Sempre Um Começo

Para maior entendimento da história abaixo, leia os contos de Primeiro Dia (Cecilia, Felipe, Aline, Vinicius e Luisa) e a Prévia (clique aqui), disponibilizada na série As Garotas.

Primeiro Capítulo
Cecilia


            Podia ser uma segunda-feira comum, se meu mundo não estivesse virado de cabeça para baixo. Minhas aulas haviam começado um mês antes. E desde então, meu comportamento sofrera tantas mudanças quanto possível.
                Tudo bem, ainda havia a rivalidade com Luisa e Aline, mas eu não queria ser amiga das duas, de qualquer forma. E também a história com o Fábio permanecia sem resolução. Porém, seus cabelos castanho-claros, que lembravam tanto meu ex-colega de sala, Davi, não me afetavam mais. Meu coração pertencia à outra pessoa. Bem, a outras pessoas.
                Mas não era a hora de falar de triângulos amorosos, minha vida familiar também estava uma confusão. Minha mãe havia começado a namorar e obviamente meu pai estava surtando. Os dois eram separados desde que me conheço por gente, então, não haveria motivo para escândalo se minha família fosse normal. Só que ela não era.
                Amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo, passei a maquiagem de dia a dia e desci as escadas correndo. Felizmente, daquela vez eu não estava indo ao encontro de Felipe e, indiretamente, ao de Vinicius.
                Minha mãe havia insistido para me levar ao colégio, mas não havia necessidade. Podia muito bem ir de bicicleta no pequeno trajeto até a Escola das Separações, como eu passara a chamá-la nas últimas semanas. Claro que apenas minha nova melhor amiga Lola e meu namorado Felipe sabiam desse apelido, mas isso não vinha ao caso.
                Ah, sim. Eu e Felipe havíamos começado a namorar após aquele encontro desastroso onde Vinicius deu seu show. Porém, nem mesmo minha grande queda por Vini me faria desistir de investir no garoto bonitinho que estava apaixonado por mim. Um dia eu sentiria o mesmo de volta.
                Meu celular vibrou em minha bolsa e apressei-me a atendê-lo. – Alô? – era estranho ter alguém me ligando às seis e muito da manhã. Só podia ser meu pai. Minha mãe sabia que eu estava em segurança.
                -Ceci, sou eu a Lola! Tenho notícias B-O-M-B-Á-S-T-I-C-A-S para te contar – pude escutar o barulho ao redor de minha amiga ruivinha e perguntei-me o que poderia estar acontecendo no colégio para tanto tumulto. Para uma comoção daquele tipo, deveria haver várias turmas unidas e, como já sabia, aquilo era proibido.
                -Pode começar – Cecilia subiu em sua bicicleta e colocou o celular no viva-voz preso em sua roupa. – Bem, para começar. Felipe está louco da vida. O gatchenho do prof. Paolo teve até que descer do seu pedestal de beleza e impedir que seu namorado – sim, Lola sabia sobre tudo – desse um soco na cara de alguém.
                Freei a bicicleta. Felipe sendo agressivo com alguém? Ele podia ser tudo, mas nunca partia para a violência. – Desse um soco EM QUEM?
                -Alguém que começa com “Vini” e termina com “cius”, que tem uns cabelos loiros lindos... – Lola começou a rir apesar da situação ser bastante séria. – Ta bom, Lola, já entendi que é o Vini, mas como os dois se envolveram numa confusão dessas?
                Voltei a pedalar, tentando acalmar minha respiração. Não era um exercício muito lógico, mas eu precisava me mover para não surtar. Como os dois conseguiam brigar no único dia que me atraso? – Vou resumir. O Vinicius falou que o Felipe não era bom o bastante para você e seu namorado resolveu dar um basta nessa insistência do Vini. Ele tem um pouco de razão, vamos assumir.
                Como Vinicius podia ser tão idiota ao ponto de criar confusão com Felipe? Ele havia escolhido Luisa. A garota má, que estava tentando destruir minha vida desde o segundo dia de aula. A mesma que aproveitara minha brincadeira com Aline para jogá-la contra mim. E agora Vini queria brigar por mim?
                Quando me preparava para responder Lola, escutei um carro vindo em alta velocidade e brequei a tempo de não ser atropelada. A porta do passageiro se abriu e de dentro do luxuoso veículo saiu Luisa, vestindo sua versão personalizada do uniforme, com aquele colete e colares.
                -Eu vim te dar um aviso, querida Cecilia. Esse quase atropelamento pode muito bem perder o quase. Nós sabemos que você não morreria, mas iria ficar um bom tempo longe do colégio. Longe do meu Felipe. E do Vinicius.
                Percebi que quem estava no volante parecia ser a irmã mais velha de Luisa. Só uma irresponsável poderia dirigir daquela maneira. – Já esqueceu o Fábiozinho? – provoquei, sabendo que a garota de longos cabelos pretos também tinha uma queda pelo primeiro menino que encontrei no colégio. Aquela tinha um coração bem grande. Três amados só pelo que eu sabia.
                -Não me provoque, Cecilia Graham. Eu irei destruir sua reputação se você ousar se relacionar com qualquer um dos três novamente. Já basta esse namoro ridículo que está tendo com o Felipe que irá acabar logo que chegarmos ao colégio – Luisa remexeu em sua bolsa e puxou seu celular.
                -O quê? Está louca? Eu não vou terminar com o Felipe – tentei me ajustar na bicicleta novamente, tentando avisar para Lola continuar quieta no viva-voz. Ela não poderia mostrar que sabia todas as ameaças daquela louca.
                -Vai sim ou essa foto vão para a diretoria – na tela de Luisa havia uma foto minha aos beijos com Fe. Não era difícil conseguir uma daquelas. Costumávamos nos encontrar em lugares públicos quando ele não ia até minha casa. Ela só precisava ter nos seguido alguns minutos e teria a arma perfeita para me ameaçar.
                Foi então que Lola resolveu interferir – Cuidado, Luisa. Seu outro pretendente, Vinicius, acaba de ser mandado para a diretoria com Felipe por ambos amarem Cecilia. Acho melhor correr antes que os dois sejam expulsos e sua boba chantagem seja inválida.
                Luisa bufou de raiva antes de entrar no carro e sua irmã acelerar imediatamente. As duas tinham o mesmo ar louco. Devia ser algo da família Coral. Subi na minha bicicleta e recomecei a pedalar. – Nem exagerou no “amar”, hein Lola?
                -Posso ter exagerado um pouco, mas tenho certeza que a reação dela deve ter compensado – e juntas rimos pelo telefone até eu chegar ao colégio onde aquela segunda-feira não teria nada de engraçado.
Escrito por StarGirlie.

Segundo Capítulo
Aline




                Nunca havia visto o colégio daquela maneira. A discussão de Vinicius e Felipe elevara a relação proibida das turmas a outro nível. Até mesmo Fábio ficara com medo de se aproximar de mim depois do escândalo com a diretora. Ninguém nunca havia enfrentado diretamente a escola como aqueles dois. E tudo por causa da ridícula Cecilia.
                Pelo menos, teve um lado bom. Professor Paolo interferiu na briga e depois veio conversar comigo, perguntando se eu era amiga de Cecilia ou de Vinicius. Respondi claramente que não. O garoto podia ser até muito bonito, mas ele era propriedade de Luisa e eu sabia os meus limites. Fábio, Vini e Fe pertenciam a Luh. O resto podia ser meu.
                E o resto incluía Paolo. O deus grego que eu podia chamar de Professor de Língua Portuguesa. Ah, fala sério. Tudo ganhava um charme com o proibido e minha relação com o “prof” era pra lá de ilegal. Se bem que até o momento, não havia acontecido nada
                Se dependesse de meus pais, nunca aconteceria. Cada vez que eu citava Paolo em casa, minha mãe só faltava reclamar do comportamento dela na diretoria. Parecia que todo mundo sentia que, para mim, ele não era um simples professor.
                Não pude resistir a ideia de me desesperar quando o sinal bateu e Luisa ainda não havia aparecido. Ela não era do tipo que falta na escola. Ainda mais agora que vivia planejando uma vingança ainda maior para a Cecilia. Algo estava errado.
                Corri para o banheiro mais próximo e me tranquei em uma das cabines. Disquei o número de Luh em meu celular e torci para que não caísse na caixa-postal. –Alô?
                -Luh do céu! Como você não está aqui no colégio? Não te contaram o babado que rolou com Fe... – eu estava louca para lhe contar todas as novidades, porém, minha amiga nem, ao menos, me deixou terminar.
                -Eu estou no colégio, Ali. Parada exatamente no lado de fora da diretoria – sua voz era claramente a pior possível. Ela fizera algo horrível. Algo de que poderia não se arrepender, mas que tornaria a vida de outras pessoas bem pior.
                -O que você fez? – eu não era pró-Cecilia, mas não era por esse motivo que iria desejar algo tão ruim para uma colega de turma. Luisa não tinha limites. Nunca tivera e não era eu que conseguiria mudar seus conceitos de ética e moral.
                -Ai! Que tom horrível de se tratar uma amiga – Luh não estava chateada. Ela só queria que eu me sentisse mal por algo que a própria fizera.  Esse sempre era seu plano. Minha melhor amiga gostava de me culpar por seus “crimes”. Mas, de uma forma que até hoje não entendo, nunca me incomodei com aquilo. Acho que Luisa me dava um conforto que ninguém me proporcionava.
                -Desembucha de uma vez, Docinho – ouvi passos no banheiro e temi que fosse uma professora. Nenhuma delas seria tão “gentil” quanto Paolo seria se me encontrasse naquela situação. E encontrar minha BFF na diretoria não estava em meus planos.
                Luisa parecia pensar se iria realmente me contar, o que inicialmente me irritou. Como ela podia ousar esconder algo de mim? – Bem, parece que o romance de Felipe e nossa querida, amada e idolatrada, Cecilia irá sofrer alguns problemas de percurso.
                Não respondi, pois sabia que ainda faltava a última explicação. Luh tinha vários planos para destruir nossa “inimiga mortal”. – Aquela foto que tirei no shopping foi parar misteriosamente na mesa da professora. Agora estou aqui como testemunha contra os dois.
                -Você contra o Felipe? Frente a frente? – era incrível como alguém podia enlouquecer por ciúmes. Ela não via que iria perdê-lo para sempre daquela forma? – Endoideceu de vez?
                Luisa não respondeu. E eu soube imediatamente que a porta da sala da diretora havia sido aberta. O tu-tu-tu costumeiro de ligação acabada invadiu meu telefone, me deixando em meu isolamento no banheiro. Não podia sair da cabine, pois se houvesse algum professor ali, iria perceber que uma aluna estava matando aula. Se fosse para a sala, seria obrigada a esperar na Ala dos Atrasados. Minha melhor opção era ficar ali.
                Então, meu celular vibrou. “Aonde você está, Lili? Eu preciso de você. Aqui. E sem demora  - Fábio”. Mal sabia meu melhor amigo a furada em que havia me metido. Resolvi responder de forma clara: Presa no banheiro. Sem jeito de sair até segunda aula. Bjs, Ali.
                Enquanto digitava, não prestei atenção na sombra que se formava em frente a cabine. Quando o toc-toc ecoou no banheiro, meu coração praticamente pulou do peito. Joguei meu celular correndo na mochila e abri a porta. Felizmente, quem estava ali, me fez sorrir.
                -Pelo visto, temos uma amiga para salvar das garras da diretora – disse Fábio. E nós dois sabíamos que ela não estava apenas em apuros com a autoridade máxima do colégio, mas com seu grande amor: Felipe.
Escrito por StarGirlie.
Terceiro Capítulo
Luisa



Eu esperava lágrimas, gritos de tristeza. Tudo menos o que vi quando Cecilia saiu sorrindo da sala da diretora. Ela parecia... Iluminada. Como se sua aura tivesse ganhado um brilho que nenhuma outra pessoa no mundo conseguiria imitar. Até mesmo Felipe estava apagado.
-Peço desculpas, srta. Graham. Estou acostumada a aceitar denúncias sempre que me são enviadas, mas desta vez, está claro que não se passou de um engano – espera aí, o quê? A diretora Hica se desculpando com alguém? Admitindo que errou?
Foi então que percebi. Onde estava Vinicius? Segundo aquela petulante da Lola, ele também fora mandado para a diretoria. Será que ela mentira? Então, o loiro tímido saiu atrás da maldita nova aluna.
Toda a felicidade da “Ceci” parecia ter sido extraída da alma de Vinicius. Seus olhos estavam marejados, suas bochechas pálidas e suas mãos trêmulas. Ele era o oposto do seguro Felipe, que mesmo naquela situação não conseguia se curvar às regras.
-Porém, sr. Lave e McLean podem se preparem para uma detenção. Apesar de não terem brigado pela srta. Graham, os dois se envolveram em uma briga entre turmas – Hica me encarou, antes de dizer – E agora os três estão dispensados. Para as salas separadas.
Enquanto Cecilia e Vinicius desciam as escadas conversando, percebi que aquele era apenas um plano para despistar o romance que essa idiota tinha com Felipe. Como a diretora podia ser boba o suficiente para não perceber o plano que acontecia em sua frente?
-Srta. Coral, acho que precisamos ter uma conversinha – disse Hica, entrando em sua sala. Era óbvio que eu devia segui-la imediatamente, mas meu celular estava vibrando e sabia que aquilo só podia significar uma coisa: Aline e Fábio estavam vindo me buscar.
“Como você se mete em uma confu...” – E sem celulares – os olhos da diretora maléfica que criara aquele colégio brilharam ao me dar uma bronca, mesmo que implícita. Ela vivia do sofrimento que causava em seus alunos. Nem um pouco macabra, né?
Sentei em uma das cadeiras em frente de sua mesa, observando rapidamente o retrato em sua parede. Nunca havia visto a voluptuosa Hica de biquíni e a visão não era nem um pouco agradável. Felizmente, ela, percebendo meu assombro, se colocou na frente da imagem.
-Pelo visto, a srta. vem mentindo nos últimos tempos – seus dedos titubearam a mesa e meu coração pareceu pular do peito. Aquele era o sinal. O sinal de que eu estava muito encrencada.
-Mentindo? – minha voz saiu trêmula e imaginei do que a diretora estaria falando. Eu podia ser tudo, menos mentirosa. Cecilia e Felipe eram mesmo namorados. Qual era a dificuldade em acreditar em mim?
Hica me lançou um olhar de escárnio e virou o laptop em minha direção. A primeira coisa que reparei é que a casa da foto era a minha. Depois, percebi que minha irmã estava em uma das sacadas ao telefone. Ela estava totalmente desligada do mundo. Novidade.
E então, minha garganta se fechou. O foco da imagem era eu e... Aline. Nós duas estávamos conversando animadamente no meu jardim, mostrando que éramos amigas de infância. Ai. Meu. Deus.
-Parece que você não aprendeu nada quando foi repreendida por causa de Felipe – a diretora apertou o mouse e outra foto minha com Ali apareceu na tela – Você mudou de sala por causa dele e deveria ter abdicado automaticamente de suas amizades antigas.
O que ela estava dizendo? Eu nunca poderia abandonar Aline! Eu e Fábio éramos os únicos amigos dela em todo o colégio. Hica queria obrigar alguém a ser solitário? Como um ser humano podia ser ruim àquele ponto?
-A srta. Graham se sentiu ultrajada ao saber que uma aluna tão cheia de erros estava lhe acusando de seu próprio crime. E ela tinha essa foto para me mostrar.
Então, fora Cecilia. Era claro. A idiota usara meu próprio truque para se vingar de mim. Uma jogada de gênio. Se a inimiga não fosse eu. – Mas ela não foi punida por se relacionar com Felipe?
-Recebeu apenas uma advertência, já que prestou serviços ao colégio – Hica sorriu como se minha desgraça pagasse seu salário. E pagava mesmo. – Mas eu também ajudei a escola!
-Ela entregou uma amizade de anos, você um namoro de o quê? Uma semana? Não podemos nem comparar, não é, srta. Coral?
Enquanto pegava o telefone, me conformei que seria expulsa. Porém, quando a pessoa lhe atendeu, o castigo foi muito pior. – Sr. Luk, por favor, compareça a diretoria. Temos uma matéria novinha para o jornal.
-E qual seria? – perguntou Fábio, parecendo um tanto nervoso. Ser o repórter de um lugar como aquele era entregar seus amigos o tempo todo.
Hica me olhou uma última vez antes de dar sua sentença – Luisa Coral e Aline Wodi são suspensas por amizade proibida.
Fábio engasgou. Suas melhores amigas iriam ser suspensas simplesmente por não se separarem. Era minha culpa que Ali se metesse em confusão também. Se não tivesse entregado a foto de Cecilia e Felipe, nós duas não teríamos sido descobertas.
Respirando fundo, tomei a decisão mais difícil daquele ano – Diga-me. O que posso fazer para Aline não receber uma suspensão?
Hica cobriu o bocal do telefone, mostrando seus dentes em um risinho assustador. - Parece que você finalmente entendeu o sentido de estudar aqui.
É, Cecilia, você conseguiu. O feitiço virou contra a feiticeira. “Mas minha vingança ainda nem começou, querida”, pensei enquanto a diretora me guiava em um plano que mudaria meus conceitos para o resto do ano.
Escrito por StarGirlie. 

Quarto Capítulo
Cecilia



            Deixei que Vinicius entrasse antes na sala, enquanto eu abraçava Felipe. Depois de sermos quase separados, meu coração estava angustiado. Sabia que Luisa iria revidar e não queria que meu namorado saísse ferido de tudo isso. Se queria atingir alguém, que me atingisse.
                -Ela não vai conseguir nos separar. Você sabe disso, não sabe? – Fe segurou meu rosto e senti meu corpo tremer. Por que seu toque sempre me deixava tão afetada? – Sim, mas...
                -Mas nada. Luisa está louca. Se ela realmente gostasse de mim teria me dito há anos. Ela está obcecada, isso sim – Felipe acariciou minha bochecha, enquanto nos afastávamos do raio de visão da porta da sala. Vinicius ainda estava parado ali, como se esperasse que acabássemos.
                Uma fisgada de pena atingiu meu coração. Aqueles olhos verdes pareciam me dizer para parar de magoá-lo. Mas eu não podia fazer isso. Acima de sua felicidade, me preocupava com a de Felipe.
                Coloquei minha cabeça no peito de meu namorado, tentando esconder meu rosto do olhar penetrante de Vini. Ele não podia ser tão lindo. E tão relevante para mim. Tentei pensar apenas no quanto Vinicius havia me magoado, mas até mesmo suas atitudes babacas sumiam de minha mente quando seu olhar cruzava com o meu.
                Então, o sinal do fim da primeira aula bateu e eu me afastei de Felipe, correndo para entrar na sala logo atrás de Vinicius. Nem mesmo olhei para trás. Se fizesse isso provavelmente acabaria desistindo de minha ideia de permanecer nesse colégio e o beijaria em pleno corredor.
                Aline estava sentada ao lado das únicas cadeiras vazias da sala, obrigando a mim e a Vini que sentássemos perto dela. Estranhei que ela já estivesse na aula, pois, depois de ter apresentado aquela foto à diretora, Ali deveria estar na diretoria. Não queria provocar, mas parecia que meu colega não tinha o mesmo ideal:
                -E aí? Como foi na diretoria? Provou do seu próprio veneno junto a Luisa? – Vinicius contra sua amada? As coisas estavam mudando muito rapidamente e aquilo me deixava tonta. Se ele não estivesse apaixonado mais pela “malvada de cabelos pretos”, o caminho estava... Não. Eu era a namorada de Felipe Lave. E ponto final.
                -Como assim diretoria? – Aline parecia realmente confusa. Era possível que Hica tivesse me enganado? Ou que Luisa tivesse levado toda a culpa? Meu plano não podia ter ido por água abaixo. Não podia.
                -Você não foi chamada? – me intrometi, toda arrepiada. Se algo desse errado, a chance de eu, Felipe e até mesmo Vinicius sermos expulsos era enorme. Luisa tinha que ser inimiga da diretora e não aliada.
                -Não – seus olhos verdes tão claros quanto os de Vini pareciam procurar alguma pista de que aquilo fosse uma brincadeira – Achei que você que estivesse lá – disse apontando para o garoto.
                -Sim, mas eu e Luisa também. E pensamos que você seria chamada depois de nossa saída – completei, enquanto o professor Paolo entrava na sala. Percebi o quanto a situação estava séria quando Ali nem ao menos o olhou. Nunca a vira agindo daquela maneira.
                Virei para frente, tentando respirar de forma calma. Felipe e Vinicius não iriam se encrencar. Se Hica decidisse suspender a matrícula de alguém seria a minha, certo? Ela não iria atingir... Mas Luisa faria isso com todo o prazer.
                Puxei meu celular de minha mala e liguei-o embaixo da mesa. Rezei para que Paolo estivesse muito concentrado na beleza de Aline ou em qualquer bobagem que ele pensasse, e não percebesse o que eu estava fazendo. “Ali não foi p/ diretoria. Algo ta errado” digitei com pressa e enviei para Felipe.
                Menos de um minuto depois, a mensagem em resposta chegou. “Luh acaba de voltar p/ sala. Sorrindo”. Deixei que Vinicius lesse de longe, enquanto pensava no que poderia ter acontecido no mínimo tempo desde que saímos da diretoria. Hica não seria boba ao ponto de virar cúmplice de Luisa. Aquela ali era esperta demais.
                Busquei o número de Lola e digitei: “Segure-se em sua cadeira. Lá vem bomba”. Minha amiga ao receber a mensagem se virou em minha direção com o olhar confuso. Pisquei para Vinicius, dando o sinal que ele estava esperando e ambos nos levantamos apressados.
                Ofeguei como se estivesse passando mal e deixei que Vini me segurasse. O professor veio correndo ao meu encontro. – Cecilia, está tudo bem?
                Tremi meus olhos, tornando a reação ainda mais exagerada, fingindo não escutar enquanto Vinicius dizia que era preciso me levar a enfermaria. Porém, não consegui disfarçar a sensação de tensão que tive quando seus braços me levantaram do chão e me colocaram em total contato com seu corpo.
                Saímos da sala apressados e, logo que alcançamos o corredor, Vini me entregou meu celular. – E agora o que fazemos? – perguntou o loiro.
                -Nós precisamos encontrar uma pessoa. E o mais rápido possível – respondi em voz baixa, mantendo meu disfarce de garota doente. Porém, meu organismo estava em ritmo acelerado. Estava nos braços do garoto mais lindo do colégio e deixando meu namorado para trás. É, muita coisa estava errada ali.
Escrito por StarGirlie.
Quinto Capítulo
Aline




Estava muito preocupada. O que Cecilia e Vinicius quiseram dizer com aquelas perguntas? Seria possível que minha própria melhor amiga tivesse me encrencado? Sabia que Luisa não era a melhor pessoa do mundo, mas nunca nem sonhei com uma traição dessas.
Mal conseguia prestar atenção na aula de Paolo, enquanto me imaginava sendo expulsa do colégio. Nunca nem mesmo fui chamada a sala da Hica. Era a aluna exemplar. Quieta, invisível e que respeitava as regras. Aparentemente, nunca me relacionara com ninguém fora da Primeira Turma. E agora, minha BFF estava me colocando na forca?
Sem que eu percebesse, Paolo mandou que fizéssemos alguns exercícios do livro. Estava tão desligada que nem senti sua presença ao meu lado, enquanto imaginava o que Luisa realmente fizera. Ela seria capaz de denunciar nossa amizade para cair com o corpo fora?
-Aline, desculpe-me atrapalhar seus devaneios – levei um susto ao enxergar Paolo ao meu lado. Seus olhos castanhos brilhavam como se tivessem sido polidos – Mas você realmente precisa fazer esses exercícios. Sei que você é uma das alunas mais brilhantes da sala...
Nem prestei atenção ao elogio. Naquele momento, uma das minhas únicas amizades verdadeiras estava prestes a acabar. E eu nem fora avisada disso. –Tudo bem, não precisa se explicar. Você é o professor, eu a aluna. Está tudo certo.
Se fosse um dia normal, provavelmente, depois dessa frase eu daria um sorrisinho malicioso e nem faria os exercícios na aula em si. Aproveitaria para encarar o professor e só em casa me esforçaria na matéria mesmo. Mas aquele não era o caso.
Antes que pudesse reagir, Paolo se ajoelhou no chão ao meu lado e colocou as mãos sobre meu caderno como se estivesse me auxiliando com alguma matéria. – O que está acontecendo? Primeiro, Vinicius e Cecilia fazem aquela cena aqui na sala. Depois, você fica totalmente desligada. E agora me obedece sem nem questionar?
Pensei em contar toda a verdade, porém, lembrei-me que, acima de tudo, ele era um empregado de Hica e irá me denunciar se soubesse que eu e Luisa éramos melhores amigas desde sempre. Então, minha única reação foi chorar.
Chorar por estar apaixonada pelo meu professor. Chorar por best friend estar me escondendo algo muito grave. Chorar por quase ninguém da escola simpatizar comigo. Chorar pela aquela porcaria de vida que eu tinha.
Senti mãos no meu rosto e percebi que Paolo estava me consolando. O sinal para o intervalo havia batido e a maioria dos alunos corria desesperada. Exceto Lola. A ruiva estava parada na soleira da porta nos encarando. Ela também conseguia ver o que realmente acontecia por baixo da relação aluna-professor. Entretanto, ao invés de me ameaçar, a melhor amiga de Cecilia apenas saiu da sala.
 -Calma, Ali – senti um arrepio. Paolo nunca havia me chamado por meu apelido. Normalmente, apenas Fábio e Luisa me chamavam assim – Quer dizer... Aline. Não sei porque você está chorando, mas tenho certeza que vai passar. Quando se tem catorze anos tudo se parece muito definitivo.
Quando se tem catorze anos.  Quando se tem catorze anos.  Quando se tem catorze anos. Aquela frase se repetia sem parar em minha mente. Ela deixa implícito o quanto Paolo me considerava uma criança. Eu nunca seria uma opção para ele.
-Você não se importa – disparei, enquanto um monte de amargura se acumulava em meu coração – Por que continua fingindo que sim?
Levantei-me em um salto e me afastei das mãos de Paolo. – Mas eu me importo, Ali! – sua voz parecia tão magoada que quase o abracei. Porém, me segurei. Não podia me enganar. Ele não sentia nada por mim. Nada.
Comecei a correr o mais rápido que podia, descendo as escadas sem nem ver os degraus. Só conseguia pensar em uma coisa: precisava encontrar Cecilia.
“Encontre-me na entrada do colégio depois da última aula. E sem Vinicius. Ou Felipe” mandei para minha “colega” de turma, recebendo a resposta logo em seguida. “E sem Luisa”.
Olhei em volta e me vi sozinha. Entretanto, desta vez não senti a solidão. Eu tinha uma aliada e provaria a Luisa e Paolo quem era Aline Wodi.
Escrito por StarGirlie.
Sexto Capítulo
Luisa




Era tão estranho não ter com quem conversar. Aline havia sumido e não respondia nenhuma das minhas mensagens. Fábio estava me evitando desde que não pude explicar o motivo da matéria sobre a minha suspensão e da Ali não ter sido publicada. E Felipe... Bem, ele não queria me ver nem se eu fosse um prêmio de um milhão de dólares.
Pensei em ligar para minha irmã, mas ela pouco se importava com minha vida. Eu era sua irmã mais nova insuportável e problemática. Se Daniele pudesse me fazer desaparecer, pode ter certeza que era isso que teria feito.
                As aulas estavam um tédio sem ninguém para me acompanhar nas risadas. Até as piadas do “palhaço” da sala pareciam menos engraçadas. E ver Felipe me ignorar era mais doloroso que ser odiada pela minha própria irmã.
                Em meio a aula de Química, pedi ao professor para ir ao banheiro. Era o último período e poderia ficar ali até os cinco minutos finais. Talvez Aline me respondesse se eu a avisasse que estava fora de classe.
                “Hey, Ali. Estou no banheiro. Cadê você?”. Amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo e olhei meu reflexo. Eu parecia intacta, mas por dentro, estava destruída. O plano de Hica era simples, mas incluía não ser fiel a mais ninguém. E eu não tinha certeza se queria isso.
                -Você vai ser minha espiã. Irei monitorar seus passos através das câmeras e te verei se relacionando com Aline e Fábio. Quando um deles se envolver com alguém de salas diferentes, você irá denunciá-los. E sua cota estará acabada.
                Colocar Ali e Fá na mira da diretora era um ato covarde, por isso ofereci outro serviço. – E se eu denunciar o envolvimento da Cecilia com alguém de outra sala fora Felipe?
                -Vale, mas você terá que encontrar outra pessoa também. Aline e Fábio valem por dois. Ceci apenas por uma – imediatamente pensei em Lola, a idiota que sempre magoara minha melhor amiga. Seria ótimo acabar com as duas ao mesmo tempo.
                E então, eu aceitei. Agora eu era a espiã de Hica. A traidora. A única aluna que estava do lado da diretora. Era tão horrível ser parte do lado ruim da força. Como era irônico pensar assim.
                “Ali, você não vai me responder?” Entrei em uma das cabines e me sentei sobre o vaso sanitário fechado. Olhei meus tênis, me sentindo tão isolada quanto qualquer pessoa que sofria bullying. Era horrível ser sozinho.
                Fechei os olhos, tentando conter as lágrimas. Faltavam cinco minutos para a aula acabar e eu deveria voltar para a sala, mas não iria. Encarar um Felipe que me odiava era demais para mim. “Ali, Ali?”
                Deixei que a maquiagem borrasse, enquanto me lembrava da época antes da chegada de Cecilia. Felipe era praticamente meu namorado, Aline minha melhor amiga e Fábio o melhor companheiro. Ah, sem me esquecer de Vinicius sendo o apaixonado platônico. Agora, todos eles tinham sido tirados de mim. Tudo por culpa dela.
                “Aline Wodi, por favor, me responda!” O sinal bateu e escutei o professor me chamando do lado de fora do banheiro. Porém, como a maioria das pessoas, ele não demorou a desistir de mim, avisando que a porta da sala ficara aberta para que eu pudesse pegar meu material.
                Saí da cabine e limpei meu rosto. Soltei meu cabelo e chequei novamente se havia uma nova mensagem. Nada. Foi então que vi de relance duas meninas conversando na porta do colégio. Elas não me pareciam estranhas.
                Uma era morena e estava um pouco trêmula. Parecia doente. Já a outra era loira e olhava nervosamente ao redor. Estava fazendo algo errado, claramente. As duas conversavam animadamente, sem nem imaginar que eu estava as observando.
                E a imagem se clareou como se a lente tivesse sido ajustada. As garotas eram Cecilia e Aline. Ali parecia a nova BFF da minha pior inimiga. Minha visão ficou turva. Aquilo não podia estar acontecendo. Não, não, não.
                 Meu mundo estava caindo ao meu redor. E a única coisa que me lembro antes de a tristeza me absorver foi o rosto de Hica. Ela estava sorrindo. Havia conseguido a sua melhor aliada.
Escrito por StarGirlie.
Sétimo Capítulo
Cecilia



                 Olhei para os papeis que Aline havia me entregado naquela segunda-feira. A semana que se passara depois disso me deixara com peso na consciência. Havia mentido para Felipe dizendo que realmente passara mal. Enganara Vinicius contando-lhe que o encontro que precisava fazer era apenas com boas intenções. E tornara Ali uma cúmplice mesmo não sabendo qual era a verdade sobre os atos de Luisa.
                Deitei na minha cama e olhei para o relógio. Ainda era 17:58. Felizmente, o fim de semana mal começara. Pensei em ligar para Felipe, mas a ideia de esconder mais fatos dele fazia com que meu coração doesse. Por que não podia simplesmente contar o que acontecera depois que eu e Vini saímos da sala?
                Não havia sido nada demais no fim das contas. Pelo menos, não aparentemente. Quando conseguimos nos desviar das câmeras do colégio, comecei a procurar o aluno de intercâmbio, que havia conhecido na semana anterior. Ele tinha informações importantes sobre Hica que poderiam me ser úteis no futuro. Mas Vinicius não sabia disso, é claro.
                Porém, algo no meu coração dizia que nem Vini ou Fe deveriam saber quais eram meus planos. E até mesmo Lola, que era a pessoa que eu mais confiava no momento, parecia confiável o suficiente.
                Mas voltando ao presente, o “relatório” que Aline me entregara naquele dia mudara minha visão sobre sua amizade com Luisa. Ela sabia tudo de ruim que sua amiga fizera nos últimos anos e estivera pronta para entregá-la na primeira chance. Talvez seja por isso que eu não confiasse muito em melhores amigas. Ali servira de um exemplo péssimo.
                Em meio a pensamentos e a dúvidas, acabei caindo no sono. A música que escutara naquela manhã ainda tumultuava minha mente. “Pode ligar o quanto quiser, mas não tem ninguém em casa. E você nunca vai alcançar o meu telefone.”
                Logo no começo do sonho, ao som de Telephone, Luisa apareceu rebolando para Felipe em uma festa. Os dois pareciam um tanto alterados. Ele ameaçava tirar a camisa, rindo com sua ex-melhor amiga sem motivo aparente. Vendo daquela perspectiva, eles davam até um belo casal.
                Não muito longe dali, Vinicius bebia um copo de Coca Cola enquanto Aline lhe contava algo divertidíssimo. Seus olhos verdes se encontravam em olhares apaixonados e observá-los parecia uma invasão de privacidade. Minhas bochechas coraram até no ambiente imaginário.
                Em um ponto sem muito foco, estavam Fábio e Lola dançando algo sem noção. Eles não eram os melhores “pé de valsa”, mas até que não estavam fazendo feio. Fiquei feliz por minha amiga, mas minha alegria não durou muito tempo.
                Parada de costas para toda a festa estava eu. Meu cabelo permanecia intacto preso em um coque e meu pescoço era adornado por uma maravilhosa gargantilha. Mas não era a minha aparência que me interessava e sim quem envolvia minha cintura.
                Seu cabelo castanho combinado aos seus olhos. Sua altura que o deixava exatamente perfeito para uma adolescente de salto alto. Sua calça jeans e a blusa xadrez o deixavam tão sexy quanto possível. Mas aquele era...
                -Você está linda, Cecilia. Mais linda do que nunca – seu sorriso me hipnotizou por alguns segundos antes que eu percebesse o quanto aquilo era errado.
                -Obrigada... – respirei fundo e tentei não hesitar ao dizer o nome – Paolo.
                Acordei ofegante. Eu não podia ter sonhado com meu professor. Ah, não. Não era Aline para ter uma paixão platônica. Aquilo só podia ser um efeito do meu inconsciente louco.
                Meu celular vibrou. Nova mensagem. “Festa de catorze anos amanhã às 20 horas. Não vai perder, hein? Bjs, Belle” Seria possível? Seria provável que aquele sonho tivesse sido um aviso? Havia apenas um jeito de descobrir:
                “Claro que não, Bel! Estarei lá! Bjs, Ceci.”
Escrito por StarGirlie.

Oitavo Capítulo
Aline




                Ser convidada para a festa da Belle foi uma grande surpresa. Sendo a garota mais popular do 9º1ª, eu imaginava que ela iria chamar apenas seus amigos e não a “invisível” da sala. Aquilo até me parecia estranho, mas decidi aceitar o convite.
                Já era 16 horas do sábado quando me vi parada em frente ao meu guarda-roupa, tentando, desesperadamente, encontrar uma roupa que prestasse. Como eu não era de sair muito, a maioria das peças se constituía de jeans e blusa básica. Nada que fosse chamar a atenção de um garoto numa festa. Não que eu quisesse isso, é claro.
                Decidida a mudar minha personalidade por, pelo menos, uma noite, liguei para minha mãe e pedi dinheiro para comprar um look perfeito para a Festa do Ano. Percebi em sua voz que ela parecia surpresa, mas aceitou sem pestanejar muito.
                Peguei um táxi, chegando ao shopping ainda antes das 17 horas. Planejava fazer a maquiagem e o cabelo no salão que havia ali, voltando para casa apenas para me vestir. Todo o plano daria certo se encontrasse, para começar, uma roupa.
                Minha loja favorita estava em liquidação, o que significava que todas as peças boas já haviam sido compradas, mas decidi entrar de qualquer modo. A vendedora, Sarah, que já me conhecia há anos, apenas acenou com a cabeça, sabendo que eu gostava de fazer compras sozinha. Porém, sua colega de trabalho não parecia ter a mesma noção.
                -Olá, procura alguma coisa específica? – seu cabelo loiro era preso em um rabo de cavalo cacheado e ela tinha lindos olhos cinzentos. Sua altura lhe permitiria um trabalho de modelo, o que me fazia tentar entender o porquê de ser vendedora.
                Eu não costumava responder a perguntas bobas como aquela, mas como havia pouco tempo, não era hora de se fazer de difícil. – Sim, estou procurando um vestido para uma festa.
                O rosto da vendedora se iluminou – Formal ou despojado?
                -Vindo de um filme de Hollywood – respondi com um sorriso nos lábios. Pela primeira vez em minha vida, eu estava preparada para ser o centro das atenções.
***
                Minha mãe insistiu em me deixar na porta do salão de festas ainda sem muita confiança em minhas próprias escolhas. Desci do carro, mandando-lhe um beijo pela janela e observei o lugar onde Belle instalara sua festa.
                O prédio era muito chique e parecia feito de ouro. Os apartamentos pareciam brilhar como estrelas, enquanto o térreo estava sombrio. Exatamente onde estava a festa.
                Cobri minha cabeça com o capuz de minha capa e preparei meu coração. Muitos adolescentes hiper arrumados passavam correndo por mim, alguns até de minha sala. Tentei enxergar se a garota sexy perto da porta era Cecilia, mas não havia como. As luzes apagadas deixavam minha visão reduzida ao brilho dos andares superiores.
                Puxei meu celular, esperando encontrar um desconvite, mas não havia nada. Belle realmente me convidara. Apenas de pensar naquele fato já me deixava com energia o suficiente para enfrentar o desconhecido.
                Com minha capa negra, ninguém era capaz de me ver. Então, aproveitei o pouco tempo que me restava no anonimato e empurrei as portas de entrada. Porém, quando me preparava para fazer minha entrada triunfal, acabei sendo empurrada por alguém.
                -Oh, me desculpe – meus olhos não acreditaram no que estavam vendo. Não era possível que um professor tivesse sido convidado para uma festa que violava todas as regras do colégio. Entretanto, era Paolo que estava segurando meu braço e me impedindo de rolar escada abaixo.
                Agradeci mentalmente a minha mãe que insistira para que eu usasse uma máscara. Era seu palpite sem noção que me salvara naquele momento. – Sem problemas. E muito obrigada por me impedir de cair – respondi, como se não o conhecesse.
                Fiquei feliz que Paolo tenha descido os degraus sem falar mais nada, o que me permitiu respirar fundo e observar todos os convidados. Belle estava no fundo da sala, dançando sem parar uma música que eu não conhecia. Algo me dizia que era alguma da Lady Gaga. Ou seria da Beyoncé? É, minha mente tinha sérios problemas para relacionar vozes.
                Uma mulher de uns 30 anos perguntou se eu queria entregar minha capa e aceitei de imediato. Era minha hora de brilhar. Era o momento de ser a estrela. E bastou que meu vestido ficasse a mostra para que toda a festa parasse.
                -Uau – disse alguém atrás de mim. Virei o rosto rapidamente apenas para ver um Vinicius chocado. Era minha oportunidade de ouro. Haveria uma forma de machucar ainda mais Luisa do que ficando com um de seus pretendentes? Não.
                -Se isso foi um elogio, muito obrigada – sorri, tentando não demonstrar o quanto estava feliz. A vingança havia chegado. E em seu melhor momento.
Escrito por StarGirlie.
Nono Capítulo
Luisa




Meu sorriso murchou quando percebi que todos olhavam para a linda garota no alto da escada. Seus cabelos loiros pareciam uma auréola. Seu rosto tinha uma linda máscara tornando a adolescente um sinônimo de mistério. E o pior de tudo é que ela estava acompanhada de Vinicius.
Virei, prestes a comentar sobre os defeitos da convidada para Aline, até que percebi que estava sozinha. Novamente. Nem conseguia entender o porquê de vir à festa de Belle, mas achei que seria uma desfeita, já que conhecia a garota desde que tínhamos dois anos de idade.
-Pelo visto, tudo tem um efeito colateral, hein “Luh”? – Cecilia surgiu ao meu lado, usando seu vestido preto curto que contrastava totalmente com o lindo branco da recém-surgida garota, que descia os degraus com a ajuda de Vinicius.
-Acho que para nós duas – retruquei, percebendo que Felipe não estava com ela. Ele não era de perder nenhuma festa, então, provavelmente estava em outro lugar. Sozinho.
A idiota que estava desgraçando minha vida sorriu e apontou para o fim da sala. Fe estava vindo em nossa direção com dois copos. Um para ele e um para sua namorada. – Acho que não, querida.
Enquanto ela se afastava, percebi que o mundo era muito traiçoeiro. Como uma pessoa tão falsa podia ser repleta de amigos e de pretendentes? Cecilia só era boazinha de fachada, era possível perceber isso só por seu jeito de andar. Parecia a Katherine, não a Elena*.
-Ei, Luisa – Belle estava linda, mas perdera até seu brilho diante a misteriosa garota com Vini – Você sabe quem é aquela?
Por um momento, minha mente pareceu considerar a ideia de que a convidada parecia-se com Aline. Elas tinham o mesmo cabelo loiro, que não era muito comum no nosso colégio, e pareciam iluminar, de forma tímida, o local onde estavam. Seria possível que Ali tivesse se tornado tão espetacular da noite para o dia?
-Não, mas tenho minhas suspeitas – não planejava dedurar minha melhor amiga, ou ex-melhor amiga, para Belle, mas aquilo apenas saiu da minha boca. Parecia que minha garganta queria uma vingança inesperada.
-Quem? – Bel me olhou com ansiedade. Percebi que ela estava pronta para expulsar a convidada apenas por ser mais bonita que a anfitriã. Era óbvio que Belle seria assim. Não se esqueçam que sempre fomos amigas.
Por sorte, meu celular tocou. Ai não. Não podia ser. Hica não me ligaria a essa hora de sábado. Ligaria? – Preciso ir ao banheiro. Depois te digo quem acho que é.
Saí correndo pelo salão quase esbarrando em Fábio e Lola que estavam sentados em um dos sofás perto da porta. Os dois pareciam estar felizes juntos, mas percebi que não havia química nenhuma. Será que o boato de que a melhor amiga de Cecilia era super santa tinha um pingo de verdade?
-Alô? – tentei abafar o barulho de música atrás de mim. Fiquei feliz ao perceber que Hica não parecia escutá-lo.
-Luisa, preciso de sua ajuda – enguli em seco. As ajudas que a diretora pedia não eram nem um pouco fáceis de serem dadas. – O quê?
-Você sabe o professor Paolo? – assenti, lembrando-me da paixão platônica que Aline sentia por ele há um bom tempo. Temi que fosse esse o motivo da ligação de Hica, mas ela não poderia saber disso... A menos que Cecilia tivesse lhe contado.
-Então... Eu preciso que você o avise que há uma reunião urgente de professores aqui no colégio. Em meia hora.
-E como você pretende que eu o avise? – tentei me fazer de boba, já que havia visto muito bem o professor babando pela possível Aline.
-Vocês dois estão na mesma festa, por que não aproveitar? – sua voz era irônica. Senti o meu corpo inteiro se arrepiar – Não tente me passar para trás. Eu sei de tudo.
A ligação acabou. Olhei para a lua no céu e tentei me inspirar no brilho que tanto ela quanto Aline estavam irradiando naquela noite. Talvez fosse a hora de encontrar minha essência também. E ser uma espiã não deveria ser tão ruim.
Prendi-me a esse pensamento, enquanto voltava ao salão à procura de Paolo. O professor de Língua Portuguesa, o amor de Ali e o mais novo encrencado da história.
Escrito por StarGirlie.
*Personagens idênticas na aparência, mas opostas em personalidade, de The Vampire Diaries. Katherine é a vilã, enquanto Elena é a mocinha.
Décimo Capítulo
Cecilia




                Os meus problemas, pelo menos, tinham diminuído. Luisa estava fora de vista. Sua última aparição fora com Paolo. Ela parecia alterada e saiu logo depois de lhe dizer algo. Nem mesmo olhou para a misteriosa garota que estava conversando com Vinicius e Felipe.
                Tudo bem que meu namorado estava apenas apoiando Vini, que parecia se interessar cada vez mais pela convidada, mas o ciúme vertia por minhas veias. Os dois, que até pouco tempo viviam atrás de mim, pareciam encantados pela Princesa. O que ela tinha de tanto especial?
                Ok, não dá para mentir. A adolescente era linda. Seu cabelo loiro ficava ainda mais brilhante a cada mera palavra dita por Vinicius. É como se ele lhe desse energia. E isso me magoava.
                Eu sei que a culpa era minha. Havia escolhido Felipe logo nas primeiras semanas de aula, mas nunca pensei que Vini seria tão rápido em me substituir. Ele parecia tão apaixonado por mim desde aquele encontro que tive com Fe, o mesmo que acabou definindo quem seria meu namorado e quem seria a segunda opção.
                Enquanto bebia um copo de Coca Cola, pensei que talvez aquilo fosse um castigo. Quem mandava ficar mentindo e enganando todos que se importavam comigo? Nem com a minha mãe eu estava sendo totalmente sincera. Ainda continuava lhe omitindo todos os problemas com a diretora Hica.
                Meu celular vibrou. Mensagem anônima. Imaginei Aline, deitada em sua cama, chorando de raiva por causa de sua ex-BFF Luisa e decidindo me mandar um sms desesperado. É, isso combinava muito com ela.
                “Sentindo-me ignorado. Nem recebi um sorriso? – Fábio” Me virei e o garoto de cabelos castanhos surgiu na minha frente. Lancei-me em seus braços, sentindo o conforto de alguém que parecia querer minha companhia. Alguém para quem eu não estivesse mentindo.
                -O que a menina mais bonita da festa faz sozinha? Cadê o galã de novela mexicana? – dei risada. Fábio e Felipe se odiavam desde que o primeiro acabou não sendo o melhor dos cavalheiros com a irmã do segundo.
                -Eu não sou a mais bonita da festa. Ela – apontei para a Princesa que segurava delicadamente a mão de Vinicius como se dissesse que ele lhe pertencia – é.
                Fábio a olhou sem interesse, como se aquela fosse a primeira vez que a notasse e que a misteriosa garota não tivesse nenhum atrativo. – A Aline? Está de brincadeira né? Ou você também se enganou com uma máscara e um vestido bonito?
                Meu estômago se revirou. Então, a minha cúmplice, a amiga que eu havia conquistado graças à desgraça de Luisa, havia se virado contra mim? Imaginava que ela gostaria de se vingar de Luh, mas precisava usar logo Vinicius? O garoto que tanto eu quanto a vilã gostávamos de alguma forma?
                -Tem certeza que é a Aline? – perguntei, sem poder acreditar. Mas realmente havia traços parecidos. Os olhos muito claros, a pele translúcida. A forma como reagia a toques. Envergonhada, mesmo sob o vestido chamativo.
                O amigo de Ali e Luh observou-me como se ponderasse se eu iria desmaiar. Minha pele devia estar extremamente pálida. E como não estaria? Quem imaginaria que a garota mais sem graça do colégio se tornaria a Princesa do dia para a noite?
                -Tenho sim. Mas isso não importa. O que importa é que você está ficando quase transparente aqui na minha frente – ele tocou meu rosto e eu tremi. Afastei-me imediatamente. Já tinha uma amiga traiçoeira, não precisava que Lola me odiasse também.
                Olhei ao redor da sala, com minha visão rodando. O mundo parecia prestes a me engolir. – Eu, eu... Eu acho que vou para casa. A... A gente se vê depois – percebi os olhares preocupados de Vinicius e Felipe, que finalmente saíam do transe da Princesa. Pela primeira vez, ela não parecia bonita. Parecia superficial. E cruel.
                -Ceci – podia escutar meu namorado, Vini e Fábio me chamando, mas minha mente estava longe. A traição do Destino me consumia, destruindo meu coração. Segurei-me em algumas das pessoas, que certamente pensariam que eu estava bêbada, e joguei-me contra as portas do salão, agradecendo por não ter caído da escada.
                O vento frio da noite atingiu meu rosto, permitindo que eu respirasse novamente. Não adiantava me desesperar. Aquele monstro já havia sido criado. Aline perdera sua inocência. Ser traída por sua melhor amiga era o fim da picada. E ela, agora, não confiava mais em ninguém. Todos eram seus inimigos, seus concorrentes. Inclusive eu.
                Enxerguei um táxi do outro lado da rua, por meio de minha visão turva, e comecei a andar pela faixa de pedestres, tentando me equilibrar no salto-alto, que, pela primeira vez, parecia dilacerar meus pés. Em um ímpeto suicida, não chequei se vinha algum carro na minha direção.
                E só pude entender o que estava acontecendo quando o carro freou a poucos centímetros de mim, fazendo uma curva perigosa. Nem precisei ser atingida para cair no chão. Meu corpo estava tão fraco que até o vento me levaria embora.
                O motorista me ajudou a sentar e tirou o cabelo de meu rosto. Quase engasguei vendo quem era. – Paolo... – comecei a dizer, mas minha voz falhou. Seus olhos castanhos me tranquilizavam, porém, eles me faziam lembrar do quanto mexiam com Aline. E do meu sonho.
                -Não diga nada, Cecilia. Vai ficar tudo bem – e como se fôssemos próximos, deixei que ele me carregasse até seu carro. Antes que a porta se fechasse, minha respiração e minha mente já haviam voltado ao normal. E a consciência logo me trouxe uma ideia maravilhosa.
                Se Aline roubara Vinicius, o que me impedia de encantar Paolo? O jogo havia recomeçado. E agora, a vilã era muito mais perigosa. Dessa vez, ela estava disfarçada de Cinderela*.
Escrito por StarGirlie.


*Relação com o fato de que Vinicius é "interpretado" por Chad Michael Murray, que viveu Austin Ames no filme A Nova Cinderela.
Décimo Primeiro Capítulo
Aline


                 Quando vi Cecilia caindo sobre as pessoas, enquanto tentava fugir da festa, tive que me segurar para não rir. Ela não era a estrela? A garota mais confiante? Que não ligava para minhas armações e as da Luisa? Podia ver muito bem isso naquele momento.
                Felipe e Vinicius, infelizmente, pareciam se importar com aquela desgraçada. Os dois mal conseguiam me escutar enquanto ela saía do salão. Foi difícil contê-los para que não os seguissem. Era como se Cecilia tivesse um campo de atração muito forte.
                -Princesa da Morte? – debochou alguém atrás de mim. Me virei preparada para responder de forma grossa, mas a decepção me atingiu quando vi que era Fábio que me desafiava. Ele estava lindo como sempre, porém, não apresentava nenhum carinho por mim. Era como se seu rosto dissesse: nós já fomos amigos, mas ela não era assim.
                -Oi, Fábio – decidi ignorar sua brincadeira, bem ciente da presença de Vini e Fe ao meu lado. Os dois pareciam se incomodar pela primeira vez de estar comigo. Era como se a fuga de Cecilia os avisasse que eu não prestava.
                -Olá, Aline – se meus cavalheiros já não soubessem sobre minha verdadeira identidade, eu teria ficado extremamente brava com meu antigo amigo. É, ele já não era o suficiente para andar comigo. Uma estrela não anda com bobos.
                Enquanto imaginava como iria me livrar daquele encosto, Felipe checou seu celular e tremeu quando viu que não havia nenhuma mensagem nova. Não era possível que aquele retardado esperasse que sua namorada iria avisá-lo que “chegara bem em casa”. Ela o vira babando por mim. Era humilhação demais correr atrás.
                -Bem, eu acho que vou indo... A Cecilia pode precisar de uma carona para casa – nós quatro sabíamos que era mentira, mas ninguém iria assumir que o ex-bad boy agora era o cachorrinho da nova aluna.
                Nem pensei em pedir para que ficasse. Observei Felipe sair do prédio, sabendo que não manteríamos contato nos próximos dias. Ele não iria perder Cecilia, que fizera que Luisa se afastasse dele, apenas para ficar comigo. Fe podia ser extremamente lindo e um antigo babaca, mas tinha um senso de oportunidade ótimo. Talvez eu pudesse aproveitá-lo no futuro. Nunca se sabe.
                -E você, fofo? – toquei a camiseta de Vinicius, encontrando a atitude de Luisa que sempre desejei. Ela era a Rainha dos Garotos, a Deusa da Atração. Conseguia hipnotizar qualquer adolescente, e em algumas ocasiões até adultos, durante, no mínimo, uma noite. Eu não me importava de ocupar seu lugar, já que no momento Luh era a casta convidada que saía antes das 22 horas – Vai me deixar aqui sozinha? Ou vai aproveitar a noite.
                Vinicius olhou para a porta como se desejasse que Cecilia voltasse. A antiga Aline se sentiria rejeitada e sairia chorando. Mas a dona daquele vestido nunca fugiria. Não sem um bom motivo. Rejeição com certeza não se aplicava nisso.
                Puxei seu corpo e agi como nunca antes. Coloquei meus braços ao redor de seu pescoço, aproximando-me rapidamente de seu rosto. Ele cheirava a morango e era até mesmo sexy naquela pequena distância. – Isso está me deixando enojado – disse Fábio, mas não o escutei.
                Beijei Vini como nunca antes. Na verdade, literalmente, como nunca antes. Eu nunca havia beijado ninguém até aquele momento. Sabia que vingança não era o melhor sentimento para impulsar um beijo ou qualquer ação, porém, a ideia de ver Luisa e Cecilia ressentidas comigo na segunda-feira era maravilhosa.
                Não sei quanto tempo se passou até que nos afastamos. E nos beijamos novamente. Ele não parecia pensar em mim enquanto unia nossas bocas, o que fazia com que a antiga Aline que existia em meu coração ficasse enjoada. Eu estava me tratando como lixo. Sabia que Vini amava Ceci e mesmo assim estava o agarrando.
                Todos a tratavam como lixo, disse a nova Aline em minha mente. Pelo menos, agora só você pode fazer isso. É, minha nova consciência tinha razão. Além disso, qual era o problema de ficar com um garoto lindo numa festa? Tal ato já era esperado na minha idade.
                -Hey – sequei meus lábios quando nos afastamos. O relógio apontava uma da manhã. O tempo passara voando desde a saída de Luisa. Era como se a partida da bruxa má acelerasse os minutos – Nós continuaremos assim no colégio?
                Aquela era uma pergunta perigosa. Sabia que Vinicius não queria namorar comigo. Ele iria provavelmente alegar que toda a noite fora um erro e que amava apenas a idiota da Cecilia. Luisa tinha razão em uma coisa: a garota dos cabelos castanhos realmente merecia sofrer.
                -Ali... – me preparei para o que viria, mas sua frase foi interrompida pelo barulho de seu celular. Ele colocou no viva-voz já que não escutaria com aquela música alta que ainda tocava.
                -Vinicius! – era a voz de Felipe no telefone – Acabei de receber uma ligação de onde está a Cecilia.
                -Onde? – perguntou o loiro na minha frente. Seus olhos verdes brilharam, revelando o quanto aquela informação lhe era importante.
                -Na casa de Paolo. Sim, o professor Paolo – não podia ser. Ela não tinha feito isso. Cecilia não teria conquistado o único homem do colégio que ainda não a amava. O único que realmente importava. Certo?
                Vinicius desligou o telefone sem se despedir e se virou para mim. Ele havia tomado a sua decisão. – É claro que continuaremos assim no colégio – e me beijou novamente.
                Porém, dessa vez estava claro. Vini só não queria ficar sozinho em frente à Cecilia, que era repleta de garotos. Eu era sua terceira opção, ainda atrás de Luisa. Mas não importava. Também não queria parecer uma ridícula para Paolo. E para isso acabaria com meu orgulho.
                Naquela noite, tomei as decisões erradas e percebi que eu mesma nunca seria a pessoa certa para ninguém. Grande novidade.
Escrito por StarGirlie.

Décimo Segundo Capítulo
Luisa



                Na segunda-feira de manhã, todos pareciam enfrentar as consequências da grande festa de Belle. Cecilia parecia se esconder até mesmo dos funcionários do colégio, mas era permanentemente vigiada por seus três cavalheiros: Felipe, Vinicius e Fábio.
                Aline parecia a nova Rainha do colégio. Chegara com seus cabelos ondulados e uma maquiagem parecia com a de sábado. A cada passo dado, um garoto encantado deixava para trás. Porém, essa magia parecia não se aplicar ao seu aparentemente novo namorado: Vinicius.
                O trio de apaixonados por Ceci parecia ainda mais alterado depois da noite que recomeçou os jogos de vingança. Tanto Felipe quanto Fábio tentavam se aproximar dela mesmo que para isso tivessem que passar um tempo juntos. Porém, a menina de cabelos castanhos parecia não querer a companhia de ninguém.
                Um pouco antes de o sinal bater para a volta às salas depois do intervalo, acabei escutando a voz de Cecilia em uma das classes fechadas. Aproximei-me da janela. Eu podia não estar sendo tão ruim quanto o normal, mas ainda era Luisa Coral.
                -Sábado foi um erro – Ceci parecia agoniada. Pelo som da sua voz, percebi que estava chorando. E aquilo não era a coisa mais comum do mundo. –Eu sei, Cecilia. Nós não podíamos...
                -Sim, há Felipe. E também nós não podemos nos aproximar assim – escutei passos perto da porta, mas ela não foi aberta, felizmente. – Você sabe que...
                -Eu não sei de nada, Paolo – espere um instante, Cecilia estava conversando com o professor de Português? O mesmo por qual Aline fora apaixonada por tanto tempo? Era possível que a nova aluna tivesse feito mais um fã?
                -Sabe, Luisa, escutar as conversas dos outros é muito feio! – debochou Ali em voz alta, surgindo ao meu lado e me fazendo pular de susto. Empurrei-a para uma das salas abertas no momento exato que Cecilia saiu do seu ponto de encontro com Paolo.
                -O que você está fazendo? – perguntei, irritada de ver aquela Aline toda maquiada. Minha melhor amiga não era assim. Ela podia ser tudo, menos uma patricinha manipuladora. Esse sempre fora, infelizmente, o meu papel.
                Ali deu um sorriso maquiavélico. Seus lábios vermelhos causaram arrepios em minha espinha. Ela parecia um protótipo de Alison DiLaurentis* - Estou me informando sobre as novas “aquisições” da nossa querida amiga Cecilia. Felipe parecia bastante desconfiado da fidelidade de sua namorada. E eu como uma pessoa caridosa não deixaria que ele fosse traído...
                -Não mexa com Felipe! – gritei, enquanto o sinal batia. Sabia que nenhuma de nós duas voltaríamos para nossas próprias salas. Era hora de alguém mostrar a Aline que para ser uma líder é preciso ter muito mais que vontade. Precisa haver talento.
                A loirinha maldosa se aproximou de mim – E o que você vai fazer? Vai me denunciar para a Hica? – ela gargalhou sozinha – Faça-me o favor. Você está sendo ridícula.
                Tive vontade de pular em seu pescoço. Como minha BFF se tornara aquela idiota em tão pouco tempo? – Como você ficou assim?
                -Assim como? Linda, disputada, popular? – Aline alisou seus cabelos, algo que era um tique nervoso antigo, antes de perceber que aquilo só estragaria seu novo penteado.
                -Falsa, mesquinha e vulgar – retruquei, tentando recuperar minha antiga atitude. Porém, observar o que o poder podia fazer a uma pessoa me deixava enojada e fraca.
                Aline me olhou com repulsa. Percebi que ela me odiava. Sabia seu motivo. Rolava o boato de que eu havia lhe entregado a diretora e tudo mais. Era mentira, mas não adiantava dizer nada. Aquela Ali nojenta não surgira do nada. A situação apenas a expusera.
                Antes de se virar e partir, minha ex-melhor amiga decidiu fazer uma última ameaça. – Vá com calma, Luisa. Não se esqueça que eu sei sobre O Caderno. E não iria hesitar em usar essa informação contra você.
                Meu coração parou por um mínimo segundo. Ela tinha meu ponto fraco. E agora eu estava nas mãos da nova Rainha. Para sobreviver teria que me unir com pessoas estratégicas. Nada melhor do que começar com alguém que também tinha sua vida colegial em risco.
                “Cecilia, Aline virou a pior pessoa possível. Ela sabe sobre você e Paolo. E sabe sobre um caderno que preciso te mostrar. Ele acabaria comigo. E Ali quer usar essas informações para nos destruir. Bjs, Luisa.”
                 Torci para que me respondesse, tendo quando um infarto quando vi a mensagem recebida. “Preciso de ajuda. Felipe está surtando. Resumindo em um nome: Paolo. É. Estou ferrada. Bjs, Ceci.”
                Escrito por StarGirlie.
*A amiga morta das protagonistas de Pretty Little Liars. É sua morte e o aparecimento de seu corpo que dão origem ao enredo da série, inspirada em uma saga de livros. Neles, Alison não morreu realmente e sim sua irmã gêmea, morta pela própria. 

Décimo Terceiro Capítulo
Cecilia



                 Luisa sentou-se na beira da minha cama. Ela parecia outra pessoa. Seus cabelos pretos estavam cacheados e suas roupas eram bem mais claras que as antigas. Parecia que Luh estava ficando angelical. O bom é que eu preferia muito mais essa nova versão.
                -Então, o problema é que ela tem um caderno seu repleto de xingamentos para todo mundo do colégio? – puxei meu celular, procurando uma nova mensagem de Felipe. Nada. Será que Aline já havia revelado os detalhes do meu encontro com Paolo?
                -Sim – Luisa mexeu em sua bolsa e tirou um caderno preto cheio de listras roxas. Percebi que cada uma delas tinha um nome escrito – Eu o trouxe para você ver.
                -O que significa essas listras? – perguntei, abrindo na primeira página e encontrando uma foto minha com a legenda “F-E-R-R-A-D-A”. Ótimo jeito de começar uma amizade.
                Luh se levantou e mudou de página. O rosto principal da seguinte era Hica. E os desenhos ao seu redor não eram nada educados – Elas significam as pessoas que eu não quero atacar. Atualmente, você é a terceira listra. No lugar da Aline.
                Fiquei desconfortável e agradeci mentalmente quando meu celular tocou. Era Felipe. – Posso atender? – perguntei à Luisa. Os dois eram ex-melhores amigos e ela era apaixonada por ele há séculos. Era claro que tinha mais direito que eu.
                -Claro – respondeu a menina de cabelos negros, mas percebi que seus olhos estavam marejados. Fe era o grande amor da sua vida. Ou da sua adolescência, pelo menos.
                Saí do meu quarto e desci as escadas, atendendo a ligação. – Oi, Felipe – estava nervosa. Desde sábado, não falava com meu namorado e nem sabia o que dizer. Havia feito coisas erradas na casa de Paolo. E o pior de tudo é que não me arrependia de nada.
                 -Cecilia! O que houve? Por que você está me ignorando?! É verdade que você passou horas na casa do professor antes de ir para a sua?! – percebendo que eu não respondia nenhuma das questões, ele continuou – Me responda!
                -Acalme-se, Felipe! – percebi que estava estressada sem nenhum motivo. Eu podia ter me equivocado no sábado, mas não havia feito algo de tão ruim para todo aquele escândalo – Sim, eu fiquei na casa dele. Mas foi porque quase fui atropelada pelo professor. Entrei em estado de choque e ele não conseguia com que eu falasse nada. Até que minha voz voltasse ao normal e eu pudesse lhe dar o telefone dos meus pais já havia se passado um longo tempo.
                Sabia que era mentira. Eu e Paolo havíamos conversado muito ainda no carro. E depois... Bem, depois é depois. O que importava era que Felipe não descobrisse nada. Ele não podia sofrer novamente. Já bastava Luisa.
                -Não é o que todos estão pensando. Os alunos estão cogitando até que ele tenha te e... – Fe estava sendo inconsequente. Paolo podia ser tudo, menos pedófilio. E ele deixara isso bem claro no sábado.
                -Não aconteceu NADA, Felipe! Que coisa! Parece que eu saio dormindo com qualquer um por aí. Sendo que eu nem dormi com você – as palavras saíram em uma avalanche que não pude controlar. Apesar de me arrepender do que havia dito, era a verdade.
                Eu sei que tinha uma pequena lista de ficantes, que aumentaria sem dúvida nos próximos meses, mas nunca passei dos beijos e nem pretendia. E esse era um dos motivos para que não me envolvesse com Fábio. Todos sabiam de sua fama. Menos Lola, que gostava de acreditar que tudo era boato.
                -Tem certeza? Se você tiver feito algo... – o interrompi sem nem esperar o fim da sua frase. – Tenho sim.
                Despedi-me rapidamente dele e subi as escadas novamente. Luisa estava trancada no banheiro. As páginas do Caderno estavam rasgadas e espalhadas por todo o quarto.
                Percebi que o celular de Luh estava jogado no chão e o peguei. A nova mensagem vinha de Aline. “Só avisando. Não adianta acabar com O Caderno. Eu fiz uma cópia de tudo algumas semanas atrás. Boa sorte, fofa.”
                Lancei-me na porta do banheiro. – Luisa, Luisa! Luisa, Luisa! – foi então que percebi. Havia uma substância vermelha saindo do vão entre a madeira e o chão. Era sangue.
                Então, desmaiei.
Escrito por StarGirlie.
Décimo Quarto Capítulo
Aline



                Andei nervosa pelo corredor do hospital. Estava em pânico. Não era possível que Luisa tivesse tentado se suicidar ao pensar que eu iria revelar a todos sobre O Caderno. Sempre fui o elo fraco do trio de amigos. A única que não tinha forças para nada.
                Fábio era o “pegador”, que aparentemente, até eu não sabia, já dormia com as garotas, a maioria mais velha que ele. Era bonito, divertido e impossível de se resistir. Ao menos se você fosse amiga dele há muito tempo, como era o meu caso.
                Luisa era a vilã. Linda de morrer, repleta de veneno e extremamente encantadora. Poderia convencer uma pessoa a lhe dar um estojo da Kipling apenas com boas palavras. Era quase como se ela fosse filha de Afrodite. Seu poder de persuasão era incrível.
                Eu era a inteligente. A discreta, que nunca sabia o que dizer perto dos meninos, tirando Fábio e Felipe. Podia passar anos sem que ninguém percebesse minha existência. Era quase como se me camuflasse as paredes.
                E agora a situação estava totalmente invertida. Luisa estava quase morrendo em algum lugar perto dali. Fábio não parava de chorar. Ela era sua melhor amiga, ainda mais agora que havíamos nos afastado. Ele parecia tão frágil, quase como um bebê.
                Minha situação também não era uma das melhores. Meu cabelo loiro estava bagunçado em um coque feito às pressas, minha maquiagem totalmente borrada pelas lágrimas que jorraram no caminho até o hospital, já que não me permitira chorar na frente de ninguém mais.
                Ninguém tinha notícias de Luisa. Cecilia estava na sala de cirurgia e nenhum dos presentes a vira. Pela forma que os médicos disseram, a situação de minha ex-melhor amiga era muito grave, a possibilidade de morrer enorme.
                Aquilo tudo consumia minha alma. A culpa corroía minhas veias e me fazia perceber que cada segundo daquela desgraça só acontecera por minha causa. Se não tivesse ameaçado Luisa, usado seu Caderno como uma arma, talvez ela e Cecilia estivessem conversando felizes sobre o que fariam comigo.
                Perceber que antecipara um passo, fez com que minha mente se animasse. Elas também não eram as melhores pessoas do mundo. Provavelmente, se não as tivesse atacado, quem estaria quase morta no hospital seria eu.
                Foi enquanto tinha esse pensamento egoísta que Cecilia saiu, acabada, da ala de cirurgia. Seus olhos pareciam ser vermelhos de tanto choro. Sua pele estava pálida. Ela parecia tão mal quanto Luisa deveria estar. Só de imaginar aquilo tive arrepios.
                E os olhos dela recaíram sobre mim. – O que esse monstro está fazendo aqui? – sua voz estava esganiçada e percebi que Luisa havia se tornado uma pessoa muito importante para ela, como se a garota pudesse entender o quão frágil Luh era. De uma forma que nunca entendi.
                -Eu, eu... – comecei a falar, mas não consegui terminar. Felizmente, Vinicius completou a frase decentemente para mim. – Ela veio saber como a Luisa está. Todos nós ficamos preocupados.
                Felipe estava envolvendo Cecilia em um abraço apertado. Os dois permaneciam de olhos fechados durante esses segundos. Era um sinal de amor verdadeiro. E Vinicius também pode perceber isso.
                -Ela ficará bem – disse Cecilia, recostando a cabeça no peito de Felipe, enquanto o braço dele envolvia sua cintura. Eles eram um casal, de qualquer forma. Era quase como se uma separação fosse quebrar a energia de cada um.
                Fábio parou de chorar. Lola secou suas lágrimas. – Houve muita perda de sangue? – perguntou meu ex-amigo, sem saber o que dizer exatamente.
                -Não tanto quanto o esperado. Infelizmente, Luh terá que ficar no hospital pela próxima semana. Sabe, para o corpo dela se recuperar completamente... – a menina de cabelos castanhos estremeceu, Felipe a abraçou novamente. Vini parecia desconfortável tendo que assistir aquilo.
                -Ela vai poder receber visitas? – perguntou Lola, tirando as palavras da minha boca. Cecilia olhou com raiva para mim, enquanto respondia. – Apenas de pessoas que não a fizeram sofrer nos últimos dias. Diretamente.
                Todos pareciam entender que apenas quatro pessoas tinham realmente o direito de entrar. E isso incluía Cecilia, Vinicius, Felipe e Fábio. Apesar de todos eles terem atacado Luh para se vingar de seus atos loucos, haviam se redimido sendo seus amigos. Ou seus amados.
                -É, eu já entendi – me virei, sabendo que não podia chorar. Havia escolhido aquele destino. A culpa era minha. Saí correndo pelo corredor. Vinicius não veio atrás de mim.
                Já fora do hospital, disquei o número de Paolo que havia pegado no celular da Cecilia. Chamou, chamou e nada. Tentei de novo. Caiu direto na caixa postal. Desliguei. Não adiantava falar com alguém que me considerava ridícula.
                Era hora de procurar o garoto que desde sempre me ajudara. Leonardo. Sim, o garoto de intercâmbio.
Escrito por StarGirlie.

Como vocês devem ter reparado, ontem, não foi postado o capítulo de Sempre Um Começo. Sei que devo ter deixado os leitores da novela aflitos, mas tive problemas pessoais e não consegui postá-lo. Desculpem-me realmente. Porém, para compensar... O capítulo de hoje ganha um novo narrador, o que nos traz uma perspectiva bem diferente.

Décimo Quinto Capítulo
Felipe



                Nunca pensei que teria que ver Luisa chorando daquela maneira. Desde que ela acordara há algumas horas antes, apenas se expressava através de lágrimas e pedidos desesperados de desculpa. Cecilia tentava controlá-la, mas minha amiga parecia ficar pior a cada hora.
                Observar os curativos em pulsos me fazia estremecer. Luisa sempre fora a grande estrela do colégio. Uma menina bonita, simpática, amada por todos (na mesma medida que era odiada e invejada) e inteligente. Era estranho pensar que sob aquela imagem de felicidade extrema, ela estivesse desabando.
                Logo que Luh foi internada, eu e Ceci descobrimos que os pais dela não se responsabilizavam por seus atos e que só poderiam aparecer no hospital na quarta-feira à tarde, pois ambos, no momento, estavam em uma “viagem importantíssima”. Nem era preciso comentar que sua “amável” irmã nem quis saber se Luisa estava viva.
                A família Coral sempre fora desestruturada, mas agora estava dez mil vezes pior. Ficava feliz que Cecilia tivesse perdoado minha amiga antes daqueles acontecimentos. Apenas ela podia dar o apoio feminino que Luisa tanto necessitava. As duas pareciam irmãs enquanto eu as observava.
                Os pais de Ceci vieram visitar Luh logo que puderam. Os dois se sentiam culpados por não a terem ajudado de imediato ou não terem chegado a tempo de impedirem a tentativa de suicídio. A família Graham realmente se importava com a menina que tentara destruir a vida de sua filha no último mês inteiro. Eles realmente eram evoluídos demais.
                Quando o quarto se esvaziou, Cecilia avisou que precisava voltar para casa e que tinha que estudar para as provas, que começariam na próxima semana. Ela era extremamente estudiosa e eu sabia que uma sequência enorme de notas baixas poderia levá-la ao estado atual de Luisa. Ofereci-me para ficar em seu lugar, já que sabia que meus pais não se importariam.
                -Por mim tudo bem – disse Ceci, dando um suave beijo em minha bochecha e um abraço em Luisa. Fiquei feliz em saber que havia escolhido a menina certa. Ela podia ser tudo, mas sabia o quanto o carinho era importante para a sobrevivência das pessoas. E estava disposta a distribuí-lo, mesmo que isso significasse sua própria tristeza.
                Sei que estava chateado com ela e tudo mais. Pelos boatos que corriam em todo o colégio, Cecilia havia ficado com Paolo na casa dele e o clima podia até ter esquentado ainda mais. Eu tinha certeza que a segunda parte não tinha acontecido. Minha namorada nunca se entregaria a alguém que não havia lhe cortejado.
                Porém, um beijo não era nada demais. E, embora a família de Cecilia não aceitasse bem a história de ficar, ela tinha uma pequena lista de garotos que já havia beijado. Como havia chegado há pouco tempo na cidade, acabei descobrindo isso apenas porque a própria me explicou.
                Eu não achava nada demais. Já tínhamos 14 anos e esse era comportamento esperado para nossa idade. Todo mundo imaginava que estávamos vivendo uma vida louca, mas nada disso estava acontecendo. Pelo menos, não para meu grupo de amigos.
                A única coisa que nos permitíamos fazer era beijar alguém de vez em quando. Eu preferia muito mais que fosse com a garota certa, como a Cecilia, mas sabia que nem todo mundo tinha a chance de encontrar alguém te entendesse.
                Enquanto tentava decidir se a traição com Paolo me magoava ou não, acabei sentado na beira da cama de Luisa, segurando sua mão. Sabia que os remédios a dopariam em alguns minutos e eu ficaria em um quarto em silêncio pelo resto da noite.
                -Obrigada por estar aqui – percebi que sua voz doce estava de volta. Ela nunca fora tão má quanto naquele último mês. E eu ficava feliz que a mudança não durará o tempo necessário para ser permanente.
                -Obrigada por estar viva – respondi, dando-lhe um beijo em sua testa. Seus olhos começaram a se fechar, duas lágrimas suaves cobriram sua bochecha e ela sorriu. Retribuí o sorriso mesmo sabendo que minha amiga não o via.
                Era bom ter Luisa de volta. E aquilo só provava que eu não podia deixar Cecilia partir. Meu coração suportara a ideia de que Luh tivesse deixado para sempre minha vida há algumas horas. Porém, apenas o pensamento de que Ceci podia me abandonar já acabava com minhas forças.
                Cecilia Graham era a pessoa que eu amava. E era a hora de não deixar dúvidas sobre isso.
Escrito por StarGirlie. 
Décimo Sexto Capítulo
Cecilia



                Levantei-me para mais uma manhã. Imaginei o quanto havia acontecido desde a briga de Vinicius e Felipe, e meu quase atropelamento. Duas semanas haviam se passado. Luisa saíra do hospital na sexta, mas somente hoje iria para o colégio. Minha mãe nos levaria de carro para que nos sentíssemos mais unidas.
                Vesti o uniforme e me arrumei, percebendo que estava vinte minutos adiantada. Pensei em ler um dos meus livros que estavam atrasados, mas meu cansaço mental era muito grande. Aquelas semanas estavam acabando comigo e as provas pioravam ainda mais.
                Sentei-me na cadeira em frente a minha penteadeira e repousei minha cabeça no estofado. Foi então que caí no sono novamente.
                Estava na minha sala de aula, Vinicius e Aline se agarravam no canto, como se quisessem engolir ao outro com a boca. Eu entendia que estivessem apaixonados e tudo mais, mas aquilo estava beirando o vulgar.
                Paolo continuava a dar sua aula, parecendo não ver o casal se beijando do lado do quadro. Os outros alunos também não reparavam nada. Levantei-me e todos se viraram, exceto Vini e a loira. É, ninguém estava cego.
                Ao invés de me dar uma bronca por eu ter me levantado sem pedir permissão, Paolo aproximou-se de mim, me obrigando a recuar para a mesa. Suas mãos seguraram meu rosto e me obrigaram a me inclinar sobre a madeira. Ele tentou me beijar, mas afastei-o desesperada. – Não, não!
                -Só mais um beijo para relembrar a noite de sábado... – sua voz era doce e percebi que ele não estava me agarrando. Eu estava lhe deixando se aproximar novamente.
                A porta se abriu. Felipe entrou em um rompante com Luisa atrás. – Eu lhe avisei – disse a menina de cabelos pretos, girando em seus calcanhares, um sorriso maligno brotando em seus lábios.
                A boca de Felipe tremia. Joguei Paolo longe e corri para a porta. Toquei os ombros de meu namorado, mas ele parecia não me enxergar – Cecilia me traiu. Traiu-me.
                -Deixe-me explicar! Eu tinha te visto com Aline... Paolo foi tão atencioso... – queria que ele visse tudo pela minha perspectiva, mas não havia como. Eu realmente havia o traído.
                -Eu fiquei com Aline? – pela primeira vez, ele me encarou, mas preferi que aqueles olhos escuros não me olhassem. Era como se eu conseguisse enxergar a alma machucada que ali residia.
                -Não, mas... – Mas nada! – sua voz cortava meu coração. E o pior de tudo era que Paolo voltara a explicar a matéria como se não estivéssemos discutindo ali. Nem mesmo Lola parecia ver o que estava acontecendo. Nem a briga nem os beijos acalorados de Vinicius e Aline, que ignoravam qualquer movimentação sem ser as deles.
                Tentei tocar o rosto de Felipe, mas ele me lançou com força para a direção de Paolo. Antes de atingir o chão, acordei.
                Minha mãe me balançava. – Filha, estamos atrasadas! Luisa vai ficar esperando! – levantei-me rapidamente e corremos para entrar no carro. O tempo estava nublado. Aquele era um mau sinal. Eu sabia que alguém não estava contando toda a verdade.
                Naquele dia inteiro, algo martelou em meu cérebro. Quem seria o traidor? Luisa, a mesma que me acompanhara em todos os momentos fora de sala e que almoçou em minha casa sem me dirigir nenhuma ofensa? Vinicius, que agora namorava Aline e parecia realmente magoado com a minha escolha envolvendo Felipe? Lola, que estava cada vez mais distante de mim graças as suas ficadas com Fábio? Paolo, o professor que alegava que o beijo que demos em sua casa era errado e que nunca iria se repetir? Ou até mesmo Fábio, que era o pegador do colégio e odiava saber que eu era a única menina que não havia sido encantada pelo próprio?
                Ou seria a pior de todas as opções? Seria Felipe, meu namorado, a única pessoa em quem confiava de todas as formas, que me amava e me idolatrava como se eu, apesar de todos os meus erros e graças a eles, era perfeita? E, acima de tudo, o único garoto que amei em minha vida?
                Não podia ser. Não. Não. Não. Mas será que... Bem, a única forma de conseguir tirar isso a limpo é consultar um grande parceiro, o tão conhecido Leonardo.
Escrito por StarGirlie.


Décimo Sétimo Capítulo
Aline




                Deixei que Leonardo entrasse no carro. Era comum que ele sempre estivesse rodeado de seus seguidores, mas naquele momento, Leo apenas me pertencia. Eu não gostava de ficar sozinha com ele, porém, era a única opção que tinha para tratar do assunto que tanto me incomodava.
                -Então, qual o tema do nosso prestigiado papo de hoje? – eu odiava seu jeito “chique” de falar. Ele era um adolescente, pelo amor de Deus! E que mania de colocar um blazer sobre o uniforme! Não éramos alunos de um colégio interno.
                Decidi nem responder. Puxei seu celular do bolso em que sempre estava e digitei a senha que havia roubado na última sexta-feira. Nem fora difícil de descobrir, era o aniversário da irmã mais velha de Felipe: 1405. Ele tinha uma paixão platônica por ela, mesmo sabendo que Júlia nunca o olharia com outros olhos.
                Entrei na pasta de vídeos e encontrei o de sua conversa com Cecilia. Havia sido no dia anterior e eu precisava saber o que a “mocinha” estava tramando. Ela não era uma protagonista qualquer. Ceci queria se vingar de mim. A qualquer preço.
                Leo não me impediu a assistir ao vídeo. Sabia que teria que pagar algo para ele como troca, mas não me importava com aquilo no momento. A garota de cabelos castanhos surgiu na tela do iPhone.
                -Luke! – ela o abraçou e reparei que no fundo da imagem Felipe transitava tranquilamente com Luisa ao seu lado. Os dois lançaram um olhar nervoso a Cecilia antes de continuarem seu percurso – Precisamos conversar mais, meu americano!
                -Sim, Cecilia. Mas lembre-se agora eu sou Leonardo, um quase brasileiro. Luke não combinaria com o Brasil – percebi que ele olhava várias vezes para a câmera como se checasse se aquilo estava gravando.
                -Ok, ok... Bem, - Ceci sentou em uma das cadeiras da sala vazia e olhou para seu “amigo” – estou desconfiando de um grupo enorme de pessoas. Você não está incluso nisso, por este motivo vim pedir sua ajuda.
                -Desconfiando de quê? E de quem? – Leo sentou-se ao seu lado. Eles até combinavam na aparência. Cabelos castanhos, olhos da mesma cor, estatura com pouca diferença.
                -De traição. E precisamente de Vinicius, Fábio, Luisa, Lola, Paolo e... Felipe. Algum deles está mancomunado com Aline. E eu preciso saber urgentemente quem é – me arrepiei. Ela tinha razão. Um dos seis era um grande traidor. Só bastava ela saber sua identidade.
                -Eu sei que você age para os dois lados, mas não me importo. Se ela souber que estou em busca de seu ajudante, sem problemas. Agora, quem é o traidor? – Ceci segurou a mão de Leonardo e percebi que ela seus olhos. Eles eram extremamente parecidos com os da irmã de Felipe. A amada de Leo.
                -O traidor é... – joguei o celular no chão. Ele havia me traído. Contado a Cecilia toda a verdade. Não era possível. Não, não, não, não! Leonardo não podia ser tão burro! Ceci apenas o usara. U-S-A-R-A!
                -Estúpido, idiota! Como você pôde... – Leo cobriu meus lábios. – Eu não te traí, ok? Se tivesse visto o vídeo até o final teria escutado que disse “não sei”. Não vou me bandear para o lado de Cecilia. Eu estou do seu lado.
                -Mas a Júlia é do lado da Cecilia - relembrei. – Sim, mas acho que não será por muito tempo. Não depois de ver isso.
                Então, Leonardo mudou de vídeo. Felipe e Luisa estampavam a imagem. Os dois estavam debruçados sobre um caderno no chão de um quarto totalmente rosa. A decoração era linda, mas o que me chamou a atenção foi o fato de que não era o quarto de Luh. E algo me dizia com toda certeza que não era o de Cecilia.
                Aquele era o quarto de Júlia Lave. – Não pode ser, pode? – perguntei apontando para as anotações no chão. Não era possível. Felipe não seria sujo a esse ponto. Ele havia mudado por Cecilia, não era mais o canalha de antes.
                -Pode e é. Esse é o diário de Júlia. E será esse vídeo que a trará para o nosso time – um sorriso brotou em seus lábios, mas não nos meus. Ceci havia escolhido o garoto errado. E ela precisava saber disso.
Escrito por StarGirlie.



Décimo Oitavo Capítulo
Luisa



                Meu quarto estava totalmente revirado. Depois que finalmente entendi que continuar guardando um monte de coisas que me faziam sofrer não era o caminho certo para a recuperação, cada foto antiga com Aline fora guardada em uma caixa com os dizeres: Lembranças Ruins.
                Eu sabia que nós dois havíamos tido momentos ótimos juntas, mas não conseguia esquecer o quanto Ali se tornara ruim nas últimas semanas. Ela chegara a ameaçar revelar O Caderno, que sempre fora o nosso grande segredo. Aline até escrevera nele também. Mas não havia provas disso é claro.
                Meu celular tocou. Cecilia. Animei-me a atender, já que Ceci estava sendo a melhor amiga que tive em anos. E talvez a única verdadeira. – Oi, Luh! – disse a voz do outro lado do telefone. Apesar de sua voz doce, percebi que algo estava errado. Ela estava escondendo alguma coisa.
                -O que aconteceu? – perguntei, sem nem esperar que o assunto chegasse a ser citado. Havia aprendido que o Destino não está pronto, somos nós que o fazemos. Então, não deixaria nada passar. Se uma amiga minha estivesse com problemas, eu a ajudaria.
                -Nada, só estou um pouco nervosa, sabe? Provas de História, Química e Física no mesmo dia é dose!* - estava nervosa com isso também, mas não adiantava nada se desesperar. Os testes continuariam acontecendo e você só perderia sua concentração.
                Observei os resumos deixados em cima da mesa. Cecilia já me avisara que fizera os dela e que podia me emprestar, mas não custava oferecer os meus também. – Eu sei que você vai super bem, mas não quer os meus resumos? Não são excelentes que nem os seus...
                -Obrigada mesmo, mas não precisa. Acho que uma boa noite de sono irá me acalmar – foi então que me lembrei que ela me ligara. Havia algum motivo. – Ceci, por que você me telefonou?
                Cecilia hesitou. Sim, ela estava me escondendo algo bastante sério. E sentia que aquilo envolvia uma desconfiança desnecessária em mim. Será que o passado sempre me condenaria a ser a bruxa má?
                -Eu... Preciso desligar – e a ligação caiu. Joguei-me na cama e percebi que não importava o quanto eu fugisse das minhas lembranças ruins. Elas sempre me perseguiriam.
                Todas aquelas escolhas que fiz com Aline há tanto tempo me tornaram uma pessoa extremamente desconfiável ao olhar de qualquer um. Eu estava tentando me transformar em alguém melhor, mas ninguém parecia acreditar. Era como se todos vissem o meu passado e não meu futuro.
                Deixei que as lágrimas escorressem, me libertando da dor. Não deixaria mais que ela se acumulasse. Havia sentido na pele, sem trocadilhos, o que era o sofrimento abafado. E não permitiria que minhas mãos me ferissem novamente.
                Queria a atenção de alguma pessoa, mas não adiantava ligar para Cecilia. Ela não me escutaria. Felipe não era o tipo de garoto que sabe como reagir ao sofrimento de uma amiga. Vinicius nunca fora tão próximo ao ponto de se importar realmente com meus sentimentos. Ele queria que eu o amasse e ponto final. Fábio deveria estar se agarrando com Lola uma hora dessas. E bem, Aline estava fora de cogitação.
                Só me sobrava uma pessoa. Felizmente, uma boa pessoa. Disquei o número e esperei que ela atendesse. – Alô? – perguntou a voz já conhecida.
                -Oi, Júlia! Sou eu, a Luisa... – mas a irmã de Felipe nem, ao menos, me deixou terminar. – Sua idiota, estúpida – esses haviam sido apenas alguns dos tantos xingamentos que tive que escutar antes que ela continuasse – Sei que você é apaixonada por meu irmão e que ele não te dá à mínima, mas descontar em mim? Roubar o meu diário?! E ainda com o Felipe?
                -Como assim... – eu não estava entendendo nada. Roubar o diário dela, mas como? Eu não ia à casa do Fe há semanas! Só podia ser um engano.
                -Nunca mais me ligue. Sei que meu diário já foi para os ares, mas eu vou me vingar. Boa sorte, querida – e mais uma pessoa bateu o telefone na minha cara.
                Eu não tinha mais ninguém. Todos desconfiavam de mim. Sempre seria apenas a evil Luh. Uma imagem havia sido construída sobre uma personalidade que não existia mais em minha mente.
                Precisava arranjar um jeito de mostrar que realmente havia mudado, mas não sabia como. Então, apenas afundei-me nos cobertores, indo dormir antes mesmo do pôr-do-sol.
Escrito por StarGirlie.
*Gente, essa é explicação para a minha falta de posts hoje. Como já terei tido essas três provas seguidas quando esse capítulo for publicado, estarei muito cansada e, provavelmente, não entrarei no blog. Desculpem-me.

Décimo Nono Capítulo
Cecilia



De: Fábio Luk
Assunto: REPARE NELA!
            Acho que vocês devem saber que eu tenho ficado com uma garota chamada Lola. Ela é bem gata né? Só que MEU DEUS, beija MUITO mal e é a menina mais chata que já conheci. Sei que todos vocês devem estar imaginando como a melhor amiga da garota sexy Cecilia pode ser tão ruim para normal. Eu explico: ela nunca tinha se apaixonado!
            Bem, só queria saber mesmo se algum de vocês tem notícias sobre o encontro proibido da Ceci e do prof. Galã. Tão dizendo que eles chegaram a fazer outras coisas além de descobrir qual é a função sintática dos termos. Me avisem – Fábio.

            Aquele e-mail mandado por Fábio estava circulando todo o colégio em menos de dez minutos. Todos comentavam sobre Lola ser a pior ficante do mundo e eu a menina mais rodada de todas. O melhor amigo de Aline tinha acabado com nossas reputações de uma tacada só.
                Sabia que ele seria punido no mesmo nível. Hica tinha uma informante entre os estudantes e Luisa já me avisara que Fábio seria expulso, caso não tivesse uma desculpa muito boa para o envio daquele e-mail.
                Mas o pior de tudo era o estado em que Lola se encontrava.  Ela havia se apaixonado perdidamente por Fábio e acreditava que ele sentia o mesmo por ela. Agora estava claro que para o garoto estúpido aquele relacionamento não significara nada além de perda de tempo.
                O telefone tocou novamente. Nos últimos minutos, Felipe, Luh, Lola e Paolo, sim, o prof. Galã, haviam me ligado para perguntar como reagiríamos àquele ataque direto do time de Aline. Só que dessa vez a pessoa do outro do telefone era um dos aliados dela:
                -Oi, Vinicius – demonstrei meu desânimo logo de início. Vini estava cada vez mais estúpido no colégio. Vivia agarrado a Ali e nunca nem me cumprimentava. Era como se quando decidi namorar Felipe, e beijar (só uma vez!) Paolo, eu o tivesse perdido para sempre. Até mesmo como amigo.
                -Como você está, Cecilia? – ele era sempre extremamente educado e isso me reconfortava. Felipe era um pouco emotivo demais e, às vezes, seus sentimentos o tornavam exagerado e grosso.
                -Mal. Não por mim, é claro – sabia que Paolo desmentiria tudo e que a família de Fábio arranjaria um grande processo, mas a reputação de minha amiga ficaria manchada – Por Lola.
                -Esse cara é um idiota. Ele magoou a irmã do Felipe e agora fez pior com sua melhor amiga – Vini soltou um palavrão – Desculpa.
                -Tudo bem. Eu só preciso descansar... – bateram na porta de meu quarto – Só um minutinho.
                Pulei da cama e girei a maçaneta. Meu queixo quase caiu. Parado diante de mim, de mala e cunha, estava ninguém mais ninguém menos que...
                -Eu acho que tenho muita coisa para te explicar, mas resumindo... Vou ficar na sua casa durante algumas semanas – disse a voz de Vinicius saindo tanto do celular quanto de sua boca em minha frente.
                 O desespero percorreu meu corpo. Já não bastava Fábio humilhando minha BFF, o grande traidor continuar agindo com um amigo e agora Vinicius, o garoto por quem eu fora apaixonada, o mesmo que escolhera Luisa e Aline ao invés de mim, viria morar sob o meu teto?
                Fiquei sem palavras e só pude pensar em uma coisa: a partir dali, meus problemas aumentariam muito mais.
Escrito por StarGirlie.

Vigésimo Capítulo
Aline



                Eu estava muito brava com o fato de que Vinicius iria morar na casa de Cecilia. Sério, os dois tinham uma tensão romântica muito forte e eu sabia que dividir o mesmo teto não iria dar nada certo naquele caso. Pelo menos, não para mim.
                Sabia que não era culpa de Vini. Seus pais viajariam para outro país e só voltariam um mês depois. Estava fora de cogitação deixá-lo cuidando da casa, então eles foram procurar alguém responsável que pudesse cuidar de meu namorado. Logo, encontraram a mãe de Ceci que trabalha com o pai do Vinicius.
                Porém, meus problemas não se resumiam apenas ao fato de Vini ter se mudado para a casa de Cecilia. Ainda havia a loucura que Fábio fizera ao tentar me ajudar a destruir a menina de cabelos castanhos e sua melhor amiga. Ele era burro ou aquele era seu jeito “inteligente” de se destacar?
                Mandar um e-mail para mais de 100 pessoas dizendo que Lola beijava mal desde quando era uma grande vingança? Aquilo só arranjara uma baita confusão com os pais da garota e com os de Ceci também, já que o texto enviado ofendia a “boa moça”. Além deles, Hica planejava, pelo visto, expulsar Fábio de vez.
                 E a lista de enrascadas que me envolviam aumentava ainda mais. Leonardo agora insistia em tornar Felipe o pior inimigo de Júlia, como se ver irmãos brigando fosse uma coisa legal. Aquela obsessão pela adolescente já estava se tornando cansativa. Tinha vontade de mandá-lo perseguir outra garota e não a Juh. Ela era gente boa e sempre me tratou bem.
                Porém, o que mais me magoava de tudo isso era o fato de que Paolo mudara totalmente seu comportamento em relação a mim. Desde que me tornei “A Popular” graças à festa de Belle, ele nem olhava em minha direção. Era como se eu não estivesse na sala.
                E o pior de tudo era que Cecilia se tornara sua melhor aluna. Ela o ajudava com as matérias, que se acumulavam cada vez mais por causa das confusões que atrapalhavam as aulas, e sempre tinha uma resposta inteligente para dar em sua aula. Mas estava claro que os dois não estavam envolvidos romanticamente. Era uma relação de auxílio. Ele a ajudava nas situações difíceis de sua vida particular e ela na sua vida profissional.
                Não havia nada para fazer. Era uma noite de quinta-feira e eu não queria de jeito nenhum estudar para provas. Preferia ir mal a me tornar uma nerd novamente. E sem Luisa, os passeios ao shopping se tornavam muito tediosos. Havia uma alternativa.
                Fui até o quarto ao lado do meu e bati na porta. – Pode entrar! – gritou a voz feminina. Girei a maçaneta e encontrei minha mãe deitada na cama. Um pote de pipoca estava em seu colo e a TV ligada em sua frente. Cena comum.
                -Oi, filha – ela fez menção de se levantar, mas preferi deitar-me ao seu lado. Aconcheguei-me nos edredons e sorri ao perceber que aquele era meu momento favorito até que me transformei em outra pessoa nas últimas semanas – Faz tempo que você não vem me fazer companhia. Ou aceita quando eu vou fazê-la em seu quarto.
                Eu estava sendo uma estúpida até com minha própria mãe e sabia disso. Nos últimos dias, reclamava até quando ela opinava sobre minha sombra. E nem entendia porque fazia aquilo. Minha mãe não era minha inimiga. – Eu sei, desculpe-me, mãe.
                Abracei-a sob os cobertores e fiquei feliz quando ela retribuiu o carinho. – Aconteceu alguma coisa naquele baile, não é? Você mudou muito de lá pra cá.
                Respirei fundo, sabendo que iria dar uma resposta malcriada, mas minha mãe não merecia. Ela merecia saber a verdade. E eu lhe contei. Contei sobre Vinicius e meu namoro repentino. Sobre ter rido de Cecilia e ter causado o quase suicídio de Luisa. Sobre Fábio humilhar Lola para me ajudar e Leonardo criar uma discussão falsa entre os irmãos Lave. E sobre amar Paolo.
                Quando terminei, sabia que tinha decepcionado minha mãe. Ela estava brava, chateada e arrependida de não ter me dado limites, tudo ao mesmo tempo. E aquele era o meu pior castigo. – Você sabe que terá que consertar todos esses erros, não é? Amanhã, você precisa primeiro se autodenunciar como a culpada para Fábio ter humilhado a namorada dele. Se Hica expulsar você, tudo bem, foi merecido.
                -Você acha que há um jeito de me redimir? – perguntei, esperançosa. Minha mãe era uma espécie de porto-seguro. – Não, mas você pode, pelo menos, fingir.
                Aquilo foi um balde de água fria. Joguei-me para fora da cama. Minha mãe era como eu. Ela não se importava comigo. Queria apenas manter as aparências e apunhalar todos pelas costas. Agora sabia de quem puxara.
                Apesar de começar a odiá-la, ela tinha razão em uma coisa: eu precisava ser a boa moça ou todos se virariam contra mim. E aí sim, minha situação seria bem ruim.
Escrito por StarGirlie.
Vigésimo Primeiro Capítulo
Luisa



                Era estranho encontrar Vinicius toda vez que ia à casa de Cecilia. Era como se o Destino jogasse na minha cara o menino incrível que perdi por causa da minha obsessão por Felipe, que no fundo era apenas um badboy redimido. Ele podia ser meu melhor amigo, mas não era um príncipe encantado.
                Porém, mesmo odiando ter que dar de cara com Vini o tempo todo, Ceci precisava me contar muitas coisas. Logo que entrei em seu quarto, ela não demorou a dizer tudo que precisava. Contou sobre o falso vídeo em que eu aparecia roubando o diário de Júlia, com Felipe. Logo percebi que se tratava do dia em que mostrei a versão antiga do Caderno. Quando ele era apenas um local para desabafos.
                Ela também me revelou que realmente beijara Paolo na casa dele e que estava arrependida, mas logo lhe assegurei que Felipe a perdoaria pela traição. Ele não era muito orgulhoso. Não quando se tratava de Cecilia.
                Mas o pior veio depois, quando ela me disse que estava se sentindo insegura dormindo no quarto ao lado do de Vinicius. – Você está com medo que ele te agarre à força? – eu sabia que ele nunca faria aquilo. Ele era o príncipe encantado, não o bandido.
                -Claro que não, Luh! Eu estou com medo que nós nos agarremos conscientemente... – Cecilia abaixou os olhos e de repente entendi tudo. Felipe nunca fora sua primeira escolha. Vinicius era o garoto que ela amara desde o início. O loiro de olhos verdes que mudou para sempre a vida daquela garota de cabelos e olhos castanhos. E agora, ambos tinham a chance de ficarem juntos.
                Respirei fundo, imaginando se Vini era capaz de nos escutar. Ele parecia ser do tipo que escutava as conversas escondido, mas pouco importava. Todos sabiam que Cecilia estava em um complicado quadrado amoroso. Ela tinha um namorado perfeito, mas com um fama de canalha. Amava o garoto que namorava sua pior inimiga e que já fora apaixonado por sua nova melhor amiga. E estava tendo uma relação nada normal com seu professor (hiper lindo!) de Português.
                -Você ama o Felipe? – Cecilia nem hesitou. – Sim – reparei que seus olhos se lançaram para a porta por um breve segundo antes que ela voltasse a olhar para o edredom sob suas pernas.
                -Tem certeza disso? – perguntei, entendendo que Ceci era muito nova para ter discernimento para escolher entre três garotos quase perfeitos. Tá, dois garotos e um homem.
                -Eu não sei o que sinto – percebi que seus olhos estavam marejados. Ela não aguentava toda aquela pressão.
                Aline queria destruir sua vida. Suas melhores amigas eram uma suicida e uma garota que nem sabia como reagir a um garoto imbecil. E além de tudo, seu melhor amigo podia ser preso por pedofilia. Ela estava em uma situação nada fácil. E eu só queria poder ajudá-la.
                Seguei seus ombros. – Você sabe que não precisa escolher entre ninguém agora, não sabe? Você tem 14 anos apenas, Ceci! Se você simplesmente passar de ano com uma nota razoável já vai ser uma vitória. Você não precisa ser a sempre decidida! Pode gostar de Felipe uma hora, de Vinicius em outra e de Paolo numa terceira, ou dos três ao mesmo tempo.
                Cecilia me olhou como se eu estivesse ficando louca. Foi então que encerrei meu discurso. – Mas para isso, você tem que terminar com Felipe. Porque fingir que ama apenas ele é mais errado do que ficar com um homem dez anos mais velho que você.
                Percebi que ter dado aquele conselho poderia dar a impressão que eu queria roubar Felipe de minha BFF. Mas aquela não era mais situação. O mês de março passara de uma forma tão drástica que perdi todo meu amor platônico por ele. Talvez abril trouxesse um novo amor, um jeito de superar meu coração partido.
                -Você tem razão. Mas eu não vou terminar com Felipe. Eu preciso é me afastar de Vinicius e Paolo. Sei que posso esquecê-los, mas não posso viver longe de Fe. Ele virou meu ponto seguro e eu não irei perdê-lo.
                Cecilia saltou da cama, seu olhar decidido. Ela havia tomado a decisão. Não deixaria seu amor por Vinicius magoar ainda mais Felipe. Já bastava a longa lista de pessoas que estavam se bandeando para o lado de Ali. Não podíamos permitir que Fe fosse para lá também.
                -E você irá me ajudar – era a hora de provarmos que Aline, Fábio, Leonardo e Júlia não eram páreos para nós. Nós seríamos os líderes daquele colégio antes mesmo das férias de inverno.
                Oh, queridos. É claro que a antiga Luisa não sumiu totalmente. – As peças do jogo finalmente estão andando – afirmei, enquanto nós duas saíamos decididas do quarto, sabendo que Aline nunca conseguiria chegar aos pés de duas Alfas juntas. Nós éramos o time vencedor. 
Escrito por StarGirlie.

Vigésimo Segundo Capítulo
Cecilia



                Depois que eu e Luisa passamos a tarde inteira planejando um jeito de convencer Felipe que nossa relação estava intacta, nós duas estávamos exaustas. Criar um plano sem falhas era muito mais difícil do que parecia. E meu corpo só queria um bom banho e horas de sono.
                Porém, o Destino me reservava outras coisas. Logo que cheguei a casa, encontrei Vinicius dormindo no sofá, meio coberto por uma colcha fina, com uma almofada sob sua cabeça. Ele parecia um anjo adormecido.
                Queria passar sem acordá-lo, mas bastou eu pisar no chão do corredor para que seus olhos se abrissem. – Quem é? – ele tentou se sentar de forma meio sonâmbula. Sei que havia combinado com Luh de não me aproximar do loiro, mas eu não podia simplesmente não respondê-lo.
                Entrei na sala e ele arfou. Tive a mesma reação. Vinicius estava dez vezes mais lindo que o normal. Era como se brilhasse na minha frente. E eu só queria poder usufruir daquele brilho. Daquele sol.
                -Oi, Cecilia – aproximei-me do sofá e sentei-me ao seu lado. Meus braços se arrepiaram e Vini aproveitou essa oportunidade para me cobrir com sua colcha. Pude ver seu pijama listrado que o deixava ainda mais fofo.
                -Obrigada – agradeci com as bochechas vermelhas. Eu não devia estar ali. Devia estar tomando uma ducha e esquecendo que Vinicius era meu amor. Felipe era meu namorado e só ele deveria importar. Mas não era fácil assim.
                Vini se remexeu inquieto. – Que horas são? – o sol tinha se posto alguns minutos antes, então não devia passar de umas 19 horas. Chequei no meu celular. – 18 e 40. Tá um preguiçoso, hein? Dormindo praticamente o dia inteiro! – brinquei.
                -Verdade, mas é que eu não tenho milhões de amigos para sair que nem você – retrucou Vinicius, ainda brincando, porém sabia que aquilo tinha um pingo de verdade. Ele só era amigo de Paulo, que ultimamente agia como se Vini tivesse desaparecido. Eu suspeitava que isso tinha haver com o fato de que seu amigo era certinho demais para andar com alguém que fora tantas vezes à diretoria.
                -Mas você tem uma namorada – afirmei sem pensar e me arrependi imediatamente. O sorriso de Vinicius sumiu em menos de um segundo. Nós dois sabíamos que Aline e Felipe não eram os melhores temas para que conversássemos.
                Embora sua reação facial tenha sido desanimadora, suas mãos agiram de forma diferente: elas me puxaram para mais perto. Deitei minha cabeça em seu ombro, entendendo que merecíamos um momento só nosso. Sem ninguém para dizer que aquilo era errado, que já pertencíamos a outras pessoas.
                -Aline não é a pessoa certa e você sabe disso. Como eu sei que Felipe também não é a sua pessoa certa – segurei sua mão de forma impulsiva e fiquei feliz quando ele não a afastou. Era bom saber que Vini não tinha me esquecido.
                Não queria desabafar com ele, mas quem mais merecia saber a verdade do que Vinicius? – Eu amo Felipe, mas...
                -Quando estou com você, meu mundo muda completamente – resolvi não olhar em seus olhos, pois não podia trair Fe novamente. Eu estava sendo uma idiota que nem o Fábio.
                Afundei mais em seu ombro e inspirei seu aroma. Ele cheirava a chocolate. Chocolate branco ainda. Meu favorito. – Não podemos fazer isso, Vini. Não podemos trair Aline e Felipe.
                -A verdade é que... Eu terminei com Aline algumas horas atrás – ele não estava mentindo, seus olhos verdes transmitiam isso. Vinicius largara sua namorada. E meu plano rachava cada vez mais rapidamente.
                -Eu não ligo para as consequências disso. Aline é um monstro. E eu te amo – ele puxou meu queixo e pude sentir seu hálito se misturando ao meu. Olhei para seus lábios. Arrependi-me por estar tão envolvida em seus braços.
                Vinicius se aproximou e tentei fugir, mas aquilo fez o efeito contrário. Caí de costas no estofado do sofá e Vini teve que se pendurar em cima de mim para não despencar também. A tensão ficou ainda maior.
                Então, reagi. Joguei-o para fora do sofá e corri. Subi as escadas como se minha vida dependesse disso. Tranquei a porta de meu quarto e adentrei no banheiro, onde girei a chave novamente.
                Olhei o meu reflexo no espelho e vi que Vinicius tinha razão. Eu estava brilhando como se fosse uma estrela. E tudo isso graças a ele. O meu não-namorado.
Escrito por StarGirlie.

Vigésimo Terceiro Capítulo
Aline




                Vinicius me dera O Fora do Século. Dissera na MINHA CARA que amava Cecilia e que não podia me enganar mais. Eu nunca seria a sua garota perfeita e nem ele era meu príncipe encantado. E para encerrar o discurso... “Você precisa ser uma pessoa melhor. A antiga Aline era muito mais bela interiormente.”
                Eu queria quebrar alguma coisa na cabeça dele. Ou pelo menos, humilhá-lo. Mas agora com meu jeito de anjinho, tive que apenas aturar toda sua explicação para o fim do namoro e apenas dizer:
                -Vou mudar, Vini. Pode acreditar. Vou voltar a ser eu mesma. Não por você, mas pela minha própria alma – Tá, fui um pouco dramática demais, mas minha mãe amou minha fala final.
                -Ele vai dizer à Cecilia que você mudou e ela vai contar isso para Felipe, Lola, Luisa e Paolo. A história vai se espalhar. O jogo vai virar, filha. E ao seu favor – era estranho ver minha mãe com o sorriso maléfico que tantas vezes dei.
                Eu sempre me imaginei como A Malvada da família, mas podia perceber que aquilo era uma característica vinda do meu DNA. Só esperava que meu pai não fosse como a gente. Seria uma decepção ainda maior.
                -Você acha que eles irão acreditar em mim? Nessa mentira? – alisei minha nova roupa. Era um vestido lilás lindo e eu não sabia onde iria usá-lo. Não agora que as festas estavam definitivamente proibidas para mim. A última significara minha transformação para uma líder. Não queria ser a perdedora novamente.
                -Vão, mas temos que ter um plano mais profundo do que apenas dizer que “há bondade em seu coração” – minha mãe me virou para o espelho que havia perto de sua cama e percebi o quanto éramos parecidas. Ainda mais com aquele olhar maldoso difícil de esconder.
                -E o que vamos fazer? – enquanto pensava em meus atos, a imagem de Vinicius e Cecilia se beijando surgiu na minha mente. Eu já sabia que ela se envolvera com Paolo mesmo namorando Felipe. O que a impediria de agarrar meu ex?
                Aurora, minha mãe, pareceu pensar por alguns segundos antes de me responder. – Nós iremos convidar seus “amigos” para nossa casa.
                Engasguei com minha própria saliva. – Como numa festa do pijama? Você acha realmente que alguém irá vir?
                -Não como numa festa do pijama – discordou Aurora – Como numa festa mesmo. Eles precisam conhecer sua casa para que acreditem em você. Manter-se afastada da vida social só os fará acreditar que está planejando algo muito pior.
                Ela tinha razão. Se eu estivesse “ocupada” com a festa, ninguém poderia me culpar por atos ilícitos. – Mas é claro que quem cuidará dessa festa será eu – continuou minha mãe. – E eu irei me vingar de todos eles por baixo dos panos – completei.
                -Isso mesmo! – animou-se Aurora, me abraçando – Essa é a minha garotinha.
                Observei o vestido em cima da cama. Eu precisava parecer um anjo para que todos se convencessem que minha fase maléfica havia acabado. E ele seria perfeito.
                Naquela noite, antes de dormir, penteei meus cabelos, tentando imaginar como seria minha vida se eu não fosse ruim por natureza. Se eu fosse realmente aquela Aline de antes. A mesma que estudava sem nenhuma dúvida, que se divertia tomando sorvete em uma sexta-feira à noite. A mesma que tinha melhores amigos.
                Eu sabia que estava muito mais bonita. Meus cabelos loiros estavam mais acentuados graças a chapinha que comecei a passar. Meus olhos verdes pareciam até maiores com a dose diária de rímel. Era como se a maldade tivesse despertado minha vaidade.
                Faltava apenas uma semana para a festa que havíamos planejado. Eu tinha pouco tempo para agir. Se alguém descobrisse meu plano, minha vida estaria arruinada. Não adiantaria fingir nada, pois ninguém nem iria levar em consideração.
                Naquela noite, deitada sob as cobertas, juro ter visto a Antiga Aline me observando do espelho. Ela parecia tão doce, tão sincera e tão perdida. Suas bochechas estavam vermelhas como se tivessem acabado de receber um beijo de Paolo. Aquela era a Ali que sabia amar e viver.
                Ela havia partido para sempre e agora só me restava aproveitar a liberdade de não se importar com ninguém. Eu era a dona de mim mesma. E ninguém me tiraria o que eu queria.
Escrito por StarGirlie.
Vigésimo Quarto Capítulo
Luisa




                Na segunda-feira de manhã, todos os alunos estavam atiçados. Aline havia divulgado por MSN que iria entregar os convites de sua festa logo que chegasse à escola. Havia poucos alunos que não queriam ser convidados e isso incluía apenas eu, Cecilia, Vinicius, Felipe e Lola.
                Bastou que Ali pisasse na entrada do colégio para que dezenas de alunos a cercassem, contrariando as regras de Hica, que na sexta-feira me libertara da função de espiã sem explicação nenhuma. Rolava o boato de que ela estava prestes a ser demitida. Mas isso não me importava mais. Eu havia denunciado Aline, Leonardo e Fábio, então estaria livre de qualquer maneira.
                Cecilia e Felipe estavam longe do tumulto da nova popular, conversando sobre o namoro dos dois. Eu havia passado o fim-de-semana inteiro tentando convencer o garoto de que minha melhor amiga estava sendo honesta com ele quando dizia que o amava. Sei que era errado mentir, mas não podia simplesmente dizer: hey, Fe, a Ceci só ficou com você porque o Vini me preferiu.
                Falando em Vinicius, o adolescente estava ainda mais isolado que o normal. Nem olhava para Cecilia como se vê-la fosse atiçar uma lembrança que ele queria esquecer. Só a ideia de minha BFF ter estragado o plano que tivemos tanto trabalho para realizar, agarrando o loiro, já me deixava irritada. Ela não podia ser tão tonta, podia?
                Mas de longe, a pessoa que mais havia mudado era Lola. Ela havia adotado um novo estilo, soltando seu cabelo e deixando em ondas tão perfeitas, que parecia que a ruivinha tinha acabado de sair de um desfile da Victoria’s Secret. Além disso, Lo agia como se nada tivesse acontecido. Acho que a subestimei acreditando que ela ficaria apenas chorando pelos cantos.
                Estava distraída observando o movimento, quando dedos finos tocaram meu ombro. Virei-me e me deparei com a pessoa que menos queria ver no momento. – Olá, Aline.
                -Oi, Luh! – percebi que a tonalidade de sua maquiagem havia mudado como normalmente acontece em novelas quando a vilã vira a “mocinha” – Eu vim aqui te convidar para minha festa.
                -Por que você está fazendo uma festa? – perguntei incisivamente, ainda segurando, indecisa, o convite. Ela só podia estar planejando algo. Ali não era a mesma que antes. Desta vez, minha ex-BFF não estava para brincadeira.
                Aline sorriu ainda mais. Era como se ela tentasse exalar uma bondade que não existia em seu coração. – Eu quero me enturmar e você sabe que não sou a melhor pessoa conversando – Ali agia como se ainda fossemos melhores amigos. Como se ela não tivesse tentado destruir minha vida. – Então, imaginei que uma festa poderia me ajudar!
                Cecilia, Felipe e Vinicius surgiram ao meu lado. Os três pareciam tensos de estarem reunidos. Maldito triângulo amoroso. Só deixava a situação mais desconfortável do que já era. Porém, enquanto os observava percebi que todos carregavam um convite da festa de Aline.
                -Bem, eu acho que seria ótimo ir a sua festa, Ali. Obrigada por me convidar – ouvi Ceci concordando animada e percebi que um plano estava se formando. Aline estava muito enganada se pensava que iria nos manipular usando uma festinha boba. Aquele evento iria por água abaixo.
                -Então, vejo vocês na sexta! Beijos! – e saiu saltitando, sendo seguida por todos os alunos desesperados pelos convites. Era como se ela tivesse se tornado uma nova Belle. Melhor: era como se ela tivesse se tornado uma nova eu.
                Virei-me para Cecilia e percebi, pela primeira vez, que ela usava um anel de compromisso. Felipe deveria ter lhe dado há alguns minutos. E aquilo pareceu deixar Vinicius ainda mais nervoso que o normal. Algo estava acontecendo na casa de Ceci e eu precisava saber.
                Mas tínhamos coisas mais importantes para tratar antes. –Então, como destruiremos o plano de Aline?
                -Bem, eu tenho algumas ideias e acho que será algo bem convincente – começou Vinicius. A cada palavra sua, eu, Ceci e Felipe ficávamos ainda mais chocados. Ele sabia muito bem ser malvado. E iria provar isso a Ali. A garota que há apenas alguns dias era sua namorada. A mesma garota que estava apaixonada por ele.
Escrito por StarGirlie.

Vigésimo Quinto Capítulo
Cecilia




                Eu não sabia o que fazer quando na madrugada de quarta para quinta-feira, o sono não veio. Estava enclausurada no meu quarto, já que não era seguro sair dele, podendo encontrar um Vinicius de cabelo bagunçado e pronto para dizer que me ama. Sei bem que, dessa vez, talvez não resistisse aos seus encantos.
                Mexer no computador ou ler eram banais demais para um horário daquele. Não era do tipo de garota que olhava as estrelas e imaginava uma vida. Eu gostaria de vivê-la de uma vez. Não queria ouvir música também nem assistir TV. Minhas opções estavam se esgotando quando alguém bateu na minha porta.
                Sem nem pensar, apenas disse: pode entrar. E ao ver quem era não pude deixar de me arrepender. Parado, lindo e loiro, na soleira da porta do meu quarto, no meio da noite, estava Vinicius McLean. Tive que me segurar para não arfar com aquela visão. Era como se o pecado estivesse me atacando diretamente.
                -Desculpa-me, Ceci – ele entrou no quarto, fechando a porta atrás de si – Mas não estava conseguindo dormir. Toda vez que fechava os olhos, via Aline rolando da escada dessa casa. Não sei de onde tirei isso, mas essa visão estava me deixando louco. E a única pessoa que poderia me acalmar... – Vini abaixou os olhos como se não soubesse se deveria mesmo dizer aquilo – Era você.
                Fiquei sem ar novamente e tive que reaprender a respirar para poder responder. – Eu também não consigo dormir. Acho que estou com medo do que vai acontecer na sexta. A contagem regressiva está diminuindo. E se tudo der errado... – comecei a me desesperar. Ninguém sabia sobre minha insegurança, mas parecia natural revelar tudo a Vinicius.
                Antes que eu pudesse detê-lo, ele estava sentado ao meu lado na cama, abraçando-me e levando todos os pensamentos ruins para longe. – Vai ficar tudo bem, ok, Cecilia? – meu coração deu um pulo. Eu adorava quando Vinicius me chamava pelo meu nome e não pelo apelido – Nós estamos juntos nessa. E nunca mais vou deixar aquela idiota te fazer algum mal.
                Lembrei-me da festa da Belle quando fui obrigada a ver os dois garotos que mais gostava bajulando Aline. Aquilo havia sido uma facada nas costas. Não apenas uma. Duas. Mas, no fim, eu retribuí. Naquela noite, beijei Paolo.
                Deitei minha cabeça em seu peito e tentei não pensar em como seu abraço era delicioso. Era como se o mundo acabasse a cada toque seu. Depois de um tempo de silêncio, decidi falar a coisa que menos me atormentava. – Minha mãe me mataria se nos encontrasse assim. E te expulsaria de casa.
                Vinicius riu de forma doce, a minha favorita. Aquele sorrisinho tímido sem mostrar os dentes era um jeito de retribuir o meu próprio. Era incrível como ele era parecido comigo. – Eu sei, mas não vou sair daqui não. Ao menos que você queira, é claro.
                Aconcheguei-me ainda mais em seus braços, fazendo-o dar sua risadinha costumeira. – Acho que isso é não – Olhei para seus lábios, enquanto tentava não beijá-los. É, ô lógica.
                -Um não bem sonoro – completei, sem nem conseguir disfarçar as segundas, terceiras, quartas, quintas e sextas intenções que surgiam em mim. Eu queria beijá-lo ali e agora. Mas não podia. É claro que não podia trair Felipe novamente.
                Só que enquanto aqueles olhos verdes me encaravam, um beijo parecia a única racional a ser feita naquele momento. Porém, felizmente, Vini gostava de conversar. – Por que você ainda está com Felipe? Eu sei que você não é louca por ele. Nunca foi. Ele sempre foi sua segunda opção.
                Apesar de ser um comentário convencido, naquele momento Vinicius não estava se achando. Ele tinha razão. Felipe sempre foi nada mais que o garoto que usei para me vingar da Primeira Traição de Vini. E depois fiz o mesmo com Paolo. Pensar daquele jeito só fazia me sentir ainda pior.
                -Porque eu não posso perdê-lo e nós dois sabemos bem que se ele não estiver comigo, estará no Time de Aline. Júlia está do lado do mal e eles são irmãos. A única coisa que prende Felipe ao lado certo da força é...
                -O namoro de vocês – disse Vinicius, percebendo, pela primeira vez, que eu não estava o traindo. Meu relacionamento de Felipe sempre andará por si só, mas, desde que a aliança de Ju, Leo, Fábio e Ali foi criada, até mesmo ele começou a ser manipulado pela circunstância. E, para ser bem sincera, por Luisa.
                O silêncio estava tão aconchegante que nem percebi a chegada do sono. Minha última visão foi de Vini sorrindo e dizendo: boa noite, minha pequena Bela Adormecida. Seus dedos tiraram a franja de meu rosto e nos cobriram com meu edredom. Depois disso, meus olhos se fecharam.
                Só acordei quando ouvi os gritos. Não eram gritos de desespero, dor ou agonia. Eram gritos de fúria. E vindos da garganta de minha mãe. – SEUS IRRESPONSÁVEIS, EU NÃO ACREDITO NO QUE ESTOU VENDO.
                É, acho que a festa do dia seguinte seria apenas o menor dos meus problemas.

Escrito por StarGirlie.
Vigésimo Sexto Capítulo
Aline



                Joguei-me na minha carteira na sala. Minha vontade era pular dela e sair correndo pelos corredores. Estava preocupada com a história que corria pelo colégio. O mais novo boato era que Cecilia e Vinicius haviam sido pegos na cama dela durante essa madrugada e o ciúmes me consumia. Não era possível que eles já estivessem dormindo juntos, certo?
                Felipe parecia altamente alterado quando o encontrei conversando com Luisa mais tarde na hora do intervalo. Os protagonistas da nova fofoca haviam faltado e nenhum dos dois atendia ao telefone. Além disso, Paulo, o ex-BFF de Vinicius, estava espalhando para o colégio inteiro que seu “amigo” perdera a virgindade com a Cecilia.
                Era claro que aquilo era uma mentira. Primeiro, porque Vini era do tipo que só dormiria com a garota que fosse sua namorada e Ceci era a de Felipe. Segundo, pois Paulo nem era próximo o suficiente para que Vinicius lhe contasse algo assim. Na verdade, acho que meu ex não dava essa intimidade a ninguém.
                Quando Leo, Fábio e Jú se aproximaram de mim para contar as novidades, me senti um pouco nervosa. Todos estavam animados para falar mal do novo casal, mas, no fundo, eu não queria prejudicar Vinicius. Ele era um garoto super gente boa e, além de tudo, bonito. Muito bonito, para falar a verdade. E o pior de tudo, é que eu havia me apaixonado por ele.
                -Eles não dormiram juntos ainda. A mãe de Cecilia estava surtando quando passei pela casa dela hoje de manhã. As malas de Vinicius estavam jogadas por toda a rua e Ceci chorava sem parar. Acho que ele passará a noite na rua ou irá embora – aquele comentário atingiu meu peito em cheio. Júlia parecia não perceber que eu me importava com meu ex-namorado.
                -Duvido que a Cecilia volte para esse colégio. Ela conseguirá encarar Felipe depois de passar a noite dormindo abraçada com Vinicius? Mesmo que não tenha rolado nada, acho que foi uma espécie de traição – Fábio completou. Ele parecia irritado, mas percebi que aquilo se tratava apenas pelo seu desejo por Ceci.
                -Olha quem fala – disse a renovada Lola surgindo em nossa frente. Ela parecia tão mais poderosa agora que não tinha mais vergonha de comentários. Como as pessoas podem mudar tão rapidamente? – O garoto que não deve ser mais virgem desde o que... Seis anos?
                Fábio se levantou bufando. Percebi que aquilo não causou nem um arrepio em Lola. Era como se aquele namoro dos dois tivesse sido apenas uma peça em seu joguinho. Será que havíamos nos enganado tanto com a amiga ruiva de Cecilia? – Melhor não ser virgem novo do que ser uma encalhada eterna.
                Lola deu aquela risada adorável que apenas meninas vingativas conseguem dar. – E você adorou passar horas beijando a encalhada né? Acho que seu gosto está decaindo então, fofo.
                Sem nem se despedir, Lola saiu andando com uma calma irritante. Logo percebi que uns sete meninos vieram lhe assediar. Ela havia se tornado a carne fresca do colégio. Era estranho ver a santa se tornando aquela com quem todos queriam sair. – O que eu fiz? – resmungou Fábio se jogando no banco ao meu lado.
                -Você a transformou numa perfeita Popular. Como aconteceu com Aline depois da desconfiança sobre Luisa, e com Cecilia depois que ela viu que Vinicius só tinha olhos para Luh. Cada ação de vocês está desencadeando um problema ainda maior. Não precisamos de uma nova inimiga, se já não perceberam – disse Leo. Pior que o mauricinho tinha razão. Estávamos em sérios problemas. Ceci e Lola eram oponentes muito fortes.
                Mas, pelo lado bom, nosso plano estava dando certo. Nossa aliada secreta estava fazendo tudo conforme nossos perdidos. Provavelmente, quando a festa começasse, Cecilia, Felipe e Vinicius nem saberiam de onde veio o golpe que os tiraria do trono de Populares. Seria uma queda livre. E eu, Fábio e Leo tomaríamos seus lugares.
                Naquele fim de tarde, tive a vontade louca de ligar para Vini e perguntar onde ele passaria a noite, mas não podia. Ele nem me atenderia. Só me restava esperar o dia seguinte e saber se meu ex iria ao colégio. Ou a minha festa.
                Foi nesse momento de distração que acabei encontrando uma notícia na Internet que me tirou o fôlego. Diretora de colégio é demitida depois de obrigar alunos a não se relacionarem entre salas. Aquilo só podia significar uma coisa: Hica estava fora do jogo. E apenas um professor podia substituí-la.
                Paolo seria o meu novo pesadelo. E não podia acreditar nisso.
Escrito por StarGirlie.

Vigésimo Sétimo Capítulo
Luisa



                Estava me sentindo muito mal quando acordei na manhã do dia da festa de Aline. Era como se o peso da mentira estivesse atormentando meus ombros. Eu estava enganando minha melhor amiga e de uma forma que nunca pensei que poderia fazer. Nem mesmo a antiga Luisa era capaz daquilo.
                Desci para tomar café, mas acabei encontrando a cozinha cheia. Já fazia tempo desde que via meus pais, porém, eles nem pareceram se importar com minha presença. Optei por fugi dali com um pedaço de bolo de chocolate e corri para o jardim, ainda de pijama.
                O sol estava ainda nascendo e a maior parte do terreno ainda estava num escuro sombrio. Senti-me ainda mais solitária do que no dia anterior quando Cecilia faltou ao colégio. Mesmo com a presença de Felipe, parecia que estava sozinha. Ele tentava, aparentemente, não dizer nada que pudesse me magoar. Como se eu fosse puxar uma faca e cortar meus pulsos ali. Na frente dele.
                Além disso, saber que meus pais nem se importavam em me abraçar, em dizer um bom dia, rasgava meu peito. Eles eram as pessoas mais importantes para mim. E eu nem mesmo significava nada para ambos. Era como se apenas Daniele fosse a única filha que tinham.
                Enquanto pensava em como minha vida podia piorar ainda mais, minha irmã sentou-se ao meu lado. Ela também não parecia feliz. – O que houve, Dani? – preparei-me para uma resposta mal-educada, mas a jovem de cabelos pretos fez o contrário.
                -Estou com saudades da infância – quando percebeu meu rosto confuso, Daniele riu e continuou – De quando nossos pais eram obrigados a falar com a gente, a nos ensinar a comer, a tudo isso. Agora eles podem passar meses sem nem perguntar se estamos saudáveis.
                Apenas deixei que as lágrimas que queria tanto liberar caíssem. Dani fez o mesmo. Por um momento, éramos duas crianças novamente. Duas crianças que viam seus pais se afastando cada vez mais.
                -Desculpa não ter ido ao hospital te ver – disse Daniele, atraindo totalmente me atenção. Ela nunca fora sentimental comigo. Normalmente, a gente se odiava. Era como se os problemas com nossos pais tivessem refletido em toda a família Coral.
                -Eu... Eu entendo. Nós nunca fomos muito próximas... – Daniele me interrompeu. – Mas sou sua irmã mais velha. Estou aqui para te proteger e o tempo todo só pioro as coisas.
                Deixei que minha cabeça caísse sobre seu ombro enquanto ela me abraçava. E, pela primeira vez em anos, me senti feliz em estar em casa. Longe da maldade de Aline, da rejeição de Felipe. Finalmente, estava perto do amor de Daniele. Da minha irmã mais velha, que nunca se importou comigo.
                -Nunca mais faça aquilo, ok? Eu não quero que você termine assim – então, Dani mostrou seus pulsos. Nele havia cicatrizes enormes e assustadoras. Ela também havia se cortado. Também sofrera tudo que passei. E nunca tentou mostrar isso a ninguém. Sempre escondeu. Sempre agiu como se fosse a Bad Girl que não tinha sentimentos.
                Dessa vez, fui eu que a abracei com toda minha força. Daniele nunca fora diferente de mim. Ambas escondemos nossa dor até não haver mais jeito. Porém, era hora de acabarmos com isso. Nossos pais tinham que perceber que não éramos decorações em sua casa bonita.
                -Eles precisam saber – afirmei e logo minha irmã concordou. Porém, um sorriso bobo surgiu em seus lábios. Temi que tudo aquilo fosse uma encenação e que meu amor por ela fosse apenas usado como alvo de piada. Felizmente, seu sorrisinho vinha de um motivo bem mais agradável:
                -Sim, mas antes temos algo bem mais importante para resolver – olhei-a confusa e Dani apenas sorriu – Temos que comprar o vestido que você vai usar na festa de Aline hoje.
                -Como você sabe... – Sabendo, maninha. Agora vamos. Hoje você vai faltar na aula e nós vamos te transformar na estrela da festa.
                -Mas... – Mas nada.
                Quando entramos em seu carro, vinte minutos depois, fiquei extremamente feliz. Estava me afastando do controle de meus pais e ganhando a amizade de Daniele. Aquilo era uma escolha perigosa. Mas também muito mais divertida.
Escrito por StarGirlie.

Vigésimo Oitavo Capítulo
Cecilia



                Estava pronta para a festa. Meus dedos tremiam com a ideia de sair de casa escondida. Felizmente, a base disfarçara as manchas vermelhas de meu rosto depois de tanta choradeira. O motivo é bem simples: Vinicius fora jogado de mala e cunha na rua. Tive que vê-lo buscando abrigo na casa de Paulo, enquanto seus pais decidiam o que iriam fazer.
                Além disso, eu fora colocada de castigo e todos os meus aparelhos eletrônicos, confiscados. Estava em uma prisão feita por minha mãe, mas decidi que não iria obedecer suas ordens. Tinha um compromisso sério na festa de Aline. E não podia perder.
                Em torno das 22 horas, chequei se minha mãe estava mesmo dormindo e aproveitei a condição de “filha adolescente trancada no quarto com muita raiva”. Tentei encontrar meu celular, mas não adiantava muita coisa. Uma hora dessas, Vinicius não responderia mesmo. Ele nunca teria coragem.
                Aproximando-me da janela, alcancei a escada lateral e me pendurei ali. Não tinha motivo para levar uma bolsa, então apenas tive que tomar o cuidado de um de meus saltos não despencar no chão. A brisa estava quente e agradeci por não estar chovendo.
                Alcancei minha bicicleta e comecei a pedalar pela rua, mesmo sabendo que estava me metendo numa situação muito perigosa. Além de ser noite e eu estar vestida com uma roupa curta, teria que enfrentar um caminho de uns quinze minutos até a casa de Aline.
                Logo que comecei a avistar a mansão de Ali, percebi que muita gente mesmo fora convidada. Lá estava Belle em um lindo vestido vermelho conversando com Paulo. Fábio, Júlia e Leonardo riam animadamente em um canto afastado. Felipe conversava com Luisa calmamente. E... Vinicius não estava ali. Pude perceber isso apenas pelos batimentos de meu coração.
                Meu namorado logo me avistou e correu para me abraçar. Coloquei a bicicleta na garagem da casa de Aline, finalmente me livrando daquele peso. Era bom sentir a pele de Felipe ao meu redor, o calor de seu corpo percorrendo para o meu. – Você conseguiu vir!
                -Claro que consegui – respondi sorrindo e dando-lhe um beijo. Afastamo-nos rindo, enquanto Fe me virava para me observar melhor. Era claro que eu estava mais bem-arrumada que as outras meninas mesmo tendo chegado de bicicleta.
                Felipe me puxou para mais perto novamente e uniu nossas bocas novamente. Ele estava estonteante. E, pela primeira vez em semanas, quando nos abraçamos não o comparei com Vinicius.
                A música estava alta. Não sabia quem cantava, mas adorei o ritmo. Peguei o braço de meu namorado e, com a melhor carinha doce que possuía, pedi – Por favor, vamos dançar?
                Comecei a rir, enquanto ele me colocava em seus braços e me levava para o meio da pista. Todos os meninos da festa pareciam ver em mim um grande objeto de atração. Aquilo normalmente acontecia na escola, mas achei que na festa de Aline, a atenção seria tirada de mim.
                A verdade é que enquanto dançava com meu namorado, ria dos olhares curiosos e me divertia, a imagem de Vinicius não passou nenhuma vez em minha mente. Era difícil assumir aquilo, mas antes de ser a garota que se apaixonara por ele, eu era a Estrela. Sempre fui o centro das atenções e amava aquilo. Não era um cargo, era uma benção.
                O grito de pânico vindo do alto da escada atraiu nossa atenção. Eu, Felipe e Luisa nos unimos imediatamente como se um ímã nos atraísse. Esperávamos aquele som apenas quando Vinicius chegasse à festa, mas ele não estava em lugar nenhum. O que significava uma coisa: nosso plano dera muito errado.
                No alto da escada de onde Aline devia descer, pendia duas bonecas enforcadas. O pânico percorreu meu corpo enquanto reconhecia quem elas eram. Uma tinha os cabelos loiros mais claros que já havia visto. A outra parecia ter um véu negro cobrindo sua cabeça. As duas tinham cortes em seus pescoços.
                Ali estava parada em estado choque em frente àquela cena. Ela não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Esse não era o plano de Vinicius. Pelo menos, não a parte que incluía o sangue falso e todo o drama da outra boneca.
                Senti o corpo de Luisa ceder em minhas mãos, mas, antes de meu grito e de seu desmaio, pude escutar sua voz me dizendo: Ela nos traiu. Naquele breve segundo, a imagem da traidora lampejou em minha mente, mas sumiu logo depois, sem que eu pudesse compreendê-la.
                A pior traição viria do ponto mais inesperado. E eu não estava preparada para isso.
Escrito por StarGirlie.
Vigésimo Nono Capítulo
Vinicius




                Senti meu coração doer enquanto observava Cecilia chegando à festa. Eu estava longe o suficiente para ninguém me ver, inclusive a garota de cabelos castanhos. Ela parecia pronta para destruir milhares de corações e me magoou perceber que seus olhos nem tentaram me procurar.
                Observar todo o movimento estava me dando uma ótima vantagem. Percebi que Luisa conseguia pular de grupo em grupo de amigos, sempre observando Felipe. Era como se seu olhar fosse atraído automaticamente para o do namorado de Cecilia.
                Fábio e Júlia já estavam bebendo sem parar antes mesmo que a primeira hora de festa terminasse. Mas isso não era surpresa alguma: eles eram os rebeldes sem causa mesmo. O estranho era o fato de que não havia mais nenhuma atração entre os dois. E olha que eles haviam namorado apenas alguns meses antes.
                Lola estava rodeada de meninos, como era comum agora em sua nova fase. Ela nem parecia se importar com a falta de amigas. Cecilia já lhe bastava, não precisava de mais nenhuma companhia. Mas ainda assim era curioso observar o modo como mudara então pouco tempo. O que um babaca pode fazer a uma menina, não é?
                Meu ex-melhor amigo Paulo corria de um lado a procura de uma garota com quem ficar. As opções eram poucas, apesar de que agora não havia mais as normas do colégio impedindo as salas de se relacionarem. Ele quase conseguira algo com Belle, porém, ela teve um lampejo de sanidade antes de fazer algo de que iria se arrepender.
                Leonardo, o aliado de Aline, parecia filmar cada momento da festa com sua câmera. Sabia que aquilo provavelmente seria usado contra todos nós, mas decidi não interferir. Não podia sair do meu esconderijo. Ninguém nunca mais confiaria em mim.
                Entretanto, nenhum deles me chamou tanta atenção quanto o casal formado por Cecilia e Felipe. Os dois pareciam em uma total sintonia com seus cabelos e olhos escuros, as roupas levemente combinando, os corpos se movendo ao mesmo tempo. Não os via assim desde aquele primeiro encontro em que fui obrigado a assistir o beijo inicial do namoro.
                Bem, dessa vez foi muito pior. Ceci e Felipe pareciam precisar se agarrar. De dois em dois minutos, um novo beijo era iniciado e eu tinha que observar tudo sem fazer nada. Pelo menos, naquele dia pude interferir e mostrar minha raiva, apesar de que naquela época ainda não sabia exatamente o que sentia sobre a nova aluna.
                Depois de uma hora de dança, abraços e carinhos de Cecilia com outro garoto, meu coração estava despedaçado. Em momento algum, ela olhou ao redor a minha procura ou pareceu hesitar em beijar Felipe. A garota de cabelos castanhos parecia agir simplesmente com sua alma. E isso me excluía de sua vida.
                Sei que a culpa foi toda minha. Quando Cecilia era apaixonada por mim, eu meramente persegui Luisa. Para mim, ela era a garota mais linda do mundo e não suportava passar um dia sem pensar em seu sorriso. Era como se o Destino estivesse pregando uma peça comigo: colocando a menina mais incrível na minha frente e me fazendo ficar distraído com uma Popular Má.
                Tudo bem, eu não podia culpar o Destino. A culpa era totalmente minha. Mesmo ao perceber que estava totalmente apaixonado por Ceci, ainda tive a capacidade de começar a namorar Aline, a ex-melhor amiga de Luisa e ainda a pior inimiga da minha amada. Fui um total imbecil.  
                E durante todo esse tempo, Felipe aproveitava a vida de namorado que tinha com Cecilia. Os dois eram ligados da forma mais pura e pareciam ter sido feitos um para o outro. A cada dia, o casal se fortalecia e era quase impossível imaginá-los separados.
                Imagino como teria sido se nunca tivesse feito Ceci sofrer. Se desde o começo, tivesse sido o garoto que ela merecia. Mas não fui. Eu fui um babaca da pior espécie. E agora pagaria para sempre as consequências de meu ato.
                Foi então que escutei o grito e soube que a boneca tinha sido descoberta. A voz pertencia a Aline, mas vi Luisa desmaiando também. Algo estava errado nisso. O plano era que apenas Ali acabasse mal, então por que sua ex-melhor amiga estava caída nos braços de Ceci?
                Sem que eu escutasse, uma pessoa se aproximou de mim. Sua mão segurou meu ombro e me virei de imediato. O choque percorreu meu corpo enquanto via o rosto que estava em minha frente. – Então, agora você dorme na casa da Aline? De Cecilia a Ali em uma noite? Do Céu ao Inferno em um pulo? Estou c-h-o-c-a-d-a com você, Vinicius!
                Não precisei nem de uma explicação: a pessoa que estava me encarando era quem atrapalhara o plano. Ela era quem colocara a boneca enforcada de Luisa pendurada. E, pelo visto, aquele era apenas o começo de sua própria vingança.
Escrito por StarGirlie.
Trigésimo Capítulo
Luisa




                Sinceramente, eu já estava me acostumando em ser o ponto fraco. Vivia desmaiando, chorando, enquanto todo mundo estava vivendo suas vidas com a maior força de vontade possível. Porém, ficar inconsciente no meio da festa de Aline foi a gota d’água.
                Felizmente, minha “ausência” durou apenas alguns minutos e quando acordei ex-melhor amiga ainda estava estática na escada. Percebi que lágrimas caíam de seus olhos. Ela parecia em estado de choque, mas algo me dizia que aquilo não estava sendo totalmente natural.
                Ouvi Cecilia arfar e exclamar, extasiada. - Luh! Você acordou! – Mas eu nem conseguia prestar atenção em sua voz, só conseguia imaginar como Ali devia estar se sentindo sozinha em frente de toda aquela multidão. Sofrendo tanto quanto eu. Ela podia não ser mais minha amiga, mas um dia fora e isso já era suficiente.
                Entretanto, quando ia me levantar para ajudá-la, Felipe segurou meus ombros e me puxou para os seus braços. Senti-me nervosa. Nunca fomos de muitos abraços quando éramos melhores amigos e agora que ele era o namorado de Cecilia, eu tinha que tomar um cuidado imenso para não me apaixonar ainda mais.
                Felizmente, Ceci parecia se importar comigo, tanto que se levantou e foi até Aline. Quando ela a abraçou, percebi que as duas, pela primeira vez, estavam no mesmo “nível”. Tristes, bonitas e separadas do mesmo garoto, Vinicius. Tudo bem que Ali fora chutada por ele, mas nem minha BFF poderia ficar com o loiro.
                Olhei para a casa de Aline, pensando em como passávamos as tardes nos divertindo. Éramos como irmãs e, por causa de Hica, tudo acabara. Onde estaríamos agora, se naquele dia em que tentei atropelar Cecilia, ao invés de ter feito isso tivesse chegado adiantada ao colégio como sempre?
                Então, vi o vulto na janela perto da escada. Não era apenas um vulto, eram dois. Uma das luzes do jardim iluminou o local exatamente no momento, como se o Destino quisesse que eu descobrisse quem estava ali. A descoberta não podia ser mais chocante.
                No quarto de hóspedes, estavam Vinicius e Lola conversando. Não, eles não estavam conversando. Estavam discutindo, brigando. O ex de Aline parecia muito estressado, enquanto Lola ria sem parar. Tudo estava errado naquela cena.
                Primeiro: o que Vinicius estava fazendo dentro da casa de sua ex-namorada? Será possível que os dois reataram? Será que ele está morando ali agora que a mãe de Cecilia o expulsou de casa? Segundo: por que Lola estava rindo? E por que ela parecia tão menos angelical do que o normal? Será que ela está agindo com Aline?
                -Vamos, Luh – disse Felipe, me tirando de meus devaneios e me carregando para longe da festa. Coloquei meu rosto em seu peito, flutuando para longe de todos aqueles problemas. Não queria ver Aline e Cecilia tristes. As duas eram tão parecidas e tão diferentes ao mesmo tempo.
                Fiquei feliz quando Fe chamou um táxi e me acomodou delicadamente no banco de trás. Ele, apesar de tudo, parecia se importar comigo. – Você está bem? – perguntou, enquanto se sentava ao meu lado. O taxista começou a dirigir para a minha casa.
                -Sim, eu só... Fiquei assustada quando me vi enforcada. Você sabe... Já tenho o problema com meus pulsos, nunca pensei em me ver daquele jeito – encolhi-me automaticamente. Era difícil assumir que tinha medo de tentar me suicidar novamente. Vivia tanto em uma corda bamba que nem sabia quando iria desistir de tudo.
                Felipe olhou para o céu cheio de estrelas, como se tentasse me entender. Ele era alguém muito mais forte que eu. Nunca iria tentar se matar. Nunca iria deixar que seu grande amor partisse. – Você vai ficar bem, Luisa. Eu tenho certeza. Eu confio em você mais do que qualquer pessoa – sua mão segurou a minha.
                Enquanto encarava aqueles olhos castanhos, imaginei de que modo Cecilia conseguia enxergar Vinicius. Ele podia ser lindo, fofo, um príncipe, mas Felipe a amava. Será que ela não entendia como um garoto como esse era raro?
                O táxi parou na porta de minha casa e paguei a corrida, não deixando que Fe me bancasse. Ele se ofereceu para me carregar até que estivesse dentro de meu quarto, mas recusei o convite educadamente. Eu já não estava mais tão fraca e conseguiria caminhar normalmente.
                Quando cheguei a soleira da porta, não resisti e me virei. O táxi ainda estava parado e Felipe me encarava. Seus olhos brilhavam, um sorriso tímido estava em seus lábios. Murmurei um “obrigada” e girei a maçaneta, entrando em minha casa.
                Fechei a porta e me joguei no chão. Agora sabia por que não conseguia entender a dúvida de Cecilia entre Felipe e Vinicius: eu amava realmente meu melhor amigo.
Escrito por StarGirlie.
Trigésimo Primeiro Capítulo
Cecilia



                Eu poderia começar o meu relato, contando como foi consolar Aline, minha pior inimiga, ver meu namorado me abandonar sozinha na festa para levar sua melhor amiga para casa, e levar uma bronca definitiva da minha mãe. Mas seria uma desgraça atrás da outra e preferi pular para a segunda-feira depois desse fim de semana catastrófico.
                Bem, logo que acordei para ir ao colégio, percebi que não conversara nem com Felipe, Luisa ou Vinicius no sábado e no domingo. Depois que cada um me traíra de uma maneira diferente (Fe e Luh com a saída repentina e Vini não aparecendo na festa), decidi que nenhum deles merecia minha companhia. Além disso, eu estava de castigo.
                Apesar disso, minha mãe me deixara convidar Lola para passar os dias comigo. Minha amiga mudara muito desde o começo das aulas, mas continuava a ser a melhor pessoa para conversar. Discutimos sobre como os garotos da nossa escola estavam ficando mais bonitos, como as provas estavam terríveis e se um dia chegaríamos a reprovar de ano. Essa possibilidade era impossível, porém, adorávamos fingir que isso podia acontecer a qualquer minuto. Podíamos ser da 9º1ª, mas ainda éramos adolescentes.
                Além de fofocar, Lola resolveu fazer uma mudança de visual em mim. Não, eu não pintei meu cabelo de loiro ou ruivo. Apenas tirei aquele liso tão comum e aprendi a deixá-lo cacheado. Ela diz que me dar um ar mais poderoso. Espero que tenha razão, se não 50 minutos por dia seriam desperdiçados.
                Vesti o uniforme, arrumei meu cabelo e, depois de 1h30min, estava pronta. Sabia que não tinha sentido nenhum se arrumar tanto se as únicas pessoas que me importavam nem pareciam ligar para mim. Mas como minha mãe sempre disse: você não se arruma para os outros, se arruma para si mesma.
                Quando deu meu horário, subi em minha bicicleta e fui para o colégio. Percebi como aquilo era uma alusão ao primeiro dia de aula de Março. Naquele dia, eu estava com pressa e descobri no caminho que Vinicius e Felipe estavam encrencados por brigarem por mim.
                Hoje, eu estava sozinha e com calma, até que meu celular tocou. E esse telefonema não esperava receber. – Alô? – perguntei, colocando a ligação no viva-voz.
                -Oi, Ceci. Sou eu, a Aline. Você está muito ocupada? – sua voz era tão doce e natural, que me perguntei como ela conseguia ser tão boa atriz. Para algum desconhecido, a maldosa podia ser eu. Ou Luisa.
                -Só estou indo para o colégio. Por quê? Aconteceu alguma coisa? – virei à esquina, decidindo me enrolar antes de chegar à escola. Queria ver até onde a atuação de Ali iria.
                -Eu só queria agradecer – ela hesitou, como se quisesse dizer algo, mas tivesse vergonha – E queria me desculpar pelo seu... Amigo.
                Parei na rua. De que amigo ela poderia estar falando? Felipe era meu namorado e eu não tinha nenhum amigo no colégio, a não ser... – De quem você está falando?
                -De Vinicius, ora! Depois que ele foi expulso da sua casa, os pais dele contataram os meus e, como já fomos namorados e tudo mais, acharam que seria ótimo a nossa oferta! – sabia que sob aquela máscara de felicidade inocente, Aline estava comemorando poder me humilhar. Ele me ignorara todo aquele tempo, porque estava com ela.
                Recomecei a pedalar, tentando me acalmar como naquele dia. Porém, dessa vez, a minha raiva seria canalizada. E não seria numa mera atividade física. – Ah, tudo bem. É bom saber que ele não dormiu na rua – dei uma risada, que até pareceu natural.
                Enquanto adentrava no ambiente escolar, senti algo parar minha bicicleta. Freei desesperadamente, mesmo sabendo que essa ação era inútil. Gritei durante minha queda até o chão e nem me importei com a ideia de que Aline estava escutando tudo.
                Minhas pernas doíam e os sentimentos me corroíam. Amor, sofrimento, traição, ciúmes, amizade, raiva e muita dor. Mas o pior de tudo não era nada disso. Era ver quem estava pendurando a placa “Proibida a entrada de bicicletas” no portão do colégio.
                Quando a pessoa se virou, percebi que todos os momentos que vivemos juntos estavam deletados. Ele ganhara outra função e nunca mais seria gentil comigo. Mais um para a lista, grande novidade.
                -Acho que você vai ter que se atrasar um pouco, srta. Graham – disse Paolo, enquanto se virava e me deixava caída no chão, me arrependendo do dia em que decidi entrar naquele colégio.
                Não sei o que me fez lembrar que Aline ainda estava no telefone. Talvez tenha sido o mínimo ruído a minha distância. Ou a cabeça loira surgindo em uma das salas do primeiro andar. Só sei que um minuto depois eu estava fazendo a escolha mais errada da minha vida.
                A escolha pelo qual me arrependeria para sempre.
                Escrito por StarGirlie.
Trigésimo Segundo Capítulo
Aline


                Talvez a ideia de ter ligado para Cecilia não tivesse sido ruim. Tudo bem que não fora lá um grande processo. A garota estava cheia de condições e “poréns”, mas eu aguentaria tudo para que meu plano contra Luisa fosse bem-sucedida. Mesmo que isso me obrigasse a me unir contra minha segunda pior inimiga.
                Enquanto subia as escadas para minha sala, acabei tropeçando em alguém. Desculpei-me apressadamente, mas parece que a pessoa não estava disposta a ser educada. – Ora, ora, a Loira Louca atrasada – meu sorriso sumiu imediatamente. Quem fazia a piadinha era minha ex-paixão platônica, Paolo.
                -Olá, diretor Paolo – respondi, controlando meus instintos para chamá-lo apenas pelo primeiro nome e rir de sua beleza tão presente. Aquele ali não era mais o nosso professor de Português como eu também não era mais a aluna tímida que mentia para fugir das aulas.
                Paolo examinou o perímetro, dando uma bronca aqui outra ali, antes de finalmente voltar sua atenção a mim. – Posso saber por que a senhorita está – ele checou o relógio – quinze minutos atrasada?
                Eu sabia mentir muito melhor que isso, mas parecia-me um esforço inútil tentar lutar contra a má educação que o novo diretor exalava. Já havia visto o que ele fizera com Cecilia alguns minutos atrás. Deixá-la machucada foi a gota d’água. – Problemas femininos.
                 Ele deu uma risada, que, por um breve momento, recuperou aqueles momentos antigos. Meu coração parou. Paolo ainda tinha o olhar mais lindo de todos e, sob toda aquela nova maldade, ainda era o mesmo. – Está bem, hoje eu deixo passar isso. Mas você sabe que agora não é mais importante que ninguém.
                -Está bem – respondi com a carinha de santa mais doce que arranjei. O meu plano de ser a Boa Aline ainda não havia acabado. Na verdade, estava apenas começando. E Paolo seria um ótimo teste para saber se funcionava.
                Aproximei-me de minha sala quando ele segurou minha mão. Seus olhos escuros, sua pele clara, suas bochechas rosadas, seus cachos castanhos: tudo se destacava em minha mente. – Lembre-se, Ali: você ainda está aí em algum lugar. Não se perca.
                Corei, percebendo que meu amor por Paolo nunca acabara. Não importava o quanto ficasse com Vinicius ou quanto me divertisse com qualquer outro. Meu ex-professor de Português era o único capaz de me fazer feliz.
                -E agora, vai lá. Não vai querer conhecer a nova professora que vai me substituir? – meu queixo caiu. Tinha me esquecido que não seria mais o lindo professor que ensinaria transitividade verbal e todas aquelas parafernálias, que enchiam meu caderno.
                Afastei-me de seu toque. – Sim, sim. Estou muito ansiosa! – segurei a maçaneta da porta e tentei não imaginar como estaria o rosto de quem amava. Paolo era capaz de me fazer desistir de todo o plano maligno. Eu só queria poder estar em seus braços, escutar sua voz em meu ouvido. Só queria ser amada.
                Dei três batidinhas na porta e me surpreendi quando uma mulher de cabelos castanhos, um tanto ruivos, a abriu para mim. – Bom dia, srta... Wodi, certo? – confirmei com a cabeça – Ouvi falar bastante de você. Meu nome é Melissa.
                Cumprimentei-a e corri para meu lugar. Cecilia parecia nervosa do outro lado da sala. Algo me dizia que ela conhecia aquela mulher. Será possível que fossem parentes? Ou será que era apenas uma ex-professora? Acreditava que os dois palpites estavam errados.
                Apesar de meu plano de ser boazinha continuar, ele não incluía a proibição do uso de celulares na sala. Minha mãe estava pouco se lixando para isso e me manter informada dos acontecimentos do colégio era uma dianteira que eu precisava bastante ultimamente.
                Enquanto a professora tentava recuperar a matéria que se atrasou com a saída de Paolo, decidi perguntar a Cecilia quem era aquela mulher. Podia muito bem pedir para Vinicius, que estava entre nós duas, para que passasse um bilhete. Mas as mensagens claramente eram um meio mais rápido. E mais privado.
                “Qm é essa?” mandei para minha nova aliada, pensando se a garota teria coragem de responder uma mensagem minha em frente ao seu Amor e a nova professora. Quando meu celular vibrou, percebi que subestimei demais Ceci.
                “A mãe de meu melhor amigo” dizia a resposta, mas, antes que me decepcionasse, outras duas chegaram. “Que morava a quilômetros daqui”. “E que é a ex-mulher de Paolo”.
                O ar faltou em meus pulmões. Paolo havia se casado? Ele tinha tido um filho com aquela mulher que agora seria minha professora? Será possível que além de ter arranjado uma nova pessoa para ensinar Português, meu amado teria arranjado uma nova concorrente para mim?
                Bastou um olhar daquela mulher de cabelos castanhos para que a resposta viesse: sim, uma nova rival havia entrado no jogo.

Escrito por StarGirlie.

Trigésimo Terceiro Capítulo
Luisa




                Deitei em minha cama, pensando em tudo que ocorrera nos últimos dias. Tá, a verdade era que eu só estava lembrando de uma coisa. Uma única coisa que mudara minha semana e de qual me arrependia, apesar de tudo.  Mas para explicar isso, nada melhor do que voltar ao momento em que tudo começou.
                Cecilia andava muito estranha, sem falar comigo, Felipe ou Vinicius. Lola nos dissera que ela estava chateada por nossas ações na festa de Aline e que provavelmente isso iria passar. Mas eu não confiava mais na ruiva nem no loiro: os dois estavam escondendo que se encontraram dentro da casa de Ali.
                O clima no colégio estava tenso. Paolo havia se tornado o mais novo carrasco e passava a maior parte de seu tempo atormentando cada aluno que se destacava. Cecilia, a garota mais bonita e bem inteligente, recebia bilhetes ameaçadores que diziam que “se houvesse mais um beijo com Felipe no colégio, ela seria expulsa”. Isso sendo que minha BFF não estava beijando Fe em momento algum.
                Já Felipe era lembrado por causa dos esportes, o que fez com que Paolo o proibisse de ingressar em qualquer um dos times do colégio. Segundo o novo diretor, aquela era uma medida para evitar o cansaço do “aluno”.
                Vinicius, o príncipe da escola desde que as regras que impediam o relacionamento entre salas acabaram, estava temporariamente afastado da 9º1ª com a desculpa de que ele estava atrapalhando o rendimento de alunas dali. Eu sabia claramente que se tratava de Cecilia e a Aline, as favoritas de Paolo.
                Bem, Ali era a que menos sofria do grupinho dos principais. Ela era a vilã e todos esperavam que fosse punida por todos seus atos. E-r-r-a-d-o. Para o novo diretor, a única coisa nela que o estava incomodando era seu terrível comportamento em sala de aula. Pelo que estavam comentando, Aline ficava no celular o tempo todo. Mas eu sabia a verdade: ela não fazia isso, aquilo era apenas uma desculpa para que a garota fosse chamada na sala de Paolo.
                E de todos eles, a mais afetada era eu. Minhas penas cresciam a cada dia: estava proibida de participar das aulas de Educação Física (poderia tentar enforcar mais alguém – é, Paolo acreditava que as bonecas da festa de Aline vieram de mim), não poderia mais sentar perto de Felipe (dizia-se que eu estava tentando roubar o namorado de Cecilia), não podia mexer em objetos pontiagudos para não causar cenas chocantes e, principalmente, não podia me destacar em nada.
                Estava pensando o que significa essa última proibição, quando a porta do meu quarto se abriu. Como havia apenas minha irmã em casa, eu me vestia apenas com uma camisola de renda. Mas não era Daniele que passou pelo batente.
                -Felipe? – tentei me cobrir rapidamente com o edredom, mas só consegui me enroscar e cair no chão. Meu melhor amigo deu risada, enquanto se deitava no tapete ao meu lado.
                -Oi, Luisa – sua voz estava tão perto de meu ouvido que meus braços se arrepiaram. Enquanto ele tentava me tirar do amontoado de tecido no qual eu estava presa, precisei me esforçar para não olhar em seus olhos. Sabia que se me perdesse naquele olhar castanho talvez não pudesse voltar à superfície.
                Felipe tocou meu rosto, como se sentisse que algo estava errado. Minha pele corou imediatamente. Meu corpo precisava sinalizar tanto que eu era apaixonada por ele? – O que houve, Luh?
                Não respondi imediatamente, pois minha mente estava muito longe. Eu conseguia sentir seus dedos descendo por meu pescoço. Tive uma vontade desesperada de retribuir o toque, de mexer seus cabelos e deixá-lo envergonhado. Mas não podia: ele era o namorado de Cecilia, não o meu.
                -Eu preciso te dizer uma coisa, Fe – não adiantava esconder a verdade. Ele saberia de qualquer jeito. Mas não pude nem dizer nada: Felipe, sim Felipe Lave, me beijou.
                Não era um beijo comum. Felipe movia suas mãos sobre meus cabelos e costas, me puxando cada vez para mais perto, colocando-se acima de mim. Eu tentava me controlar, mas mal conseguia pensar. Só conseguia sentir seu corpo sobre o meu, sua respiração ofegante se misturando a minha.
                Não sei se teríamos parado, caso não fôssemos interrompidos, mas quando dois novos convidados chegaram ao meu quarto, não posso mentir: não sabíamos o que fazer. – Irmã, a Ceci acabou... – a cabeça de Daniele observou o quarto pela primeira vez e sua voz sumiu.
                Então, eu estava de volta ao presente, tentando fugir da noite em que Cecilia saiu chorando da minha casa. Havia se passado três dias. E até agora, eu não sabia o que fazer.
                Escrito por StarGirlie.
Trigésimo Quarto Capítulo
Felipe



                Eu não sei o que estava pensando quando beijei Luisa no quarto dela. Não, eu não apenas a beijei. Fui quase muito mais além. E o pior de tudo é que enquanto estava com Luh, não pensei em nada além de como era bom estar de outra forma com minha melhor amiga. Como se sempre tivesse esperado aquilo. E talvez tivesse mesmo.
                Cecilia, obviamente, não atendia nenhum telefonema meu, porém, Luisa era o oposto. Passávamos nossos dias conversando e eu tinha a sensação de que nada poderia melhor. Ela me conhecia desde sempre, já abrira mão de diversas coisas para ficar comigo e parecia gostar de mim de verdade.
                Mas eu ainda namorava Ceci e seria um canalha se não tentasse nem ao mesmo em desculpar com ela. Tá, beijar Luisa daquele jeito não fora a ação mais honesta possível, porém, não escolhi isso. Era como se um ímã nos puxasse para cada vez mais perto.
                No sábado à tarde, decidi que precisava ver Luisa novamente. Mas antes teria que ir à casa de Cecilia e acabar com qualquer coisa que pudesse haver entre nós dois. Eu me sentia um babaca sendo tão insensível com ela, mas não sei o que aconteceu quando meus lábios tocaram os de Luh. Só sei que havia apenas uma garota em minha mente: a de cabelos pretos.
                Fui a pé até a casa de minha namorada, porém, antes de chegar até a porta, avistei-a conversando com um garoto que eu não conhecia. Ele se parecia muito com Fábio com exceção de que esse desconhecido tinha olhos azuis. Os dois pareciam muito próximos e percebi que os dois estavam de mãos dadas.
                Eu não tinha o direito de sentir ciúmes, não depois de todos aqueles beijos com Luisa, mas naquele momento, tive vontade de jogar o Fábio de olhos azuis para bem longe de Cecilia. Entendia quando ela considerava escolher Vinicius ou até mesmo Paolo, mas quem era esse?
                Saí de meu esconderijo e percebi que minha namorada tentou não demonstrar a raiva que praticamente estourava de seus olhos. Pela primeira vez, tive medo do que Ceci seria capaz. Ela era tão doce, mas poderia ser a pior inimiga. E eu não queria provar seu veneno.
                -Olá, Felipe – meu coração parou quando a mão do desconhecido segurou a dela. Será que ela já teria trocado de namorado sem nem me dizer? Era horrível sentir que não era importante para a pessoa que achava que amava.
                -Oi, Ceci – apontei para o garoto – Quem é esse?
                Cecilia riu e percebi que não era uma tentativa de ciúmes. Ela simplesmente estava com aquele Fábio de olhos claros sem nem se importar comigo. – É o Davi. Ele é um velho amigo.
                Davi estendeu sua outra mão para mim e me cumprimentou. – Prazer em te conhecer, Felipe. Já escutei muito sobre você.
                -Muita coisa ruim né? – brinquei, mas com o clima tenso, entendi que não era hora de piadinhas. Cecilia merecia ser levada a sério – Ceci, poderíamos conversar a sós por um instante?
                Seus olhos castanhos vacilaram por um instante e tive vontade de abraçá-la. Ela não merecia ter sido traída daquela forma. Sei que a própria tinha beijado Paolo enquanto ainda namorávamos, mas não fora nada comparado ao meu encontro com Luisa. Havíamos passado muito do limite do perdão.
                -Acho que não precisamos conversar. Tudo já está claro, Felipe. Entendo que nosso namoro acabou – Cecilia largou a mão de Davi como uma forma de sinalizar que não me trocara por ele – Nós não nos amávamos como namorados. Somos ótimos amigos e temos uma química muito forte, mas não o suficiente para darmos certo.
                Então, sem nem se despedir, Ceci voltou para dentro de casa e Davi a seguiu. Senti o meu coração se despedaçar, enquanto o escutava chamá-la. Ele nem dizia o apelido “Ceci”. Era como se fossem íntimos demais para usar apelidos bobos e comuns.
                Antes de entrar, Davi lançou um olhar de desprezo para mim e disse:
                -Você perdeu a garota mais incrível que poderia encontrar. Game over, amigo. Seu lugar já foi ocupado. E não tem medo de enfrentar um loirinho idiota e um professor pedófilio.
                Sabendo que a provocação era o único jeito de sair dessa conversa ileso, completei:
                -Ah, você esqueceu. O garoto mais popular do colégio também está nessa disputa. Muita sorte, Davi.
                E enquanto partia para a casa de Luisa, escutei o garoto murmurando um palavrão. Ele não era suficiente para Cecilia. Para falar a verdade, só havia um garoto que serviria para o cargo de namorado dela. Felizmente, não era eu.
Escrito por StarGirlie.

Trigésimo Quinto Capítulo
Aline




                Devo dizer que fiquei um pouco chateada quando foi Cecilia quem me contou sobre o namoro de Luisa e Felipe. Alguma parte de minha mente ainda tinha esperanças que minha ex-melhor amiga viria me contar caso seu sonho se realizasse. Porém, é claro que, depois de tudo que fiz, isso não aconteceu.
                -Ali? Está tudo bem com você? – perguntou Cecilia enquanto tomávamos sorvete na praça de alimentação do shopping. Ela estava sendo muito gentil em não despejar sua própria tristeza em mim. Eu sabia que a garota de cabelos castanhos estava sofrendo muito com a traição de seu namorado e sua melhor amiga.
                -Sim, sim. Eu só me sinto meio mal de não ter sido a primeira pessoa a saber disso – confessei, apesar de saber que isso mostrava um lado sensível meu que ninguém deveria conhecer. Porém, depois de tantas mágoas que Cecilia adquirira, algo me dizia que ela era a pessoa mais confiável que eu conhecia.
                Ceci suspirou e olhou para os restaurantes ao nosso redor. Percebi que ela segurava nervosamente seu celular como se dele dependesse sua vida. – Quem você está esperando que te ligue?
                A garota pareceu hesitar um pouco. – Não fique brava comigo, mas estou esperando uma ligação de Davi.
                Engasguei com o sorvete e tive que me controlar para não ter um ataque histérico. Ela não podia estar falando do Davi filho da Melissa, certo? Eles não teriam voltado a se falar, teriam? – Aquele Davi?
                Minha nova aliada olhou para o chão, engolindo o medo. Ela estava por tanta coisa e para piorar eu estava a pressionando. Que tipo de pessoa eu era? – Sim. Ele foi até minha casa ontem e me ajudou quando Felipe apareceu. Até fingiu que estava na disputa pelo meu coração só para me proteger.
                Estranhei a atitude de Davi. Desde que conhecera Cecilia, nenhum garoto se aproximara dela sem sentir pelo menos uma atração pela mesma. Felipe, Vinicius, Fábio, Leonardo, Paolo... Algo me dizia que esse padrão não se alterara.
                -Tem certeza que ele não sente nada por você, Ceci? Olha, todos os garotos que se envolvem com você, se apaixonam! É como se algo em você os atraísse de uma forma inevitável. E já que Davi te conhece há tanto tempo...
                Cecilia riu daquela forma doce que deixava o sexo masculino inteiro babando. – Até parece, Ali. Os meninos nem olham para mim. Veja os exemplos: Felipe era meu namorado e foi agarrar a Luisa na casa dela. Eu era apaixonada pelo Vinicius e ele gostava da Luisa. Aí em seguida, ele começou a namorar você. Fábio logo me dispensou quando descobriu que eu era da 91. Leonardo me traiu para te ajudar e tudo mais. E Paolo... – ela parecia em dúvida se devia continuar a falar sobre o professor que eu amava – Paolo se tornou um monstro depois de tomar o cargo de diretor.
                Pelo lado negativo, Cecilia tinha razão. Mas ela estava enganada sobre uma coisa: não importava o quanto eu e Luisa tentássemos, os garotos nunca gostavam apenas de nós. Eles sempre conseguiam enxergar a fofa Ceci.
                -Mas nada disso é isso. Felipe quase foi expulso por brigar por você. Vinicius me largou imediatamente depois que percebeu que tinha alguma chance com você. Fábio dispensou sua amiga, porque, na verdade, nunca te esqueceu e se arrepende até hoje por ter deixado você entrar em um quadrado amoroso com Fe, Vini e Paolo. Leonardo hesitou várias vezes em te entregar e só fez isso, pois sabe que você é capaz de se recuperar de qualquer baque. E, bem, Paolo te beijou mesmo sabendo que podia ser preso depois disso.
                Eu não sabia o que estava fazendo. Como podia estar animando a garota que até pouco tempo atrás era minha pior inimiga? Era como se minha alma me mandasse ajudá-la. Talvez fosse porque eu a entendia: nós duas havíamos sido magoadas pela mesma melhor amiga.
                O celular de Cecilia tocou e ela o colocou no viva-voz sem se importar de que todos os transeuntes do shopping poderiam escutar a conversa. – Oi, Cecilia – meu primeiro pensamento foi: que voz linda Davi tem.
                -Oi, Davi. Tudo bem com você? – percebi que minha amiga tentava não revirar os olhos. Era como se ela achasse sua relação com ele tão insignificante no quesito romance que aquela voz sensual chegava a ser ridícula.
                -Tudo... Eu poderia continuar perguntando se você também está bem, mas sei que não está. E por isso te proponho uma coisa: que tal largar sua amiga e vir ao cinema comigo para melhorar o astral? – nós duas engasgamos. Como ele poderia saber que estávamos juntas?
                -Como você... – começou Ceci, mas Davi a interrompeu. – Olhe para trás.
                Naquele momento em que nossas cabeças viraram, tive que me segurar para não pular da cadeira. Ele não era somente parecido com Fábio, era muito mais bonito que o próprio. E o pior de tudo era...
Você? – perguntei em choque. Eu conhecia Davi. Isso definitivamente não era um bom sinal.
Escrito por StarGirlie.
Trigésimo Sexto Capítulo
Luisa




                Ter passado o fim de semana com Felipe foi o melhor presente que o Destino poderia ter me dado. Depois de tantos problemas, de tantas amigas perdidas por minha causa e de tantas dúvidas, finalmente fiquei com a pessoa que mais amo no mundo. E foram os melhores momentos da minha vida.
                Porém, sempre a realidade volta e logo já era segunda-feira. Minha irmã se ofereceu para me levar para o colégio, então não pude recusar. Daniele estava tão fofa ultimamente, que não tinha como odiá-la. Agora que havíamos revelado nossas fraquezas, tudo estava muito mais fácil.
                Nem me preocupei em falar com Cecilia quando cheguei à escola, na verdade. Ter visto Felipe me esperando na entrada simplesmente me fez esquecer todo o resto. E, infelizmente, minha melhor amiga fazia parte do “resto”. É, eu era uma pessoa horrível.
                -Olá, Luh – disse Fe me abraçando logo que desci do carro de Daniele. Ela deu uma risadinha como se soubesse o quanto aquilo estava errado e, no fim, não se importasse. Ela sempre me apoiaria, mesmo que isso significasse estar no lado errado.
                Encostei minha cabeça no peito de Felipe e inspirei seu aroma. – Oi, Fe – mesmo escutando o sinal tocar não muito distante dali, nem me mexi. Era tão estúpido pensar em ir para a aula, enquanto tinha tudo que queria nos meus braços. Porém, pelo lado bom, meu amor era da minha sala.
                Meu coração pareceu saltar quando meu melhor amigo segurou minha mão. Eu não sabia como reagir com aquele carinho sendo exposto. Felizmente, não havia ninguém em volta e Felipe já estava acostumado com minhas bochechas rosadas.
                Eu poderia passar horas falando de minha felicidade melosa e blá-blá-blá, mas quem se interessa por essas bobagens românticas? Tá, se você estiver lendo um livro de romance, tudo bem. Mas estamos falando da vida de adolescentes que estão pouco se lixando para estarem no comum!
                Bem, que tal pularmos para a parte que eu estava em minha casa assistindo um filme de ação, quando sou interrompida por uma pessoa alterada? Repararam o quanto minha casa anda movimentada? Nem sei como não fecham essa porta, mas...
                -Acho que precisamos conversar, Luisa – era Cecilia. E ela não parecia nem um pouco disposta a escutar minhas desculpas.
                Sentei-me em minha cama e deixei que minha melhor amiga entrasse no quarto. Reparei que ela usava saltos tão altos quanto possível como se deixasse claro que não estava em nenhuma desvantagem em relação a mim. Não sei como Ceci tinha tanta necessidade de provar isso. A garota não percebia o quanto todos corriam atrás dela?
                Quando ela sentou na beira de minha cama, percebi que seu olhar voou para o porta-retrato que tinha uma foto minha com Felipe e a própria na festa de Aline. A verdade é que não sei bem quem tirou aquela imagem, mas a encontrei no Facebook de Ali e não resisti a colocá-la em lugar especial.
                Porém, naquela foto, Fe não era meu namorado. Ele era o de Cecilia, que naquela época era a melhor amiga que a vida poderia me dar. Na verdade, ela continuava sendo assim. A traidora aqui era eu. E a foto deixava isso ainda mais claro.
                Felipe e Cecilia dançavam animadamente enquanto eu os observava de longe com aquele sorriso feliz em um dos últimos momentos antes de perceber que meu amor por meu melhor amigo era inevitável. – Luh, o que é isso?
                -Vocês dois dançando... – comecei, mas minha amiga me interrompeu, nem deixando que eu saboreasse o momento de felicidade ao perceber que ela ainda me chamava pelo apelido. – Não nós três. Estou falando da janela da casa da Aline.
                Foi então que vi. A imagem estava numa qualidade tão boa que era possível ver Vinicius na janela do quarto de hóspedes de minha amiga... E o pior de tudo, estava conversando com a própria.
                -O que Vinicius... – Você não sabia, Ceci? Eu achei que ele, a Aline ou a Lola te contariam! – como eu pude ser burra ao ponto de não ter contado? Aquilo só a deixaria com mais raiva e mais mágoa de mim!
                -Lola? O que a Lola tem haver com isso? – mais uma falha. Será que eu poderia piorar a situação ainda mais? – Ela estava conversando com o Vinicius nesse quarto quando eu desmaiei.
                E enquanto via a raiva de Cecilia explodindo, desejei com todas minhas forças poder desmaiar naquele momento mesmo. Eu nunca vira minha amiga tendo um ataque dos nervos, mas aquilo fora a gota d’água.
                As lágrimas caíam de seus olhos, seus braços tremiam, sua voz estava aguda e ela não parecia a garota tão poderosa de minutos antes. Cecilia nunca estivera em um estado daquele e eu não podia fazer nada para ajudá-la. Era como ver o Titanic batendo no iceberg, sabendo que a maioria dos passageiros morreria em pouco tempo.
                Ver minha melhor amiga sofrendo daquele jeito foi um aviso claro: a velha Ceci havia sumido. Todos nós havíamos lhe traído: eu e Felipe nos beijando, Vinicius dormindo na casa de Aline, Ali e Lola escondendo sobre o paradeiro do loiro, Leo e Júlia apoiando minha ex-BFF em todos seus planos malignos...
                Porém, Davi não lhe traíra. E ela não confiaria em alguém que, segundo Felipe, era tão idiota, confiaria? Ao vê-la fugindo de meu quarto, tive uma certeza: o Fábio de olhos claros conseguira sua chance.
Escrito por StarGirlie.
Trigésimo Sétimo Capítulo
Cecilia




                Quem mais me trairia? Meus pais? Minha tia? Davi? Porque, meu Deus, ninguém mais conseguia ser simplesmente fiel a mim. Era como se não me dizer a verdade fosse uma grande jogo. Desde quando eu me tornei alguém tão odiada?
                 Não queria ir para casa. Ter que ver a carinha de pânico de minha mãe ao me encontrar naquele estado só pioraria toda a situação. Eu precisava ir para um lugar onde ninguém me visse. E só conhecia um lugar assim.
                Corri pelas árvores, tentando me afastar o máximo das casas do meu bairro. Se Felipe, Aline, Luisa ou até Vinicius percebessem que eu estava indo para uma floresta, provavelmente imaginariam que aquilo era uma fuga. Pena que eles estariam errados. Como eu queria poder fugir e simplesmente nunca mais voltar.
                Em menos de cinco minutos de caminhada, dei de cara com a casa que havia encontrado pouco tempo depois de me mudar. Ela parecia abandonada há décadas e sabia que alguns lugares eram impossíveis de adentrar. Por exemplo, tentar chegar ao segundo andar era uma tentativa de suicídio já que a escada estava totalmente destruída.
                O melhor de tudo era que mesmo que fosse longe da civilização, naquela casa, o sinal da minha operadora de celular pegava e então, eu podia mexer na Internet sem problema algum. Além disso, semanas antes, deixara alguns livros guardados ali para que pudesse ler quando estivesse muito triste. Havia chegado o momento perfeito.
                Aquele lugar era muito perigoso para uma menina ficar ali sozinha, mas eu não tinha medo. Se acontecesse alguma coisa, havia uma arma escondida perto da estante de livros e era fácil alcançá-la. Acreditem, eu treinara para isso.
                Escolhi um título e me aproximei da janela que dava para um antigo jardim, provavelmente, de rosas. A Fera. O filme era tão romântico que eu esperava que o livro não decepcionasse.
                Nem percebi as horas passando até que vi o céu escurecer e entendi que era hora de embora. Recolhi minhas coisas, porém, quando me preparava para sair da sala, escutei barulhos vindos da entrada. Um arrepio passou pela minha espinha.
                Comecei a me aproximar calmamente da arma e a coloquei em minha mão. Esperei o intruso, com ela apontada, porém, sabia que não podia atirar sem saber quem era. Imagine se fosse algum conhecido meu? Ou simplesmente o dono do terreno?
                E, então, Davi entrou na sala. Seu rosto passou de desconfiado e com um pouco de medo para totalmente apavorado. Ele levantou as mãos em sinal de rendição e avisou:
                -Cecilia, sou eu. O Davi. Por favor, não atire – abaixei a arma imediatamente. Ele era meu melhor amigo. Estava pensando o quê? Que eu simplesmente o mataria como se não fosse nada? Mal conseguia matar uma mosca, imagine um ser humano.
                -Claro que não vou atirar. Eu só pensei que podia ser um estuprador ou sei lá – sentei-me em um sofá antigo e Davi me acompanhou. – Mas o que você está fazendo aqui?
                -Eu... Eu não sei, Cecilia. Quis andar pela floresta depois que fui até sua casa e você não estava lá. Encontrei essa casa e te vi pela janela. Fiquei um preocupado com o que poderia ter lhe acontecido – explicou meu melhor amigo, antes de sorrir e segurar minha mão – Mas vejo que você está bem. Como sempre.
                Coloquei minha cabeça em seu ombro e o abracei. Pela primeira vez em um bom tempo, sentia que havia alguém que queria escutar meus desabafos sem reclamar da minha fraqueza, sem dizer que eu tinha que superar, sem esperar que eu perdoasse os erros dos outros.
                -Eu não estou bem, Davi. Eu não tenho ninguém nesse mundo. Meus amigos vivem agindo pelas costas. Meu namorado me traiu com minha melhor amiga. Minha escola é um inferno. Meus pais só querem saber de mim quando estou no padrão correto: perfeita. Nenhum deles aceita meus defeitos ou que estou sofrendo. Ninguém se importa.  
                As lágrimas caíam de meus olhos, mas gostei de sentir o calor do corpo de Davi irradiando para o meu. Ele segurou meu queixo e o levantou – Você tem a mim, Cecilia. Eu preciso te contar uma coisa...
                -O quê? – perguntei, enxugando meu rosto. – Eu só vim para cá, porque sabia que você estava morando aqui. Eu vim por você, Cecilia. Eu vim porque...
                -Porque... – incitei, já temendo a resposta. Era como se todos os momentos que passamos juntos no passado estivessem rondando minha mente.
                -Porque eu te amo, Cecilia. Eu sempre te amei – e, enquanto as lágrimas ainda pingavam de meu rosto, enquanto meu mundo desabava, enquanto minha vida acabava lentamente, apenas deixei que Davi me beijasse. Não era a coisa mais certa, mas, naquele breve momento, foi a única ação que me faria sorrir.
Escrito por StarGirlie.
Trigésimo Oitavo Capítulo
Aline




                Não sei o que aconteceu comigo ou com toda minha maldade, mas ao saber que Felipe e Luisa tinham se acertado e que Cecilia e Davi estavam passando um bom tempo juntos fiquei extremamente feliz. Talvez, eu não fosse tão ruim quanto parecia. Talvez, só talvez, gostasse de ver os outros viverem as suas vidas como sempre quiseram.
                Durante o intervalo das aulas, decidi passar um tempo sozinha. Não queria mais ter que fingir ser a malvada para Júlia, Fábio e Leonardo, mas não estava preparada para enfrentá-los naquele momento. Além disso, pretendia contar toda a verdade para minha mãe naquela tarde. Minha maldade não nascera comigo, ela havia sido cultivada pelas mágoas e rancores que tive a vida inteira. Finalmente, eles desapareceram.
                Sentei-me sob a sombra de uma árvore e coloquei meus fones de ouvido. O céu estava azul como só conseguia ficar depois de uma tempestade. Era bom que a época ruim entre meus amigos finalmente acabara. Cecilia e Luisa poderiam nunca mais ser amigas, mas eu poderia ser amiga de ambas. Felizmente, não fazia o meu tipo roubar o namorado da melhor amiga.
                -Ali? – escutei uma voz atrás de mim. Me virei e encontrei Vinicius em pé, me observando com aquele seu olhar triste. Ele era tão doce e sincero, mas, desde que voltara para a casa de seus pais, não estávamos mais conversando.
                -Oi, Vinicius – gostei quando ele se sentou ao meu lado sem parecer nem um pouco tenso. Era estranho ter que conviver com seu ex-namorado, sabendo que ele só tinha te usado para fazer ciúmes em sua ex-inimiga. Mas havia muita coisa pior que aquilo, então, só me restava superar.
                Vini olhou para o céu azul, daquele jeito pensativo de sempre. – Faz tempo que não te vejo como a Aline de antes. Aquela de cabelos loiros longos e olhos verdes que quase ninguém tinha reparado.
                Percebi que aquilo não era um xingamento, ele estava apenas contando a verdade. E eu gostava de escutar aquilo vindo de sua boca. – Acho que percebi que sou aquela garota não a malvada. Os novos casais me mostraram que o ódio não leva a nada.
                Vinicius me encarou como se eu tivesse falado algo inesperado. E pior que era mesmo – Você não quer mais se vingar de mim, Luisa e Cecilia?
                -Eu não vou me vingar de mais ninguém. Ainda estou um pouco chateada com você e com Lola por causa daquelas bonecas enforcadas – é, eu acabara descobrindo a verdade através do próprio Vinicius – mas não vou mais humilhar ninguém. Chega de vinganças, de planos maléficos. Quero viver meu último ano antes do Ensino Médio da melhor forma possível.
                Meu ex-namorado sorriu com aqueles lábios tão beijáveis e tive vontade de esquecer todo o nosso passado, todas as câmeras do colégio e simplesmente agarrá-lo. Sabia que ele ainda nutria sentimentos por Cecilia, mas qual garoto não sentia algo por ela? Se fosse eliminar todos os que já gostaram ou gostavam dela, não sobraria quase nenhum.
                Entretanto, quando estava prestes a me encrencar e beijar Vinicius, lembrei-me de Paolo, de seus olhos castanhos e de como ele me deixava tonta. – Você vai tentar recuperar Cecilia? – perguntei, tentando distrair meu ex, enquanto pensava no que faria. Iria atrás do diretor e tentaria arranjar um jeito de não perdê-lo? Eu estava louca?
                -Acho que não, Ali. Ela não me ama. Foi tão fácil para ela superar que eu “gostava” de Luisa, e começar a namorar Felipe. Depois, quando começamos a namorar, ela foi lá e beijou o Paolo. E agora que o Felipe escolheu a Luisa, a Cecilia beijou o Davi. Em nenhuma das situações, ela pensou em mim.
                Vinicius estava tão magoado com Ceci que não podia ver o óbvio – Vini, acorda! Ela começou a namorar Felipe justamente para mostrar que não precisava de você quando, na verdade, precisava. Ela beijou Paolo como uma forma de se vingar de mim depois que comecei a namorar você. E ela ficou com Davi, porque mesmo quando Felipe estava com Luisa, você, ao invés de correr atrás dela, ficou dormindo na minha casa. Cecilia está chateada com você e tem toda a razão de estar.
                 O silêncio que se deu a seguir foi claro. Vinicius, finalmente, tomaria uma atitude mesmo que isso significasse levar o maior fora de Ceci. E eu iria até Paolo não importava o que acontecesse. Depois de amá-lo por tanto tempo, nós dois merecíamos um momento.
                -Boa sorte, Vini – disse, enquanto me levantava para ir até a sala do diretor. – Pra você também, Ali – respondeu meu ex-namorado como se soubesse o que eu iria fazer. Talvez minhas ações fossem muito óbvias até para um desligado como ele.
                -Vou precisar.
Escrito por StarGirlie.
OBS: o capítulo 39 será postado ainda hoje durante a noite, enquanto o 40 será postado amanhã.

Trigésimo Nono Capítulo
Luisa




                Não sei o que Aline estava pensando quando passou por todo o pátio correndo e subiu as escadas numa pressa só, como se o sinal tivesse batido e ela estivesse muito atrasada. Mas era exatamente esse o problema: o intervalo estava longe de acabar e só havia um motivo que justificasse aquela corrida.
                Eu sei que estávamos recuperando nosso contato aos poucos, nos readicionando no MSN, voltando a mandar mensagem uma para a outra, mas ainda não estava habilitada para me interferir em suas escolhas. Na verdade, acho que mesmo que Aline tenha voltado a ser gentil como antes, ela nunca mais seria submissa. E isso era um ponto forte em sua nova personalidade.
                Apesar de estar feliz com Felipe e com Ali, ainda sentia falta de Cecilia. Ela fora minha melhor amiga quando mais precisei e não queria perdê-la. Porém, o que fiz foi imperdoável. Ela nunca iria me querer próxima novamente. Eu fora a pessoa mais traidora possível até mais que Fe.
                Pelo menos, Ceci não era uma inconsequente como eu ou Aline e não estava planejando vingança alguma nem tentando agir como se o mundo estivesse sob seus pés. Ela simplesmente continuava a ser a garota doce e aparentemente feliz de sempre. Porém, sua única amiga que permanecera foi Lola. O que não me agradava nem um pouco.
                Era possível perceber que Lola não estava sendo sincera com mais ninguém. Sua transformação não era mais apenas visual e ela vivia destratando as pessoas menos favorecidas sendo em dinheiro, beleza ou até inteligência. E Cecilia parecia não ver nada disso.
                Enquanto observava Ceci e Lola conversando, percebi que a professora Melissa, que estava atrás delas até alguns segundos atrás, sumira. Procurei-a com os olhos, já que Felipe me abraçava, e a encontrei no pé da escada. Ela parecia tentar escutar a conversa que vinha lá de cima, mas era óbvio que não conseguia.
                Então, seus pés começaram a subir os degraus correndo e tive um mau pressentimento. Melissa era ex-mulher de Paolo e estava claro que ainda era apaixonada por ele. Encontrar Aline conversando com o diretor em um ambiente vazio seria o prato perfeito para se vingar. O ex-professor de Português seria demitido, e talvez até preso, enquanto minha amiga seria expulsa.
                Soltei-me do aperto de Felipe desesperadamente e comecei a correr em direção às escadas. – Luisa! – ele gritou, sem entender o que eu estava fazendo. Felizmente, meu namorado sabia que minhas ações sempre tinham um motivo, então não me seguiu. Porém, outra pessoa fez isso pelo próprio.
                Cecilia estava em meu encalço, mas Lola, por sorte, não seguira seu caminho. Deveria saber que aquilo não teria nada de interessante e, apesar de ser uma badgirl, ainda não estava preparada para se meter em problemas sérios. Ridícula né?
                Minha melhor amiga me alcançou em alguns segundos. – Aline está encrencada né? – era bom saber que, pelo menos, naquele momento estávamos no mesmo barco. Um barco furado, mas juntas.
                -Sim. É bom que Paolo não seja louco e eles não se beijem no colégio, senão... – olhei para as escadas acima. Melissa já estava em um dos corredores. As chances de conseguirmos salvar Ali estavam diminuindo.
                -Não vamos pensar nesse “senão” – disse Cecilia, enquanto chegávamos ao andar da sala do diretor. Escutamos vozes vindas de não muito longe e seguimos o som. Ambas tentávamos não entender o que elas diziam com medo de significar a expulsão de nossa amiga ou pior... A prisão de Paolo.
                Quando chegamos à porta da sala, ela estava escancarada. Aline não estava em nenhum lugar que pudéssemos ver, mas, mesmo assim, Melissa parecia muito alterada. Começamos a nos aproximar de forma discreta e pudemos enfim escutar a conversa.
                -Acho que você não pode mais trabalhar nesse colégio, Melissa. O modo como você tratou aquela aluna deixou claro o quanto nesse merece estar aqui – sentimos um arrepio. Aquela aluna se trataria de Aline?
                -Eu achei... – Paolo nem deixou que sua ex-esposa terminasse a frase. – Você não deve achar nada dentro dessa escola e por isso está demitida.
                -E meu filho? – perguntou a ex-professora, tentando segurar as lágrimas. Tanto eu quanto Cecilia havíamos visto Davi na escola pela manhã, mas ele sumira depois de ter aulas na 9º3ª.
                -Ele pode continuar a estudar nesse colégio ou você esqueceu que Davi também é meu filho? – o ar sumiu de meus pulmões. Paolo não poderia estar falando sério.
                Olhei para Ceci, relacionando os fatos das últimas semanas. Ela parecia prestes a desmaiar. – Quer dizer que eu beijei o pai e o filho?
                Escrito por StarGirlie.
Quadragésimo Capítulo
Cecilia


                Eu não podia acreditar naquilo. Tudo bem, depois de tanta coisa que aconteceu, já estava superando o fato de que tinha ficado com meu diretor, com meu melhor amigo e com Felipe em menos de dois meses. Porém, aquela revelação estava mexendo com minha mente.
                Será possível que eu fosse tão... ao ponto de ter ficado com duas gerações da mesma família? O pai, Paolo, e o filho, Davi? Mas como saberia? Todos do colégio acreditavam que o professor não tinha mais que vinte e poucos anos, entretanto, agora estava claro que ele passava dos trinta.
                Não sabia se ria ou se chorava, então, quando olhei para Luisa a resposta veio em minha mente. Juntas, começamos a gargalhar sem controle algum. Aline, até então escondida em um lugar que ninguém a viu, surgiu com uma reação totalmente diferente. Era possível perceber o choque em seu rosto e a mágoa por ter sido enganada.
                Paramos de rir e junto com Ali, saímos do corredor antes que Paolo decidisse nos “demitir” também. Quando alcançamos o pé da escada, nos sentamos em um degrau e segurei a mão de nossa amiga loira. As lágrimas estavam começando a cair em seu rosto angelical. – Não chora, Aline. Não vale a pena e nem tem motivo, na verdade. Você devia estar comemorando! A Melissa vai embora!
                Ali me olhou como se eu estivesse louca. O problema é que a traição fora muito mais pessoal para ela: Paolo não tinha a idade que alegava, ou não desmentia, ter, tinha um filho da idade dela e ainda assim os dois quase se beijaram diversas vezes. – Ele não é o príncipe que eu imaginei que fosse, Ceci. Ele é um pedófilio mesmo, só pode ser. Paolo tem, literalmente, a idade para ser meu pai!
                Apesar de não estar totalmente de bem com a Luisa (ah, eu não podia esquecer aqueles beijos com Felipe tão cedo, né?), gostei de ter sua companhia naquele momento. Ela sabia como reagir e como cuidar de Aline melhor que eu. – Ele não é um pedófilio. Se Paolo tentou te beijar alguma vez, só quer dizer que ele sentia algo por você.
                -É, mas ele sentia mais por Cecilia. Eles se beijaram na noite da Festa da Belle, esqueceu? – tremi. Era verdade o que ela dizia, mas as circunstâncias eram outras. Nós não estávamos apaixonados, estávamos fugindo de nossos sentimentos por outras pessoas: Vinicius e Aline.
                Resolvi interferir, já que Luisa não sabia o que dizer. – Eu não gosto de Paolo. Ele não gosta de mim. Ponto final, ok? Nosso beijo foi uma válvula de escape. Nós dois estávamos tristes, enciumados ao ver nossos amores interagindo e simplesmente tomamos uma decisão errada. Ele nos fez prometer que não iríamos repetir aquilo nunca mais.
                -Sério? – perguntou Aline secando suas lágrimas. Era claro o quanto ela gostava daquele professor e me magoava ter interferido naquele romance, mesmo que por vingança.
                -Aham. Ele é apaixonado por você, Ali. Não sei como Paolo pode ser louco de se apaixonar por uma aluna, mas é. Talvez vocês sejam a Aria e o Ezra* um do outro! – continuou Luisa, apoiando-me. Apesar de ela só ter dito aquilo tudo para animar Aline, eu sabia que era só verdade.
                Arrumei o cabelo e a maquiagem de Aline, enquanto dizia: - Você devia parar de se importar com o passado de Paolo. Tá bom, ele é pai do meu melhor amigo. Dane-se! A Melissa nunca prestou e tenho certeza que só falou sobre Davi para que você descobrisse o parentesco deles da pior forma possível.
                -Espera um instante... – os olhos de Aline se arregalaram – Você ficou com Davi, não ficou? – concordei com a cabeça – Ai. Meu. Deus.
                Começamos a rir novamente até que Ali não tinha mais nenhum resquício de tristeza. Ela já sabia o que faria. Iria tentar com todas as suas forças que o romance com Paolo desse certo. Talvez Melissa tivesse atrapalhado aquele dia, mas não atrapalharia nenhum outro.
                Então, meu celular vibrou. Uma nova mensagem vinda de... Meu coração parou. Eu não recebia uma mensagem desse número fazia muito tempo. Não sabia o que fazer, já que responder simplesmente não era a melhor opção.
                Levantei-me apressadamente, dizendo para minhas amigas a frase que há tanto tempo eu quis dizer:
                -Eu acho que finalmente vou ter meu final feliz – e saí correndo pelo pátio em direção ao bosque. Lembrei-me daquele primeiro dia de aula quando relacionei os alunos desse colégio com pessoas na praia. Sabia que sob a luz do sol eu também estava brilhando.
                Cheguei ao ponto descrito na mensagem e tive que parar para respirar. Não importava o quão grande fosse meu brilho, nunca se compararia ao dele. Ao do meu sol pessoal.
                -Você veio.
Escrito por StarGirlie.
*Aria e Ezra são o casal aluna-professor da série Pretty Little Liars e que me inspirou para a criação de Aline e Paolo, além de outros casais que não deram muito certo como Spencer e Jane de Fofoqueira Fina. 
Obs: sei que o capítulo 40 acabou se atrasando e hoje deveria ser o 41. Por isso, tentarei postar o 41 também hoje, só que mais tarde. Espero que entendam que estou bem atrapalhada com meus compromissos.  


Quadragésimo Primeiro Capítulo
Aline



Quando Cecilia saiu correndo, eu e Luisa esperamos que o sinal batesse para que voltássemos para nossas aulas. Ela estava voltando à época em que era uma fofa comigo, mas felizmente, não era mais malvada a ninguém. Pelo menos, ninguém que não nos machucasse.
                Eu sabia que nem Ceci nem Vinicius voltariam para as aulas da 9º1ª daquele dia. Era claro que os dois tinham dado um jeito de escapar da escola no final do intervalo ou estavam escondidos em algum lugar onde as câmeras não pudessem vê-los. Só espero que não tenham decidido se esconder em uma das cabines dos banheiros. Imagine a reação de uma inspetora ao ver um tênis feminino e um masculino ao mesmo tempo naquele lugar mínimo? É, ela poderia pensar coisas bem piores do que a realidade.
                Durante todo o resto do dia, tentei me desligar da realidade. Melissa nem apareceu para suas últimas aulas, simplesmente, deixou uma estagiária passar mais de quinze páginas de exercícios. tenho a impressão de que aquilo foi uma vingança por ter me visto na direção da sala de Paolo.
                Eu nem pude falar com ele, já que sua ex-esposa teve um ataque histérico que acabou levando a sua demissão. Finalmente, Melissa sairia desse jogo. A verdade é que nem ela nem Davi pertenciam àquela história. O garoto de olhos azuis só estava prejudicando o romance de minha amiga com o loirinho. Será que ele não se tocava disso?
                Na saída, não resisti a procurar meus dois novos amigos: Cecilia e Vinicius. Obviamente, eles não estavam em lugar nenhum. Quis perguntar a Felipe e a Luisa se algum deles os vira, mas sabia que a situação ficaria um pouco constrangedora. Não devemos esquecer que até pouquíssimo tempo Ceci era namorada de Fe.
                Foi então que esbarrei com Davi. Ele parecia feliz em encontrar alguém que já conhecia naquele colégio. – Você viu a Cecilia, Ali? É que eu precisava conversar com ela... Aconteceu uma coisa ontem e eu...
                -Sem querer acabar com suas expectativas – interrompi – mas já acabando: a Ceci não está disponível. Eu adoro você e vocês formam um casal lindo, mas ela “já tem dono”.
                Seu olhar congelou. Ele não estava esperando algo daquele jeito. Depois de seu beijo com Cecilia, talvez Davi acreditasse que ela o amava. Minha amiga causava esse efeito e, pela sua longa lista de ficantes, acabava criando uma grande confusão. Veja o que aconteceu com Felipe e Paolo.
                -Que dono? Felipe? Mas ele não está namorando aquela... Luisa? – percebi que Davi estava desesperado. Definitivamente, ele não estava acostumado com as mudanças de humor (e de amor) de Cecilia.
                Dei uma risada sem-graça. Era horrível entender o que ele estava sentindo, a mesma coisa acontecera comigo quando descobri que Paolo já tinha se casado. Era como se o seu mundo se quebrasse em vários pedaços. – Ela... Cecilia está com Vinicius.
                Davi perdeu toda a cor de seu rosto. Tive pena do que estava lhe acontecendo. Ele podia ser metido e intrometido, mas não merecia aquilo. Ceci não estava sendo honesta o usando daquela maneira. – Mas a gente se beijou ontem!
                Não sabia mais o que dizer, então, pensei em como podia distrai-lo. Porém, quando estava prestes a perguntar como fora seu dia de aula, Lola apareceu em meu caminho. – Ah, Davi, você, pelo visto, é mais um que a Cecilia quebrou o coração, né?
                -Eu achei que você fosse amiga da Cecilia – afirmei irritada. Aquela ruiva estava muito sem noção ultimamente. E algo nela ainda não me enganava. Era como se Lola estivesse o tempo todo sendo... Falsa.
                -E sou! – afirmou Lola – Mas vamos falar a verdade. Ela anda sendo a maior “pegadora” do colégio, para não usar um termo bem mais feio!
                Minha paciência se esgotava aos poucos. – A Ceci se acha a Deusa só porque meia dúzia de meninos se apaixonaram por ela. Ah, fala sério. Até você é mais bonita que ela.
                A forma pejorativa como Lola me tratou e ainda falou mal de minha amiga me deixou louca. Sabia que estava sendo inconsequente e que aquela situação me causaria muitos problemas, mas simplesmente agi por impulso. Sem nem esperar que a ruiva continuasse, pulei em cima dela.
                -Me solta! – gritava Lola enquanto puxávamos nossos cabelos. Quis liberar toda a raiva que sentia por ela e Melissa. Mas não demorou nem cinco minutos para que braços me soltassem da falsa amiga de Cecilia e me fizessem respirar com calma.
                Eu podia brigar com a pessoa e arranjar mais encrenca, porém, algo naquele toque me levava ao Paraíso, então simplesmente encostei minha cabeça em seu peito e sussurrei. – Obrigada, Paolo.
                -Pode sempre contar comigo, Aline, mas agora teremos que seguir o que manda o roteiro – disse o diretor antes de, obviamente, começar a dar a bronca que eu sabia que levaria. Entretanto, não escutava nada, pois suas doces palavras ainda ressoavam em meu ouvido.
                Pode sempre contar comigo, Aline.
Escrito por StarGirlie.

Quadragésimo Segundo Capítulo
Luisa



Eu não sei o que Aline estava pensando quando começou a bater em Lola, só sei que estava torcendo para que minha melhor amiga mostrasse àquela ruiva que sua atitude não era nem um pouco aceitável.
Porém, quando Paolo controlou a briga, decidi ir embora do colégio. Ofereci uma carona a Felipe, mas ele ficou com vergonha de ser levado para casa pela minha irmã mais velha. Prometi que ligaria para ele mais tarde.
Quando cheguei em casa, corri para meu quarto e me tranquei lá. Disse para Dani que iria almoçar em poucos minutos enquanto tentava encontrar o que tanto me interessava. Revirei meu armário, minha escrivaninha e até as gavetas do banheiro. Não estava em lugar nenhum...
Então, me lembrei de quando minha mãe, acreditando que eu e Daniele escondíamos um revólver dentro de casa, revistou meu quarto. Com medo que ela encontrasse o meu objeto de maior estima e o destruísse, fiz algo inesperado: abri um buraco na parede e o guardei ali.
Obviamente, tive um trabalho imenso para camuflá-lo e desde então, havia decidido nunca mais mexer nele temendo que um dia alguém o encontrasse. Mas chegara a hora de abandonar meu medo.
Puxando a madeira que fechava o local secreto, não demorei a encontrar a pequena caixinha que guardava minha maior relíquia. A poeira cobria todo o papelão, impedindo que se lesse a frase ali escrita em caneta permanente: Um segredo só é bem guardado quando todas as suas provas estão enterradas ou queimadas.
Senti um arrepio na espinha. Eu não devia fazer aquilo, não quando minha vida estava se ajustando e todas as pessoas me aceitavam finalmente. Felipe era meu namorado e tinha Aline e Cecilia como minhas melhores amigas. O que mais poderia pedir a Deus?
-Luh, sua comida vai esfriar! – gritou Daniele do primeiro andar. – Já estou indo! Dê-me mais cinco minutos!
Não tinha tempo a perder. Toquei as palavras inscritas no papel e abri a caixa. Não sei o que se passou em minha mente naquele momento, só me lembro de ter começado a gritar de raiva. Raiva, desespero e, principalmente, traição.
Ninguém sabia que aquele objeto estava guardado em meu quarto. Na verdade, ninguém nem conhecia sua existência. Então, se ele havia sido roubado só existia uma pessoa que poderia ter feito isso.
Desci as escadas apressada e não posso dizer que estava surpresa quando cheguei à cozinha e encontrei Daniele me esperando sem nenhum traço de amor em seu rosto. Eu sabia o que aquilo significava.
-Como você pôde? – perguntei, sem acreditar que todo o tempo que vínhamos passando juntas era uma mentira, que Dani me usara o tempo inteiro.
Sua risada ressoou pela cozinha. – Você realmente achou que eu era sua amiga? Que eu era uma ridícula que nem você? Que eu também me cortava? – cada palavra cortava meu coração. Não era possível que aquilo estivesse acontecendo.
-Aonde ele está? – eu não queria escutar mais maldades vindas de minha irmã mais velha. Ela devia ser minha protetora, não meu carma. Porém, em minha família, ninguém se importava comigo.
Daniele se aproximou de sua bolsa e puxou uma embalagem. Minha reação automática foi partir para cima dela, porém, minha irmã era mais forte e me empurrou para longe. – Você está desesperada né?
-Não – menti, enquanto via minha vida em suas mãos. Aquilo era muito pior que o material que Aline tivera contra mim e agora já estava destruído. O que Dani carregava era praticamente uma bomba-relógio prestes a explodir minha vida.
-Pois devia ficar – riu Daniele, enquanto, com uma rapidez chocante, saía correndo com minha relíquia, alcançando seu carro antes que eu fosse capaz de sair de casa.
Joguei-me no chão gelado, desesperada. Não adiantava correr atrás de minha irmã. Ela já tinha minha vida em suas mãos, pois aquele objeto não era um colar ou uma chave.
O que Dani levava agora era um caderno cheio de xingamentos a todos do meu colégio, inclusive meus amigos e meu namorado. Nele, estavam meus planos maléficos e também meus desabafos depressivos. Aquilo não era apenas a versão “censurada” que me levara a tentativa de suicídio.
Daniele Coral agora possuía o verdadeiro e único O Caderno.
Escrito por StarGirlie.

Quadragésimo Terceiro Capítulo
Cecilia




                Todo mundo provavelmente acreditava que eu e Vinicius havíamos faltado nas últimas aulas, porque estávamos em um momento romântico. Infelizmente, a verdade era totalmente diferente. E para que vocês possam entender isso, nada melhor do que voltar ao momento exato em que fui encontrá-lo no fim do intervalo.
                -Você veio – disse Vinicius, enquanto o sol brilhava em suas costas. Aquela combinação parecia roubar todo o brilho do local e tive vontade até mesmo de fechar os olhos. Aquela visão cegaria qualquer garota do colégio.
                Aproximei-me do loiro um pouco nervosa. Podia ter ficado com Felipe, Paolo, Davi e alguns outros garotos de outras cidades, mas isso não me impedia de ficar nervosa perto de alguém que gostasse muito. – Vinicius... O que você quer me dizer?
                Sei que não era a melhor forma de começar uma conversa com o adolescente que eu queria que fosse meu namorado, porém, não podia mais prolongar minha agonia. E se Vini só quisesse ser sincero comigo, dizendo que nunca foi apaixonado por mim?
                O garoto abaixou a cabeça antes de finalmente olhar em meus olhos. Aquele olhar verde simplesmente me deixou mais tonta do que eu já estava. – Cecilia, eu... Não posso mais esperar.
                Meu coração começou a bater mais forte. O que ele estava querendo dizer? Vinicius queria me substituir ou ficar comigo? – Como assim “não pode mais esperar”?
                Não sei como fiquei calma enquanto Vini se aproximava cada vez mais de mim – Eu não posso mais aguentar te ver com outros garotos. Ver você sendo a namorada de Felipe, fugindo de uma festa e indo para a casa de Paolo, e beijando Davi. Eu simplesmente não posso mais.
                -E o que você vai fazer? Vai me esquecer? – perguntei, temendo com todas as minhas forças a resposta. Se Vinicius deixasse de me amar, estudar naquele colégio quase não tinha mais sentido. A verdade era que eu só suportava os erros de Lola, a traição de Felipe e a Luisa e o leve desvio de caráter de Aline, porque Vini gostava de mim e me queria por perto.
                -Esquecer? Você está louca? – Vinicius segurou meu rosto. O sinal bateu, mas nenhum de nós sequer se mexeu – Cecilia, eu te amo. Eu nunca vou poder te esquecer. E é por isso que não posso te ver com mais ninguém. Se você não for minha namorada, terei que sair do colégio, porque não posso ver outro garoto te abraçando, andando de mãos dadas com você, te beijando e te fazendo rir. Esse devia ser o meu papel.
                Meu rosto ficou umedecido pelas lágrimas que caíam. O rosto de Vinicius também estava molhado. – Eu deixei você partir durante muito tempo. Naquela época, em que eu acreditava estar apaixonado por Luisa, não podia simplesmente ter ignorado o que estava sentindo por você – Não era possível que o loirinho estivesse se declarando de forma tão explícita para mim.
                -Você nem imagina o quanto fiquei com ciúmes quando te vi beijando Felipe. Foi como se meu mundo tivesse caído. E bem naquele dia, eu havia descoberto que sempre fui apaixonado por você.
                -Você nunca tinha me contado isso. Eu achei que aquele beijo só te fez ficar com raiva, porque tinha te substituído por Felipe – afirmei, lembrando-me da época em que finalmente tive coragem de deixar Vinicius para trás e encontrar um novo amor. Como se fosse simples assim.
                O ex-namorado de Aline olhou para as escadas e percebeu alguma movimentação estranha. Virei-me imediatamente e vi um professor perambulando pela escola. Se ele nos pegasse matando aula, provavelmente, Paolo teria que tomar alguma atitude mais drástica.
                Vini segurou minha mão e me puxou para dentro do auditório, que sempre estava aberto e nunca era utilizado. As luzes estavam apagadas, mas o sol entrava pelas janelas. – Ceci, eu sempre te amei e sei que, na maior parte do tempo, fui um babaca. Não corri atrás de você. Não te fiz minha namorada quando devia ter feito. Errei, errei muito. Mas você nunca me abandonou mesmo quando eu estava com Aline.
                Ele parou para respirar antes de dizer a sentença final – Cecilia Perli Graham, você aceita ser minha namorada?
                E bem no momento em que eu planejava responder um sonoro “sim” quando meu celular vibrou. Mensagem da minha mãe: filha, estamos com problemas sérios. Precisamos pegar um avião urgentemente. Venha para casa.
                Nem precisei mostrar a Vinicius e de repente nós dois estávamos fugindo da escola em plena correria. Eu sabia do que a mensagem de minha mãe tratava: meu pai estava metido em encrenca. Novamente.
Escrito por StarGirlie.

Quadragésimo Quarto Capítulo
Aline




                Entrei na casa de Paolo e observei tudo ao redor. De repente, me imaginei como Cecilia, adentrando naquele local depois de ver seu namorado e seu grande amor caírem aos meus encantos. Tentei sentir a tristeza em seu coração, mas em meu coração só havia amor e muita felicidade.
                -Quer alguma coisa? Um suco, uma Coca, água? – perguntou Paolo da cozinha. Ele parecia um pouco ansioso. Não era comum ou certo que alunas suas visitassem sua casa. Mas vamos falar a verdade: que garota no mundo não queria estar no meu lugar ou no de Cecilia?
                -Não, obrigada – respondi, sentando no sofá da sala. Não sabia exatamente o que estava fazendo ali. Só me lembro do ex-professor perguntando se eu queria conversar com ele em particular. Como ambos estávamos com medo de que Lola resolvesse se vingar de mim o usando, decidimos ir para um lugar bem longe da escola.
                O lindo diretor entrou no cômodo vestindo sua camiseta branca e calça jeans escura. Ele parecia tão perfeito ali em sua própria casa. Ver e senti-lo se sentar ao meu lado me fez segurar a respiração. – Aline, eu acho que...
                Coloquei um dedo sobre seus lábios, impedindo que continuasse. – Eu me comprometi com Vinicius a lutar por quem sou e por quem quero. Sei que ele foi atrás de Cecilia e provavelmente os dois estão juntos agora, então chegou a minha vez.
                -Mas Vinicius não é seu ex-namorado? – perguntou Paolo, mesmo que eu tentasse mantê-lo quieto. Sorri ao perceber que seus olhos revelavam um ciúme guardado. – Sim, mas nunca nos gostamos. Ele sempre pertenceu a Ceci e eu a...
                -A... – incitou o ex-marido de Melissa. Não sabia como reunir força o suficiente para seguir em frente com minha declaração. Vinicius tinha uma base para dizer o que sentia à Cecilia: ela basicamente dissera que lhe amava várias vezes.
                -A você – completei, enquanto a temperatura da sala parecia cair vários graus. Temi que Paolo risse da minha cara ou, pior, sentisse pena de mim. Porém, o que ele fez foi totalmente diferente.
                Enquanto eu olhava para meu colo, morrendo de medo de ver a expressão de meu amado, o pai de Davi se aproximou de mim. Suas mãos seguraram meu rosto e ele fixou seu olhar nos traços de meu rosto.
                -Eu não posso te amar, Aline. Você tem idade para ser minha filha. Sou muito mais velho que você. Tenho mais do que o dobro de seus anos de vida. A polícia me prenderia se descobrisse sobre a nossa relação. Seus pais me denunciariam e você iria para um colégio interno... – porém, nada daquilo me importava. Só conseguia escutar as palavras iniciais de seu “discurso”.
                -Você disse que não pode me amar, não que não me ama – interrompi-o – Paolo, o que isso quer dizer? Você sente algo por mim? Se não, diga agora e me deixe partir para sempre. Demita-se da escola e nunca mais cruze o meu caminho. Mas se você me ama...
                Paolo tocou uma mecha de meu cabelo e percebi que seus dedos tremiam. – Aline Wodi, eu te amo.
                A partir desse momento, eu não tinha mais noção de nada. Cada parte do meu corpo se concentrava no fato de que meu amor nunca fora platônico. Quando Paolo se preocupou com minha saúde no primeiro dia de aula, ele estava preocupado porque me amava. Depois da festa de Belle, ele beijou Cecilia para se vingar do fato de eu praticamente estar com Vinicius...
                Porém, para aumentar ainda mais as batidas de meu coração, Paolo decidiu fazer o que eu esperava há tanto tempo. Em um momento doce, ele simplesmente uniu seus lábios aos meus como se eles pertencessem uns aos outros há muito tempo.
                Não sei por quanto tempo nos beijamos, porém, quando nos afastamos, meu grande amor disse o que eu menos esperava:
                -Irei me demitir do colégio – sorri da forma mais alegre que existia – Você vai fazer quinze anos neste mês e nós poderemos manter um romance secreto até seus 18. O que você acha?
                -Eu acho... – fiz uma careta para preocupá-lo – que essa ideia é perfeita! – exclamei, rindo, enquanto ele finalmente me beijava novamente. Talvez toda aquela espera tivesse valido a pena.
                Talvez nada. Daquilo eu tinha certeza.
Escrito por StarGirlie.

Quadragésimo Quinto Capítulo
Luisa



                Pela primeira vez na vida, eu queria ter uma mãe e um pai presentes. Queria poder deitar minha cabeça em seus colos e chorar como nunca havia chorado. Queria poder confiar em alguém de uma forma que não confiava nem em mim mesma.
                Mas meus pais não estavam nem aí para mim. Se eu morresse provavelmente só se preocupariam em gastar dinheiro com o caixão. Vocês devem se lembrar de como foram indiferentes quando parei no hospital por causa de minha tentativa de suicídio. Até hoje não entendo o porquê dos dois de minha mãe ter engravidado de mim e de Daniele.
                Como sabia que não adiantava nada esperar que Dani voltasse para casa e simplesmente devolvesse o Caderno original, liguei para a única pessoa que me amara mesmo quando eu era a Evil Luh. A única pessoa que sabia quase tudo sobre mim e nunca tentara me mudar.
                Temi que a ligação caísse na caixa postal, porém, felizmente, Felipe atendeu a chamada logo no segundo toque. – Tá tudo bem, Luh? – perguntou ele imediatamente como se sentisse que algo estava errado. Talvez fosse o horário. Pelas minhas contas, ele provavelmente acabara de almoçar.
                -Não, Fe, minha vida está destruída. Nada, nada mais importa – as lágrimas caíam desesperadamente em meu rosto. Eu tremia no chão de minha casa e não tinha nada a ver com a temperatura que realmente despencava. A previsão do tempo havia dito que tirássemos nossos casacos do armário.
                -Estou chegando aí. Espere por mim – não tive tempo nem ao menos de avisar que não era necessário que ele viesse. Eu só estaria sendo educada, já que realmente precisava da companhia de Felipe.
                Fiquei feliz que ele não disse nada como “não faça algo de que irá se arrepender” ou “se mantenha calma”. Meu namorado apenas disse para que o esperasse em um discreto aviso de que se eu tentasse suicídio agora, ele me esperaria sempre. Esperando o dia em que voltaria para seus braços.
                Quando a campainha tocou, apenas deixei que Fe entrasse e me abraçasse. Escutei suas palavras de consolo enquanto eu lhe contava toda a verdade. Explicava que naquele Caderno havia xingamentos contra Cecilia, planos para separá-lo dela e também várias considerações de suicídio. Era como um diário, porém, em terceira pessoa.
                -Você sabe o que Daniele vai fazer com isso? – perguntou meu amor, tirando uma mecha preta de meu cabelo que cobria o meu rosto. Imaginei se minha irmã estaria fazendo tudo sozinha ou se tinha um cúmplice. Talvez ela fosse a cúmplice de alguém. De um vilão ainda maior.
                -Eu não sei, Felipe. Mas sei que a minha história ainda não acabou – falei, sabendo que não importava quem estava agindo por trás disso tudo. O importante era que o Grande Final estava se aproximando e todos nós estaríamos reunidos novamente.

Daniele
                Parei no sinal e observei meu reflexo. Nada mal para quem estava fugindo de sua irmã mais nova. Era incrível como Luisa fora fácil de enganar. Só precisei fazer uma maquiagem ridícula nos pulsos, fingir que era tão triste e solitária quanto ela, e comprar algumas coisas bonitas. Era quase patético o quanto aquela garota precisava de atenção.
                Chequei meu celular. Nenhuma mensagem nova. Parecia que quem queria tanto aquele caderno estava um pouco ocupado. Talvez pudesse parar para um lanchinho antes de entregar a “encomenda”.
                Porém, meu sonho foi destruído quando vi a pessoa que estava me ajudando a destruir a vida de Luisa. Ela estava parada em frente a entrada do parque em que combinamos de nos encontrar. Parecia um tanto alterada, muito mais do que algumas horas atrás.
                Parei e desci do carro, determinada a não sentir remorso pelo que estava fazendo. Sabia que quando entregasse O Caderno àquela pessoa vingativa, em menos de duas horas, ele estaria na Internet. Todos ririam e comentariam sobre os problemas sentimentais de Luisa.
                E a culpa seria minha. Mas eu não sentia pena de minha irmã. Era graças a ela que nossos pais nunca me davam atenção. Ela nascera de um acidente. Não merecia ter uma boa vida quando destruíra a minha.
                No fim, tudo se baseava na vingança. E sempre, sempre, o amor perdia.
Escrito por StarGirlie.
Quadragésimo Sexto Capítulo
Cecilia




                Não demorou muito para perceber que toda a história do avião fora uma armação. Bastou Vinicius me deixar em casa para eu perceber que ela estava vazia. A mensagem, a escolha perfeita do momento em que um beijo entre mim e Vini podia acontecer. Devia ter desconfiado que a coincidência era grande demais.
                -Pelo visto, a gênia acaba descobrir a verdade – disse Lola, saindo da cozinha e me sobressaltando. Seus cabelos ruivos pareciam chamas ao seu redor. Era como se ela estivesse em chamas na minha frente.
                -Como você entrou na minha casa? – enquanto minha melhor amiga se aproximava, pela primeira vez em muito tempo, senti medo. – Fala sério, qualquer um entra na sua casa e na da Luisa. Vocês deixam sempre as portas abertas.
                Várias perguntas perpassavam por minha mente, mas eu não podia recuar. Era claro o que Lola estava fazendo. Ela estava dando uma de –A*. Eu só precisava entrar no seu jogo. – Mas por que isso? Por que invadir nossas casas?
                Minha amiga ruiva deu uma volta rápida e sorriu para mim. Neste momento, várias imagens começaram a surgir em minha cabeça. As bonecas enforcadas na festa de Aline, os rostos sarcásticos no evento de Belle e...
                -Você não vê, Cecilia? Eu só estou me vingando. Vingando de você ter tirado toda a atenção que recaía sobre mim. Você chegou nesse maldito de colégio e se tornou a garota inteligente e disputada por Felipe, Vinicius e Fábio. – senti-me mal por nunca ter percebido o que havia feito, mas não era minha culpa. Nunca escolhi estar num quadrado amoroso como aquele.
                -Eu sempre amei Fábio e logo que ele te viu chegando foi como se o mundo se reduzisse ao seu rosto – Lola sentou-se em meu sofá, enquanto seus cabelos longos cobriam seu rosto. Ela estava escondendo as lágrimas que caíam – Mas o pior não era só você. Havia aquela dupla infalível: Luisa e Aline. Elas mereciam perder por seus próprios defeitos.
                Escutei passos no quintal, porém, Lola estava em um momento tão introspectivo que não parecia ouvir nenhuma interrupção. – Então, passei a espionar vocês. Peguei seus maiores erros. Aline e seu romance proibido com Paolo. Luisa e seu Caderno. Você e sua relação bem apimentada com Vinicius.
                Tive que rir. Ela só podia estar com algum problema mental sério. Desde quando nem beijar a pessoa é ter uma “relação bem apimentada” com ela? – Acho que você precisa reavaliar seus conceitos. Primeiro, a Ali nem namora o Paolo. Segundo, o livro da Luh já foi destruído e as cópias da Aline também. E eu e o Vini nunca nos beijamos ao menos.
                Lola abriu sua bolsa, tirando, em seguida, uma foto e um objeto até mesmo pequeno. – Tudo bem, a parte de você e do Vinicius eu me enganei, mas a de Ali e de Luisa estou completamente certa.
                E quando peguei os itens de suas mãos, meu coração parou. Ela não estava mentindo. Ali, na minha frente, estava a imagem de Aline e Paolo se beijando de forma empolgada. Não pude deixar de sentir uma pontada na alma ao perceber que há algumas semanas quem beijava o professor era eu.
                Porém, minha maior surpresa não fora o novo casal formado, mas sim o caderno que eu segurava. Ele realmente era O Caderno de Luisa e parecia não ter censuras, dessa vez. Encontrei xingamentos contra mim, além de também planos para me destruir. Cada nova linha absorvida era uma facada em meu peito.
                -Viu? Luisa e Aline mentiram. Elas sempre mentiram. E eu vou expô-las ao máximo. Essa foto de Ali com Paolo cairá na Internet em... o quê? Quatro horas? Já esse caderno vai ser um ótimo tema de estudos no colégio – e com um sorriso maléfico no rosto, completou – Quando o diretor for demitido.
                Naquele momento, toda a confiança que eu depositava em Lola despencou. Era hora de provar que não importava o quanto minhas amigas errassem, elas continuavam a ser muito importantes para mim. – Boa sorte com isso.
                Joguei-a no chão e peguei sua bolsa. Sabia que Lola não era esperta o suficiente para salvar a imagem em um pendrive e, provavelmente, não havia cópia alguma do Caderno. Ela estava sem armas.
                Infelizmente, naquele momento, enquanto corria para a porta de casa, a pessoa que estava do lado de fora finalmente entrou. E eu bati minha cabeça com tudo na dela. – Você...
                Entretanto, não pude terminar a frase. O mundo se apagou antes que eu conseguisse dizer as palavras: Você veio me salvar.
Escrito por StarGirlie.
*-A é a grande vilã de Pretty Little Liars, que atormenta Aria, Emily, Spencer e Hanna através de mensagens e planos diabólicos que acabam com as vidas dessas garotas. 

Quadragésimo Sétimo Capítulo
Aline




                Logo que escutei o clique da câmera fotográfica, me desesperei. Alguém havia visto e fotografado o beijo com Paolo. Pior, os beijos. Será possível que naquela história ninguém tivesse um final feliz? Eu, Luisa, Cecilia, Vinicius e Felipe estávamos fadados a tristeza?
                -Ali? – chamou Paolo. Suas sobrancelhas se uniram e percebi o quanto estava preocupado. Era visível que as coisas estavam erradas – O que houve?
                Pensei em contar a verdade, mas me faria parecer louca. Que aluno em sã consciência acreditaria que alguém estava me perseguindo? Logo eu que não era popular, bonita ou extremamente inteligente? Logo eu que não conseguia nem que meu namorado gostasse de mim?
                Mas Paolo é diferente, ele te ama, lembrou aquela vozinha irritante de minha cabeça. Será que eu tinha que confiar nela? A partir do momento em que dissesse a ele que minha vida se tornara um inferno desde que Cecilia aparecera, provavelmente seria expulsa de casa e... Talvez até do colégio.
                -Paolo... Alguém tirou uma foto de nós dois nos beijando – e ao contrário do que imaginei, ele não me contrariou ou disse que aquilo era loucura. Meu ex-professor apenas se levantou e foi até a porta da sala. Ela estava escancarada. Ou melhor, arrombada.
                -Como não escutamos? – perguntou Paolo. Era claro que quem quer que tenha entrado fora muito cauteloso. Entretanto, ao contrário disso, quando a pessoa for espalhar essa foto será bastante escandalosa. Disso eu tinha certeza.
                Foi então que meu celular tocou. Vinicius. – Alô? – meus dedos tremiam. E se o invasor já tivesse mandado a imagem para todos? Será que Vini já sabia sobre meu beijo com Paolo através daquela foto?
                -Ali, a Ceci está em perigo. A Lola está entrando na casa dela! – sussurrou o talvez namorado de Cecilia. Ele parecia muito aflito, o que me levou a crer que a ruiva não estava agindo legalmente.
                Então, os pontos se ligaram. Era óbvio o que estava acontecendo ali. Lola estava adentrando nas casas que normalmente não tinham muita segurança. Tudo para conseguir informações.
                As bonecas enforcadas, que ela ajudou Vini a fazer, incluindo dessa forma uma tortura tanto a Luisa quanto a Cecilia. O barraco que me levou a parecer uma louca e Ceci uma piriguete da pior categoria.
                 -Preciso que você me leve pra casa da Cecilia agora – disse para Paolo, enquanto partia correndo para a saída. Se Lola chegasse ao fim de seu plano nem eu, Luisa, Ceci, Vinicius ou Felipe teríamos nosso final feliz. Todos estaríamos sempre marcados.
                Quando sentei no banco do carro do professor, só pensava em quais seriam nossas cicatrizes. Luisa seria sempre vista como uma louca desvairada, já que Lola deveria ter usado Daniele como arma para se vingar. Vinicius seria isolado para sempre, pois receberia a fama de corno. Era claro que a ruivinha iria mostrar a todos a quantidade de garotos que Ceci ficou. Inclusive Paolo. Felipe teria seus piores podres, como a época em que era um badboy revelado. E eu... Bem, seria expulsa da escola pelo novo diretor e teria que carregar para sempre a fama de “garota que não sabe escolher namorado”.
                Não demorou para chegarmos a casa de Ceci. Paolo morava mais perto dela do que eu. Foi então que vi Vinicius, Felipe, Davi, Fábio e Leonardo ajoelhados pela porta. Todos pareciam estar escutando a conversa que rolava dentro da casa. Era óbvio que Lola estava enfrentando sua melhor amiga. Aquilo não poderia ter um bom final.
                Enquanto corria pelo gramado em direção a Guarda de Cavalheiros que estava prestes a salvar Cecilia, algo chamou a atenção de todos. Mas apenas um teve tempo para alcançar a maçaneta. E a frase veio a minha mente ao mesmo tempo em que Luisa, escondida perto de mim, disse:
                -Ele é escolhido. Entre todos, ele é o escolhido.
                Depois de tanta disputa, o fim de Cecilia chegara. E eu podia dizer: ela fizera uma excelente escolha.
Escrito por StarGirlie.
Quadragésimo Oitavo Capítulo
Luisa          



                Enquanto Lola era levada para casa, tentando de todas as formas nos convencer de que era a boa garota e que tudo era culpa de Cecilia, peguei O Caderno que tantos problemas me causara. Logo na primeira página havia uma foto de Ceci e a palavra F-E-R-R-A-D-A embaixo. E ao seu lado estava uma pequena imagem de Vinicius com o subtítulo Rostinho-Bonito-e-Só-Isso. Definitivamente, aquele meu passado não era nada bom.
                Queria voltar para casa, mas Felipe me convenceu a apoiar Cecilia. Ela já havia dito que não havia problema algum naqueles xingamentos e pediu que eu não ficasse preocupada com nada. Porém, algo tumultuava minha mente e a culpa era dela.
                Afastando-me de meu namorado, aproximei-me de Ceci e observei as pessoas a sua volta. Eram tantos garotos que morreriam para salvá-la, tantos que a amavam mais do que qualquer outra coisa. –O que te levou a escolhê-lo?
                Cecilia, finalmente, me olhou nos olhos e percebi que ela não esperava uma pergunta como aquela. Aline e Felipe evitavam comentar sua escolha, porém, eu precisava entender. A mente daquela menina de cabelos castanhos era muito confusa.
                -Eu... Eu o amo – não gostei daquela hesitação. Algo me dizia que Ceci não estava contando a história completa. Será possível que tivesse escolhido o garoto errado?
                Observei Ali conversar com Fe e imaginei qual seria minha reação se algo assim acontecesse alguns meses antes. Eu estaria com ciúmes da atenção que ela estava recebendo dele e provavelmente faria greve de conversa por uma semana. Agora, só conseguia enxergar dois amigos extremamente fiéis.
                -Por que eu não senti confiança nessa frase? – perguntei, enquanto observava os pais de Ceci conversavam sobre a segurança da casa. A invasão da Lola era a prova de que toda a família podia estar em perigo de um momento para outro.
                Cecilia olhou os garotos. Algo em seu olhar brilhou. – É que eu sinto uma coisa diferente por cada um deles e escolher apenas um está acabando comigo. Sei que estou sendo egoísta, mas não consigo decidir de qual deles amo mais. Com Davi, eu tenho a amizade mais linda do mundo. Consigo dizer qualquer coisa e não sentir medo do que ele fará.
                “Fábio ativa todos os meus sentidos para a sedução. Cada vez que ele me olha é como se a Terra começasse a pegar fogo. Eu não sei o que me faz sentir isso, mas sei que só resisto a ele por saber que só me magoaria se estivéssemos juntos.”
                “Leonardo é diferente, exótico. Ele me entende, apesar de tudo. Sei que Leo não é muito confiável, mas quando estamos próximos é muito interessante conhecer uma parte do mundo totalmente desconhecida.”
                Foi então que os olhos de Ceci recaíram sobre Vinicius. – E Vinicius simplesmente faz com que meu coração pule do meu peito toda vez que o vejo. É como se eu estivesse o esperando por toda a minha vida, como se esses 14 anos cheias de paixões e até algumas ficadas só tivessem servido como uma ponte até ele.
                Eu estava pronta para responder quando vi Daniele entrando na casa. Ela parecia nervosa e logo correu para me abraçar. – Desculpa, desculpa – sua voz dizia em meu ouvido, mas era óbvio que aquilo estava saindo da boca para fora. Minha irmã era um monstro e minha confiança nela acabara definitivamente.
                -Não perca seu tempo – a cortei, afastando-a de mim – Vá procurar sua amiguinha Lola e nunca mais tente ser minha amiga. Você fez sua escolha e eu faço a minha: qualquer ligação entre nós duas acabou para sempre.
                Dani recuou e, por alguns segundos, vi seu rosto empalidecer. – Está bem – ela parecia fraca e tive a impressão que minhas palavras tinham lhe machucado realmente.
                Observei-a indo embora, enquanto o sentimento de que aquele seria a última vez em que a veria por um bom tempo tomava conta de meu corpo. Alguns minutos se passaram em silêncio entre mim e Cecilia até que decidi dizer o que realmente pensava:
                -Cecilia, não escolha o garoto errado só para não magoá-lo. Essa é sua vida, essas são as suas escolhas. Veja o que Lola fez. Ela escolheu se vingar e acabou com a vida dela. Daniele tinha um ódio tão grande de mim que perdeu seu rumo. Não faça como as duas. Viva e viva como se fosse seu último dia, porque em algum momento realmente vai ser.
                Naquele momento, o peso saiu das minhas costas. Minha história com Daniele havia acabado. Era hora de viver minha vida. E eu estava pronta. Finalmente, não tinha mais medo.
Escrito por StarGirlie.

Quadragésimo Nono Capítulo
Cecilia




                Havia se passado uma semana desde que minha vida virara de cabeça para baixo. Ter descoberto a verdadeira face de Lola me fizera perceber que nem tudo é o que parece. Sua melhor amiga pode ser sua pior inimiga.
                Depois de ter me magoado daquela forma, minha mãe perguntou se eu não queria mudar de cidade e começar minha vida novamente. Era como se a cada passo que desse, visse Lola com aquele sorriso cínico, pronta para acabar com toda a história que construí ao longo dos anos.
                Se não tivesse recebido a ajuda de meu grande amor, talvez eu fosse embora mesmo. Por que ficar em uma cidade onde tudo parece se virar contra você? Porém, eu tinha o apoio do meu escolhido e não seria agora que iria abandoná-lo.
                -Ceci? – perguntou alguém enquanto eu lanchava em mais um dia comum na escola. Desde que Paolo deixara o comando do colégio e passara a trabalhar em um estúdio de fotografias, as coisas estavam bem mais calmas. Todos os problemas com a divisão de turmas e com a relação aluna-professor haviam se resolvido.
                Levantei meus olhos e senti meu coração parar de bater. Não podia ser quem eu estava imaginando. Ele não estaria falando comigo depois que não o escolhi.  – Vinicius? – seus olhos verdes brilharam enquanto seu nome saía de meus lábios.
                Controlei-me para não tremer quando ele se sentou ao meu lado. Nos últimos dias, estava fugindo de Vini, Fábio e Leonardo, já que havia os rejeitado para ficar com Davi. Era estranho ter que me aproximar do garoto que mais mexia com meu coração sendo que eu estava com outro.
                Mas antes que vocês pensem que fui uma falsa ao afirmar que amava Vinicius, bem, isso continua sendo a verdade. Minha escolha por Davi fora apenas uma forma de não magoá-lo após tantos anos de amizade. Ele sempre me amara mais do que qualquer outro menino e me protegera em todas as situações. Não podia simplesmente dizer que nunca conseguiria amá-lo.
                Porém, o pior é que eu realmente nunca conseguiria amá-lo como amava Vini. Só o loiro de olhos verdes era capaz de me fazer esquecer todos os meus defeitos, todas as minhas qualidades, tudo que já sofri e tudo que ainda vou sofrer. Era como se com ele, não precisasse fingir que era uma pessoa forte. Eu podia ser frágil e triste e ainda assim Vinicius estaria comigo.
                -Você parece um pouco abatida. Aconteceu alguma coisa? – Sim, eu percebi que ter priorizado a felicidade dos outros foi o maior erro da minha vida. Você não ter me deixado partir. Agora, não há mais volta.
                -Não, eu só ando bem ocupada tentando não pensar que Lola fora expulsa por minha causa – aquilo também era verdade. Saber que minha melhor amiga ruiva estava em um hospital psiquiátrico depois de sua vingança contra mim era agoniante.
                Vinicius segurou minha mão e tive vontade de contar tudo o que sentia a ele. Mas não podia. Não quando Davi acreditava que era o único para mim. – Ela não foi expulsa por sua causa. Lola fez as escolhas dela – como eu fiz as minhas – e cada consequência teve como causa ela mesma.
                A cada palavra de Vini eu ficava mais confusa. Não sabia o que pensar, o que dizer. A verdade era que, no fundo, minha mente esperava nunca mais ter que conversar com o louro. Mas ele estava ali pronto para uma conversa longa e profunda. Como podia tê-lo rejeitado?
                Foi nesse segundo que meu celular vibrou. Nova mensagem. E de Davi:
“Cecilia, eu queria me despedir, mas sei que não irei suportar partir vendo seus lindos olhos castanhos brilhando. No fundo, sempre entendi que não era sua verdadeira escolha, mas, ainda assim, tentei me iludir. Porém, ver o quanto de esforço que você precisa fazer para não ficar com Vinicius acabou comigo. Minha mãe ofereceu a ideia de mudar de cidade e eu a aceitei. Estou indo embora. Adeus, Davi”
                Sei que deveria estar sofrendo por meu namorado ter me abandonado, mas meu único pensamento foi “Vinicius e eu finalmente poderíamos ficar juntos”. Felizmente, meu amor pensou a mesma coisa e, em menos de um segundo, eram suas mãos que seguravam meu rosto.
                -Obrigado por nunca ter deixado de me amar – disse Vini. – Obrigada por nunca ter desistido de lutar pelo meu amor – respondi.
                Suas mãos desceram por meu pescoço e, finalmente, seus lábios se uniram. Eu nem conseguia comparar seu beijo ao dos outros, pois parecia que nossas bocas eram feitas para ficarem juntas.
                -ALELUIA! – gritaram vozes a certa distância e nos afastamos rindo. Luisa, Felipe e Aline pareciam um comemorar o nosso primeiro beijo. Talvez a torcida para ficarmos juntos fosse muito maior do que parecia. Talvez nosso destino sempre fosse esse.
                Enquanto Vinicius me beijava novamente e o sinal para a aula tocava, só pensei em uma única coisa: meu final feliz chegara.
Escrito por StarGirlie.
Quinquagésimo Capítulo
Aline




                Todos estavam tão felizes. Eu finalmente conseguia passar um tempo com Paolo sem que fossemos exatamente ilegais. Meus pais, obviamente, não sabiam sobre o nosso relacionamento, ou, pelo menos, fingiam não saber. De qualquer forma, as coisas pareciam estar dando certo para todos nós. Depois de tanto tempo, conseguimos encontrar a paz.
                Os meses passavam muito rapidamente e antes que eu percebesse já estávamos em dezembro. Cecilia estava louca com as provas e praticamente não saía de casa para fechar o ano com aquelas notas altas de sempre. Ela nem parecia perceber que a formatura estava prestes a acontecer.
                Entretanto, Luisa era o oposto. Minha melhor amiga estava planejando a grande viagem de formatura há meses. Felipe tentava lhe ajudar, mas Luh era extremamente autossuficiente. Desde que Daniele partira para a Europa no fim do primeiro semestre, a Coral mais nova estava muito mais feliz. Até seus pais pareciam um pouco mais livres.
                Vinicius passava seus dias inteiros junto com sua namorada e os dois pareciam tão empenhados nos estudos que ninguém suspeitava a verdade por trás daquilo. Eles estavam sendo muito espertos em esconder o que realmente acontecia em casa quando não havia ninguém para vigiá-los.
                Era estranho perceber que em menos de um mês todos nós seríamos calouros no Ensino Médio e talvez nossas relações mudassem para sempre. Porém, uma coisa eu entendia. Todo o sofrimento teve um propósito: ele nos fez valorizar o que há tanto tempo desprezávamos.
                E, finalmente, tinha certeza de uma única questão. Aquele ano realmente valera a pena.

Cecilia



                Estava muito nervosa. Teria que subir naquele palco em frente de tantas pessoas, a maioria desconhecidas, e contar histórias tão pessoais que eu não sabia como entraram no meu discurso de formatura.
                Era muito estranho ser a oradora da turma. Todos esperavam que minha fala fosse clara, emocionante e tudo mais. Ninguém queria escutar uma pessoa chata dizendo as mesmas coisas de sempre. E eu tinha muito medo do que iria acontecer quando minha voz cessasse.
                -Vai ficar tudo bem, Ceci – sussurrou Vini, suas mãos envolveram minha cintura e sorri envergonhada enquanto me lembrava da tarde anterior. Se meus pais soubessem que tanto estudo era apenas disfarce...
                Olhei em seus olhos verdes e minhas bochechas ficaram muito vermelhas. Era estranho o quanto eu me sentia calma perto de Vinicius. Nossa relação havia evoluído rapidamente, mas aquilo parecia a coisa certa. Até minha mãe acreditava que estávamos no caminho correto.
                -Obrigada – deitei minha cabeça em seu peito e inspirei seu aroma suave. Por um momento, lembrei-me daquela noite em que minha mãe nos pegou realmente dormindo em minha cama. E pensar que, depois de tantos meses, no fundo, ainda éramos os mesmos.
                Então, nossa professora de Química chamou meu nome e tive que me soltar do abraço reconfortante de meu namorado. Eu não queria me afastar dele, mas era necessário.
                -Boa noite a todos os presentes – cumprimentei, tentando não me aproximar muito do microfone e causar aquele barulho horrível – Hoje é a grande formatura que nós, alunos, tanto esperamos. Alguns estão tão preocupados com as viagens – acenei com a cabeça para Luisa, “nossa guia de viagem” – outros parecem morrer para conseguir uma nota 10 de média final – dei risada, sabendo que se tratava de mim.
                “Porém, devíamos ter os mesmos sonhos e medos. Querer saber como é ser do Ensino Médio e, finalmente, entender o que é ser jovem. Temer a ideia de que, em pouco mais de três anos, a maioria de nós estará entrando na faculdade e começando uma vida adulta que não terá volta.”
                “Só que, especialmente, cinco alunos dessa escola não puderam esperar a outra formatura para amadurecer. Eu, Luisa Coral, Aline Wodi, Felipe Lave e Vinicius McLean tivemos que enfrentar uma perseguição contínua de uma colega nossa. Ela acabou lentamente com toda a nossa inocência e nos fez ver que nem tudo é o que parece.”
                Todos os pais e parentes presentes arfaram. Eles sabiam que Lola estava em um hospital psiquiátrico e que aquela situação provavelmente nunca seria revertida. – Então, para mim, me formar não é alcançar uma nova fase escola. É constatar ao mundo que aquelas crianças que corriam pelo pátio não existem mais, que nós nunca mais seremos tão inocentes quanto éramos há alguns anos.
                -Estamos começando uma nova parte da nossa vida. Talvez ela seja melhor do que a anterior. Talvez ela seja pior. Por isso, só posso dizer uma única coisa: boa sorte a todos nós!
                Os aplausos explodiram pelo salão. Todos pareciam se identificar. Júlia e Fábio, que haviam reatado em meados de setembro, entendiam completamente o que eu queria dizer. Eles haviam passado por tudo aquilo também. Leo não estava presente, pois estava estudando na Inglaterra. Paolo observava Aline, feliz por finalmente tê-la ao seu lado, mesmo que em segredo.
                Meu olhar passou por Felipe, Luisa e Ali até recair sobre Vinicius onde permaneceu, enquanto um sorriso surgia em meus lábios e uma frase muda saía de minha garganta:
                -Eu te amo – disse. – Eu também te amo – respondeu meu grande amor. Para mim, naquele segundo, o mundo estava completo. E algo me dizia que para Vinicius também.

Lola



                Entrei pela porta lateral do salão. Todos aplaudiam o discurso de Cecilia e pareciam perceber a conversa muda entre ela e Vinicius. Algo bem óbvio, vamos falar a verdade.
                Ninguém me reparou, pois meu cabelo castanho combinado a um vestido bege e uma maquiagem pesada me fazia passar como qualquer outra garota. –Ceci! – gritou uma pessoa ao meu lado, segurando meu braço.
                -Você está atrasada! Temos que correr. Luisa não quer que percamos o voo – disse a garota de cabelo castanho e mechas. Ela parecia realmente acreditar que eu era Cecilia...
                Foi então que percebi. Nossos vestidos eram parecidos, meu cabelo estava da mesma cor que o dela... – Desculpa! Estava preocupada, pois juro que vi uma garota igualzinha a Lola!
                -Credo! Espero que aquela louca não tenha voltado – respondeu a menina que me lembrei se chamar Fabiana.
                -Sim! – concordei, enquanto a seguia por meio do salão lotado. Talvez se passar por Cecilia fosse um jogo bastante divertido. E eu estava pronta para começá-lo.
Escrito por StarGirlie.