sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

20º Capítulo de O Beijo da Morte

Vigésimo Capítulo
Lilá

            E então, eu estava grávida.
        Grávida mesmo.
        E não era mais uma vampira.
        Deitei na cama, exausta. Os homens da casa haviam saído para caçar, e eu me encontrava sozinha. Melhor assim, pensei.
        Respirei fundo, tentando botar meus pensamentos em ordem. Então eu possuía um bebê dentro de mim que, apesar da pressão que estava recebendo, não iria tirar. Ele era meio vampiro e meio lobisomem, pelo que tinha entendido. E crescia rápido. Muito rápido.
        Quer dizer, eu estava no primeiro mês de gestação, e minha barriga já era imensa, quase como se estivesse no quinto mês. Isso me fez pensar que, em menos de um mês, seguraria meu filho, ou filha, nos braços.
        Sorri com a ideia.
        Sim, aquela criança era um erro. Sim, ela estava me deixando cada vez mais cansada. E, sim, eu não sabia as conseqüências que ela poderia trazer futuramente.
        Mas eu a amava. Amei-a desde o primeiro momento em que soube que estava ali. Talvez até antes.
        Era meu bebê, e nada neste mundo me faria abandoná-lo. Nada. Nem James, nem Bianca, nem August...
        ...nem Karl.
        -Oi. – falou ele, na porta, me assustando. Parecia cada vez mais fraco, como se sofresse. Temi por seu estado. – Está bem?
        Acenei com a cabeça. Faziam apenas cinco dias que eu descobrira sobre a gravidez, e desde lá, não ficara sozinha com Karl para conversar.
        Ele se aproximou, sentando-se na beira da cama, mas evitando olhar para minha barriga, percebi.
        -James não sabe como o bebê nascerá. – disse ele, após alguns minutos. – Não sabemos se será um vampiro... – ele parou por um segundo. – ...ou um lobisomem.
        -E isso importa? – disse, ouvindo minha voz pela primeira vez no dia.
        -Na realidade, importa sim. – percebi que, apesar das nossas vozes estarem baixas, acabávamos de entrar numa discussão. – Se ele for um lobisomem, nascerá de forma normal. Como uma criança qualquer. Mas, se for um vampiro... não há relatos de gestações como esta. Não há relatos de vampiros que se tornaram humanos. Ela pode sugar seu sangue, e aposto que o fará, daqui algum tempo.
        -Eu sei que ela, ou ele, não fará isso. – disse, passando a mão por minha barriga.
        -Isso é loucura, Lilá! – Karl levantou-se, e começou a andar pelo quarto, nervoso. – Eu te amo, e se estivéssemos em circunstâncias melhores, eu não lhe pediria isso. Mas, Lilá, retire essa criança.
        Balancei a cabeça, deixando as lágrimas rolarem. Como ele tinha a coragem de pedir isso para mim?
        -Você é humana, agora. É mais frágil. Retire essa criança, e, agora que não é mais vampira, poderemos tentar novamente. – disse ele, vendo minhas lágrimas.
        -Mas ela pode não ser vampira. Não há como saber se a transformação estava completa quando nós...
        -Não. – ele disse, abaixando o tom da voz. – Ela tem, de qualquer forma, uma parte de seu sangue anterior. Senão, não cresceria tão rápido.
        Concordei. Era verdade.
        -Você não vai me fazer mudar de ideia, Karl. – disse, secando as lágrimas firmemente. – E, se quer saber, eu te amo. Mas amo mais meu filho. Meu bebê.
        Ele virou-se de costas para mim, segurando a parede com as mãos, usando-a como apoio.
        -Isso dói. – ele falou, sussurrando. – Porque te amo mais. Te amo mais do que tudo, Lilá.
        Abaixei a cabeça, triste também. Eu não desistiria de minha criança, mas acreditava em tudo que ele havia dito. Era arriscado, e se ele estivesse na mesma situação que eu, provavelmente faria a mesma coisa.
        -Cometemos um erro, Karl. – disse, baixinho. – E eu quero consertá-lo. Gostaria que estivesse do meu lado. Seria... mais fácil.
        Ele balançou a cabeça, então virou-se, com os olhos vermelhos, e segurou minhas mãos.
        -É isso que quer? Quer que eu aceite não saber se estará ou não viva amanhã? Aceite que, em menos de um segundo, posso te perder por uma bobeira que eu fiz?
        -Nós fizemos. – o corrigi. – E, sim, é isso que estou te pedindo.
        Ele assentiu, com os olhos virados finalmente para minha barriga.
        -Então eu te apoiarei.
        Ele sorriu a abriu os braços para que eu abraçasse. Era um sorriso dolorido, mas era um sorriso.  Sorri também e lhe abracei, forte. Estava com muita saudade, e me sentia feliz por tê-lo ao meu lado.
        Mas, neste exato segundo, uma figura imergiu da porta do meu quarto.
        -Que lindo, o casalzinho! – disse ela, batendo palmas. – Mas vou ser direta. Passe-me a garota que carrega a criança prometida, ou esta aqui morre.
        Karl levantou instintivamente, me protegendo. Sabia que não tinha mais meus poderes de vampira para me ajudar, e se isso não bastasse, estava fragilizada pela gravidez. Mas, no momento em que pus os olhos em Laís, que segurava Bianca, com seus dentes relativamente próximos de sua garganta, pulei da cama. 
        -Podem escolher. – repetiu Laís. – Ou vocês me entregam Lilá, ou eu mato todos, até alcançá-la.
        E, naquele instante, percebi que ela era uma vampira. Mas não somente isso. Ela era uma vampira descontrolada, que faria tudo para pegar (como ela chamara?) meu bebê.
        E, não, isso eu não ia deixar.
                By Babi

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