quarta-feira, 27 de julho de 2011

20º Capítulo de Maldade Angelical

 Vigésimo Capítulo
Elizabeth



            -Ela...está...esperando... – pude ouvir as palavras saindo de minha boca, enquanto a visão desaparecia de minha mente. Aquele transe fora poderoso, dominando todos os meus sentidos e me impedindo de até pensar.
            Ben colocou minha cabeça em seu colo e tocou meu rosto, enquanto perguntava:
            -O que houve, amor? – sua voz tranquilizadora, acalmou minha respiração acelerada. Essa era uma das partes ruins das visões: meu corpo nunca voltava totalmente ao normal depois de tê-las.
            -Eu vi Ângela comandando um exército. Ela vai nos atacar. Já tomou esta decisão – tentei me sentar, mas uma tontura me impediu.
            -E Damen? Ele apareceu na sua visão? – perguntou Samantha se sentando do meu lado. Seus olhos pareciam opacos, como se tentasse esconder uma grande felicidade.
            -Não. Acho que eles não estão mais juntos. Nem sei se ele está vivo – murmurei, sem ter certeza. Sabia que deveria contar que me vi ao lado de Damen em uma de minhas visões anteriores, mas simplesmente não podia. Não iria quebrar o coração de Ben novamente. Já bastava aquele beijo com Robert.
            -Isso parece estranho. Normalmente anjos nunca mudam de parceiros – afirmou Emma a certa distância. Percebi, após dias, que ela estava mudando.
            Suas roupas haviam escurecido, sua maquiagem se tornara mais pesada, até seu jeito de falar adquirira maior atitude. Emma parecia um anjo da morte. Enquanto pensava nisso, um sorriso surgiu em seus lábios e ela explicou:
            -Estou passando por uma transição – percebendo o choque em meu rosto, continuou – Não, não, eu não estou virando um anjo da morte. Apenas estou virando uma humana.
            -Ah, sim... O QUÊ? – exclamei chocada, me levantando imediatamente. Emma riu de minha reação exagerada:
            
            -Sim, eu estou abandonando minha eternidade, Lizzie. Minha missão acabou.
            -Mas e Josh? – perguntei, lembrando-me do colega de turma de quem Emma era anjo da guarda.
            -Outro anjo assumirá os cuidados dele. Eu provei nos últimos dias uma coisa: que só era capaz de cuidar de você – minha melhor amiga sorriu antes de continuar – E como é uma bruxa, para eu estar o tempo todo ao seu lado devo ser algo parecido, então pedi que me tornassem humana.
            -Você acabou de acolher a Morte só por causa de mim? – aquilo parecia grande demais, para que minha mente conseguisse entender.
            -Não só ela, como eu também – escutei uma voz pronunciar. Virei-me e me surpreendi. Quem dissera aquilo não era Robert, era Damen.
            Ben se colocou a minha frente, segurou uma de minhas mãos e encarou com toda raiva o chefe dos anjos da morte. Não poderia ser verdade o que aquele ser dizia. Ele não fizera aquilo. Muito menos por mim.
            -Damen, o que você está dizendo? – sussurrei para o anjo da morte como nunca imaginei que faria. Seus olhos brilharam, mas ele não sorriu. Parecia saber que aquele não era o momento certo.
            -Estou dizendo que por causa de você, eu também escolhi me tornar humano – como todos ainda continuavam confusos, ele retornou a sua explicação – Elizabeth, você precisa saber uma coisa. Samantha, acho necessário que escute isso também...
            -Você não vai contar nada, seu monstro estúpido – gritou uma voz que pude reconhecer ser a de minha mãe. Ela estava furiosa.
            -Contar o que, posso saber? – perguntei um tanto irritada também. Eles estavam escondendo algo muito importante e eu não suportava que me enganassem.
            -Não há nada para contar, Elizabeth – gritou minha mãe Sandra antes de ser interrompida pela confissão calma de Damen:
            -Eu posso ser o pai de vocês.
            Meu mundo desabou. As lágrimas jorravam de meus olhos. Não podia acreditar nisso. E parecia que meu pai também não. Ele também não sabia de nada. Estávamos desolados. Porém, Samantha não derramara uma mera lágrima. Seu rosto estava congelado em uma máscara de horror.
            -Por que você me escondeu isso? – gritou meu pai – Eu não merecia saber a verdade? Apesar de amar Sam e Lizzie, eu passei a minha vida toda acreditando que elas eram minhas filhas. Quase morri por simplesmente acreditar nessa mentira!
            -Pedro, por favor, escute-me! Elas são suas filhas! – Sandra caía de joelhos na frente de meu pai, enquanto Ben me puxava para longe do tumulto. Ele sabia o quanto aquilo estava me machucando e queria me proteger.
            -Como você pode dizer isso sabendo que há chances de aquele homem ser o pai delas? – retrucou Pedro em lágrimas. Sua voz estava aguda e desesperada. Ele não esperava isso. Na verdade, acredito que ninguém estava preparado para algo assim – Você me dá nojo, Sandra! 

            Minha mãe caiu no chão e Damen foi socorrê-la, enquanto todos se afastavam. Robert colocou Emma em seus braços, enquanto abria suas asas e a levava para os topos das árvores, onde ambos poderiam relaxar. Austin e Dana partiram em direção à mata, com os rostos vermelhos de raiva. Sabiam que aquela revelação havia abalado os sentimentos de Sam, mas não podiam fazer nada contra isso. Petrus abraçava minha irmã com os olhos molhados, apesar de estar tentando não chorar. Estávamos separados novamente.
            Sentei junto a Ben em meio a grande floresta, tentando colocar meus pensamentos em ordem. Ao contrário das outras pessoas, eu preferia o barulho ao silêncio nesses momentos.
            -Eu não sei o que fazer, Ben. Já estava confusa com o fato de ser uma bruxa, e não um anjo, como acreditei por toda minha vida. E agora vem essa? Não posso aceitar que Damen seja meu pai. Ele é um anjo da morte. Matou dezenas de pessoas. Tornou a vida de tanta gente medíocre e difícil por simples capricho. Um homem desses não pode ser meu pai!
             -Eliza, acho que é o momento de eu também te contar uma coisa – sussurrou Ben.
            -Ai, não. Agora só me falta você me dizer que é meu irmão – disse sarcástica, mas verdadeiramente desesperada.
            -Não, graças a Deus! – meu namorado sorriu levemente – Porém, o que tenho para te contar vai mudar tudo, Eliza. Nada mais será como antes. Preciso saber se você quer que eu te revele o que estou escondendo.
            -É claro que quero, Ben – respondi automaticamente.
            Ele se levantou e começou a girar em volta de mim. Não parecia preparado para contar o grande segredo, mas tinha. O nosso tempo em paz estava acabando, mas eu não imaginava que não era apenas por causa da guerra que Ângela estava prestes a começar.
            Ben se virou para mim, olhou em meus olhos e disse tudo em um fôlego só:
            -Elizabeth, eu estou doente e vou morrer em poucos meses.
            A escuridão me consumiu. Não podia acreditar no que ouvira. Meu grande amor morreria em pouco tempo e não tínhamos feito nada do que sonhávamos. Não havíamos nos casado, tido nossos filhos, os verem crescer, conhecermos nossos netos... Nada, tudo estava acabado. Porém, mesmo sem forças pude perguntar:
            -Quantos meses?
            -Cinco.
            Minha respiração falhou, mas continuei meu interrogatório:
            -Não há uma cura mágica?
            -Não. A doença é mágica, portanto nem os métodos normais ou os místicos poderão me salvar. Estou fadado a morrer – as lágrimas começaram a jorrar de seus olhos. Levantei-me e o abracei. Ele não conseguia parar de chorar, como eu. Seríamos separados então pouco tempo.
            Nossa história de amor terminaria em tragédia antes mesmo do tempo. Não podia acreditar que em cinco meses nunca mais veria aqueles olhos verdes brilharem, aquele sorriso se abrir quando me visse, ouvir sua risada, sentir seus braços ao redor de mim. Então, tomei a decisão mais difícil da minha vida:
            -Eu morrerei também.
Escrito por StarGirlie.

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