terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Oui, Oui, Paris - Capítulo 2


E mais um dia nascia. Um dos últimos na escola, porque, dentro de três dias, eu iria para Paris.
Cheguei à minha sala e, quando entrei, recebi uma salva de palmas. Claro, virei um pimentão de tão vermelha, mas, no fundo, estava adorando.
Minhas amigas vieram me parabenizar. Todas pareciam tão contentes quanto eu.
-Então você vai mesmo, amiga! – abraçou-me Carla.
-Finalmente, se deu bem, garota. – disse Lúcia enquanto dava risada.
-Vamos sentir sua falta! – já choramingou Olívia, com lágrimas nos olhos.
Eu apenas concordava, sabendo que seria difícil deixá-las, mas que continuaríamos a nossa amizade para sempre.
A aula começou e eu sentei na carteira de sempre. De lá, também tinha uma visão privilegiada da sala. Mas, apesar de poder ver muitas pessoas de onde estava sentada, só tinha olhos para o Renan.
E aí começamos uma nova história, que pretendo resumir, se possível.
Renan e eu éramos amigos quando pequenos. Mas deixemos bem claro que, naquela época, eu não o via como nada além de um AMIGO, até porque ele era feio que doía. Quando meu pai morreu, o dele estava saindo de casa e se divorciando da sua mãe, então sofremos a perda dos pais juntos.
Crescemos e, na quinta-série, nos afastamos. Ele era um menino, e percebeu que, talvez, ficar perto da menina quieta e meio feinha não iria ajudá-lo em nada. E eu, uma menina, estava na época em que achava os meninos nojentos e suados.
A verdade é que eles são nojentos e suados até hoje.
Contanto, na sétima série acabamos por nos aproximar novamente. A professora nos deu milhares de trabalhos de fim de ano e fizemos praticamente todos juntos.
Casa de um vai, casa de outro vem e acabamos ficando amigos MESMO. Na realidade, um pouco mais do que amigos.
Saíamos juntos nas férias por quase todos os dias, seja pra ir para a praia e andar, ou apostar uma corrida de bicicleta. E então, o amor nasceu.
Sim, clichê, mas real. Eu, alta, branquela, magra, com cabelos castanhos no ombro e totalmente sem graça, e ele moreno, olhos castanhos clarinhos, da minha altura ou alguns centímetros a menos, bronzeado da cor do pecado e lindo, LINDO!, de morrer.
Éramos um casal horrível, tenho de admitir.
Contanto, passamos férias perfeitas. Tudo parecia perfeito, tudo estava perfeito. E ficamos assim por uns três meses, até que as aulas voltaram.
Com elas, acabei ficando muito sobrecarregada. As aulas de dança, diárias, tomavam todo o meu tempo. Nos finais de semana, era obrigada a estudar. E o namoro foi indo por água abaixo. Certo dia, tivemos uma briga feia, e foi aí que tudo terminou mesmo.
E o pior: além de perder meu namorado, perdi meu melhor amigo.
Dois anos acabaram passando. Até tive outros dois namorados, mas nenhum deles especial, pelo menos para mim. E, nesse meio tempo, o Renan já deve ter tido umas 19 namoradas. Não que eu tenha contado.
Nossa história foi essa. Pra ele, acabou naquele dia, mas ainda sofro as mágoas de tê-lo amado até hoje.
A única coisa boa nessa história foi que, quando terminamos, eu simplesmente fiz de tudo para ocupar minha cabeça. Dancei mais do que nunca, aprendi técnicas novas e ouvi histórias sobre grandes dançarinas francesas e inglesas. Botei a cabeça nos livros sobre ballet, nas vidas de pessoas importantes e acabei até melhorando em português na escola. Por fim, decidi que seria uma grande bailarina.
Uma grande bailarina parisiense.
Meus pensamentos voltaram para o momento atual como um baque quando percebi que alguém estava me cutucando.
-O que foi, Marcelo? – perguntei baixinho, para o garoto atrás de mim.
Ele apenas empurrou-me um bilhete. Eu o peguei e abri.
“Piscina das Juqueiras. – 15:00”.
Quase tive um infarto. Não pelo que estava escrito, mas pela letra que eu muito bem conhecia. Renan.
Olhei para o menino, tendo certeza de que o bilhete era dele. Na Piscina das Juqueiras (uma lago perto da escola, na realidade), fora onde tivemos nosso primeiro beijo. E, aquela letra... Já havia recebido bilhetes que guardava até hoje das mesmas mãos que haviam escrito naquele papelzinho.
A manhã passou lentamente. Fui para casa, almocei e depois peguei minha bicicleta. Lá fui eu para a Piscina das Juqueiras.
Cheguei no local marcado às três em ponto. Sentei num tronco de árvore, o mesmo que guardava muitas recordações, e esperei enquanto não via o Renan em lugar algum.
Comecei a pensar no que podia acontecer, enquanto ele não chegava.
Talvez viesse e se declarasse para mim. Dissesse que nunca havia esquecido nosso amor, que agora estava arrependido e queria que eu ficasse no Brasil ao lado dele.
Talvez me beijasse com lágrimas nos olhos, sussurrando que estava com medo do “adeus”.
Talvez tivesse sido ele mesmo que mandara aquela carta para Paris. Estava arrependido e queria que eu fosse feliz! Talvez? Não! Com certeza fora ele!
Esperei mais dois minutos com um sorriso no rosto. O Renan ainda me amava, e queria o meu bem.
Mas, para meu espanto, não foi o Renan que se sentou ao meu lado.
Foi o Marcelo.
Tudo bem, o Marcelo não é de jogar fora. Inteligente, moreno assim como eu, olhos azuis escuros, cabelo cacheado meio bagunçadinho, maior do que eu e com cara de praiano. Mas não era quem eu esperava.
-Marcelo!?
-Oi Lua.
-O que você tá fazendo aqui?
-Bem, eu te chamei aqui, não foi?
-Sim, mas então... – não sabia nem o que dizer naquele momento. A surpresa ainda estava grande. – Porque me chamou?
-Bem, sei que você vai embora, e então eu queria apenas me despedir.
-E precisava me chamar aqui?
Ele ficou quieto por um momento.
-Eu... Não sei. – baixou a cabeça, percebendo o desapontamento em minha voz. – Trouxe algo pra você.
Percebi então que, em suas mãos, havia uma caixinha pequena. Ele a estendeu para mim, ainda não olhando em meus olhos.
Peguei-a e a abri. Dentro, havia um colar brilhante com sapatinhos de ballet. Sorri.
-Marcelo! São lindos!
Pulei em seu pescoço num abraço apertado. Eram realmente perfeitos.
Soltei-me do abraço após alguns segundos. O garoto estava vermelho.
-Ah, fico feliz que tenha gostado.
-Eu amei, de verdade! – disse, feliz. Não queria que ele pensasse que eu era má agradecida, e realmente havia amado o presente. – Mas agora preciso ir para casa, tem muita coisa pra ajeitar.
-Imagino. – sorriu. – Posso ir com você? Quer dizer, não pra sua casa. – falou, sem graça novamente. – Moro perto de você. Podemos ir juntos? Não juntos, bem, você entendeu.
                Ri da forma atrapalhada do garoto.
                -Tudo bem, vamos sim.
                Subi na bicicleta e fomos até a minha casa conversando. Talvez eu tenha interpretado mal as coisas. O Marcelo parecia alguém realmente muito legal, e parecia preocupado comigo. Queria saber coisas da viagem, sobre se eu estava feliz e se havia gostado da oportunidade.
                Chegamos na minha casa primeiro, nos despedimos e eu entrei. Parece que estava começando a fazer um amigo que, há menos de um dia, considerara “quieto e tímido”. Não que ele não fosse, mas, aos poucos, foi se soltando.
                Incrível como as coisas acontecem nos momentos errados.

                By Babi

3 comentários:

  1. Simplesmente adorei. Esse Renan me parece um grande arrogante, não gostei dele, rs.
    Mas gostei do Marcelo, com seu jeitinho tímido... um pouco de timidez faz bem de vez em quando.
    O próximo capítulo será postado manhã?

    Beijos,

    Juliana Rodrigues,
    http://ser-escritora.blogspot.com.br/

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  2. Olha, sinceramente estou adorando!
    Ansiosa pelo próximo capítulo!

    Beijos, Carol!
    Part Of Me

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