segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Última Sombra - Blake

           
            04:45 – Mais uma noite sem dormir. Minha casa, que comprei há poucos meses, me assusta muitas vezes. Eu sinto que ela é grande demais para apenas uma pessoa; sombria demais.
            Eu estou sentada em uma poltrona, à frente da janela, tomando meu capuccino. Logo, o sol nascerá, e esse é meu momento favorito do dia. O mais lindo, o mais perfeito. Em poucos minutos, a luz invadirá minha vida e me tirará das sombras.
            04:50 – Lembro agora do pacto que fiz com minhas melhores amigas, cinco anos atrás. Lembro do nome que demos a ele: O Pacto das Rainhas das Sombras. Penso em Alice nos contando a novidade. Parece-me que foi ontem, mas já faz tantos anos...

            -Eu vou realizar meus sonhos. Serei uma bailarina profissional! Eu e André, claro. – falou minha amiga.
            -E eu vou ser uma rockeira famosa, adorada por todos! – riu Jenna. Nós estávamos em nosso recreio escolar, e, pensando bem, acho que os melhores momentos de minha vida foram passados durante esses poucos minutos diários.
            -Por que não fazemos um pacto? – falei, olhando para todas. Havíamos formado um círculo no chão, e, como sempre, estávamos com as mãos dadas.
            -Um pacto? – disse Luísa, a mais certinha do grupo, já sentindo encrenca pelo ar.
            -Sim! – respondi. – Faremos um pacto. Devemos seguir nossos sonhos até o fim, e aquela que conseguir, será a vencedora.
            -Podemos chamar a ganhadora de Rainha das Sombras. Quer dizer, ela teve que escapar das sombras para poder ganhar, não teve?
            -Então é isso. - Acenei com a cabeça, satisfeita. – Vamos selar o pacto. Coloquem as mãos aqui, no centro.
            Jenna foi a primeira a colocar a mão, seguida por Maria, eu e Alice. Luísa ficou um pouco temerosa, mas botou a mão também.
            Assim, todas prometemos batalhar até o fim por nossos sonhos. Alice, pelo balé; Jenna, pelo rock e a fama; Maria, pelo casamento que sempre quis; Luísa por encontrar o amor e eu, por meu sonho que prefiro não relatar.
            05:00 – Penso agora na tranqüilidade que estou tendo no momento. É tão mágico, tão perfeito. E eu estou feliz, muito feliz.
            05:05 – Meu celular toca. O computador apita com novas mensagens. O telefone não para de fazer barulho e há alguém batendo a minha porta. Em menos de um minuto, a calmaria virou tumulto. Corro e atendo o telefone:
            -Alô, Blake? ...A Jenna morreu...
            Derrubo-o e, sem compreender o que a moça que estava falando diz, abro duas mensagens que estão esperando em meu e-mail.
            “Blake, uma coisa horrível aconteceu! A Alice se matou! Me liga. Pedro.”
            “SOS. A Maria acabou de sofrer um acidente. Corre pro hospital!”
            Ao mesmo tempo em que leio as frases incompreensíveis para mim, lágrimas se formam em meus olhos. Nada parece ser real, está tudo errado.
            A campainha toca de forma agressiva e corro, mesmo de pijama, para atendê-la. Ao abrir, um policial me aguarda.
            -Srta. Filgy? Receio em lhe informar, mas encontramos sua amiga Luísa morta em seu apartamento...
            Antes de escutar o resto, começo a soluçar. Meu celular, que está em uma de minhas mãos, cai ao chão, e junto com ele, eu caio também.
            Minha cabeça bate fote, e quando estou prestes a desmaiar, uma mensagem me desperta a atenção, mas não sou forte o bastante para continuar acordada.
            “Parabéns, você está grávida! – Dr. Lyron.”

            Cinco anos depois...

           
            Vejo minha casa, que uma vez fora tão grande, pequena para tanto amor.
            Olho o gramado e vejo a cena mais linda de minha vida. Minhas quadrigêmeas, perfeitas, correndo e brincando de algo que não sei bem o que é. Mas só sei que é lindo, lindo vê-las assim.
            Penso no filho que está para chegar. Tão maravilhoso, tão meu.
            Alice, Jenna, Maria e Luísa, minhas filhas, ganharão um irmãozinho em breve. André, seu nome.
            Lembro de cinco anos atrás, o dia mais emocionante de toda minha vida. O dia em que perdi minhas quatro melhores amigas, mas ganhei outras quatro. O mais feliz, e mais triste ao mesmo tempo.
            A perda de meu irmão, André, fora difícil. Mas perder as minhas maiores companheiras, praticamente irmãs, foi impossível. Se não fossem meus bebês, talvez eu nem estivesse mais hoje aqui, olhando por esta janela.
            Penso no pacto novamente. O pacto que fizera tudo acontecer.
            Alice morrera, afinal, sem conseguir o que mais queria. O mesmo aconteceu com Jenna, Maria e Luísa. Quatro garotas que haviam caído nas sombras.
            Sabe, acho que percebi uma coisa durante estes cinco anos que passaram. Ser a Rainha das Sombras não significa não ser tentada por elas. A verdadeira rainha é aquela que consegue domá-las. E agora, vejo, eu ganhei o pacto. Eu sou a vencedora.
            Sinto uma mão apertar meu ombro e sei que é Derik.
            -No que está pensando? – pergunta ele, olhando para fora. Esse é um costume que ele tem, sempre perguntar sobre tudo. Adoro isso, simplesmente adoro.
            -Na Rainha das Sombras.
            -Na o quê? – pergunta ele, confuso.      
            Rio e viro para olhar em seus olhos.
            -Sabe, eu realizei meu sonho. Acho que eu sou a Rainha.
            Ele concordou, segurando minhas mãos.
            -E qual era seu sonho, minha doce rainha?
            -Ser mãe.
            Ele sorri e eu retribuo. E aqui, nesse momento, tenho apenas uma certeza: sou feliz.

By Babi

3 comentários:

  1. Nossa,vou ser a 1 a comentar, achei q ia ser a ultima. Mas enfim, melhor sombra de todas babi. achei maravilhosoooo.Bjss

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  2. Obg!! O pessoal resolveu não comentar... :(

    Bjs, Babi

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  3. Maravilhoso!! Adorei, parabéns!...

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