Décimo Nono Capítulo
Samantha
-Lizzie! – gritei, ao ver minha irmã sendo carregada pelo namorado.
-Sam! – ela se soltou e correu ao meu encontro. A chuva nos molhava, mas eu não ligava para isso. O importante era a saúde da garota que eu tanto amava.
Petrus foi até Ben e o abraçou também.
-Nunca mais faça isso, cara. Quase me matou de susto!
Os dois riram e uma navalha pareceu perfurar meu coração; eu ainda não contara nada sobre a noite anterior.
-Onde está mamãe? E papai? – perguntou Lizzie.
No tempo em que ela estivera fora, pude conhecer mais afundo meus pais. Enquanto Robert e Emma a procuravam, tentei entender tudo que acontecera durante os anos em que havíamos ficado distanciados.
-Na cabana, se recuperando do susto. – sorri e ela retribuiu.
Soltei Lizzie e deixei que fosse com nossos pais. Ainda haveria muito tempo deles para mim.
-Petrus? – chamei. O sol estava se pondo e eu não aguentava mais o nó que apertava meu coração.
-Sim, amor? – respondeu ele, e eu estiquei a mão.
Petrus pegou-a e eu o levei para a floresta, assim como fizera na noite anterior com...
O pensamento me machucava. Alguns segundos, e eu falaria tudo...
-O que foi? – perguntou ele, sorrindo.
Antes que pudesse responder, caí no choro.
-Meu Deus, não chore! – falou, preocupado, já me abraçando.
-Não, não encoste em mim! – disse, cambaleando para trás.
-Por que está assim? Por que você ficou durante o dia inteiro me evitando? É aquela coisa? Porque eu não ligo, você sabe...
-Não. Pare de ser tão bom, eu...
Eu sabia que no momento em que dissesse, não poderia nunca mais ter uma conversa como aquela. Não poderia mais beijá-lo, nem vê-lo, talvez. Ele ficaria com nojo, nojo de mim; sem dúvidas iria embora. Contanto, era necessário.
-O quê?
-Eu te... eu te... te...
Mas as palavras não saíram. Não conseguia, e não era por que não quisesse, mas havia algo me impedindo. O pacto.
-O que aconteceu? – falou Petrus preocupado.
-Eu não consigo.
-Pode contar comigo, pode contar tudo...
-Não, você não entende! – disse, chacoalhando a cabeça. – Por causa do pacto, eu não posso te dizer...
-Pacto?
-É... mas talvez...
Estralei os dedos e um papel apareceu. Estava melhorando no assunto “materialização”. Logo, uma caneta também surgiu. O pacto fora sobre não podermos dizer nada sobre o que fizéramos... isso não incluía escrever sobre isso.
E eu mostrei a ele, com todas as letras, o que acontecera:
“Eu te traí. Eu dormi com Austin.”
As lágrimas rolaram mais forte enquanto Petrus lia.
-Como...?
Pela expressão dele, já me senti humilhada. Eu queria me matar; me mataria mil vezes, só para nunca mais ver aquele olhar tão decepcionado em seus olhos.
Comecei a soluçar mais alto e fiquei de costas para Petrus. Depois de alguns minutos, ele se posicionou novamente à minha frente. Vi lágrimas em seus olhos.
-Mas você... o ama?
-Não! Eu te amo Petrus, e eu me arrependo, me arrependo pelo que fiz!
-Por que fez então? – ele não estava bravo. Só parecia... cansado. Mais uma vez, foi como uma punhalada pelas costas.
-Eu não sei. – sussurrei. – Ele me... entendeu.
-E eu não te entendi?
-Não, não é isso. É que ele me conhece. Eu vivi com ele durante muito tempo, ele sempre viveu nas mesmas condições que eu, e eu estava com medo de te ferir... não sei se é bem isso.
-O que é então?
-Eu não sei. Eu...
Caí no choro novamente. Eu nem sabia porque tinha feito aquilo.
-Você precisava. E ele tinha uma coisa que eu não tinha. – disse Petrus, colocando a mão em meu ombro. – Segurança.
Olhei em seus olhos, e soube que eu nascera para neles permanecer. Ele era minha alma gêmea, e com medo de machucá-lo, o feri ainda mais.
-Sam, eu sei que está arrependida. – disse ele, finalmente.
-Sabe? – falei surpresa.
Sem pensar duas vezes, o beijei. E ele correspondeu. O beijo mais molhado que já tivera, confesso, pois não consegui parar de chorar em nenhum momento. O soltei e respirei fundo.
-Petrus, me desculpe. Me desculpe, eu te amo, eu nunca quis fazer isso com você...
-Eu sei, eu sei amor. Não importa o que você fez. O importante é que soube corrigir, se arrependeu.
Sorri. Beijamos-nos novamente, mas antes que fizéssemos qualquer coisa, falei:
-Não vamos fazer isso aqui. Quero que seja especial para nós.
Ele concordou.
-Você é tão linda. – falou.
-E você é a melhor pessoa que eu conheço.
-Eu te amo, Sam.
-Eu te amo, Petrus.
Ele beijou minha testa, mas logo depois algo cortou nossa felicidade: um grito.
-Lizzie. – falei logo, já me preparando para correr.
Austin
Eu vi. Vi quando Sam chamou Petrus. Ouvi quando ela tentou contar o que aconteceu. Senti o que ela fez após. Escutei seus soluços e, principalmente, o que ele disse logo após. E doeu, doeu muito o modo como ela disse que para eles não podia ser ali, que ela queria um lugar especial. O lugar onde foi para nós.
Mas agora, alguém gritava. Elizabeth, a irmã de Sam, estava caída no chão.
O namorado da garota, Ben, correu para seu lado, assim como os anjos. Ela estava tendo mais algum tipo de “visão”. Logo, sussurrou:
-Ela... está... esperando.
By Babi
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