segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O Quarto Halloween

         Há quanto tempo não nos vemos, não é mesmo? Lembro-me muito bem de ter contado a todos sobre as histórias das Quatro, encerrando-as com o temido sacrifício, que impede a dócil Beth de entrar no Paraíso para sempre.
            Agora é hora de mostrar o que aconteceu depois de tudo aquilo. Apesar de Lucy e Emma terem morrido, Nina e Beth estão muito vivas e correndo extremo perigo. Ou vocês realmente acham que suas existências se tornariam mais fáceis apenas porque duas das Quatro morreram?
            Esse é meu quarto ano contando a vida das Quatro e provavelmente o último. Não apenas como contador, mas de vida. Não tenho medo, sei que essa é minha hora. Além do mais, quem se preocupa com a Morte quando ela é a sua melhor amiga?
            Espero que se assustem com a história do Quarto Halloween, que se passa pouco tempo depois do sacrifício. E não se esqueçam, pelo menos enquanto estou viva, meu nome é Jude e minha missão é mostrar o quanto um mero número pode destruir sua vida.


O quarto halloween


            Nina não parava de se mexer ao meu lado. Sua fantasia de bruxa vampira a deixava ainda mais sobrenatural. Já não bastava ser uma das Quatro, ainda tinha que deixar claro que não se encaixava na sociedade.
            A casa estava lotada de pessoas desconhecidas, todas atraídas pela “festa de Halloween”. Porém, nenhuma delas imaginava que uma verdadeira bruxa vivia ali. No caso, eu.
            -Você acha que ele virá? – perguntou Nina nervosa. Havia meses que o esperávamos. Na verdade, desde o sacrifício que arrancara de minhas mãos a passagem para o Paraíso. Até o momento, eu estava presa eternamente à vida terrena e ninguém sabia o que isso realmente significava.
            Ninguém exceto ele. Seu nome era Luca e vivia em uma região próxima a nossa cidade. Era conhecido como louco, mas após um contato espiritual comigo, percebi que era apenas um bruxo. Como eu.
            Não imaginávamos o que ele nos diria quando chegasse aqui. Apesar de minhas visões turvas, não conseguia enxergar sua decisão final, já que Luca ainda não sabia que éramos duas das Quatro. 

            -Ele não nos deixaria esperando – respondi, no exato momento que janelas por toda a casa começaram a explodir em cacos. Adolescentes gritavam de cada cômodo, alguns rindo, acreditando que aquilo era apenas parte da festa, outros com verdadeiro medo.
            A grande porta de minha casa bateu com toda a força possível e um jovem entrou na casa. Porém, ele não usava nenhuma fantasia. Seu casaco era de um simples vermelho, seu cabelo bagunçado como o de qualquer outro garoto. Mas o que realmente assustava era sua aura.
            Branca e luminosa, enorme e envolvedora, a aura era claramente de uma pessoa especial. Luca. Nenhum outro adolescente poderia ter aquela energia o envolvendo sem desmaiar. Até mesmo eu estava um pouco tonta.
            -Olá, Nina e Beth. Fico feliz que vocês atraíram uma boa multidão – ele apontou para a quantidade de adolescentes que se acumulara na sala após as janelas estouradas. Todos estavam mais calmos, mas não sabiam se realmente era uma boa ideia continuar ali – Isso é tudo medo de mim?
            -Você não veio para começar com seus joguinhos – cortei-o imediatamente – E sabe muito bem disso.
            Luca riu sadicamente, enquanto as luzes da casa piscavam. Algo me dizia que trazê-lo para dento de meu lar, um local onde o ritual não havia sido realizado. Alguns convidados começaram a rir da iluminação, entretanto, suas risadas se tornaram gritos quando os móveis começaram a tremer.
            -Já chega, Luca – disse, forçando com a força de meu pensamento que tudo ao meu redor se mantivesse parado. A tontura rapidamente me dominou, mas tentei não expressar minha fraqueza.
            -Oh, que lindinha! Se esforçando! – Luca se sentou em uma das cadeiras e parou de forçar meu poder. Nina segurou minha mão preocupada. Ambas sabíamos que havíamos atraído um perigo ainda maior do que Mona para minha própria casa. 
            Finn, um colega da minha sala, passou por nós duas e rapidamente atraiu a atenção macabra de Luca. Entrando na frente do garoto, o bruxo concentrou seus olhos nos dele e murmurou:
            -Agora você está sob meu comando.
            -Eu estou sob seu comando – repetiu Finn, os olhos nevoados. Luca estava realizando uma hipnose e eu não sabia como impedi-la. Porém, certa pessoa sabia e era hora de contatá-la.
            Mary! Você consegue me escutar? Minha alma buscou a de minha irmã e felizmente a achou rapidamente. O que houve, Beth? É ele, Luca. Ele é um bruxo e extremamente cruel. Está aterrorizando todos os convidados. Ele consegue me sentir, irmã. E...
            -Usando a sua pequena irmãzinha, Beth? Que atitude desprezível! Se quer alguma ajuda sobrenatural, acho que posso lhe ajudar – debochou Luca – Podem entrar, Lucy e Emma.
            Tanto eu quanto Nina esperávamos ver espíritos, mas o que encaramos era totalmente o oposto. Lucy e Emma andavam sobre o chão, seus sapatos de salto-alto criando barulhos e sombras. Elas estavam vivas.
            -Não se iludam. Eu só as transformei em zumbis temporários. Exatamente à meia-noite de hoje as duas vão desaparecer. Mas depende de você, Beth, para onde elas irão – declarou Luca. Aos poucos, os convidados amedrontados saíam da casa.
            -Como assim? – perguntei, observando a última convidada, fora Finn, sair da sala. Felizmente, pelo menos, a maioria de meus colegas de escola estava a salvo.
            -Quero que faça outro sacrifício. Quero que me dê uma passagem para o Paraíso.
            -Mas eu não tenho mais a minha. Mona já a roubou – relembrei, nervosa por ver Finn parado entre Lucy e Emma.
            -Nina ainda a possui – os olhos da Primeira se arregalaram. Ela sempre me avisara que alguém ainda buscaria sua Passagem, mas nunca imaginamos que seria tão cedo.
            -Vocês já devem imaginar – continuou Luca – que eu não tenho mais direito ao Paraíso. Entretanto, se eu fizer como Mona, poderei continuar meus planos na Terra e depois relaxar no Céu. Não é uma beleza?
            -Eu não realizarei – afirmei irredutível. Nina tremeu ao meu lado. Ela sabia que minha escolha teria uma consequência.
            -Então, seu queridinho Finn vai morrer. Morra – ordenou Luca para Finn e rapidamente meu colega de turma começou a engasgar. Não demoraria muito para que partisse.
            -Realize, realize! – gritou Nina desesperada, enquanto começava a cortar seu dedo. Uma única gota caiu. Porém, desta vez não alcançou o chão. O líquido vermelho caiu sobre minha roupa.
            Uma onda de terror passou por meu corpo, enquanto a Passagem de Nina me era entregue. Luca gritou de raiva, quebrando a hipnose de Finn, enquanto se jogava sobre meu corpo. Suas mãos envolveram meu pescoço.
            -Dê-me a Passagem agora! Agora! – gritava Luca, enquanto me enforcava. Debatia-me sem nenhum efeito. Ele era forte demais. Vingativo demais.
            E então, tudo começou a tremer. Os móveis se mexiam, os cacos de vidro voavam por toda a casa, todos os pratos explodiam, as lâmpadas piscavam sem descanso. Minha respiração parava enquanto cada vez mais a destruição aumentava.

            Quando meus pulmões já não aguentavam mais, o inesperado aconteceu. Minha pequena aura envolveu a de Luca, o fazendo gritar de dor. Seu corpo caiu ao meu lado, enquanto se contorcia. Lucy e Emma, sem a ajuda do bruxo, desapareciam como também o controle mínimo que ele ainda exercia sobre Finn.
            Olhei para Nina sabendo que estávamos definitivamente pior do que antes. Luca desaparecera, mas de forma alguma estava morto. Ele voltaria. E não falharia.
            -Agora eu sei como você se sentia – disse Nina, sabendo que ela agora estava presa a Terra. Porém, algo dera errado na transmissão da Passagem. Ao contrário da Iluminação Branca que deveria acontecer, eu estava com uma aura tingida de vermelho.
            -Como eu me sinto – corrigi, sabendo que nossa história não estava nem perto de acabar.
O que aconteceu depois
            Como da última vez, não há nada o que lhes dizer. A meia-noite ainda não chegou e Lucy e Emma ainda não partiram totalmente, como Luca. O Halloween ainda não terminou, como também a história das Quatro.

Beijinhos, StarGirlie.

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