sexta-feira, 29 de julho de 2011

22º Capítulo de Maldade Angelical

Vigésimo Segundo Capítulo
Elizabeth


            Ben se sentou ao meu lado naquela linda campina. Sua aparência estava piorando e eu sabia que não sobreviveria a batalha que começaria em apenas dez horas. Na verdade, nem eu mesma estaria viva depois dela. As lágrimas que já caíam, se tornaram ainda mais presentes.
            -Não chore, por favor, Eliza. Não aguento te ver assim – Ben secou meu rosto com a ponta de seus dedos, mas segundos depois meus olhos já haviam umedecido tudo de novo.
            -Nós vamos morrer, Ben! Como você quer que eu não chore? – caí nos braços de meu grande amor e tentei imaginar o que haveria de bom no mundo depois que ele falecesse. Ao meu ver, não existiria nada.
            -Você não vai morrer. Saiba disso. Todos que estão aqui dariam a sua vida para te proteger. Sandra, Damen, Pedro, Sam, Robert, Emma, até mesmo Petrus, Dana e Austin. E, acima de todos, eu morrerei por você – duas lágrimas caíram de seus olhos e ele me abraçou.
            Ficamos silêncio durante muitos minutos tentando absorver aquele último pôr-do-sol que veríamos juntos. Na tarde seguinte, o nosso mundo seria apagado. Para sempre.
            -Fico feliz em saber que estou passando minhas últimas horas com você – disse Ben beijando de leve minha testa. Percebi que um sorriso brilhava em seus lábios e tentei retribuir. Tinha que aproveitar aqueles momentos de todo o jeito.
            -Eu também, Ben.
            Meu namorado deu uma risadinha baixa, que mesmo naquele tempo de guerra, não pareceu errada. Nada nele parecia incorreto, tudo tinha uma razão de estar ali e ser daquele modo. Ele era perfeito, pelo menos, para mim.
            -O que você está pensando? – perguntei curiosa. Sabia que ele ia perguntar o clássico “e você?” e eu teria que responder de forma envergonhada, o que realmente estava pensando.
            -Em como você é perfeita. Apesar de saber que vou morrer, você não se afastou de mim, mesmo sabendo que vai sofrer depois. Essa atitude é altruísta demais – Ben mexeu em meu cabelo, enquanto eu perguntava:
            -Mas você não faria isso por mim?
            -Claro que faria, mas eu não sou perfeito como você – retrucou meu namorado.
            Empurrei-o para a grama macia e me debrucei sobre ele. O sol já estava quase desaparecendo, mas sabia que ficaríamos ali até mesmo no escuro. Aquele lugar era mágico e transmitia uma paz que sabíamos que nunca mais encontraríamos.
            -Eu não sou perfeita, Ben. Mas eu sou perfeita pra você. E serei até o dia da minha morte. O que quer dizer... Até amanhã – mesmo vendo aquele prazo tão perto, o meu sorriso não desapareceu.
            Não havia por que sofrer. Estava passando meus últimos momentos com a pessoa mais importante da minha vida. Ele iria morrer em cinco meses e eu ficaria na Terra, pelo menos, com a Batalha, morreríamos juntos. Nenhum de nós teria que ver o enterro do outro. Foi em meio a estes pensamentos que percebi uma coisa. Ben também reparou.
            Caí para trás, o céu se tornou vermelho, Ben me beijou, colocando-se sobre mim. Seus lábios aproveitavam cada segundo daqueles que podiam ser nossos últimos beijos. Nossas respirações falhavam, nossos corações batiam aceleradamente. Senti as flores crescerem a nossa volta criando uma barreira que impedia que nos vissem. Fiquei feliz em saber que ele ainda conseguia usar seus poderes mesmo estando doente.
            Nossos olhos se abriram e juntos unimos nossos pensamentos. Saiba que eu serei sempre sua, disse em sua mente. E eu sempre serei seu, respondeu Ben. Nossos corpos então se uniram e perdi totalmente a noção de tempo.


            Faltava meia hora para a meia-noite, quando a Batalha começaria. Vesti minha roupa, como Ben, e nos levantamos para voltar ao acampamento. O céu brilhava cheio de estrelas acima de nós dois e realmente não parecia que uma guerra aconteceria ali.
            Chegamos às cabanas de mãos dadas, com um sorriso bobo brilhando em nossos lábios. Logo que entramos naquela área percebemos que o clima de despedida predominava.
            Sam estava abraçada a Petrus. Damen observava Sandra de longe enquanto ela conversava com Pedro. Robert me esperava encostado em uma árvore com os olhos marejados de lágrimas. Dana discutia com Tyle e Júniper sobre quais seriam as consequências da Batalha. Mas o que mais me assustou foi... Emma e Austin se beijavam.
            Não conseguia imaginar como aquilo começara. Ela era um anjo e ele um anjo da morte. Se bem que agora, Emma era quase uma humana então eles não tinham muitos problemas em ficar juntos. Só que era difícil ver minha melhor amiga com o melhor amigo de Samantha, e que tinha dormido com ela há tão pouco tempo.
            Quando ela me viu, sorriu discretamente transmitindo pelo seu olhar que sabia de tudo. E mesmo assim, o amava. Entendi-a. Não controlávamos o coração. Por causa disso, percebi que tinha que falar com Robert antes que todos morrêssemos. Ele merecia uma última conversa.
            Olhei para Ben e ele me compreendeu. Foi se juntar a discussão que ocorria sobre a Batalha e me deixou livre para conversar com meu melhor amigo. Caminhei até Robert sendo invadida por diversas lembranças. Percebi que era ele mesmo que as “lançava” no ar.
            Vi-nos abraçados enquanto corríamos um do outro no fim de uma manhã. Lembrei-me de quando ele secava minhas lágrimas, de suas piadas bobas, dos elogios fora de hora. E, principalmente, recordei-me do amor que Rob sempre sentira por mim. Aquilo esmagou meu coração e não consegui fazer outra coisa a não ser abraçá-lo.
            -Lizzie, eu te amo – disse Robert entre soluços. Suas lágrimas molhavam meu rosto, mas eu não ousei secá-las, pois as minhas também caíam sobre suas bochechas.
            -Eu sei, Rob. Sei que não te amo da mesma forma, mas te amo como amigo. Não se esqueça disso, por favor.
            -Não vou esquecer, nunca – afirmou meu melhor amigo no exato momento em que meu relógio marcou o fim de nosso tempo. Ele me soltou do abraço, mas segurou uma das mãos enquanto Ben corria até mim para segurar a outra.
            Meu melhor amigo e o amor da minha vida se uniam para me proteger. As duas pessoas mais importantes da minha vida estavam ali, tentando impedir minha morte.
            -Adeus – murmuram todos da campina, cada um acompanhado de alguém. Samantha de mãos dadas com Petrus e Dana. Austin com Emma. Sandra com Pedro e Damen. Tyle com Júniper. Era o fim.
        

            A luz despencou na noite estrelada. Anjos com asas gigantescas surgiram do Céu, comandados por anjos. Anjos da morte surgiram das sombras e os atacaram. Fogo queimava em todo o local. Robert abriu suas asas e, inesperadamente, Emma também. Deus a ajudou, murmurou uma voz em minha mente.
            Ben se colocou em minha frente e Rob as minhas costas. Levantei minhas mãos para o alto e criei um raio de fogo atingindo um anjo que tentava nos sobrevoar. Ele caiu morto.
            Damen lutava com Ângela, os dois numa dança perigosa. Ela alcançou seu pescoço, mas ele prendeu suas asas. Um grito de dor ecoou pelo local, enquanto meu pai quebrava cada uma delas, fazendo com que sua ex-namorada se tornasse apenas um anjo inútil.
            Samantha tentava controlar o fogo de suas mãos, mas ainda não estava tão acostumada quanto eu. Petrus e Dana se alternavam em protegê-la enquanto ela alcançava o auge de seu poder.
            Austin e Emma lutavam com quatro anjos poderosos. Eles estavam em desvantagem, mas não havia como salvá-los. Estávamos nos defendendo de seis. Tyle e Sandra batalhavam com cinco, enquanto tentavam proteger seus companheiros humanos Júniper e Pedro, respectivamente.
             Senti uma pulsação estranha dominar minha alma e, surpreendente, me lancei ao Céu. Caí sobre a cabeça de um anjo e a arranquei usando minhas próprias mãos, que queimavam como fogo para ele. Ben se defendia de dois anjos, quando matei outro.
            Porém, quando Ângela faleceu, todos os do lado “do bem” se distraíram e as mortes aconteceram. Um anjo de cabelos dourados atingiu Austin pelas costas e perfurou seu corpo com a “Espada Celestial”. Sam se desesperou ao vê-lo morrer e se jogou contra a multidão.
            Em um impulso, me joguei para protegê-la e vi Emma sendo morta no lugar onde segundos antes, eu estava. Seus olhos brilharam uma última vez antes de se fecharem para sempre.
            Não houve tempo para começar o choro, pois tanto eu quanto Samantha tivemos que duelar com os anjos que, depois da morte de sua chefe, ficaram ainda mais vingativos. Seus olhos brilhavam de ódio.
            Criamos um escudo de fogo a nossa volta e as chamas queimaram seis controlados por Ângela, mas ainda havia muitos outros. Aqueles métodos não seriam eficazes. Foi com este pensamento que vi a imagem mais dolorosa da minha vida.
            Um anjo de cabelo preto e olhos verdes caiu sobre as costas de Ben e com uma lança perfurou seu pescoço. Os olhos de meu amado me observaram uma última vez antes de se apagarem para toda a eternidade.
            Naquele segundo que se seguiu escolhi o rumo de minha vida. Um raio de fogo vinha no ponto cego de Sam e ela não estava preparada. Se eu me jogasse na frente dela, aquilo queimaria meu coração e morreria imediatamente, apesar de que meu corpo externamente ficaria intacto. Sem Emma e Ben, a Morte parecia uma ótima amiga.
            Foi isso que fiz. O fogo perfurou meu corpo atingindo apenas meu coração e minha consciência se apagou antes de ouvir os gritos desesperados de Robert e Sam:
            -NÃO! LIZZIE, NÃO!
            Despedi-me do mundo com um último pensamento. Eu te amo, Ben. 

Ben

            Depois que a lança daquele anjo atingira meu pescoço, jurava que havia morrido, mas algo em minha doença protegeu meu corpo e meu coração não parou. Não conseguia abrir meus olhos até que ouvi os gritos de Robert e Samantha chamando por Eliza e um pensamento, que parecia uma despedida, atingiu minha mente: Eu te amo, Ben. Parecia minha amada.
            Neste segundo, deixei a inconsciência de lado e voltei para a realidade. Porém, o baque que se seguiu foi tão duro que desejei nunca mais ter acordado. Elizabeth jazia morta em frente à Samantha. Seus olhos estavam abertos como se tivesse levado um choque e uma doce lágrima caía eternamente sobre sua bochecha.
            Minha amada estava morta. A garota que era o motivo para ainda estar vivo morrera. Seu sorriso nunca mais iluminaria minhas manhãs, sua risada nunca mais seria ouvida. Elizabeth Bloom partira para sempre.
            Agi rapidamente. Encontrei a lança maldita e a fiz pegar fogo com meus poderes. Levantei-me, agachei-me ao lado de Elizabeth e, chorando, segurei uma de suas mãos. Deitei-me pela última vez com minha amada e com a outra mão enfiei a arma em meu coração. Meus olhos permaneceram abertos. Uma lágrima apenas parou em minha bochecha. E um último pensamento iluminou minha mente: Eu te amo, Eliza.
Escrito por StarGirlie.

2 comentários:

  1. Os últimos capítulos das novelas são sempre surpreendentes, e com esse não foi diferente. Simplesmente exepcional, sem palavras, a única coisa que vem a minha cabeça, parabéns, bjsss Personnality fashion

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  2. Ownn, brigada, Per. Eu espero que você continue gostando de todos os outros capítulos. Beijinhos, StarGirlie.

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