E mais um dia nascia. Um dos
últimos na escola, porque, dentro de três dias, eu iria para Paris.
Cheguei à minha sala e, quando
entrei, recebi uma salva de palmas. Claro, virei um pimentão de tão vermelha,
mas, no fundo, estava adorando.
Minhas amigas vieram me
parabenizar. Todas pareciam tão contentes quanto eu.
-Então você vai mesmo, amiga! –
abraçou-me Carla.
-Finalmente, se deu bem, garota. –
disse Lúcia enquanto dava risada.
-Vamos sentir sua falta! – já choramingou
Olívia, com lágrimas nos olhos.
Eu apenas concordava, sabendo que
seria difícil deixá-las, mas que continuaríamos a nossa amizade para sempre.
A aula começou e eu sentei na
carteira de sempre. De lá, também tinha uma visão privilegiada da sala. Mas, apesar
de poder ver muitas pessoas de onde estava sentada, só tinha olhos para o
Renan.
E aí começamos uma nova história,
que pretendo resumir, se possível.
Renan e eu éramos amigos quando
pequenos. Mas deixemos bem claro que, naquela época, eu não o via como nada
além de um AMIGO, até porque ele era feio que doía. Quando meu pai morreu, o
dele estava saindo de casa e se divorciando da sua mãe, então sofremos a perda
dos pais juntos.
Crescemos e, na quinta-série, nos
afastamos. Ele era um menino, e percebeu que, talvez, ficar perto da menina
quieta e meio feinha não iria ajudá-lo em nada. E eu, uma menina, estava na
época em que achava os meninos nojentos e suados.
A verdade é que eles são nojentos
e suados até hoje.
Contanto, na sétima série
acabamos por nos aproximar novamente. A professora nos deu milhares de
trabalhos de fim de ano e fizemos praticamente todos juntos.
Casa de um vai, casa de outro vem
e acabamos ficando amigos MESMO. Na realidade, um pouco mais do que amigos.
Saíamos juntos nas férias por
quase todos os dias, seja pra ir para a praia e andar, ou apostar uma corrida
de bicicleta. E então, o amor nasceu.
Sim, clichê, mas real. Eu, alta,
branquela, magra, com cabelos castanhos no ombro e totalmente sem graça, e ele
moreno, olhos castanhos clarinhos, da minha altura ou alguns centímetros a
menos, bronzeado da cor do pecado e lindo, LINDO!, de morrer.
Éramos um casal horrível, tenho
de admitir.
Contanto, passamos férias
perfeitas. Tudo parecia perfeito, tudo estava perfeito. E ficamos assim por uns
três meses, até que as aulas voltaram.
Com elas, acabei ficando muito
sobrecarregada. As aulas de dança, diárias, tomavam todo o meu tempo. Nos
finais de semana, era obrigada a estudar. E o namoro foi indo por água abaixo.
Certo dia, tivemos uma briga feia, e foi aí que tudo terminou mesmo.
E o pior: além de perder meu
namorado, perdi meu melhor amigo.
Dois anos acabaram passando. Até
tive outros dois namorados, mas nenhum deles especial, pelo menos para mim. E,
nesse meio tempo, o Renan já deve ter tido umas 19 namoradas. Não que eu tenha
contado.
Nossa história foi essa. Pra ele,
acabou naquele dia, mas ainda sofro as mágoas de tê-lo amado até hoje.
A única coisa boa nessa história
foi que, quando terminamos, eu simplesmente fiz de tudo para ocupar minha
cabeça. Dancei mais do que nunca, aprendi técnicas novas e ouvi histórias sobre
grandes dançarinas francesas e inglesas. Botei a cabeça nos livros sobre
ballet, nas vidas de pessoas importantes e acabei até melhorando em português
na escola. Por fim, decidi que seria uma grande bailarina.
Uma grande bailarina parisiense.
Meus pensamentos voltaram para o
momento atual como um baque quando percebi que alguém estava me cutucando.
-O que foi, Marcelo? – perguntei baixinho,
para o garoto atrás de mim.
Ele apenas empurrou-me um bilhete.
Eu o peguei e abri.
“Piscina das Juqueiras. – 15:00”.
Quase tive um infarto. Não pelo
que estava escrito, mas pela letra que eu muito bem conhecia. Renan.
Olhei para o menino, tendo
certeza de que o bilhete era dele. Na Piscina das Juqueiras (uma lago perto da
escola, na realidade), fora onde tivemos nosso primeiro beijo. E, aquela
letra... Já havia recebido bilhetes que guardava até hoje das mesmas mãos que
haviam escrito naquele papelzinho.
A manhã passou lentamente. Fui
para casa, almocei e depois peguei minha bicicleta. Lá fui eu para a Piscina
das Juqueiras.
Cheguei no local marcado às três
em ponto. Sentei num tronco de árvore, o mesmo que guardava muitas recordações,
e esperei enquanto não via o Renan em lugar algum.
Comecei a pensar no que podia
acontecer, enquanto ele não chegava.
Talvez viesse e se declarasse
para mim. Dissesse que nunca havia esquecido nosso amor, que agora estava
arrependido e queria que eu ficasse no Brasil ao lado dele.
Talvez me beijasse com lágrimas
nos olhos, sussurrando que estava com medo do “adeus”.
Talvez tivesse sido ele mesmo que
mandara aquela carta para Paris. Estava arrependido e queria que eu fosse
feliz! Talvez? Não! Com certeza fora ele!
Esperei mais dois minutos com um
sorriso no rosto. O Renan ainda me amava, e queria o meu bem.
Mas, para meu espanto, não foi o
Renan que se sentou ao meu lado.
Foi o Marcelo.
Tudo bem, o Marcelo não é de
jogar fora. Inteligente, moreno assim como eu, olhos azuis escuros, cabelo
cacheado meio bagunçadinho, maior do que eu e com cara de praiano. Mas não era
quem eu esperava.
-Marcelo!?
-Oi Lua.
-O que você tá fazendo aqui?
-Bem, eu te chamei aqui, não foi?
-Sim, mas então... – não sabia
nem o que dizer naquele momento. A surpresa ainda estava grande. – Porque me
chamou?
-Bem, sei que você vai embora, e
então eu queria apenas me despedir.
-E precisava me chamar aqui?
Ele ficou quieto por um momento.
-Eu... Não sei. – baixou a cabeça,
percebendo o desapontamento em minha voz. – Trouxe algo pra você.
Percebi então que, em suas mãos,
havia uma caixinha pequena. Ele a estendeu para mim, ainda não olhando em meus
olhos.
Peguei-a e a abri. Dentro, havia
um colar brilhante com sapatinhos de ballet. Sorri.
-Marcelo! São lindos!
Pulei em seu pescoço num abraço
apertado. Eram realmente perfeitos.
Soltei-me do abraço após alguns
segundos. O garoto estava vermelho.
-Ah, fico feliz que tenha
gostado.
-Eu amei, de verdade! – disse,
feliz. Não queria que ele pensasse que eu era má agradecida, e realmente havia
amado o presente. – Mas agora preciso ir para casa, tem muita coisa pra ajeitar.
-Imagino. – sorriu. – Posso ir
com você? Quer dizer, não pra sua casa. – falou, sem graça novamente. – Moro perto
de você. Podemos ir juntos? Não juntos, bem, você entendeu.
Ri da
forma atrapalhada do garoto.
-Tudo
bem, vamos sim.
Subi na
bicicleta e fomos até a minha casa conversando. Talvez eu tenha interpretado
mal as coisas. O Marcelo parecia alguém realmente muito legal, e parecia
preocupado comigo. Queria saber coisas da viagem, sobre se eu estava feliz e se
havia gostado da oportunidade.
Chegamos
na minha casa primeiro, nos despedimos e eu entrei. Parece que estava começando
a fazer um amigo que, há menos de um dia, considerara “quieto e tímido”. Não
que ele não fosse, mas, aos poucos, foi se soltando.
Incrível
como as coisas acontecem nos momentos errados.
By Babi
Simplesmente adorei. Esse Renan me parece um grande arrogante, não gostei dele, rs.
ResponderExcluirMas gostei do Marcelo, com seu jeitinho tímido... um pouco de timidez faz bem de vez em quando.
O próximo capítulo será postado manhã?
Beijos,
Juliana Rodrigues,
http://ser-escritora.blogspot.com.br/
Amei!! Mais capítulos, por favor!
ResponderExcluirOlha, sinceramente estou adorando!
ResponderExcluirAnsiosa pelo próximo capítulo!
Beijos, Carol!
Part Of Me