terça-feira, 10 de abril de 2012

27º Capítulo de Sempre Um Começo

Vigésimo Sétimo Capítulo
Luisa



                Estava me sentindo muito mal quando acordei na manhã do dia da festa de Aline. Era como se o peso da mentira estivesse atormentando meus ombros. Eu estava enganando minha melhor amiga e de uma forma que nunca pensei que poderia fazer. Nem mesmo a antiga Luisa era capaz daquilo.
                Desci para tomar café, mas acabei encontrando a cozinha cheia. Já fazia tempo desde que via meus pais, porém, eles nem pareceram se importar com minha presença. Optei por fugi dali com um pedaço de bolo de chocolate e corri para o jardim, ainda de pijama.
                O sol estava ainda nascendo e a maior parte do terreno ainda estava num escuro sombrio. Senti-me ainda mais solitária do que no dia anterior quando Cecilia faltou ao colégio. Mesmo com a presença de Felipe, parecia que estava sozinha. Ele tentava, aparentemente, não dizer nada que pudesse me magoar. Como se eu fosse puxar uma faca e cortar meus pulsos ali. Na frente dele.
                Além disso, saber que meus pais nem se importavam em me abraçar, em dizer um bom dia, rasgava meu peito. Eles eram as pessoas mais importantes para mim. E eu nem mesmo significava nada para ambos. Era como se apenas Daniele fosse a única filha que tinham.
                Enquanto pensava em como minha vida podia piorar ainda mais, minha irmã sentou-se ao meu lado. Ela também não parecia feliz. – O que houve, Dani? – preparei-me para uma resposta mal-educada, mas a jovem de cabelos pretos fez o contrário.
                -Estou com saudades da infância – quando percebeu meu rosto confuso, Daniele riu e continuou – De quando nossos pais eram obrigados a falar com a gente, a nos ensinar a comer, a tudo isso. Agora eles podem passar meses sem nem perguntar se estamos saudáveis.
                Apenas deixei que as lágrimas que queria tanto liberar caíssem. Dani fez o mesmo. Por um momento, éramos duas crianças novamente. Duas crianças que viam seus pais se afastando cada vez mais.
                -Desculpa não ter ido ao hospital te ver – disse Daniele, atraindo totalmente me atenção. Ela nunca fora sentimental comigo. Normalmente, a gente se odiava. Era como se os problemas com nossos pais tivessem refletido em toda a família Coral.
                -Eu... Eu entendo. Nós nunca fomos muito próximas... – Daniele me interrompeu. – Mas sou sua irmã mais velha. Estou aqui para te proteger e o tempo todo só pioro as coisas.
                Deixei que minha cabeça caísse sobre seu ombro enquanto ela me abraçava. E, pela primeira vez em anos, me senti feliz em estar em casa. Longe da maldade de Aline, da rejeição de Felipe. Finalmente, estava perto do amor de Daniele. Da minha irmã mais velha, que nunca se importou comigo.
                -Nunca mais faça aquilo, ok? Eu não quero que você termine assim – então, Dani mostrou seus pulsos. Nele havia cicatrizes enormes e assustadoras. Ela também havia se cortado. Também sofrera tudo que passei. E nunca tentou mostrar isso a ninguém. Sempre escondeu. Sempre agiu como se fosse a Bad Girl que não tinha sentimentos.
                Dessa vez, fui eu que a abracei com toda minha força. Daniele nunca fora diferente de mim. Ambas escondemos nossa dor até não haver mais jeito. Porém, era hora de acabarmos com isso. Nossos pais tinham que perceber que não éramos decorações em sua casa bonita.
                -Eles precisam saber – afirmei e logo minha irmã concordou. Porém, um sorriso bobo surgiu em seus lábios. Temi que tudo aquilo fosse uma encenação e que meu amor por ela fosse apenas usado como alvo de piada. Felizmente, seu sorrisinho vinha de um motivo bem mais agradável:
                -Sim, mas antes temos algo bem mais importante para resolver – olhei-a confusa e Dani apenas sorriu – Temos que comprar o vestido que você vai usar na festa de Aline hoje.
                -Como você sabe... – Sabendo, maninha. Agora vamos. Hoje você vai faltar na aula e nós vamos te transformar na estrela da festa.
                -Mas... – Mas nada.
                Quando entramos em seu carro, vinte minutos depois, fiquei extremamente feliz. Estava me afastando do controle de meus pais e ganhando a amizade de Daniele. Aquilo era uma escolha perigosa. Mas também muito mais divertida.
Escrito por StarGirlie.

3 comentários:

  1. Estou com um pressentimento...
    Mas, isso não vem ao caso. Gosto muito quando irmãs se reaproximam, e passam a ser amigas. Brigava muito com a minha irmã, mas antes dela viajar para Santo André, me reaproximei muito dela. E foi uma das melhores escolhas que já tomei... E pensar que Daniele é igual a Luísa, apesar dos problemas diferentes, utilizavam a mesma válvula de escape... Sei bem o que é auto-mutilação. Nunca fiz isso, mas já sofri indiretamente. Estive bem perto do problema, e posso dizer, que não é nem um pouco gratificante e agradável :/

    Beijos, da sua grande fã
    Larinha Andrade
    the-adolescent-dreamer.tumblr.com

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    Respostas
    1. Que pressentimento, Lara?
      Acho que o maior choque é perceber que a Daniele escondeu tanto o seu segredo de Luisa e vice-versa. Acredito que isso trilhará um novo rumo para a relação das duas.
      Eu também já conheci pessoas que fizeram essa escolha. Não é nada bom :/ Beijinhos, StarGirlie.

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    2. Eu conheço algumas, e a sensação é horrível, mesmo sem ter feito ou sentido na pele, nada daquilo. é ainda pior quando essa pessoa é bem próxima, e você tenta ao máximo ajudar. Ás vezes, até consegue, mas tem horas, que o seu esforço não é suficiente... Me sentia super mal, uma inútil, um verdadeiro lixo. Por ver uma pessoa tão querida se machucar daquela maneira e não fazer nada para amenizar. Até o dia que essa pessoa disse pra mim, que conseguiu superar tudo graças ao meu apoio e a dedicação a tudo que sentia... Finalmente, entendi que não precisava fazer nada, que só por apoiá-la e escutar todos os seus dilemas, estava ajudando e contribuindo pra tudo se acalmar. Fiquei super preocupada e tal... Mas, se não tivesse passado por isso e enfrentado os problemas junto com o meu amigo, não seria tão compreensiva como tento ser, e não daria valor para quem está perto de mim.
      P.S. Desculpe o desabafo rsrsrs' E obrigada por ler isso :) Beijos, Larinha Andrade

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