domingo, 31 de julho de 2011

24º Capítulo de Maldade Angelical

Vigésimo Quarto Capítulo
Robert




            Deitei ao lado da lápide de Elizabeth e Ben. A sete palmos abaixo da terra, os dois repousavam em seu leito eterno. Ficava feliz simplesmente em saber que minha Lizzie deveria estar contente no Céu. Ela havia partido da Terra, um lugar com tantos seres das trevas, para um lugar em que o sol sempre brilhava e que sentimentos ruins não eram permitidos.

            -Rob? – escutei uma voz doce em meu ouvido e me virei. Parada ao meu lado, estava a única pessoa que amei em toda a minha vida: Elizabeth.
            Ela não havia mudado muito depois da morte. Seu cabelo loiro empalidecera um pouco, enquanto sua pele atingira uma coloração rosa-acinzentada. Vestia um vestido que parecia feito de flores. De forma alguma, parecia um fantasma.
            -Lizzie? É você mesma? – tentei me aproximar de seu corpo, mas uma brisa estranha me impediu de tocá-la.
            -Não se preocupe, é apenas Ben com ciúmes – minha amada deu aquele seu sorriso adorável – Mesmo depois de tudo, ele ainda não se acostuma com nossa relação – ela apontou para nós dois e deu uma risadinha.
            -Então, ainda há alguma coisa entre nós dois? – perguntei inseguro. Desde que ela conhecera Ben, nunca mais acreditei plenamente que se importasse comigo.
            -Claro, Rob! Não é porque eu morri que te esqueci! – quando Liz usou aquelas palavras, estremeci. Ela era tão doce e tão alegre, que mesmo não sendo mais viva, ainda conseguia transmitir felicidade a qualquer pessoa que possua um coração.
            -Não fique assim – ela colocou suas mãos sobre meu rosto, mas apenas senti um ar quente em minha pele. Até mesmo no quesito “gelada”, Lizzie era diferente.
            -Elizabeth, você morreu, como eu posso não ficar triste? A razão da minha existência partiu para sempre! – joguei-me no chão e coloquei minhas mãos cobrindo meu rosto, pois não queria que ela me visse chorar novamente.
            -Robert! Eu por acaso desapareci? Ou estou aqui ao seu lado? Cuidando de você? Só estou na Terra por causa de você! Ben tentou me impedir de voltar, mas eu tinha que te visitar, tinha que ter certeza que sobreviveria. Não podia te deixar sozinho – inesperadamente, as lágrimas desapareceram sob o toque de meu amor.
            Olhei para os olhos azuis que tantas vezes brilharam e percebi pela primeira vez que era imensamente importante para Elizabeth. Ela abandonara o Paraíso apenas para me ver. Contradissera seu grande amor só porque queria ter certeza sobre meu estado. Apesar de não me amar como eu a amava, Lizzie ainda se importava demais comigo.

            -Eu não consigo expressar em palavras o quanto estou agradecido de você ter aparecido, Liz. Depois desses dias acreditei que nunca mais te veria – os últimos seis dias haviam sido horríveis e eu não conseguia imaginar como seriam os próximos.
             Antes que pudesse perceber, Elizabeth se aconchegou em meus braços e se encolheu como se sentisse frio. Havia algo de errado com ela.
            -O que está acontecendo? Por que você está assim? – perguntei, enquanto lágrimas sem líquido algum caíam de seus olhos.
            -Eu não deveria estar aqui, Robert. Quando desci do Céu, parte da minha alma ficou lá. Não tenho forças suficientes para sobreviver. Estou desaparecendo de verdade. E tudo isso, para apenas te dar um último adeus.
            Meu coração foi esmagado. Quando chorei em seu túmulo, mostrei a Lizzie o quanto estava sofrendo e a convenci de que ela deveria estar comigo na Terra, e não com Ben no Céu. Aquilo estava matando-a e eu não conseguia pensar em nada para retroceder aquele processo.
            Sem nenhum controle, minhas asas se abriram e envolveram o espírito de minha amada. Um brilho pareceu surgir em sua pele, mas seus olhos continuavam a empalidecer.
            -Elizabeth Bloom, esqueça que sou o seu Robert. Responda com toda a sinceridade. Mentiras não vão te fazer bem. Onde exatamente você gostaria de estar agora?
            Ela observou meu rosto, antes de respirar sem nenhuma necessidade, o que imaginei ser um hábito que não havia desaparecido ainda, e responder:
            -Gostaria de estar com Benjamin no Paraíso.
            Não houve a dor que imaginei que apareceria quando aquelas palavras fossem pronunciadas. Apenas um alívio. Lizzie não estava presa a Terra. Ela estava presa a mim e eu faria com que encontrasse sua liberdade.
            -Então, vou te levar até lá.
            Seus olhos brilharam, mas minha Liz não sorriu. Ela sabia o quanto aquilo era difícil para mim. Eu a estava deixando partir, para sempre. Apesar de amar Sam, Pedro e Sandra, Elizabeth ficara presa apenas a mim. Seu melhor amigo. A pessoa que mais a amou durante toda a sua vida e que continuaria a amando até o Fim dos Tempos.
            Abri minhas asas e a levei pelos céus até uma das nuvens que, apesar de não ser diferente das outras, pude sentir ser a passagem para sua libertação eterna. Foi quando Ben apareceu. E a tonalidade acinzentada de Lizzie desapareceu totalmente.
            O amor da minha eternidade assumiu sua aparência cheia de vida. Seu cabelo loiro brilhava como o sol. Seus olhos azuis assumiram a cor do mar. Sua pele voltou a ser rosada. Ela voltou a ser a Elizabeth. De Ben.
            O espírito de Ben, tão vivo quanto o de Lizzie, parou em minha frente e ajudou sua amada a descer de meus braços. Apesar de estar vendo a razão da minha existência partir, não desejei chorar. Aquele era o nosso último momento juntos e eu tinha algo a dizer:
            -Ben, cuide muito bem dela, ok? Confio muito em você para deixar que ela fique aqui – ele sorriu concordando e segurou uma das mãos de Elizabeth, que olhou para mim com os olhos marejados – E, minha melhor amiga Lizzie, não se meta em encrencas, está bem? Sei que mesmo em um lugar tão calmo como este, você pode arranjar algo em que esbarrar ou alguém em quem tropeçar. Fiquem com Deus, literalmente.
            E parti. Desci até terra e não olhei para trás. Estava me despedindo da pessoa que mais me importava e caso a visse novamente, poderia desistir de tudo e escolher me tornar uns dos guardas do Paraíso. Não era o que Elizabeth gostaria para mim. Ela queria que eu vivesse. Respeitaria seu desejo.
            A partir daquele dia decidi amar apenas Lizzie para toda a eternidade.
Escrito por StarGirlie.

2 comentários:

  1. Será que ainda existem homens românticos e fofos, como na novela? bjsss

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  2. Eu realmente espero, Anônima, que existam. O mundo seria muito triste se não houvesse o amor vindo deles também. Não adianta só as meninas amarem e sofrerem. Beijinhos, StarGirlie.

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