio do caminho. Mas nada importava. Minha amiga estava prestes a morrer e eu não deixaria que isso acontecesse. Nem mesmo que para isso tivesse que cometer o maior sacrifício da minha vida.
         Nate tentava afastar Karl. Era estranho pensar que meu amigo também não aparentava sua idade. Os lobisomens tinham a capacidade de retroceder sua aparência. Por isso, quando nos conhecemos, ele era apenas uma criança.
         -COMO VOCÊ PODÊ?! – gritei para Karl, desejando poder arrancar sua cabeça – NÃO VÊ QUE ISSO IRÁ MATÁ-LA?
         Meu melhor amigo sabia disso. Entretanto, seu irmão não. E o choque transpareceu em sua face, antes que seu corpo desabasse no chão. Mesmo sabendo que ele precisava de ajuda, não a ofereci. Era Lilá que gritava de dor.
         Seu corpo tremia e sua pele rosada parecia pintada de dourado. Seu cabelo preto parecia áspero e sua boca se tingia de vermelho. Ela tremia em convulsões desesperadoras. Toquei sua mão e Lilá abriu seus olhos.
         -Bia… - coloquei minha mão sobre seus lábios. “Não fale, eu vou te ajudar” a avisei, mas ela repetiu meu nome novamente. Seus olhos giraram nas órbitas.
         Afastei-me rapidamente e peguei uma faca que havia sobre a mesa. Posicionei-a de forma a cortar uma veia. A dor me dilacerou. Entretanto, não a transmiti. Ao invés disso, me aproximei de Lilá novamente.
         -Beba – coloquei meu pulso sobre sua boca, mas seus lábios não se abriram. Ela não iria beber. Sabia que apenas minha morta a salvaria – BEBA!
         Sua boca se abriu lentamente e meu sangue foi ingerido. Fiquei tonta por um instante, antes de me acostumar com a sensação. Nate não podia me impedir, pois ainda segurava seu irmão. Karl queria me matar por acreditar que eu a matava.
         Meu equilíbrio estava acabado. Joguei-me sobre o corpo de Lilá que estava mais forte do que antes, ainda permitindo que a ex-vampira bebesse meu sangue. Em pouco tempo, eu estaria esgotada.
         Senti alguém me arremessar contra a parede e quando levantei os olhos, pude ver que se tratava de um homem forte. Ele tinha cabelos tão escuros quanto os de Lilá, mas não era August. Entretanto, me parecia familiar.
         Seus olhos roxos se viraram para mim e arfei. Aquela expressão me era familiar. Não havia como negar de quem se tratava. Seu sorriso levemente malicioso. Sua pele clara.
         -Pai? – chamei. Meu pai não podia estar vivo. Não depois de todo aquele tempo.
Escrito por StarGirlie.
Vigésimo Sexto Capítulo
Lilá

        Acordei meio atordoada. Sabia que não haviam se passado muitos minutos, de modo que uma discussão parecia estar acontecendo no quarto. Mas eu me sentia péssima. Simplesmente péssima.
         Abri os olhos o bastante para perceber que a luz era forte demais para minhas pupilas mal acostumadas. Senti alguém bater em meu ombro de leve logo após que tornei a fechar meus olhos.
         -Lilá? - disse alguém.
         Finalmente consegui suportar a luz e olhei para o dono da voz. Seu rosto estava coberto de lágrimas e até sangue. Mas, apesar disso, ele parecia feliz. Bem feliz.
         -Está aqui. Nossa filha.
         Olhei para os braço de Karl.
         E ali estava a criatura mais bela do mundo. Seu rosto era branquinho, como flocos de neve, e seu cabelo mais negro do que o breu. Seus olhinhos azuis eram puxados para o castanho, e suas mãozinhas não paravam de se mover.
         Era incrível, mas não foi o que mais me comoveu.
         Seu olhar. Não os olhos, mas sim o olhar. Era maduro. Simplesmente... maduro.
         O bebê olhou para mim como se me reconhecesse e esticou os bracinhos, soltando um gemido de prazer quando finalmente o peguei.
         Karl me entregou a menina com todo cuidado, sorrindo. Sim, eu estava fraca. Mas nada mais no mundo importava.
         Um segundo se passou até que eu percebesse, sem tirar os olhos de minha filhinha, que a discussão havia cessado. Ninguém gritava, ninguém respirava.
         Era um silêncio quase mortal.
         Levantei a cabeça, relutante em parar de analisar a criaturinha em meus braços.
         E todos me encaravam. Karl, James, Bianca, meu pai, Nate, um desconhecido... todos me encaravam com uma cara de espanto.
         Bianca foi a primeira a abrir a boca. Estava tão surpresa quanto os outros.
         -Vocês estão brilhando.
         Não entendi direito, e olhei para meu bebê. E foi então que percebi.
         Brilhando.
         Não, não era exatamente "brilho". Era como uma luz que emanava de meu bebê. E, quando percebi, meus braços também estavam assim.
         Era como um milagre.
         -A criança prometida. - disse o homem que eu nunca vira antes, mas que sem dúvidas era um vampiro. 
         Ele tentou se aproximar, dando um passo para frente. Mas no momento que assim fez, dei um salto e sai da cama. Ele me ameaçava com seus olhos enormes.
         -Não ouse. - gurni.
          Os presentes continuavam me encarando, mas se assustaram quando eu pulei. Menos o homem. Ele parou de se aproximar, mas me senti ameaçada novamente.
         -Calma, Lilá. - disse James. - Esse é o pai da Bianca.
         Encarei meu irmão, ainda segurando minha filhinha, um pouco assustada. Pai?
         -Lilá, me dê o bebê. - falou o homem.
         -NÃO! - berrei.
         E antes que eu tivesse tempo, pulei para a varanda. Karl me seguiu, mas eu sentia que havia algo errado ali. E eu não iria entregar o bebê.
         -Lilá! Pare, o que você vai fazer! 
         Pulei para fora da sacada, sabendo que meus extintos estavam tão aguçados quanto estiveram enquanto eu ainda era vampira. 
         Corri durante um bom tempo na floresta, e quando percebi que estava segura, olhei para minha filha, que ainda brilhava, adormecida.
         -Vou te proteger, meu amor. Vou te proteger, minha pequena Helena*.
         By Babi
*Significa luz brilhante, em latim.
       

Vigésimo Sétimo Capítulo
Bianca


                -Está bem, então. Ela vai dificultar as coisas, eu também vou – disse meu pai sem nem, ao menos, me olhar. Seus olhos roxos o deixavam mais sombrio do que era antes de morrer. Anderson agora era um monstro.
            -Como você se tornou assim? – exclamei. Enquanto Lilá não havia acordado, havíamos combinado de não discutir sobre isso. Apenas sobre a história do meu sangue, que ele tentava explicar. Entretanto, ninguém lhe deu ouvidos. Escutei, porém, trechos como “eles têm o sangue de Bianca” e coisas do tipo. Nada de importante.
            -Oh, querida, isso não te interessa – Anderson continuou a andar metodicamente de um lado para o outro, olhando seu relógio sem parar. Ele parecia estar esperando alguém.
            -Claro que me interessa! Eu sou SUA FILHA, SE VOCÊ POR ACASO! Você me deixou sofrer durante todo esse tempo! Eu e a mamãe achamos que você estava morto! Morto! E você estava fazendo sabe-se-lá-o-quê! Tem noção de quanto eu chorei? Seu monstro! Seu demônio! – gritei e James foi obrigado a me segurar para que eu não o atacasse.
            Anderson me olhou de cima abaixo e gargalhou. – Ora, ora, temos a “mocinha” aqui. Quem diria que minha filha seria uma boa moça? Deve ter puxado à mãe... Uma pena, realmente.
            -Pena? – James me envolvia em seus braços. Tentei ignorar o leve formigamento que sua presença me causava. Era incrível como depois de saber a verdade sobre mim pude entender o que sentia por ele.
            -Eu ia adorar ter uma filha vampira... Seríamos eternamente unidos. Mas você nasceu com essa maldição de ser uma Ners, então, não posso te amar do mesmo jeito. Felizmente, encontrei alguém para compartilhar minha eternidade – disse Anderson, esticando o pescoço. No momento seguinte, a porta aberta e uma linda garota entrou por ela.
            Sim, uma garota. Não uma mulher ou algo parecido. Seu cabelo loiro estava preso em um coque e ela tinha um maravilhoso colar de diamantes envolvendo seu pescoço. Seu vestido era roxo como seu olhar. Mas ela não era uma vampira comum.
            -Manoela? – encarei Anderson novamente – Além de um vampiro sádico, você virou pedófilo?
            -Não, querida. Manoela é apenas uma adorável amiga, apesar de ser linda – acrescentou meu pai ao perceber que a menina lhe lançava um olhar birrento – Minha companheira não viria até aqui por motivos como o nascimento da criança prometida. Isso tem haver apenas comigo.
            -Então, você transformou todas as Perfeitas? Mas por quê? O que todas têm de tão especial? – não podia mentir. Eu me sentia ressentida por ele ter as escolhido e não a mim.
            Anderson envolveu a cintura de Manu – Há uma profecia. Todas as meninas que estudavam no colégio em 2010 eram candidatas a mãe da criança prometida. Excluímos as alunas menores de treze anos, por motivos óbvios. Depois separamos as que se destacavam mais das outras. Por fim, sobraram as Perfeitas e Lilá. A irmã do seu namoradinho já era vampira. Bastava as outras se transformarem. Esperamos o sinal que precisávamos. Uma Ners descobrir sua própria identidade. No caso, você.
            -Só que Lilá engravidou antes da hora e as Perfeitas se tornaram quase inúteis. Felizmente, minha companheira sabia o que fazer com elas. E eu decidi pegar a criança prometida de uma vez por todas.
            Nate me segurou e James se lançou contra Anderson no mesmo minuto. August partiu para o ataque também e de repente, uma batalha ocorria por ali. Karl tentava controlar Manoela, que ousava proteger meu pai. Sabia que eu devia ajudar, mas não conseguia me concentrar o bastante para interferir.
            De forma assustadora, Anderson jogou James contra a parede e puxou Manu do aperto de Karl. Ele olhou para trás e me deu um sorriso de escárnio – Quando aquela criança maldita morrer, eu serei mais poderoso que você, Bianca. E, enfim, poderei matar sua mãe. Só espero que você coopere. Não quero ter que fazer o mesmo que você.
            Quando a porta bateu e os dois vampiros saíram correndo, pude sentir meu corpo fervendo. Nate ofegou quando reparou a onda que se irradiava de mim. Era vermelha e soltava faíscas. Eu parecia uma chama vinda de uma tocha.
            -Bianca, nós conseguiremos impedir isso juntos... – começou James, se aproximando de mim lentamente. Ele parecia ter até medo de minha aura.
            -Não, James. Nós não faremos isso juntos. Eu matarei Anderson sozinha. Todas as pessoas que estiverem com ele, eu deixo aos cuidados de vocês.
            -Mas ele é seu pai – tentou dizer August.
            -Ele era meu pai. Agora ele é apenas uma ameaça a todos que amo. E eu irei detê-la – e então, adentrei na floresta, deixando para trás a casa que, de alguma forma, sabia que não veria por muito tempo.
            Escrito por StarGirlie.


Vigésimo Oitavo Capítulo

Lilá

       
        Eu estava andando numa praia muito linda. Uma praia com ondas calmas, de um azul tão intenso que me dava vontade de parar e observar.
        Mas, não, não parei. Continuei andando.
        O sol estava tão forte que tive, em certo momento, de cobrir meu rosto com as mãos. Por que eu estava ali? Não importava, era perfeito.
        Mas, no mesmo instante em que eu pensei nisso, avistei ao longe, uma tempestade. E ela chegou tão rápido! O mar se revoltou de um segundo para outro e minha expressão feliz tornou-se assustada.
        Medo, medo, medo... estava literalmente amedrontada. A chuva caía e eu não sabia para onde correr.
        E, de repente, estava no mar, afundando e afundando, enquanto mais água me cobria a cada segundo.
        Nesse momento, senti uma batida no ombro, e olhei Karl, que parecia assustado também. Então vi James e Bianca, de mãos dadas. Estavam se afogando como eu.
        E foi então que a vi.
        Helena.
        Minha criança não estava assustada, como os outros. Parecia até mesmo maior.
        A observei enquanto ia em direção a Bianca. E, no momento em que se iam se tocar, algo aconteceu.
        Olhei para cima ao escutar um rugido enfurecido, e vi o rosto enorme de Anderson, o pai de Bianca. Ele não deixaria minha filha e minha amiga chegarem mais perto uma da outra.
        Ele estava quase...
        ...Com medo.
        Mas Anderson foi devagar, pois Bianca tocou Helena, a abraçando. E foi surpreendente.
        A água foi se dissipando e a fúria de Anderson passara. Ele fora vencido.
         O sol estava brilhando acima de nossas cabeças, e a luz que horas antes eu e minha filha havíamos criado não era nada em comparação a que ela e Bianca produziam juntas.
        E então eu entendi. Entendi tudo.
        A criança prometida.
        Helena era, sim, uma criança prometida. Ela era uma Ners, mas muito mais que isso, ela era a primeira de uma linhagem de Ners.
        Acordei subitamente, soando frio. Olhei para os lados, tentando entender o que havia acontecido. Da última vez que me lembrava, estava na floresta com meu bebê nos braços.
        Mas, naquele instante, eu estava no meu quarto. A luz estava apagada e a janela aberta, com um vento gelado empurrando as cortinas e chegando até mim.
        Pulei da cama rapidamente, desesperada. Onde meu bebê estava?
        Mas não precisei ser uma gênia para perceber que não havia ninguém na casa. E tudo que pude pensar foi: Anderson pegou-a.
        Sim, Helena era a primeira da nova geração, a primeira Ners. Não tinha o sangue original, e por isso era diferente. Mas ela e Bianca juntas formariam um grupo infalível. Quase... indestrutível.
        E um dos principais poderes das Ners eram “curar” doenças. Dentre elas, “ curar vampiros”.
        E Anderson não queria isso. Ele não queria ser “curado”. E também não queria deixar ninguém ser.
        Por isso, ele mataria minha filha.
        Mas, mais do que isso, ele mataria a própria filha.
        Embora eu quisesse Bianca à salvo, tudo que consegui raciocinar era que eu devia ser rápida, pois a vida de meu bebê estava em jogo.
        E nesse jogo, eu iria ganhar.
        By Babi


Vigésimo Nono Capítulo
Bianca


         Anderson estava me segurando. Helena dormia nos braços de Manoela. Era estranho como tudo mudara em tão pouco tempo. E eu sabia de quem era culpa.
         Por que Lilá não fora mais longe? Sua filha estava em perigo exatamente por esse descuido! Como ela pôde cochilar sabendo que a pequena Helena podia morrer? Sei que a mãe estava cansada e tudo mais, mas não podia acreditar como aquilo realmente acontecera.
         -Querida! – Anderson sorriu para uma mulher que permanecia nas sombras. Ela era alta e parecia ser muito magra. Seu cabelo caía em seus ombros e até sobre seu rosto. Mas de forma alguma, parecia com medo. Estava tentando, na verdade, é me amedrontar.
         -Olá, Anderson. Vejo que trouxe as duas. Tem certeza que consegue entregar a sua filha? – sua voz era forte e altiva. Ela deveria ter um rosto duro, mas belo. Como uma perfeita vampira.
         -Você está entregando algo parecido – ele deu risada e Helena se encolheu nos braços de Manu. Percebi ao observar a sala, que Vitória dormia em um sono profundo no canto. Já estava transformada obviamente.
         Helena abriu seus olhos e percebi o quanto a garotinha podia ser parecida comigo. Seu olhar antes de um azul profundo, agora era quase castanho. A transformação da Ners. Quanto mais tempo vivesse, mais parecida com as outras se tornaria.
         Meu pai se afastou de mim e foi se sentar no sofá, ainda sem se aproximar da mulher escondida nas sombras. Eu conseguia sentir seu poder exalando de sua pele. Ela era a mais poderosa dali sem dúvida. Talvez até mais do que eu.
         -Dê-me Helena – disse a mulher e Manu a entregou sem nem hesitar, sabendo que eu não ousaria me aproximar, pois temeria pela vida da criança. O amor podia realmente atrapalhar em uma hora dessas.
         Foi quando senti a pontada em meu peito. Curvei-me em duas e enxerguei minha mãe presa em um calabouço. Havia vampiros em todos os lados. Ela estava encurralada.
         -Ora, parece que a Bianca descobriu o futuro de sua mamãe – debochou a companheira de Anderson saindo de seu esconderijo.
         Arfei. Eu sabia quem era mesmo não sendo apresentada. Ela tinha longos cabelos pretos e seu sorriso era maléfico, mas encantador. Seus olhos eram de um lilás magnífico.
         -Você é a mãe de Lilá – quase engasguei ao constatar que falava com a minha “sogra”. A mulher se aproximou e eu senti um arrepio em minha espinha.
         -Sim. Amélia – ela tocou meu queixo – E eu vou te matar.
         Tudo que aconteceu em seguida foi um borrão. Joguei-me em seu pescoço e puxei seu cabelo. Ela caiu de costas no chão, enquanto Anderson, Manoela e, a recém-acordada, Vitória tentavam me atacar.
         É, tentavam. As mãos dos três cortavam o ar, se esforçando para alcançar meu pescoço. Mas meus poderes de Ners os impediam de conseguir. Eu estava gastando todas minhas forças ao usá-los, mas era necessário.
         Joguei Amélia na parede e corri para o sofá onde Helena estava. Sua luz nos iluminou, enquanto eu saltava pela janela. “Apague-nos” sussurrei em seu ouvido e nos camuflamos na floresta.
          Tentei seguir meus impulsos e imaginei onde minha mãe poderia estar. Eu tinha que salvá-la. E depois fugiríamos dali. Sim, carregando Helena. Lilá saberia aonde nos encontrar.
         Então, a pequena Luges apontou para o sul. Seu dedinho gordinho era tão fofo que dava vontade de apertar. Mas o momento pedia atitudes rápidas e não carinhosas.
         Comecei a correr em disparada e logo encontrei uma pequena cabana. Madi estava no subterrâneo e tinha pouco tempo de vida. Não sabia como ela não usava seus poderes, mas talvez naquele lugar nossas habilidades fossem anuladas.
         -Helena, eu preciso que você se esconda. Fique invisível e não faça nenhum barulho, ok? – pedi mentalmente a bebê. Ela mandou uma pequena mensagem: claro, tia.
         Sorri e a deixei correr, ficando invisível no meio do caminho. Era incrível como ela já adquirira essa habilidade. Me virei para a casa e suspirei. Talvez ali ocorresse minha morte. Mas por minha mãe, eu faria qualquer coisa.
Escrito por StarGirlie.


Trigésimo Capítulo

Lilá

       
         -Mamãe, estou bem.
         -O QUÊ? –berrei, parando de correr por um segundo e olhando para trás. Da onde viera aquela voz?
         -Mamãe, estou bem. – voltou a repetir, mas não havia ninguém ali, naquela mata sem fim.
         -Helena? – falei, mesmo sabendo que aquilo era tecnicamente impossível, já que minha filha não possuía nem uma semana de vida.
         -Sim, mamãe. Não se preocupe. Estou bem.
         Não chorei ao ouvir essas palavras, mas tive vontade. Era, com certeza, minha filha. E se ela estava dizendo que estava bem, eu quase podia acreditar. Quase.
         -Onde você está, Helena?
         -Escondida, mamãe. Tia Bianca precisa de sua ajuda.
         -O quê? – falei, ainda chocada. – Onde você está?
         -Mamãe, seja forte. Tia Bianca precisa de você.
         -Não vou te abandonar. Diga-me onde te encontrar!
         -Tia Bianca está perto de você. Posso senti-la. – respondeu minha filha em meus pensamentos, ignorando totalmente meu desespero. - Vovó quer matá-la.
         -Vovó, que vovó? – falei, mas quando percebi, havia dito isso em voz alta.
         -Essa vovó. – disse uma voz atrás de mim, fazendo com que eu me virasse. E, para meu espanto, desse de cara com...
         -Mamãe?
         Ela gargalhou.
         -Sim, filhinha. E onde está minha netinha querida? Heleninha! Que graça! Precisamos dela para...
         Antes que ela terminasse, ergui minha mão e bati com força em sua cabeça, lançando-a a bons metros dali.
         -Não. Ouse. Repetir. O. Nome. Da. Minha. Filha. – disse, trincando os dentes. Amélia parecia surpresa com minha atitude, mas até eu mesma estava.
         Contanto, isso não significa que deveria parar.
         -Eu sou sua mãe! – falou a mulher, indignada. – E você é uma...
         -Você me ABANDONOU! Sua... sua... – mas não havia um xingamento adequado para ela.
         -Ah, mas você vai me guiar até o bebê. Nem que eu tenha que arrancar isso de seus pensamentos.
         Ela, ainda no chão, me deu uma rasteira. Caí, e logo que olhei para cima, vi seus dentes se propagarem para perto de mim.
         -NÃO! – disse metendo a mão na fuça dela. E você ainda pensando que suas brigas familiares eram ruins.
         A lua nos iluminava, e vi um filete de sangue escorrer por seu rosto.
         Queria vê-la sangrar.
         Queria matá-la.
         Levantei rapidamente, enquanto Amélia parecia atordoada pelo sangue. Assim que percebeu o que eu estava fazendo, soltou um berro de raiva.
         -Ah, você não vai, não, mocinha... – e me mordeu no braço, logo após agarrá-lo com força.
         Ela não estava sugando meu sangue nem nada do tipo. Estava apenas me mordendo.
         Antes que ela pudesse pensar em injetar o veneno, chutei-a na barriga. De onde aqueles golpes estavam saindo?
         Ela caiu para trás. Obviamente, não estava acostumada a brigar com uma recém-mãe enfurecida. Ou mesmo com uma recém-mãe enfurecida com alguns poderes.
         Subi em cima de Amélia, que se debatia e mostrava o dentes.
         -Sua idiotinha! Deixe-me sair!
         Segurei seus cabelos, soltando todo meu peso na vampira. Fiz com que olhasse para mim e disse:
         -Isso é por ter sumido. – dei um soco em seu rosto. – Isso é por ter partido meu coração. – outro soco. – Isso é por James. Isso é por papai. Isso é por tramar contra Bianca. Isso é pelos danos que causou àquelas meninas. Isso é por desfigurar a imagem da nossa família. E isso, minha cara, é por ter olhado para Helena.
         No final, Amélia estava desacordada, com o rosto desfigurado. Eu poderia ter quebrado seu pescoço... seria tão fácil. Mas não poderia fazer isso.
         Pois, apesar de tudo, ela ainda era minha... mãe.
         Foi nessa hora que escutei um grito, um pouco longe de onde eu me encontrava.
         Mas não precisei me mexer. Anderson logo apareceu, com as Perfeitas, Karl, Nate, Madi, meu pai e James. Todos pareciam sobre algum efeito atordoante, não sei.
         -O que você fez a ela? – disse ele, olhando para a mulher que estava no chão.
         Ele parecia furioso.
         Quase como...
         No sonho.
         E, nunca tive tempo de responder. Pois algo pulou das sombras.
         Não, algo não. Alguém.
         Bianca.
         E foi aí que eu percebi. O sinal.

         By Babi
Trigésimo Primeiro Capítulo
Bianca

           
Salvar minha mãe não foi tão difícil quanto pensei que seria. James, Nate, Karl e August surgiram no último minuto e atacaram os vampiros junto comigo. Madi estava praticamente intacta. O único problema fora o que aconteceu depois.
Saímos da casa e logo encontramos Manoela, Anderson e Vitória nos esperando. Porém, ao contrário do que eu esperava, eles não atacaram. Estavam em minoria e apenas pediram que lhes seguissem. Não tínhamos nada a perder, então fomos.
            Uns dez metros antes, senti o cheiro de Lilá e Helena e rapidamente me afastei do grupo. James nem teve tempo de me seguir. Eu simplesmente desapareci. Anderson pouco se importou e Madi, estrategicamente, fingiu não perceber.
            Assisti à luta de Lilá com Amélia, pedindo mentalmente que Helena não me revelasse. Ela assentiu e se afastou dali, correndo silenciosamente. Quando a mãe de minha amiga caiu, esperei os outros chegarem. James lançou um olhar à árvore em que eu estava e cobriu um sorriso. Ele podia sentir minha presença.
            No momento em que Nate suspirou, lancei-me nos ombros de Lilá. Ela gritou, mas não me afastou. Afastei o cabelo de seu pescoço, como se fosse mordê-la. Anderson automaticamente se prontificou a me atacar.
            Ele, como todos os outros ignorantes, acreditava que uma Ners podia morder uma pessoa normal e transformá-la. Obviamente, isso era impossível. Uma Ners tinha que vir de uma linhagem ou ser prometida, como Helena. Mas Anderson não sabia e aquilo nos deu uma distração.
            James se lançou contra Manoela e começou uma batalha árdua. Nate decidiu ajudá-lo. Karl e August atacaram Vitória. Madi se concentrou em incapacitar Amélia. Lilá permaneceu imóvel enquanto eu lutava contra meu próprio pai.
            -Você nunca vai ganhar de um vampiro! – Anderson puxou meu cabelo e me lançou contra uma árvore. Tive sorte de poder diminuir sua força antes de seu braço me jogar. Caí machucada e James correu para me ajudar.
            -Você machucou Bianca – James sibilou e cortou o ar antes que eu pudesse detê-lo. Suas mãos foram hábeis e em menos de um segundo. A cabeça de Anderson estava no chão.
            O choque percorreu meu corpo e também o de minha mãe. Porém, foi esse leve deslize que Amélia desapareceu. Junto com Manoela e Vitória. Nate, Karl e August correram em minha direção.
            -Bianca, você está bem? – disse meu melhor amigo colocando minha cabeça em seu colo, James segurava minha mão e tentava curar meus ferimentos.
            Minha mãe se aproximou de mim e tocou minha testa, sabendo que eu não seria capaz de usar meus poderes aquela noite. Entretanto, depois de algum tempo, ela suspirou, inútil.
            -James, eu preciso que você a… - Nate começava a discordar, mas Madi continuou – beije.
            -O quê? – exclamou Lilá sem entender. Helena estava em seus braços, me observando carinhosamente. Algo em meu coração pareceu estalar quando a pequena criança abriu seus lábios e explicou:
            -O beijo do amor verdadeiro – todos começaram a rir sarcasticamente, exceto Madi e Helena. Elas pareciam realmente acreditar no que afirmavam. Mas aquela era uma idéia ridícula. De onde haviam tirado? Da história da Branca de Neve ou da Bela Adormecida?
            -Você está falando sério, mãe? – comecei a tremer. Temia que caso James me beijasse, o encanto não funcionasse. E se ele não fosse meu amor verdadeiro? Aquilo me atormentava.
            -Estou, querida. Nós, as Ners, saímos dos contos de fadas. Nós somos as fadas madrinhas. Nunca reparou nisso? – Madi sorriu. Reparei pela primeira vez que sua aura era mais brilhante do que qualquer outra pessoa. Semelhante à Helena.
            -Não de verdade mesmo – continuou a filha de Lilá – Mas as fadas são inspiradas em nós. Todos os feitiços vieram de nós.
            Olhei para James em busca de apoio, mas ele começava a acreditar nisso também. – Devíamos tentar. Talvez funcione.
            Nate arfou e uma doce lágrima caiu de meu olho. James se abaixou lentamente, segurando os lados de meu rosto. Quando seus lábios estavam perto o suficiente, o chão tremeu.
            -O que foi isso? – perguntou August. Senti o cheiro quase que imediatamente.
            -Vampiros. Muitos deles – respondi.
            -Corram. Agora – ordenou Karl. E James me colocou em seus braços, enquanto o mundo se despedaçava atrás de nós.
Escrito por StarGirlie.

Trigésimo Segundo Capítulo

Lilá

        -Da onde surgiram tantos vampiros? – disse minha filha.
         Eu nem estava prestando atenção em James, ou Bianca, ou nos vampiros... Quer dizer, minha filha estava ali, e aparentava ter dois anos. Quando ela cresceu tanto? Quando? E por que cargas d’água eu perdi isso?
         Seus cabelos eram lisos, mas cacheados na ponta. Seus olhos eram enormes, e castanhos... puxados para o verde. E suas bochechas eram extremamente rosadas.
         Era tão... linda.
         -Mamãe, corra! – disse Helena, me despertando.
         É, eu tinha que correr. Correr mesmo.
         E foi o que fiz, mas não tinha ideia de para onde iria. Agora não era apenas eu, na história. Éramos nós. Eu e minha filha.
         E eu não estava entendendo como, mas muitos vampiros – e quando eu digo muitos, são muitos mesmo – estavam atrás de nós. Vampiros que eu não tinha ideia de como impedir.
         Corri muito, claro, mas comecei a me desesperar. Eu, apesar de manter vários poderes vampirescos, ainda era uma humana. E humanos correm devagar pra caramba.
         Olhei para o céu, pedindo uma ajuda divina. E tudo que vi foi a lua.
         A lua. Cheia como...
         Não terminei a frase, pois algo me ergueu. Algo muito rápido, que pegou-me de surpresa.
         Olhei para baixo e finalmente vi o que havia me pegado.
         Eu estava galopando. Galopando em Karl.
         Tá, isso ficou esquisito. Mas eu me senti realmente aliviada, tirando a parte de que estava extremamente desconfortável ali nas costas dele.
         Mas eu estava saindo de perto dos vampiros. Finalmente!
         Relaxei e tentei não pensar muito nisso. Helena estava ali, e estava bem. Karl estava ali, e estava bem também.
         Mas e os outros!?
         Suspirei. Os vampiros estavam a alguns metros de nós. Não havia o que temer...
         Mas ficaríamos correndo até quando!?
         Droga. Não sabia o que fazer. Não sabia que rumo tomar...
         -Calma. – disse a vozinha na minha cabeça. Helena. – Eu e tia Bianca temos um plano.
         -Têm? – pensei, compulsoriamente.
         -Sim. – respondeu, tranquila. – Mas preciso me concentrar.
         Concordei, entendendo isso como um: pare de ficar tão preocupada que isso me atrapalha!
         Helena era um ser estranho. Daquele tipo pelo qual você se apaixona na primeira vez que olha. Como se a conhecesse durante a vida toda.
         Apertei sua mãozinha, querendo lhe transmitir forças. Tão pequena, e cheia de problemas. Parecia até alguém que eu conhecia...
         Ela apertou a minha, retribuindo o gesto.  Estava tão preocupada que meu coração poderia ter saído pela boca.
         Foi então que tentei encontrar James, nos pensamentos.
         Chamei-o uma vez, tendo consciência de que ele poderia estar ocupado demais para me responder. Mas não foi isso que aconteceu.
         -Lilá? – perguntou ele, e percebi que se concentrava em desviar das árvores.
         -James! Você sabe, por acaso, qual é o plano?
         -Já imagino. – assentiu ele.
         -E o que é? – perguntei.
         -Acho que será arriscado. Mas tenho quase certeza de que farão.
         -Desembucha logo!
         -Bem, - falou meu irmão, tentando se acalmar. Estava muito agitado. – acho que estão tentando unir os poderes das três. Bianca está comigo e disse que devia se concentrar.
         -Helena disse o mesmo.
         -Helena disse? Quer dizer, sério?
         -James, ela não é comum.
         -Eu sei. – concordou ele, segundos depois.
         -Mas e o que conectar as mentes pode causar? – falei exasperada. O futuro de minha criança estava em jogo.
         -Talvez elas consigam acabar com os vampiros que nos seguem. Ou...
         -Ou o quê?
         -Acabar matando todos nós.

         By Babi


Trigésimo Terceiro Capítulo

Bianca

Deixei que James corresse dezenas de quilômetros com Nate ao nosso lado. Era incrível como meu melhor amigo, mesmo sabendo que eu amava o vampiro, continuava me acompanhando. Sempre.
-Madi está bem? – eu não conseguia não pensar em minha mãe. Sabia que August a protegeria até o fim e que ela era extremamente poderosa, mas ainda a via como uma adorável dona de casa.
-Está sim – o James real que só conhecera há tão pouco tempo era totalmente diferente do que aparecia para as outras pessoas. Ele era educado e me amava mais do que qualquer outra pessoa no mundo. Simplesmente por eu ser eu mesma – August está com ela. Ele nunca vai deixar ninguém se aproximar de sua mãe.
Sorri ao perceber que aquilo era verdade. Todos haviam encontrado um par perfeito. August e Madi. Lilá e Karl. Eu e James. Até Anderson e Amélia. Menos Nate. Meu melhor amigo não encontrara uma pessoa que o amasse.
-Bia? – Nate me chamou enquanto corria. Eles sabiam que os vampiros nunca parariam de correr e um confronto começaria. Mas as Ners estavam se unindo, de forma que a batalha fosse favorável para o nosso lado – Você por acaso estava pensando em mim?
Corei instantaneamente. Nate nem precisava de uma resposta formal, mas esperou que eu dissesse algo. – Por quê?
-Porque eu te vi me imaginando sozinho – abaixei meus olhos e percebi que James estava mais tenso que o normal. Ele odiava a relação que eu tinha com Nate. Sabia que a culpa era sua. Tudo realmente começara quando o lobisomem me salvou de Charles – E algo me avisou que aquela imaginação não pertencia a mim.
James então parou. Ele olhou para trás exatamente quando meu coração deu um salto. Podia escutar as vozes de Helena e Madi em minha mente. Aquele era um efeito temporário. Daqui alguns dias estaríamos desconectadas novamente. Mas a união dera certo!
-Estamos preparados – no momento em que meu vampiro dissera isso, o mundo pareceu cair. A chuva chegou de repente e nos encharcou. A terra parecia tremer sob nossos pés.
Então, duas mãos enlaçaram as minhas. Do lado direito, estava James em sua mais gloriosa forma. Do outro, Nate parecia engolir o medo. Ele podia ter mais do que apenas 14 anos, mas nem de longe era tão antigo quanto meu... Namorado?
Aquela palavra não viera de minha mente... Era James! – Como você conseguiu isso?
O vampiro sorriu e eu senti em minhas entranhas o quanto ele queria poder me beijar naquele momento. Mas estávamos no meio de uma guerra e Nate estava ali.
-Apenas uma pessoa consegue entrar na mente de uma Ners em toda a sua vida. Ela pode transmitir tudo que quiser para outras pessoas, mas só um ser conseguirá adentrar seus pensamentos.
-É a pessoa para quem foi destinada – completei em voz baixa, mas Nate me ouvira e estremecera de leve. Ainda doía em meu coração deixar claro que ele não era minha escolha.
Esperava que James assentisse ou algo parecido, mas ele fez o que eu não imaginava. Puxou-me para longe e nos posicionou atrás de alguns arbustos. Nate não podia nos ver dali, nem nos ouvir.
-O que... – mas antes que pudesse responder, a mente de James entrou na minha. Bianca, eu preciso te dizer uma coisa.
-O quê? – era tão estranho aquela sensação. Tê-lo ocupando meus pensamentos era mais intenso do que qualquer outra coisa no mundo.
-Eu te amo – de repente, meu corpo agia sozinho. Minhas mãos seguraram o cabelo de James e ele me beijou de uma forma intensa como nunca antes.
Eu podia sentir seus dedos descendo por minha coluna, sua respiração em meu ouvido, sua mente pedindo mais como a minha. Naqueles minutos, não havia guerra. Nós dois só queríamos acabar com o desperdiço de tempo que nos vinha atormentando há mais de cem anos.
Sim, em seus braços, eu conseguia perceber que o estivera esperando por todas suas encarnações. Mas ele só podia encontrar a Bianca que eu era hoje.
A minha respiração estava ofegante e eu mal conseguia pensar se minha mãe, ou pior, Helena, conseguiam ver aquela cena. Pelo modo como ambas conversavam, percebi que não. James a estava bloqueando.
-Precisamos ir – arfei. O vampiro me afastou lentamente e os dois voltaram para o lugar onde abandonaram Nate. Nem precisava imaginar minha aparência. Madi exclamou em choque ao perceber o modo como sua filha estava desalinhada. Rezei para que ninguém tivesse uma mente muito suja.
-Eles estão chegando – disse Lilá. Todos estavam ali reunidos. O exército do bem era muito pequeno. Mas todas as Ners existentes na Terra estavam juntas e prontas para enfrentar tudo que viesse pela frente.
-Agora – e toda a existência que eu conhecia mudou.

Escrito por StarGirlie.

Trigésimo Quarto Capítulo
Lilá

         Peguei-me divagando. Bianca parecia agitada, mas mesmo assim... como se pudesse vencer todos aqueles vampiros. Outra coisa parecia deixá-la daquela forma, mas não entendi o que na hora.
         James estava quase... feliz!? E, minha filha, que continuava em meus braços, lançou um olhar estranho para sua tia. Malícia. O que estava acontecendo com eles? 
         -Vamos dar as mãos. – disse Madi, dirigindo-se para a filha e também para Helena.
         Olhei para ela, não querendo largar de minha criança, que agora aparentava ter três anos.
         -Mamãe, é o melhor. – disse Helena, com seus olhinhos infantis, mas fortes.
         Soltei um suspiro.Aquilo era difícil. Difícil demais.
         Acho que Helena compreendeu que eu não conseguiria fazer isso sem ajuda, então olhou para o pai, já transformado novamente em humano.
         -Papai? – perguntou ela, e ele veio até mim. Desviei o olhar, pois sabia que estava desesperada como nunca antes estivera. Sentia minha filha indo embora.
         Karl tocou meu rosto de forma delicada, e lembrei-me daquela noite... Queria tanto poder ser uma adolescente normal. Uma com inseguranças normais, com problemas normais. Sim! Eu queria ter até mesmo as piores coisas, desde que...
         Desde que eu não estivesse envolvida num mundo onde não se pode sair uma vez que se está dentro.
         Finalmente, deixei as lágrimas rolarem e o abracei, soltando Helena. Todos viam o meu desespero. Era demais para mim.
         -O que aconteceu, filha? – perguntou meu pai, se aproximando. Larguei Karl por uns instante.
         -O que aconteceu!?!? – perguntei, brava. – Caramba, você ainda pergunta O QUE ACONTECEU? – respirei por meio segundo, antes de desembuchar tudo. – Nunca tive uma mãe! Nunca fui amada! Nunca pude fazer amizades reais, por medo que fizesse algo de errado com qualquer humano! Nunca tinha nem sequer beijado alguém antes de conhecer Karl! E tudo que eu mais queria, tudo que eu mais cobiçava, era nunca ter sido vampira, nunca saber da existência dos vampiros! E, de repente, chega Bianca. Vejo-me, então, não sendo mais um monstro. Sendo normal! E é aí que me apaixono. Por quem!? Por um lobisomem! E, claro, fico grávida. E me desespero, mas para quem falar? Bianca está em crise, e é uma Ners. James nem sequer presta atenção em mim. Meu pai está ocupado demais, sempre. E eu fico sozinha. Sozinha tendo que lidar com uma gravidez na adolescência e, adivinha!, com um problema com VAMPIROS ASSASSINOS! –berrei. – E você me pergunta QUAL É O MEU PROBLEMA? Minha própria mãe me odeia! Mas, apesar de tudo, o pior não é isso. O pior é que eu tive minha filha, e a amo. A AMO, entendem? E sabe o que estou fazendo agora? Deixando-a ir. Vendo-a a se machucar...
         Neste momento, não agüentei mais. Todos permaneciam calados, e caí no chão aos soluços. Era difícil demais. Impossível para mim.
         -Mamãe, eu também te amo. – disse Helena, quebrando todo o silêncio, como se de tudo que eu tivesse dito, aquela fosse a única coisa em que realmente tivesse prestado atenção. Continuei a desabar.
         -Não vamos te deixar sozinha mais. – falou James, me surpreendendo.
         E foi então que ergui os olhos molhados e percebi. Eles haviam dado as mãos. Todos, haviam dado as mãos.
         E, no meio do círculo, lá estava eu. Lá estava eu, sendo protegida por todos.
         Naquele instante, me senti mal. Não por ter falado tudo que eu achava, mas por ter realmente achado tudo aquilo.
         Todos tinham problemas. Bianca se apaixonara por um vampiro e descobrira ser poderosa demais. Madi percebera que sua filha estava partindo, assim como eu percebera que Helena precisava ir. James estava vendo o amor da sua vida lutar para salvá-lo. Karl notava, assim como eu, que Helena estava em perigo e não tinha como protegê-la. August estava tentando não deixar que nada desse errado com sua família. Nate via Bianca feliz com outro, mas não reclamava.
         Por que ela estava, de fato, feliz.
         E eu, além de todos os problemas, incumbia aquele círculo também o meu egoísmo. Meu egoísmo, que agora saía para fora por meio de lágrimas.
         Levantei, secando meus olhos. Devia levantar, senão por mim, por todos eles que se sacrificaram.
         Percebi instantaneamente que já ouvia os vampiros perto. Teríamos de agira rapidamente.
         No segundo que pensei isso, Madi, Bianca e Helena começaram um mantra.
         - Adsequi non potes, quia semper amor regnet. Adsequi non potes, quia semper amor regnet. Adsequi non potes, quia semper amor regnet. Adsequi non potes, quia semper amor regnet.
         Em segundos, todos nós repetíamos.
         E toda a dor, a solidão, a angústia, o medo... Tudo que senti... Não sentia mais. Era como algo que nos iluminava. Como luz.
         Repetíamos, repetíamos, repetíamos... E, olhando para as três Ners do grupo, que eram as mais centradas nas palavras, escutamos uma barulho.
         Um longo e alto pio.
         Haviam pessoas morrendo. Ou, pelo menos, coisas explodindo.
         By Babi

Trigésimo Quinto Capítulo
Bianca

         Meu corpo tremia. Nunca sentira nada igual. O poder era demais para meus ossos, mas eu tinha que sobreviver. Por Madi. Por James. Por Nate. Por Lilá. Nada mais importava. Eu só precisava sobreviver até o fim da Batalha e tudo estaria bem.
         Pelo menos, eu estava revigorada depois da mini maratona de beijos com James. Bastava apenas um beijo de amor verdadeiro para restaurar minha saúde e, bem, fizemos muito mais que isso.
         Podia escutar todos os vampiros explodindo a certa distância. Alguns resistiam. Aqueles que sabiam sobre as Ners não eram capazes de morrer com feitiços. Teríamos que enfrentá-los pessoalmente. Não havia problema algum nisso. Entretanto, algo me dizia que tudo sairia de controle.
         Paramos de murmurar. A chuva parara de cair. Os passos não eram mais audíveis. Finalmente, retomava meus sentidos e podia sentir o toque dos dedos de James nos meus. Queria poder fugir com ele para um lugar onde não nos encontrassem.
         Quando o silêncio se estabeleceu, tanto James quanto Nate se curvaram para perto de mim e sussurraram em meus ouvidos:
         -Feliz aniversário, Bianca.
         Eu não sabia do que eles estavam falando, até que me lembrei de que dia era hoje. Obviamente, já passara da meia-noite e meus dois cavalheiros estavam tentando me distrair da guerra. Era incrível como eles conseguiam ser meigos não importava a situação.
         Madi me abraçou, com lágrimas nos olhos. Percebi que em seus pensamentos ela não conseguia me ver envelhecendo. Temi que aquela sua previsão estivesse certa. As Ners tinham o dom da visão futura, mas algumas vezes errávamos. E essa era minha última esperança.
         -Que você viva muitos anos mais, querida – disse August, educado como seu “filho”. Karl, Helena e Lilá também foram adoráveis comigo, mas ninguém realmente estava feliz. Sabíamos que Amélia, Manoela e Vitória estavam a caminho. As três vampiras que sobreviveram ao nosso ataque.
         Deixei que Nate me aconchegasse em seus braços, antes de finalmente estar com James. Era a ele que eu pertencia, mas meu coração avisava que não seria por muito tempo. Apertei mais meu abraço e desejei com todas as forças que houvesse mais tempo. Não podia perder meu vampiro. Nunca.
         O que está acontecendo, Bianca? Sua mente está tão... Triste. E hoje é seu aniversário. Seu aniversário de quinze anos.
         Mas James... Eu perdi muito tempo no colégio, não tenho uma vida normal, descobri que meu pai queria me matar e o vi ser morto pelo meu namorado – desculpa Bia... – Sem desculpas. Não é culpa sua. Só que eu não consigo mais ser a Bianca de antes. Tudo mudou tanto. E nós dois sabemos que meu fim está próximo.
        Você sabe que pode reverter o destino! Você é uma Ners...
         Acima de tudo, eu sou humana. Eu vou morrer, James. E ninguém pode impedir.
        Antes que percebesse, eu estava chorando sem parar. James tentava inutilmente me acalmar, mas ele também sofria. Nossa grande história de amor estava prestes a acabar e não havia nada que pudéssemos fazer.
         -Apenas me beije – disse James me surpreendendo. Subi na ponta de meus dedos e uni nossos lábios mais uma vez. Sabia que não era certo se empolgar na frente de minha mãe e da Helena, mas não conseguia me controlar.
         Além disso, aquele beijo era totalmente diferente dos outros. Havia algo estranho. Era bom, mas incomum. James estava fazendo algo e eu não conseguia saber o quê. Então, acabou.
         -Parabéns, casalzinho. Que tal lutarmos agora? – disse Amélia saindo das sombras. Seu sorriso foi a única coisa que vi antes dela... Bem, pular em cima de mim. E tudo se escurecer.
Escrito por StarGirlie.

Trigésimo Sexto Capítulo
Lilá

         E a luta começara.
         Todos ainda estávamos meio chocados pelo que havíamos acabado de ver: o real poder das Ners. Talvez elas nem tenham percebido a mudança que causaram em nós, mas eu, sim, havia notado.
         Continuava triste, é claro, mas algo crescera dentro de mim. Esperança, essa era a palavra.
         Logo que Bianca e James começaram a lutar com minha mãe, August e Madi se juntaram para acabar com Vitória e Nate e Helena começaram a brigar com Manoela. Estava prestes a arrancar minha filha da briga, quando Karl me puxou para um canto.
         -Lilá, há algo errado. – cochichou ele, com urgência na voz.
         -Sim, há várias coisas erradas, a começar por Helena...
         -Não. – cortou-me ele. – Não é isso. Há algo poderoso vindo, eu posso sentir.
         E isso mexeu comigo. Não por causa das palavras, mas sim porque eu sabia que eram verdadeiras.
         -Sinto também. – confessei. – E estou com muito medo, Karl.
         Ele me abraçou, preocupado. Ambos sentíamos que algo mais forte do que até mesmo Vitória, Manoela e Amélia. Alguma magia da floresta havia sido despertada, e estava atrás de alguém.
         Para ser mais exata, sabíamos que a magia queria Bianca, Madi e Helena. O poder delas, que tanto havia ajudado a todos, devia retornar para a terra.
         Mas, como havia percebido, o poder fazia parte delas. Elas eram o poder. O que significava que minha filha, minha melhor amiga e sua mãe iriam morrer.
         E não havia nada que eu pudesse fazer.
         Abracei Karl, tentando não pensar nisso. Precisávamos acabar de uma vez com os vampiros assassinos que batalhavam. Por mais que um deles fosse minha mãe.
         Estava quase saindo dali, correndo para ajudar Nate e Helena, quando Karl pegou, gentilmente, mas de forma desesperada, meu braço.
         -Lilá, espere.
         -Não posso mais, Karl...
         E ele me beijou. Era um beijo triste, mergulhado em lágrimas. Mas também era feroz, já que sabíamos, seria o último.
         Abracei-o forte, enquanto nossos lábios ainda estavam colados. No meio a tanta confusão, malmente pude pensar em Karl. Pensar em mim mesma.
         -Lilá, me desculpe. – disse ele, com mais lágrimas caindo. – Eu não quis te causar tudo isso. Não quis que você tivesse ficado grávida, não quis ser um lobisomem. E, se sobrevivermos, me afastarei de você, como merece.
         Neguei com a cabeça.
         -Não se desculpe. Você me deu Helena, meu maior presente. E, se não fosse um lobisomem, nunca teria conseguido fugir dos vampiros. Só não entendo como se controlou...
         -Não importa. – interrompeu ele, como se isso doesse. – Também não saberia responder essa pergunta, mas de uma coisa tenho certeza. Eu te amo, Lilá, e isso nunca vai mudar.
         Chorei mais ainda com aquelas palavras. Como doíam! Karl havia conseguido até mesmo domar sua maior força interior, apenas por mim. E tudo que eu havia feito fora julgá-lo.
         -Ah, Karl. Também te amo. Muito.
         Não havia palavras para dizer o que eu sentia. Admiração, orgulho, amor. Nenhuma destas bastava.
         Dei-lhe mais um beijo, antes de largá-lo e sair de perto. Se continuasse ali, nunca mais iria sair.
         Tentei tirar os pensamentos de minha cabeça, já que uma luta mortal estava acontecendo. Mas, quando realmente vi o que ocorrera, suspirei, um pouco mais aliviada. Amélia, Vitória e Manoela estavam no chão, inconscientes.
         Eles conseguiram.
         Eles as venceram.
         Olhei para Helena, que estava toda descabelada e suja, e sorri. Aquela era minha filha. Minha pequena filhinha, que agora quase com cinco anos (aparentemente, pelo menos), já havia derrotado vampiros poderosos.
         Mas antes mesmo que eu pudesse abraçá-la, aconteceu. No meio de todos nós, um buraco começou a surgir.
         Gritei pelo nome de minha filha, e depois olhei para a mão de Karl, que me segurava. Por pouco, eu não havia ido junto.
         E, enquanto todos berravam de pavor, o buraco ia aumentando. Vi Nate, após um grito desesperado de Karl, segurar a mão de Helena, que parecia estar sendo sugada para dentro daquele buraco.
         E então eu percebi que a hora havia chegado. Bianca, que estava abraçada a James, também berrava de medo. Queria permanecer, queria ficar ali.
         Meu pai estava com as mãos apertadas em torno de Madi, que chorava como nunca vira. Ela o beijara, e sussurrara alguma coisa, e percebi que estava sendo difícil demais para todos.
         Mas o que eu, uma mera humana, poderia fazer?
         O buraco, agora como um mar de luz, estava chamando seus poderes novamente. Estava chamando seus descendentes, seus filhos.
         Os filhos da morte.
         E, a cada segundo, a força que fazia sob Bianca, Madi e Helena era mais forte. Até que minha filha, a única que parecia ter compreendido que aquilo era inevitável, se soltou de Nate.
         Antes de ser sugada, lançou um último olhar para mim e para Karl, um olhar que dizia claramente... Eu te amo.
         Não sei como fiz aquilo, e como tive coragem.
         Mas, depois de meio segundo, pulei atrás de Helena no buraco iluminado.
         Pulei para minha morte.
         By Babi 

Trigésimo Sétimo Capítulo
Bianca

         Enquanto Helena caía com Lilá no buraco negro, meu cérebro mostrou a única alternativa que eu tinha para salvar a todos. Libertei-me do abraço de James e me ajoelhei no chão. O mundo começou a girar ao meu redor. Concentrei-me todo o meu poder naquele local e sangue verteu do meu nariz.
         -Bianca! – James queria me salvar, mas isso não aconteceria. Ele nunca seria capaz de mudar meu destino. Eu tinha que morrer. Morrer para salvá-los.
         Com um mínimo pedaço de meu poder, impedi que todos se movessem. O chão vibrava com meu toque. Tudo parecia prestes a desabar. O vento aumentou.
         Finalmente, o buraco começou a ceder ao meu esforço. Podia ver Helena e Lilá penduradas em um dos cantos, tentando inutilmente não ser engolidas pela Morte. August chorava, mas James parecia engolir seu sofrimento. Ele sabia o quanto eu precisava de seu apoio.
         Chamas negras saíam da terra chamuscando as roupas de Helena. Lilá não seria ferida se desse sua filha para as Trevas. O mesmo aconteceria com August. Mas nenhum deles seria capaz de tal ato. E nem seria preciso.
         Lágrimas caíam em minhas bochechas enquanto mais sangue se acumulava em minha pele. Aquele sempre foi meu destino, repetia sem parar mentalmente.
         Mudei-me para Curitiba para encontrar Lilá e transformá-la em humana novamente. Vim para essa cidade para me apaixonar por James e fazê-lo entender que o amor realmente existia. Transferi-me para cá para que Madi pudesse recomeçar com August e finalmente entender que Anderson nunca prestara.
         Mas agora eu tinha cumprido minha missão. Tudo estava em seu devido lugar. Entendo que Nate não encontrara o amor ainda, mas algo me dizia que um dia ele iria aparecer de forma mais inesperada.
         Olhei para o céu e fiz uma prece silenciosa. As estrelas brilhavam como se nenhuma chuva tivesse caído. Não havia nuvens naquele momento. O mundo estaria em paz quando eu partisse.
         Unindo toda a força que havia em meu corpo, puxei mentalmente Helena e Lilá de volta para a superfície. As duas ofegaram e me olharam chocadas. A criança prometida não podia ter sobrevivido. Mal sabiam elas que eu sempre soube o que ia acontecer.
         Um trovão pareceu ocorrer sob a terra. As árvores começaram a cair cada vez mais perto de nós. A Terra me queria de volta. O planeta tinha me dado esse poder e agora era hora de devolver.
         Me virei para James e corri para seus braços pela última vez. Dei-lhe um beijo casto e sussurrei em seu ouvido:
         -Eu também te amo.
         Antes que ele pudesse responder ou me forçar a desistir do sacrifício (sim, uma parte da mente dele realmente sabia o que eu faria a seguir), dei um salto para o buraco e todos seguraram a respiração.
         Não caí. O buraco me manteve flutuando sobre a superfície. Mas eu podia sentir minha força vital sendo arrancada de meu coração. Percebi que algumas pessoas retomavam os movimentos enquanto meu poder sumia, exceto James. Nossas almas estavam conectadas e ele não conseguia se libertar de minha magia. Fiquei feliz que meu amor não fosse morrer comigo. Finalmente, o vampiro teria a chance de recomeçar.
         Eu não estava triste, afinal de contas. Graças à minha morte, todas as pessoas que amava poderiam sobreviver. Lilá poderia criar Helena com Karl, James poderia se apaixonar novamente, Nate poderia partir e recomeçar, Madi e August finalmente viveriam seu amor.
         Além do mais, naquele plano, tudo ficara mais bonito. Os olhos lilás dos vampiros, o brilho pálido da lua. Até mesmo a respiração de todos tinha uma serenidade diferente.
         Sabia que tudo estava prestes a acabar. O buraco negro começou a se fechar e meu corpo desceu lentamente. Meus batimentos cardíacos estavam mais fracos. Logo que encostasse no chão, estaria morta. Pelo menos, meu corpo poderia ser enterrado.
         Sorri em meu último momento de vida. A imagem de James apareceu em minha mente. Eu esperava que após minha morte, sua lembrança ainda permanecesse em minha alma.
         Meu corpo bateu na terra pela última vez.

Escrito por StarGirlie.

Trigésimo Oitavo Capítulo
Lilá

         Há pessoas que marcam nossas vidas. Deixam saudade, carinho, afeto. Há pessoas que, sem querer, mostram para nós outro modo de viver. Um modo melhor, onde, pela simples presença deste indivíduo, você começa a se sentir forte. Há pessoas que curam nossas dores, por mais que estas tenham sido causadas por elas.
         E, finalmente, há pessoas que ficam, para sempre, no nosso coração.
         Bianca é uma destas. Bianca marcou minha vida, minha história. Bianca foi, é, e sempre será, minha melhor amiga.
        
Helena
         Acordar cedo. Às vezes me pergunto quem foi o idiota que inventou essa droga de despertador.
         Mas acho que ainda não nos apresentamos. Meu nome é Helena, e eu sou... como dizer? Um pouco longe de ser uma adolescente normal.
         Minha mãe já foi uma vampira, e meu pai é um lobisomem. E eu? Já tive poderes, admito, mas agora sou mais normal do que qualquer um. Bem, mais ou menos.
         E, agora que te conheci, acho que vamos ser grandes amigos. Se você não tiver inventado o despertador, é claro.
         Mas onde eu estava? Ah, sim. Acordar cedo.
         Levantei ainda massageando meus olhos. Já estava praticamente acostumada com essa rotina “divertidíssima”.
         -Querida, acordou dessa vez? – berrou minha mãe, passando correndo pelo meu quarto. Era engraçado o modo como ela estava sempre disposta de manhã.
         -É, mamãe. Dessa vez eu tô de pé. – resmunguei, lembrando-me do que ocorrera da última vez em que eu relutara um pouco em acordar.
         Vesti uma das primeiras roupas que encontrei. Nunca fora muito ligada a moda, e receio dizer que puxei isto de minha mãe. Bem, isso e o amadurecimento precoce, já que estava a um mês de completar cinco anos e, mesmo assim, fora obrigada a me matricular no segundo ano do ensino médio.
         O que posso dizer? Acho que sou super dotada.
         Desci para baixo, porque seria um tanto difícil descer para cima, e encontrei meu pai preparando panquecas.
         -Ô Lelê, ô Lalá! – disse ele, sempre brega, quando passei como um foguete e peguei uma panqueca.
         -Atrasada! – disse, já saindo pela porta. – Fui!
         Caminhei até a escola, que não ficava a muitas quadras dali. Meu telefone tocou quando estava quase chegando.
         -Tio Nate? – perguntei.
         -Hey, Lena. – disse, fazendo-me revirar os olhos. – O que vai fazer?
         -Quando? – indaguei.
         -Agora.
         -Hum... – falei com um ar divertido. – Que tal... Escola?
         -Ótimo. Espere aí na frente que eu vou te buscar em meio minutos.
         Desliguei o celular, rindo comigo mesma. Sempre me considerara sortuda, já que meu tio estava mais para um melhor amigo mais velho do que um tio em si.
         O carro, de um modelo esporte, parou exatamente onde eu estava. Abri a porta e entrei, já mandando:
         -Papai e mamãe nunca poderão saber disso.
         -Nunca saberão. – respondeu-me, enquanto eu colocava o cinto.
         -Pra onde vamos?
         -Você vai ver.
         Concordei, sabendo que seria inútil discutir.
         O carro partiu em alta velocidade. Baixei o espelho do passageiro para tentar colocar o rímel que em casa não tivera tempo. Depois de várias freadas bruscas propositais, finalmente consegui passá-lo.
         Analisei meu cabelo, que agora estava gigantesco, e suspirei. Nunca soubera de onde haviam vindo aqueles cachos ultra-mega armados.
         Depois de mais uns retoques, olhei para fora.
         -Meu Deus, onde estamos indo! – perguntei, depois de dez minutos.
         -Calma aí, mocinha. Você já vai ver.
         Bufei dessa vez. Paciência não era exatamente meu lema, e enquanto esperava, comecei a roer as unhas.
         De repente, paramos em frente ao hospital. Não entendi o que estávamos fazendo ali, mas Nate mandou-me tirar o cinto, e fiz isso sem perguntas.
         Quando estávamos quase entrando no prédio, finalmente perguntei, preocupada:
         -Nate, o que houve?
         Ele riu, vendo minha expressão. Mas não respondeu, e ao invés disso, perguntou a uma moça que passava onde ficava o berçário.  
         Engoli em seco. Quem tivera um bebê?
         Andamos apressados para uma sala de espera que possuía uma janela gigantesca, onde vários bebês poderiam ser vistos.
         -James? – perguntei, vendo a figura de meu tio olhando através da janela.
         -Helena! – disse ele, que nunca usara um apelido comigo. – Venha ver!
         -O quê? – perguntei, assustada.
         -Sua nova priminha!
         Pisquei diversas vezes, até me recompor. Olhei para Nate, que balançou a cabeça negativamente, e depois voltei a olhar para o irmão de minha mãe.
         -Tio James! Quem foi que você engravidou!
         Ele riu da minha cara, bem como meu outro tio fizera há minutos antes.
         -Olhe.         
         E então ele apontou para a janela, me fazendo finalmente virar a cabeça e analisar os bebês.
         Não que tenha sido difícil achar, dentre eles, a nova integrante da minha família. Na verdade, foi extremamente fácil.
         Seu cabelo era cacheado como o meu, tendo apenas algumas horas de vida. Suas mãozinhas não paravam de se mexer, bem como seus pezinhos. E ela era a única que ria, também.
         Mas, de qualquer maneira, isso foi o de menos. O que mais me chamou a atenção foram seus enormes, lindos e castanhos olhos.
         Olhos parecidos com os meus. Olhos parecidos com os de...
         -Bianca. – disse James, vendo minha expressão. – Entrei na fila de adoção há algum tempo, e aqui está. Bianca.
         -Mas ela... mas ela...? – perguntei, balbuciando apenas as palavras.
         -Sim. – disse ele. - Ela volt...

         -Helena, acorde! - chamou minha mãe com a voz embargada pelo choro dos últimos dias. Ela entrou em meu quarto vestida inteiramente de preto. Parecia ainda mais cansada do que ontem - Precisamos ir. É hora do ent...
         -Enterro da Bianca, eu sei. Não precisa dizer nada - algo dentro de mim se embaralhou. O sonho que tivera fora tão estranho, que parecia até real. Mas eu estava bem longe de ter aquela idade ou de minha tia falecida ter voltado à Terra.
          Enquanto o carro ia para o cemitério, minha mente não parava de pensar na frase final de James em meu sonho. Ela voltou.
         By Babi com final de StarGirlie.

Antes de tudo, devo me orgulhar de dizer que O Beijo da Morte foi a única novela do blog que não se atrasou, pulou dias de sua programação ou coisa parecida. Deixamos eles programados e, mesmo estando viajando, passeando, lendo ou qualquer outra coisa, todos foram postados no dia certinho. Com exceção dos últimos dois episódios, que tiveram horários surpresas, todos foram postados à meia-noite.
Eu sempre gostei de vampiros e estava louca para fazer uma novela sobre eles. Anteriormente, ela seria um tipo de fanfic de Crepúsculo, mas não conseguíamos resistir a escrever uma história diferente de todas as outras. Só que me deparei com um sério problema logo nos primeiros capítulos: Bianca e James não tinham a química necessária para serem o casal principal. Porém, nem precisei me preocupar por muito tempo. Logo, eles se tornaram um casal fofo e cheio de problemas. Bem no estilo série de vampiros.
A inclusão das Ners foi um ponto difícil de se trabalhar, pois como Bianca amava James tínhamos que tomar um cuidado imenso para que ela não começasse a torná-lo humano também, como fez com Lilá. Além disso, seus poderes tinham que ser trabalhos cuidadosamente para que não se tornassem "insuperáveis". 
Bem, "O Beijo da Morte" foi uma novela muito legal de se fazer. Cheia de mistérios, pessoas contraditórias e tudo mais. Espero que ela tenha sido tão boa para vocês como foi para mim e para a Babi. E agora é hora do Epílogo!

Epílogo


         Meu corpo latejava em alguns pontos. Eu não tinha a menor consciência do onde estava. Era tudo tão escuro. Talvez meus olhos estivessem fechados, mas não havia como saber. Não conseguia sentir meus movimentos. Apenas dor.
        Pensei que poderia estar morta, mas não conseguia lembrar-me da vida que tivera antes daquele terrível momento. Parecia que eu simplesmente aparecera ali, sem nenhum motivo aparente.
        Tentei abrir minha boca e descobrir qual era a minha voz, mas meu corpo não me obedecia. Podia sentir que a dor, antes localizada, se espalhava cada vez mais. Porém, algo parecia impedi-la de se tornar insuportável.
        Quando estava prestes a desmaiar de cansaço, um ponto de minha alma pareceu se reerguer e pude abrir meus olhos. É, realmente eles estavam fechados. Mas ali não havia nenhuma luminosidade. Porém, minha pele, que era de uma palidez assustadora, parecia iluminar todo o lugar.
        Meus ouvidos também recuperaram sua função e de repente, pude escutar os barulhos que vinham de algum lugar acima de mim. Acima da caixa onde eu estava.
        -Ela foi a única pessoa que realmente amei nessa vida. E agora partiu. Porém, sei que um dia nos reencontraremos – senti pena daquele garoto, como pude entender pela voz. Ele parecia amá-la mais do que tudo mesmo.
        O silêncio se prolongou por alguns segundos, antes de uma mulher, com uma voz triste, falar. – Ela – reparei que nenhum deles falava seu nome e queria entender o porquê – era totalmente diferente das outras meninas. Não se importava com as opiniões, amava mais do que o seguro e nunca, nunca mesmo, deixava que se sacrificassem em seu lugar. Obrigada por ter existido, filha.
        Então, ela era a mãe da garota que o menino também amara. Algo estava se encaixando em minha cabeça. Onde eu realmente estava?
        -Um dia, eu cheguei a pensar que ela não devia estar perto de mim e da minha família, que ela nos faria mal. Estava tão terrivelmente enganada. Como pude ser tão boba? Tão estúpida? Minha melhor amiga está morta e no começo de tudo, eu quis que ela simplesmente partisse, como se não importasse nem um pouco! Ela morreu por minha causa!
        -Querida, ela não morreu por sua causa... – disse a quarta voz, a mais calma de todas. Talvez não fosse tão ligada a tal pessoa.
        -Morreu SIM! Ela morreu por... – e a lamentação cessou, sendo substituída por gritos desesperados. O choro da jovem estava se tornando insuportável até mesmo daquela distância.
        Enquanto pareciam acalmar a desesperada, uma quinta voz pareceu se aproximar de onde eu estava. Meu coração começou a palpitar por algum motivo que não entendia. Talvez fosse medo.
        -Ela foi importante para todos nós. Foi minha melhor amiga também. Nem sei porque, mas algo me diz que ela em algum lugar nesse universo, está bem. E gostaria que todos dissessem adeus junto comigo.
        Nesse momento, um monte de emoções passaram por minha mente. Eu entendia o que estava acontecendo. Aquele era um cemitério. Aquelas pessoas estavam enterrando alguém importante para elas. E eu também estava enterrada. Não sabia porque.
        Eu estava viva. Mas quem quer que tenha chorado por minha morte, não sabia disso. Sabia que ninguém me escutaria de onde estava. Mas meu desespero era tanto que nem escutei o nome da pessoa quando a família e amigos se despediu da outra coitada enterrada.
        -Vem, James – disse uma voz que pude reconhecer ser a da jovem desesperada. Ouvi passos distantes e entendi que os outros sofridos partiam. E eu tinha perdido a minha única chance de fugir.
        Senti um cheiro diferente vindo de longe. Parecia... sangue. E com ele veio um nome. Estranho, familiar, pessoal. Bianca.
        Minha mente tentou entender o que aquilo significava. Mas não havia sentido algum. Não lembrava-me de nada que ocorrera antes de acordar ali. Minhas lembranças, se é que um dia existiram, foram apagadas.
        As poucas coisas que sabia não tinham nexo. Eu queria sangue. Precisava sair daquele caixão antes que fosse tarde demais. E meu nome era... Bianca.
        -SOCORRO! – gritei, batendo na madeira, mesmo sabendo que ninguém me escutaria. Mas eu não desistiria. Nunca desistiria. Pois de alguma forma, eu tinha voltado.

Escrito por StarGirlie.