terça-feira, 2 de agosto de 2011

27° Capítulo Maldade Angelical

Vigésimo Sétimo Capítulo
Samantha


            E eu estava, mais uma vez, chorando no banheiro.
            Não queria acordar ninguém com meus soluços, apesar de Petrus estar acostumado com eles.
            Morávamos todos na mesma casa. E quando eu digo “todos”, entende-se por eu, Petrus, Ben, Liz, Robert e Dana. Papai e mamãe estavam viajando quase sempre, e então não era comum tê-los no lar.
            Desde a morte de minha irmã, toda noite eu adormecia chorando. O que meu namorado (sim, não havíamos nos casado ainda) não sabia era que dessa vez o motivo das lágrimas era outro: minha filha.
            Há muito tempo Elizabeth não me visitava em sonhos, mas nesta noite, me avisara do que eu mais temia. Ela havia voltado, e era o anjo da guarda de sua pequena sobrinha.
            Não me entendam mal, sempre a amei mais do que tudo, mas apesar disso, eu sabia que Liz, minha filha, iria sofrer com isso. Ela amava demais Robert, e se este visse Elizabeth novamente, era capaz de voltar para ela e esquecer de sua protegida.
            Deitada no chão do banheiro, ainda tentando acalmar as lágrimas, tive um pequeno desmaio e um visão me ocorreu.
            Robert estava voando com minha filha, mais velha do que hoje. Os dois conversavam. Não escutava direito o que diziam, mas em certo momento soube que Liz perguntara algo importante ao anjo, que se calara por segundos.
            Então tudo se desfez e outra imagem surgiu. Um casamento.
            A noiva era minha filha, já mulher. Mas o noivo, esse eu não consegui identificar. Era tudo sombrio e sinistro para mim, nada parecia fazer sentido.
            Acordei em meio aos soluços e senti os braços de Petrus me envolvendo. O abracei e chorei mais ainda.
            -Estou aqui. – sussurrou ele. – Estou aqui.
           
            Adormeci ali mesmo, e na manhã seguinte, acordei cedo e fui me sentar embaixo de uma árvore de nosso jardim. A visão das flores era linda dali.     
            Dana se aproximou. A casa estava silenciosa, os outros ainda dormiam, e achei que era o melhor horário para conversar com minha melhor amiga.
            Ela sentou-se ao meu lado.
            -Lindo. – disse. Concordei com a cabeça.
            -Fazem dois anos exatos. – falei, passando a mão pela grama. Apesar de não ter explicado do que estava falando, sabia que Dana entendera o que eu quisera dizer.
            -Sonhei com ele pela primeira vez essa noite.
            Olhei espantada para minha amiga.       
            -O que ele disse? – perguntei.
            -Que sente a sua falta. – respondeu ela, abaixando os olhos. Sabia como isso doía na garota.
            Alguns minutos se passaram até que Dana quebrasse o silêncio.
            -Ele mandou Liz ter cuidado com Rob. E falou para Ben não ter tanto ciúmes assim.
            Ri das palavras dela. Ben era realmente muito ciumento com a irmã. Odiava quando qualquer garoto se aproximava, parecia até o pai.
            -Algo mais? – perguntei, olhando para os cabelos esvoaçantes de Dana.
Ela mudara totalmente desde a morte de Austin. Começara a usar a maquiagem menos pesada, o cabelo bonito e ajeitado e parara de ouvir rock. Era outra pessoa.
            -Sim. Ele disse que Petrus é um bom pai.
            Sorri ao pensar na cena. Austin odiara Petrus durante muito tempo, e agora o elogiara? Era difícil de entender, mas vindo de quem viera, bondade nunca era demais.
            Dana sorriu para mim, e eu sabia que tinha algo mais.
            -O que ele disse para você, Da?
            Suas bochechas coraram, mas depois de tanto tempo vivendo em agonia, a garota demônio parecia realmente feliz.
            -Ele disse que ouviu tudo o que falei, e falou que gostou do meu novo corte de cabelo.
            Sorri para ela, alegre. Austin realmente tinha um dom de fazer tudo ficar bem. O garoto era perfeito, e eu entendia porque Dana se apaixonara por ele.
            -E você? – falou ela finalmente. – Quer dizer, não pensa em se casar?
            Lembrei-me de tudo que já pensara a respeito disso. E com sinceridade, respondi:
            -Não. Eu amo Petrus, amo mesmo, mas eu não me imagino casada. Tenho dezessete anos e meus filhos aparentam ter oito. É uma vida incomum, mas apesar disso, eu sou feliz assim.            
            Dana concordou e me abraçou. Ela era mais mãe de meus filhos do que eu mesma, cuidava deles como se fossem seus próprios. No dia em que haviam nascido, eu sofrera demais. Quase morrera para ser sincera, e acabara ficando internada por quase três meses, perdendo o que seria o primeiro ano de meus bebês.
            É claro, com a mente evoluída que tinham, sabiam exatamente quem eu era e iam me visitar todos os dias da semana. Mas não era a mesma coisa que acompanhá-los como Dana fizera.
            Lembro-me do dia em que voltei para casa. Vi meus anjos brincando de esconde-esconde, e logo me convidaram também. Foi como ir em direção à infância que nunca tive. Foi mágico.
            Robert também ajudara muito. Liz ficara apegada demais à ele, assim como Ben ficara apegado em Dana. No fundo, eu sabia que demônios podiam escolher a idade que teriam, e quando meus filhos descobrissem isso, iriam querer acompanhar a vida de seus parceiros.
            Sim, Ben ficaria com Dana, e se tudo acontecesse como eu imaginava, Liz acabaria ficando com Robert.
            O problema é que nem tudo que eu imaginava aconteceu. A vida sempre coloca imprevistos, mas por incrível que pareça, eles podem vir a calhar.
            By Babi

Um comentário:

  1. *o* Que incrível, to ansiosa pelo final e também triste, por que não quero que acabe!!
    Ansiosa pelo próximo capitulo *.*

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