quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Terceira Sombra - Maria


            Sempre aguardei muito aquele dia. O mais glorioso, o mais chique, lindo, perfeito... seria o melhor dia de todos.
            Estava esperando na sala enquanto as cabeleireiras mexiam no meu cabelo. Meu vestido branco estava como sempre imaginei que estaria, simplesmente magnífico. Olhei-me no espelho e não pude acreditar que fosse eu mesma. E as alianças? Lindas.
            Lembro de ter pensado em todas as pessoas que nunca acreditaram em mim. Eu, a garota nerd que amava o cara popular. Eu, que em algum momento da vida, consegui fazer com que ele se apaixonasse por mim. Eu, que me casaria com ele em breve. Queria ser capaz de mostrar para elas que venci. Estaria me casando com alguém que me amava em poucos minutos, teria um filho dali sete meses e seria, para sempre, feliz.
            Uma moça me ofereceu água, e nervosa, aceitei. Não via a hora de casar, de ir para casa com meu marido, de amá-lo, de me tornar a pessoa mais completa de toda face da Terra... de ser mãe.
            Esse fora meu sonho durante a vida toda. Via as mulheres grávidas e pensava que, um dia, eu iria carregar aquele lindo e puro peso. E naquele momento, carregava.
            De repente, ainda sorrindo, dei uma olhada para baixo. E foi então que vi a coisa mais horrível de toda a minha vida: sangue. Meu lindo vestido, manchado para sempre com a marca da dor.
            Recordo de ter começado a gritar, mas antes que pudesse ser socorrida, desmaiei.

            Acordei no hospital. O cheiro me dava náuseas, e minha cabeça não parava de latejar. Minha barriga doía e meu coração estava apertado.
            Olhei para os lados em busca de apoio, mas tudo que vi foi um homem chorando. Um homem que eu não conhecia, um homem com uma máscara de horror estampada no rosto. Mas, também parecia o homem com quem um dia eu prometi casar.
            Vi em seus olhos dor e sofrimento, e demorou alguns instantes para que eu entendesse o que estava acontecendo. Olhei para baixo, onde minha barriga não parara de crescer e não vi nada. Tudo que enxerguei foi o cobertor que me cobria. Mais nada. Nada de barriga, nada de filho, nada de felicidade.
            Virei-me aterrorizada para meu noivo e ele chacoalhou a cabeça.
            Comecei a chorar intensamente, sem pensar no barulho que estava fazendo. Queria meu filho, meu lindo e perfeito filho que nasceria. Só podia ser brincadeira, eu estava sonhando.
            Meu noivo começou a chorar junto a mim, e lembrei que ele também sempre quisera ser pai. Então disse, em meio a dor:
            “Tudo bem, nós podemos ter outros filhos.”
            Mas ele negou com a cabeça. E, olhando em meus olhos, falou:
            “Tiveram de retirar o útero também.”
            Pensei nos instantes que nunca teria. A gravidez, o parto, a alegria de ouvir o choro de meu bebê pela primeira vez. Mas nisso, meu amado começou a levantar. Fiquei espantada, e disse:
            “Podemos adotar.”
            Mas ele nem sequer me olhou. Apenas abriu a porta e respondeu:
            “Não é a mesma coisa. Não prometi me casar com uma mulher vazia.”
            Ele saiu, fechando-a e me deixando sozinha. E foi naquele momento eu soube, nunca mais seria feliz.
            As pessoas que não acreditaram em mim estavam certas, penso agora. Eu caíra na vida, e um mês depois da minha perda, eu posso ver que não há outra escolha se não continuar a viver. Viver uma vida sem felicidade, mas viver.
            Perdi meu filho e meu maior amor no dia que deveria ter sido o melhor da minha vida. Perdi meu próprio eu, não sei mais quem sou.
            Penso em adotar uma criança, mas eu sempre imaginei em ficar grávida junto com o pai de meu filho, aquele que me amaria acima de tudo. E nunca, nunca mais, será assim. Contanto, por mais que eu quisesse, não conseguiria. Meu filho morrera, e nenhum outro poderia substituí-lo.
            E eu viveria assim, por meu filho.           
            By Babi

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